Nos livros sagrados está escrito que os filhos de
Deus formam uma nação que vive de amor e de obediência. Estas breves palavras
resumem a doutrina pregada por Jesus Cristo ao mundo; porquanto, no
cristianismo, tudo é amor e caridade e a felicidade do homem, bem como a Sua
glória imortal, consiste em apreciar, compreender e praticar esta divina
teologia.
Os mistérios da
religião, os sacramentos, os mandamentos, os preceitos da Igreja, em uma
palavra, todo o cristianismo, partem de um princípio de amor e têm por termo
último a vida de amor. O próprio Deus não é mais que amor; e não se poderia
melhor defini-lo do que dizendo com o Apóstolo: “Deus est caritas”, “Deus é
amor”. Nós achamos nesta palavra inefável a idéia da Trindade, pois que,
segundo a observação dos doutores, o amor supõe Aquele que ama, Aquele que é
amado, e a conexão substancial que une um ao outro: três termos distintos em
uma mesma vida, em uma só unidade.
O mistério de amor se
encontra em todos os atos exteriores de Deus. A criação inteira não é senão um
ato de amor. Era como que uma necessidade para Deus, diz Santo Agostinho, ter
seres aos quais pudesse fazer bem: “ut habert quibus benefacet”.
E o impulso
irresistível do amor não é , com efeito, dar felicidade, fazer felizes?
O homem não
compreendeu este benefício supremo. Ingrato e indócil, ele se arredou
orgulhosamente do seu Criador, para se perder nas vias da infidelidade. Mas
Deus, longe de o condenar a um eterno esquecimento, facilitou-lhe a sua graça,
estendeu-lhe a mão protetora e ofereceu-lhe o perdão.
A Redenção é,
portanto, um novo ato de amor.
Por que é que o Filho
de Deus Se encarnou na natureza humana?
Por que se encarregou de expiar os pecados do mundo?
Por que morreu como
uma vítima sobre a cruz?
A todas estas
perguntas o Evangelho não dá senão uma só resposta: “Sic Deus dilexit mundum”.
“Assim é que Ele nos amou”.
Estas divinas graças
que se chamam sacramentos, o que são elas, senão atos de amor?
É por estes canais
misteriosos que a vida, brotando do coração de Jesus Cristo, chega até nós com
uma profusão perene, para nos purificar e nos santificar.
Os mandamentos e os
conselhos evangélicos são igualmente atos de amor: “Tu amarás, tu perdoarás, tu
serás misericordioso! Tu serás perfeito como teu Pai celeste é perfeito!”
Todas as palavras,
como todos os atos evangélicos, são efusões do divino amor. Escutemos o
Salvador. Quantas vezes Ele nos diz: Eu vos amo! Ele faz mais: para no dar a
medida do Seu amor, declara que nos ama como seu Pai celeste o amou. “Sicut
dilexit me Pater et ego dilexi vos”: isto é, que Ele transporta a nós toda a
imensidade de amor de que Ele próprio é objeto; de sorte que a voz do céu que
proclama que Jesus Cristo é o Filho bem amado em que o Pai depôs o Seu amor e
delícias, esta voz celeste se pode aplicar de ora em diante a todos os filhos
de Deus. O Senhor, diz o Evangelho, tendo amado os Seus os amou até ao fim;
isto é, até as últimas extremidade de um amor infinito. Ele justifica esta
palavra pelas maravilhas do seu poder. Como uma mãe que nutre seus filhos de
seu próprio sangue transformando em bebida maternal, Jesus Cristo abre o Seu
coração para se derramar em Seus discípulos! Ele os nutre de Sua própria vida e
do suco do Seu amor.
Como relatar os
inumeráveis testemunhos da ternura de Jesus Cristo? A Sua predileção é pelos
pequeninos: Ele os acaricia, os abençoa e os chama ao Seu coração. A cegueira
de Jerusalém, em vez de indignar a Sua justiça, excita a Dua compaixão. Ela
acolhe os pecadores e os perdoa: “Que aquele que não tem pecado – diz Ele – lhe
atire a primeira pedra!” Ele é acessível aos pobres, aos enfermos, a todos os
que sofrem e gemem; soluça com Marta e Maria sobre a sepultura de Lázaro; e
comove-Se a vista das lágrimas de uma pobre mãe que seguia tristemente o caixão
do filho. Ele consola essa mãe aflita e em seu favor opera um milagre: Não
choreis, diz-lhe. E entrega-lhe o filho ressuscitado.
Que diremos nós da Sua inexaurível benevolência, mesmo para com os seus detratores, os Seus
inimigos e os Seus algozes? Que bondade! Que misericordiosa paciência! Até
sobre a cruz, no meio dos tormentos e das angústias, Ele não tem senão
pensamentos de amor.
No momento em que
expira, Ele roga por aqueles que O crucificaram; e, ao exalar o Seu último
suspiro, por cumulo de todas as Suas dádivas, lega-nos Sua própria Mãe! Ele
quer que Sua Mãe seja nossa Mãe; e, enquanto acende no coração de Maria o sol
do amor maternal, abrasa o coração dos discípulos de todos os ardores da
ternura filial.
Tal é a religião; tal
é a doutrina da vida cristã! Certamente, não é com frias palavras que se pode
dar uma idéia dela. Para bem apreciá-la, é preciso a amar; e para a
amar, é preciso pô-la em prática. Os verdadeiros discípulos não são os que
dizem: Senhor! Senhor! São os que, dóceis à palavra divina, traduzem a sua fé
em ações vivas. Quando a fé se inflama, ela esclarece o espírito e se
manifesta por uma vida santa.
Que a mãe cristã
medite estes ensinamentos! São penosos os seus deveres, e o seu cálice se enche
as vezes em demasia. Mas a ciência sagrada lhe dará forças, consolações e
esperanças. Se, conforme o Evangelho, tudo é possível àquele que crê, quão
poderoso deve ser aquele que ama! Amai, e vós tereis a chave da Divina
Teologia. Amai, e o Espírito de Deus vos instruirá diretamente com uma unção
luminosa.