Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
I.
— LUGARES DO
CULTO
Disciplina
primitiva
8. - Embora possamos prestar a Deus
culto em qualquer lugar, houve, em todos os tempos, lugares determinados, onde
os homens honraram juntos a divindade. Assim, no Velho Testamento, o próprio
Deus ordenara a Moisés a ereção do Tabernáculo, em que era guardada a Arca
Santa, e, logo a seguir, Salomão edificou o Templo de Jerusalém.
Como os Apóstolos se haviam reunido
no cenáculo, isto é, na sala de uma
casa para rezar e esperar serem revestidos da virtude do alto com a descida
do Espírito Santo, também os primeiros fiéis, para celebrarem sua liturgia, se
reuniam pelas casas privadas, onde uma sala a tal fim destinada oferecia o que
reclamava a comodidade do culto. Assim a casa de Marcos em Jerusalém (Atos,
XII, 12), a casa do Senador Pudente e outras em Roma, etc.
Durante as perseguições dos
primeiros séculos os cristãos procuraram um lugar mais seguro de se reunir —
nas catacumbas ou cemitérios
subterrâneos, onde celebravam os santos mistérios sobre o túmulo dos mártires.
Basílicas.
— Igrejas. — Oratórios
9. - Concedida pelo imperador
Constantino, com o edito de Milão de 313, paz religiosa à Igreja, começaram a
levantar-se edifícios particulares para o culto. Constantino cedeu à Igreja
algumas grandes salas, e, por primeira, a do palácio do Latrão. Destinadas ao
culto, conservaram o nome de basílicas.
As basílicas romanas (do grego — casa real) eram grandes salas de forma
retangular, divididas ao longo por dois renques de colunas e terminadas às
vezes em forma circular (abside);
nelas se administrava a justiça e se organizavam os mercados. O nome de basílica foi dado posteriormente a
alguns edifícios de culto, maiores e mais importantes aos outros edifícios
deu-se o nome de igrejas (do grego ecclesia [assembléia]), porque nelas se
reúne a assembléia dos fiéis para a Deus renderem culto.
Igreja
é, portanto, o lugar dedicado ao Senhor, a fim de servir especialmente aos fiéis
para exercerem ali publicamente o culto divino (Can 1161).
Diz-se igreja paroquial — o lugar onde se reúnem os fiéis de uma determinada
paróquia, para assistirem aos sacros ritos, receberem os santos sacramentos e
cumprirem os deveres de cristãos sob a direção do pároco.
Os fiéis devem frequentar a igreja
paroquial, pois é o lugar onde se lhes desenvolve a vida espiritual desde o
batismo, com que nascem à vida da graça, até às honras exéquias que a igreja
tributa aos mortais despojos deles, quando passarem para a eternidade.
Diferem das igrejas os oratórios, pois, embora destinados ao
culto divino, não são principalmente para o uso de todos os fiéis (Can. 118).
Há três espécies de oratórios:
a)
públicos, se eretos
principalmente para uso de alguma comunidade ou de particulares, de modo que,
ao menos no tempo dos ofícios divinos, todos os fiéis tenham legítimo direito
de ali entrar;
b)
semi-públicos, se eretos em proveito de alguma
associação ou comunidade, sem que possa qualquer um ter acesso ali;
c)
privados ou domésticos, se eretos em casa particular
para a comodidade de uma família ou indivíduo (Can. 1189).
Forma
da igreja
10. - As primeiras igrejas ou basílicas
assumiram a forma das casas romanas e das basílicas civis: as primeiras tomaram
o átrio ou vestíbulo e as segundas, a forma interna.
As basílicas cristãs tinham três
partes: o vestíbulo, a nave, o presbitério.
a)
Vestíbulo ou átrio ou pórtico. Era um pátio contornado de pórticos, tendo ao centro um
pequeno tanque cheio de água, onde os fiéis lavavam as mãos e o rosto antes de
entrar no templo, uso em vigor entre os Hebreus.
O pórtico era destinado à primeira
classe de penitentes[1]
chamados lugentes ou chorosos, que não tinham o direito de
entrar na igreja.
b)
Nave. Do vestíbulo,
ordinariamente por três portas, havia acesso ao interior da igreja, chamado
nave, porque geralmente tinha a forma de nau voltada para baixo, com a proa
figurada pela abside e a popa pela fachada, a recordar a Arca de Noé ou nau de
São Pedro, navegando entre os escolhos do mundo para o porto da eternidade. Ao
centro da nave do meio, estava o lugar destinado aos cantores (schola cantorum), fechado por um gradil
de mármore, com as estantes ou púlpitos para a leitura da Epístola e Evangelho.
c)
Presbitério era a parte
mais alta, destinada ao clero, terminada em abside, com a cátedra do Bispo e em
torno os assentos para os ministros sagrados. Ao centro do presbitério jazia o
altar, coberto do cibório ou docel, sustido por quatro colunas.
Essa forma antiga das basílicas
sofreu modificações com o andar do tempo. O vestíbulo desapareceu e as igrejas
diretamente se abriram para as praças e vias públicas. A nave, considerada como
um braço da cruz, foi talhada na extremidade por outro braço transversal ou transepto. Assim a igreja tomou a forma
de cruz: — diz-se cruz grega, quando
iguais. Finalmente, em muitas igrejas o altar foi colocado ao fundo da abside,
em lugar do sólio episcopal.
Consagração
e bênção da igreja
11. - Na lei antiga, Deus quisera
que o templo fosse dedicado com cerimônias especiais e de tal dedicação se
fizesse cada ano a comemoração. Mal os cristãos puderam ter lugares especiais
dedicados ao culto, consagraram-nos a Deus com cerimônias especiais.
Encontramos, assim, na atual disciplina da igreja, que, antes de se edificar
novo templo, é benta a pedra fundamental: o sacro edifício, antes de ser
entregue ao culto público, é consagrado ou simplesmente bento. A sagração difere
da bênção:
a) porque a sagração somente pode
fazê-la o Bispo, enquanto a bênção pode ser dada por um simples sacerdote;
b) porque na primeira se emprega o
sagrado crisma, o óleo dos catecúmenos e o rito é muito mais solene,
constituído por grandes cerimônias, que encerram um significado simbólico. Da
sagração das igrejas fica memória nas doze cruzes afixas ao longo das paredes
e diante das quais, no aniversário da sagração, se faz arder uma vela.
A sagração ou bênção das igrejas é
um sacramental e atrai as mais
copiosas graças do Senhor sobre os que rezam na igreja.
A igreja pode ser dessagrada ou
profana.
É dessagrada, quando for destruída totalmente ou estão em ruína a
maior parte dos muros. A dessagração faz perder à igreja a consagração ou
bênção. Fica profanada, quando nela
se perpetra um dos delitos previstos pelo Código de direito canônico (Can.
117); por ex. quando ali se praticou um homicídio ou foi sepulto um infiel ou
excomungado. A profanação não tira a consagração ou bênção, mas impede que
possam ali celebrar a Missa; por isso, a igreja profanada deve ser reconciliada com uma cerimônia especial.
Edifícios
anexos à igreja
12. - São edifícios anexos à igreja:
— o batistério, o campanário, o cemitério, a sacristia.
Batistério.
— No princípio não havia batistérios, porque, para batizar, se empregava a água
dos rios, das fontes e das nascentes naturais. Depois das perseguições,
começaram a construir edifícios separados das igrejas, onde o batismo se
administrava solenemente por imersão no Sábado Santo e na Vigília de
Pentecostes. Tal uso durou até o século VIII, quando, tornado geral o de
batizar as crianças, o batistério foi colocado primeiro no pórtico e mais tarde
no interior da igreja.
Campanário.
— Os primeiros cristãos em cada reunião fixavam o dia e a hora da reunião
seguinte. Para depois convocar os fiéis, empregavam vários instrumentos, como
os que ainda usam na semana santa — as matracas. Começaram a usar sinos por
volta do fim do século VI. Sentiu-se a necessidade de colocá-los ao alto, para
que o som se espalhasse ao longe, construíram por isso os campanários
diferentes na forma e na grandeza.
Os sinos destinados ao culto devem
ser bentos pelo Bispo ou por um delegado seu. A cerimônia, dita comumente batismo dos sinos, compreende várias
abluções e unções com o óleo dos enfermos e o sacro crisma; dá-se ao sino o
nome de um santo; há padrinho e madrinha.
Aquela bênção é um sacramental e atrai os favores celestes
sobre os fiéis que, dóceis ao som do sino, se recolhem à igreja.
Cemitério.
— O lugar escolhido para a sepultura dos cristãos chama-se cemitério ou dormitório, pois a morte é dormir ou um sono à espera da
ressurreição. Os primeiros cristãos sepultavam-se nas catacumbas: depois
começaram a sepultá-los nas basílicas junto ao sepulcro dos mártires e, em
geral, em todas as igrejas.
Pelágio II, no sexto século,
promulgou a proibição de sepultarem nas igrejas. Hoje, segundo o Código (Can.,
1205), ordinariamente é concedida sepultura nas igrejas só aos Sumos Pontífices,
Cardeais, Bispos ou pessoas de sangue real. O Cemitério deve ser bento e,
quando profanado, não se permite sepultar ali a ninguém, se não for
reconciliado.
Sacristia.
— É o lugar onde se conservam os vasos sacros, os paramentos da igreja, e os
eclesiásticos se vestem para o exercício das sacras funções.
O
altar
13. - O primeiro e mais importante
ornamento a igreja é o altar, isto é,
a mesa sobre que é celebrado o santo sacrifício da Missa. No princípio,
celebrava-se em cima de qualquer mesa: nas catacumbas, sobre o túmulo de um
mártir. Construíram, depois, mesas de madeira sustidas por quatro colunas ou
em forma de área, vazias interiormente. Mais tarde, construíram altares de
tijolos ou pedra. Um só altar fixo havia nas igrejas, mas, introduzido no século
VII o uso das missas privadas quotidianas, multiplicaram-se os altares.
Há altares fixos ou móveis. São fixos, quando a mesa é formada de um só
bloco de pedra, fixa pela base ou às colunas que a sustentam.
Altar
móvel diz-se uma pedra quadrada ou retangular, munida de relíquias e
consagrada pelo Bispo. Pode ser encaixada na mesa do altar não consagrado.
Deve ser de tal maneira grande que ao menos contenha sobre si o cálice e a
patena.
O altar fixo, para nele se poder
celebrar, deve ser consagrado por um Bispo e conter as relíquias dos mártires, às
quais é permitido acrescentar relíquias de outros santos, em número menor.
O altar lembra o Calvário e
simboliza o altar espiritual, isto é, o coração dos fiéis, onde oferecem a
Deus orações, boas obras, etc. A pedra do altar simboliza a Jesus, pedra
fundamental da religião.
Ornamentos
do altar
14. - Antigamente o altar era
coberto apenas de límpidas toalhas; depois, puseram-lhe por cima a cruz e as
velas; ajuntaram-lhe o tabernáculo, os degraus, as imagens, as relíquias, as
flores.
No tabernáculo, conserva-se a santíssima Eucaristia para a comunhão, a
adoração dos fiéis e a bênção. Antigamente os sacerdotes e os fiéis também
guardavam consigo a santa Eucaristia; depois, as sagradas espécies foram
colocadas em armários junto ao altar e, mais tarde, numa pomba de metal,
suspensa. No século XVI, principiou o uso do tabernáculo ou cibório,
pequena câmara de madeira, de metal ou mármore, com as paredes internas
revestidas de metal dourado ou seda branca, portinhola fechada à chave. O
exterior coberto do conopeu ou cobertura
de cor branca ou da cor do ofício do dia.
O Crucifixo coloca-se no lugar de honra, para lembrar que o altar,
embora dedicado a um santo, é consagrado só a Deus e sobre ele se oferece o
sacrifício eucarístico, renovação incruenta do sacrifício da Cruz.
Aos lados do crucifixo colocam-se os
candelabros munidos de velas, para
exprimirem a fé do povo cristão. Simbolizam a Jesus Cristo, luz verdadeira que
ilumina a todo homem vindo ao mundo.
Sobre o altar se expõem as imagens sacras (quadros e estátuas) e
as relíquias, a fim de promover a
devoção dos fiéis aos santos e indicar que Jesus Cristo, oferecendo-Se a Si
mesmo em sacrifício ao Padre, associa aos seus também os votos deles.
As flores são recomendadas e admitidas como ornamento e sinal de
exultação; recordam a Jesus, flor dos campos e lírio dos vales, e figuram a
oferta e o sacrifício dos fiéis ao Senhor. São preferidas as flores naturais;
as artificiais, toleradas.
Diante do altar do S. S. Sacramento
deve arder continuamente uma lâmpada de azeite, para simbolizar o amor ardente
de Jesus para conosco e nosso amor para com Ele.
Outros
móveis da igreja
15. - Além do altar, encontram-se
nas igrejas: — o confessionário, em
que se assenta o sacerdote para ouvir confissões; o púlpito, lugar elevado,
de madeira ou pedra, donde se anuncia ao povo a palavra de Deus; o órgão, instrumento musical para
acompanhar o canto sacro e dar maior esplendor às funções sagradas; a pia de água benta, no ingresso da
igreja, onde se guarda a água benta, para que os fiéis, ao entrarem na igreja,
devotamente se persignem e benzam, como a indicar que as almas devem
purificar-se antes de se aproximaram do Senhor.
[1]
- Os
pecadores sujeitos à penitência pública, na igreja primitiva, se dividiam em
quatro classes: a) os chorosos, que não tinham o direito de entrar na igreja;
b) os ouvintes, que podiam entrar na igreja para ouvir as instruções; c) os
prostrados, que ficavam prostrados ou ajoelhados até ao ofertório e deviam sair
com os catecúmenos; d) os consistentes, que assistiam aos santos mistérios, sem
participar da Comunhão.