terça-feira, 30 de abril de 2013

A tibieza - Sacerdote

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)


            I. — Filho, tu, "porque não cometes pecados graves, porque fazes algum bem, julgas possuir a Minha amizade; e, vendo outros muitos piores que tu, consolas-te dizendo: Não sou como aquele desonesto, como aquele avarento, como aquele escandaloso, como aquele sacrílego: jejuo, digo Missa, rezo o Oficio divino, faço algumas esmolas... Mas quantas mais obras boas poderias fazer em proveito teu e do próximo! Não fazem muito mais que tu tantos seculares, tantas pobres mulheres? Não exigirá o teu caráter que faças alguma coisa mais do que eles?
            E esse mesmo bem que fazes, quanto é defeituoso! A intenção é muitas vezes avessa e iníqua; e quanta negligência e dissipação na prática!
            Ora, sendo assim o bem que fazes, que direi do mal? Sejam embora veniais os teus defeitos: mas quanto é numerosos no vestir, no falar, nos divertimentos, no tratar, etc.? Que seria, se te aproximasses dos mortais? se, com demasiada facilidade, formasses para ti certos ditames... ? [1] se pusesses em dúvida, ou te escusasses, com a inadvertência absoluta, daquela falta grave, para cujo conhecimento tinhas bastantes luzes?
            Pensa por um pouco, filho. Dizes: Sou rico e abastado; e não sabes que és infeliz! e miserável! e pobre! e cego! e nu! [2]

            II. — Considera, filho, em tantos anos quão imensa perda! Pedia o teu ministério que fosses tão eminente em santidade a qualquer bom secular, quando o Céu é superior à terra. Devias, seguindo o Meu exemplo, pisar o mesmo caminho que Eu pisei, e, como Meu bom ministro, devias ser todo fogo: e ver-te-ei tão descuidado de ti e indiferente para com os outros, com tanto dano teu e deles?
            Quantos, vendo-te tão negligente, perdem o respeito e a estima a teu caráter e à tua religião? quantos de teu desleixo tomam ocasião para com mais facilidade praticarem o mal? e quantos são preza do inimigo, que sobre-semeia a cizânia da ignorância, dos vícios e enfim das heresias?
            Porque não velas pelo seu bem, por meio do estudo e da pregação, corrigindo os vícios, cultivando e zelando a vinha de teu Pai celeste? Quase estimara mais ver-te inteiramente frio. Ao menos não viverias tão sossegado como vives, que é o pior de teus males

            III. — E depois, que será de ti, filho, se não despertas? Desejarás, na hora da morte, ter vivido uma vida tão tíbia? Não mereces que te abrevie a vida, visto que és árvore infrutífera, inútil a ti e ao teu próximo? [3] Que conta darás em meu tribunal não só de tanto bem que devias fazer, e não fizeste, do mal que cometeste e do que outros cometeram por tua negligência; mas também de tantas luzes desprezadas, de tanto tempo perdido, de tantos talentos e graças de que abusaste?
            Se nada disto te faz tremer, treine ao menos do Meu abandono! Já te ameacei que, cansado da tua tibieza, começarei a repelir-te da Minha presença, retirando-te Minhas especiais misericórdias, já que me negas teu especial fervor[4].
            E, se crescem as tuas tentações, se se relaxa a consciência, se a luz interior se amortece cada vez mais, que será então de ti?
            Lembra-te que ao servo, que não negociou com o talento e o enterrou, não só lh'o tirei; mas ele, por preguiçoso e mau servo, foi condenado às trevas; e que a árvore infrutífera foi condenada a nunca mais dar fruto e, por último, foi lançada ao fogo.
            Faze pois penitência, filho, produz frutos que aproveitem a ti e ao teu próximo; enriquece teu pobre coração, vestindo-o de fervor sacerdotal; para que não apareças um dia com tua ignominiosa nudez, e opresso de uma pena tão justa e terrível, quanto imprevista e contínua.

            Fruto. — Se és tíbio, examina a cansa da tibieza; se é a falta de meditação, ou de bom diretor, se o ócio, se o apego aos bens terrenos, às tuas comodidades, ou a tuas opiniões; se é a dissipação ou a familiaridade com os seculares, etc., corta logo, seja o que for, pela raiz.
            S. Ambrósio diz que, se é amaldiçoado de Deus quem faz as obras do mesmo Deus negligentemente, o preguiçoso no serviço divino deve tremer de acabar miseravelmente. Este mesmo santo Doutor prescreve, como remédio para os tíbios, a frequente meditação.

Notas
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[1] Vos estis qui justificatis vos coram hominibus; Deus autem novit corda vestra; quia quod altum est hominibus, abominatio est ante Deum. (Luc., XVI, 15.) 
[2] Dicis, quod dives sum, et locupletatus... ; et nescis, quia tu es miser et miserabilis, et pauper, et caecus, et nudus. (Apocal., III, 17.) 
[3] Sicut infaecunda arbor, si fuerit in vinea, inimica non sibi soli, sed etiam palmitibus sit fæcundis; ita homo deses, et ignavus, si præsit populis,non sibi soli fit noxius, sed multis, dum sequentes se sua vitiat, et perdit exemplo. Siccide ergo illam, ut quid etiam terram occupat? (Luc., XIII, 7.) Sicut enim infecunda arbor a terra, sic ille e vita meretur excidi. (Chrysost., Hom. 10.)
[4] Utinam frigidus esses, aut calidus; sed quia tepidus es, et nec frigidus, nec calidus, iucipiam te evomere ex ore meo. (Apoc., III, 15-16.)