domingo, 28 de fevereiro de 2010

O sol do lar

O sol do lar

Vendo a dona de casa, eu direi de que estofo é a esposa e a mãe, leitora.

Pois pela primeira se conhecem as outras duas. As mãos, os olhos, os pés da primeira nada mais são do que o amor de esposa, o devotamento de mãe manifestando-se num outro setor.

É o coração de esposa e de mãe descrevendo outras órbitas.

Por ter amor aos seus, quer a mulher vê-los contentes e alegres a seu lado, confiados nos seus desvelos e na intuição do seu coração. Cansa-se, dirige a casa, estabelece uma ordem, trata da economia, da estética do lar, só porque ama muitíssimo o marido e os filhos.

Perante as dúvidas e os planos pergunta-se constantemente: Será isto útil ou prejudicial ao bem-estar dos meus? Esta preocupação vale por um princípio na sua vida.

Rico proveito tira a mulher de tudo isso. Primeiramente, não trata com descaso as pequenas coisas, as "ninharias" de cada dia. Para seu amor tudo é importante. Sabe que como jóia no coração se pode engastar com elegância até um copo de água, uma luz acesa, uma porta abeta a seu tempo.

Escapa depois daquela falta tão comum hoje em dia: ter a casa arrumada e enfeitada ... para os de fora. Sua maior alegria é receber elogios do marido e dos filhos. Não lhes prefere os elogios das visitas que gabam o bom gosto, etc.

Somente deste amor é que nasce aquele calor benfazejo do lar. Vê, leitora, na casa teu coração terá a missão do sol da natureza. Pela manhã, a luz taumaturga do sol acorda as flores, a passarada, as abelhas, a seiva das árvores. Há vôos, há perfumes, há gorjeios naquelas horas.

Percebendo que "por querer bem" é que cuidas da casa, as  crianças serão como abelhas, como aves ao redor de ti. Se faltar o sol, se vier o frio, as aves se encolhem, as abelhas se ocultam, as crianças "não amadurecem". Sim, com a idade, deve haver uma maturação progressiva ao teu lado, dona de casa, que, ao mesmo tempo, és esposa e educadora.

Crescendo, irá a criança abrindo os escaninhos do coração, expondo os segredos à mamãe. E assim continuamente, até se formar aquela convicção de que na casa, junto de mamãe, há um remanso aonde não vão as tempestades, há um canto sempre com sol onde as sombras e o frio nunca se estendem.

Dificilmente serás uma boa esposa e mãe, se não fores igualmente boa dona de casa, leitora.

(As três chamas do lar - Pe. Geraldo Pires de Souza)

A cultura dos sentidos

A cultura dos sentidos


"Sem aprender, o homem não sabe caminhar, nem falar, nem comer, nem coisa alguma, senão chorar"

Basta que a criança tenha bons órgãos para chegar ao conhecimento perfeito dos objetos exteriores?
Não; é preciso ainda que os sentidos saibam utilizar os seus instrumentos. A criança deve, portanto, aprender a servir-se dos olhos, dos ouvidos e da língua.

Como aprenderá a criança a servir-se dos olhos?
Se a criança gosta de ver, guiar-se-á a sua curiosidade, para que se não converta em indiscrição; mas evitar-se-á cuidadosamente sufocar essa vivacidade natural.

Procurar-se-á fazê-la conhecer as casas das quais vive (As viagens em volta do jardim, ou as viagens em volta do quarto, podem ser feita e tornadas a fazer com grande proveito): os móveis, as imagens, os animais, as plantas, as flores; dir-se-lhe-ão os nomes; conhecerá os seus defeitos e qualidades. Assim se lhe enriquece a memória; assim se lhe forma o gosto.

Se a criança não procura ver, se nada pergunta, desperta-se-lhe a curiosidade, o interesse por tudo que a rodeia, estimule-se-lhe a atenção.

Como aprenderá a criança a servir-se dos ouvidos?
A criança é perdida por histórias; contem-lhas e façam-lhas repetir, mas que sejam bem escolhidas, simples, curtas, verdadeiras, interessantes, cristãs. Por elas desenvolverá a sensibilidade; tomará gosto pelo belo; evitará o que é mau, grosseiro, nocivo ao próximo, irrespeitoso.

"Minha mãe, que foi a minha ama, não me amamentava nunca sem cantar, e posso dizer que aprendi as minhas primeiras lições sem dar por isso. Sem ter consciência, tinha já a noção muito clara e muito precisa das entonações e dos intervalos que elas representam; dos principais elementos que constituem as modulações, e da diferença característica entre o tom maior e o tom menor, antes mesmo de haver falar, pois que um dia, tendo ouvido cantar na rua - por algum mendigo, sem dúvida- uma canção em tom menor, exclamei: mamã, por que é que ele canta em dó que chora?"
(Charles Gounod, Memórias dum artista,cit, por P.Gaultier, ob. cit. p. 103-104)

Como aprenderá a criança a falar?
Deve falar-se-lhe sempre distintamente, dar-se-á às coisas o seu verdadeiro nome; omitam-se as expressões infantis, que não têm nenhum sentido para elas próprias; atenda-se a que pronunciem bem; corrija-se, desde o princípio, toda a pronúncia defeituosa; dê-se-lhe o exemplo duma conversação digna, correta, respeitosa; responda-se ás perguntas da criança com exatidão, prudência, habilidade; suprimam-se os modos bruscos, que tiram a confiança e sufocam a iniciativa.

"Admirais com prazer a graça com que o vosso filhinho deforma as palavras e, para o animar, tomais o hábito de pronunciar mal as palavras, como ele. Estou a ouvir-vos falar com a criancinha:

- Mamã, totolate.
- Sim, meu anjo, aqui tens totolate.

É evidentemente muito engraçado... mas seria preferível que lhe repetisse um sem número de vezes chocolate, e que lhe negasse esta gulodice, até se acostumar a pronunciar a palavra como deve ser." (P.Combes)

(Excertos do livro: Catecismo da educação - Abade René Bethléem)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

ESPECIAL DE QUARESMA (2010)

ESPECIAL DE QUARESMA (2010)

Reflexões sobre o Calvário e a Santa Missa
Prometemos e cumprimos!


"O monte Calvário é o monte dos amantes."
(São Francisco de Sales)

1ª Parte: A Confissão
2ª Parte: O Ofertório
3ª Parte: Sanctus
4ª Parte: A Consagração
5ª Parte: A Comunhão
6ª Parte: Ite, Missa est
7ª Parte: O Último Evangelho

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O Último Evangelho
“Pai, nas vossas mãos entrego o meu espírito”.
 (São Lucas 23,16)

O último Evangelho da Missa é um formoso paradoxo que nos faz regressar ao princípio, pois abre com as palavras “no princípio”...

Também na vida humana o fim é o princípio de outra vida. A última palavra de Nosso Senhor foi realmente, o Seu último evangelho: “Pai nas vossas mãos entrego o meu espírito”.
Tal como no evangelho da Missa, também Ele regressa ao Pai de onde veio. Jesus completara a Sua obra. A Sua missa começara com a palavra Pai, e foi com essa mesma palavra que Ele terminou.

Todas as coisas perfeitas, diziam os Gregos, movem-se em sentido circular”. Tal como os grandes planetas, que só após um longo espaço de tempo completam as suas órbitas e regressam novamente ao seu ponto de partida, como que para saudarem Aquele que os colocou no seu caminho, também o Verbo Incarnado, que veio ao mundo para dizer a Sua Missa, ao completar a Sua Missa na Terra regressou para junto de Seu Pai Celestial que O enviara para a jornada da Redenção do mundo.

O Filho Pródigo está prestes a regressar à casa de Seu Pai, pois Jesus é também o Filho Pródigo que durante tinta e três anos deixou a casa de Seu Pai e a bem-aventurança do Céu e veio ao país estrangeiro que é a Terra- pois é estrangeiro todo o país distante da casa paterna. Ele despendeu a substância da Sua Verdade na infabilidade da Sua Igreja, e a substância do Seu Poder na autoridade que deu aos Seus Apóstolos e aos Seus sucessores.

Ele despendeu a substância da Sua Vida na Redenção e no Sacramento. Quando esgotou tudo até a última gota, Ele volveu o olhar para a casa de Seu Pai e, num grito ressonante, lançou o Seu Espírito para os braços de Seu Pai, não como alguém que mergulha na escuridão, mas sim como quem sabe que caminha para onde será bem-vindo.

Naquela última palavra e naquele último evangelho que O fez regressar ao Princípio de todos os princípios, e principalmente a Seu Pai, revelam-se a história e o ritmo da vida. O fim de todas as coisas regressa, de qualquer maneira, ao seu princípio.

Tal como a Filho regressa à casa de Seu Pai, e como o corpo regressa ao pó de onde nasceu, também a alma do homem, que veio de Deus, deve algum dia voltar para junto de Deus.

A morte não é o fim de todas as coisas. A lousa fria que cai sobre a sepultura não marca o fim da história de um homem. A maneira como ele viveu a sua vida determina as condições da sua vida futura. Se ele procura Deus durante a existência, a morte será como que a abertura de uma gaiola. Ele poderá então, servindo-se das suas asas, voar para os braços do Bem-Amado.

Se ele, durante a vida, se afastou de Deus, a morte ser-lhe-á como que o início de um eterno afastamento da verdadeira Vida, da Verdade e do Amor – será o inferno.

Junto ao trono de Deus, de onde viemos para o nosso noviciado da Terra. Deveremos regressar algum dia para prestar contas do uso que fizemos da nossa existência. Não haverá um único ser humano que, ao chegar à última folha do livro da sua existência, não encontre ali traçado o seu destino, segundo aceitou ou rejeitou a divina dádiva da Redenção.

Aceitando-a, ou rejeitando-a, o homem terá assinado, por sua própria mão, a sentença do seu eterno destino. Tal como na caixa registradora ficam apontadas as importâncias para serem conferidas no final do nosso dia de negócio, também os nossos pensamentos e obras são registrados para o Julgamento Final.

Se, porém, vivemos sempre à sombra da Cruz, a morte não será o fim, mas sim o princípio da vida eterna. Em vez de uma separação, aguardar-nos-á uma reunião; em vez de uma partida, será uma chegada; em vez de encontrarmos um fim, esperar-nos-á um último evangelho – um regresso ao princípio.

Tal como a voz do destino murmura, “Deves abandonar a Terra”, a voz do Pai diz: “Meu Filho, vem para Mim”!

Fomos enviados a este mundo como filhos de Deus, para assistirmos ao Santo Sacrifício da Missa. Compete-nos permanecer aos pés da Cruz e, como àqueles que ali permaneceram desde o primeiro dia, ser-nos-á pedida a declaração da nossa lealdade.

Deus deu-nos o grão e a cepa da vida e, à semelhança do homem que, segundo o Evangelho, recebeu talentos, também nós devemos apresentar a retribuição das graças divinas que tivermos recebido.

A vida que Deus nos concedeu representa o grão e as cepas, e é nosso dever consagrá-los, restituí-los a Deus, sob as formas de pão e de vinho, transubstanciados. As nossas mãos devem apresentar o fruto das colheitas, quando chegar o fim da nossa peregrinação na terra.

É essa a razão pela qual o Calvário se ergue no meio de todos nós, e nos encontramos sobre a sua montanha sagrada. Não nascemos para ser simples espectadores, ou para lançarmos os dados, como fizeram os algozes de outrora, mas sim para sermos participantes do mistério da Cruz.

A maneira de reproduzir o quadro do Último Julgamento, durante a Santa Missa, será a evocação da forma como o Pai recebeu e saudou o Seu Filho, olhando para as Suas mãos. Nelas se evidenciavam os vestígios do trabalho, as calosidades da Redenção e as cicatrizes da Salvação.

Também nós, terminada a nossa peregrinação na Terra e no regresso ao princípio, veremos que Deus olha as nossas mãos. Se durante a nossa vida tivermos tocado as mãos do Seu Divino Filho, as nossas mãos apresentarão as marcas dos pregos; se tivermos percorrido a senda que conduz à eterna glória, através das veredas tortuosas e difíceis do Calvário, também os nossos pés apresentarão os mesmos ferimentos; se os nossos corações bateram em uníssono com o de Jesus, também eles ostentarão a chaga do lado, aberta pela lança que trespassou o Coração do Salvador.

Abençoados são, pois todos aqueles que levam nas suas mãos, marcadas pelos cravos da Cruz, o pão e o vinho das suas vidas consagradas, marcadas pelo signo e pelo selo do Amor redentor.

Mal, porém, daqueles que se afastaram do Calvário e que apresentarão as mãos brancas e sem cicatrizes! Quando a vida se acaba, e a Terra se desvanece como um sonho, quando a luz da eternidade entra a jorros nas almas, com todo o seu esplendor, os justos podem com uma fé humilde, mas triunfante, repetir, como num eco, a última palavra de Cristo: “Pai, nas Vossas mãos entrego o meu espírito”!

E, assim, termina a Missa de Cristo. O Confiteor foi a Sua oração ao Pai, para que nos perdoasse aos nossos pecados; o Ofertório foi a apresentação das pequenas hóstias, sobre a patena da Cruz; o Sanctus foi a encomendação das nossas almas a Maria, a Rainha de todos os Santos; a Consagração representou a separação do corpo do Salvador e a aparente separação de divindade e humanidade; a Comunhão foi a Sua sede pelas nossas almas; o Ite Missa est foi o remate da obra da salvação; o último evangelho foi o regresso de Jesus a Seu Pai.

E, agora que a Missa está dita, que Jesus encomendou o Seu espírito ao Pai Celestial, Ele prepara-Se para restituir o Seu corpo a Sua Mãe Santíssima, aos pés da Cruz. Também esta última fase será um regresso ao princípio da Sua vida terrestre – a Belém, ao tempo em que Se aconchegava no regaço de Sua Mãe, retomando novamente o Seu lugar.

A Terra tinha sido cruel para Ele; os Seus pés vaguearam pelos caminhos da ovelha tresmalhada, e nós trespassamo-los com os cravos de ferro; as Suas mãos ofereceram-nos o pão da Vida Eterna, e nós pregamo-las nos braços da Cruz; os Seus lábios ensinaram-nos a Verdade, e nós oferecemos à Sua sede o fel e o vinagre. Ele veio para nos dar a Vida, e nós demo-Lhes a morte; mas esse foi o nosso erro fatal, pois não Lhe roubamos realmente a vida, e apenas tentamos fazê-lo. Ele deixou-Se vencer por Sua própria vontade.

Nenhum dos Evangelhos diz, de fato, que, Ele morreu, mas sim, “Ele rendeu o espírito”. Foi, pois, um ato voluntário, uma renúncia espontânea da própria vida.

Não foi a morte que se aproximou d’Ele. Foi Ele quem Se aproximou da morte. E foi por essa razão que o Salvador, à aproximação do fim, ordenou que os portais da morte se Lhe abrissem, na presença de Seu Pai.

O cálice vai-se gradualmente enchendo com o vinho rubro e precioso da salvação. As rochas da terra abrem as suas bocas sequiosas, para o beber, como se ela própria estivesse mais necessitada da torrente da salvação do que os ressequidos corações dos homens.

A Terra estremeceu de horror porque os homens tinham erigido sobre seu seio a Cruz de Deus. Madalena, arrependida, lá estava, abraçada aos pés da Cruz; João, o sacerdote, cujo rosto é a imagem fiel do próprio amor, escuta as pulsações do coração, cujos segredos aprendera a amar.

Maria, absorta, pensa quanto o Calvário é diferente de Belém.

Trinta e três anos antes, Maria baixava o seu doce olhar para a sagrada face de Jesus Menino. Em Belém o Céu contemplava a face da Terra; agora, os papéis invertiam-se. É a Terra que ergue os olhos para a face do Céu – um Céu marcado pelas cicatrizes da Terra.

Ele amava Maria, acima de todas as criaturas da Terra, porque Ela era a Sua Mãe e a Mãe de todos nós. Ele viu-A, logo que chegou à Terra, e viu-A ainda no momento derradeiro , antes de A deixar. Os Seus olhos encontraram-se, resplandecentes de vida, trocando, entre si, uma linguagem que só Eles entendiam.

No meio de um rapto de amor, uma cabeça inclinou-se, um coração parou, outro coração despedaçou-se. Jesus entrega o Seu espírito puro, sem mácula, nas mãos de Deus, por entre o ressoar das trombetas da vitória eterna. E Maria, a Mãe que acaba de perder o Seu Filho, permanece aos pés da Cruz. Jesus está morto.

Maria ergue o Seu olhar para os olhos de Jesus, vivos e claros ainda no Seu rosto imobilizado pela morte.

Sumo Sacerdote do Céu e da Terra, a Vossa Missa está terminada! Deixa o altar da Cruz e encaminha-Vos para a Vossa sacristia. Como Sumo Sacerdote, Vós vieste da sacristia do Céu, paramentado com as vestes da humanidade, e o Vosso corpo e o Vosso sangue eram o pão e o vinho.

Agora, o Sacrifício está consumado. Fez-se ouvir o toque da campainha da Consagração, e resta apenas o cálice esgotado e enxuto. Entra na Vossa sacristia, despe as vestes da mortalidade, e enverga a túnica branca da imortalidade.

Mostra as Vossas mãos, os Vossos pés e o Vosso lado a Vosso Pai Celestial e diz: "Assim fui ferido na casa daqueles que Me amaram".

Entra, Sumo Sacerdote, na Vossa sacristia celestial e, quando os Vossos representantes na Terra erguerem a hóstia e o cálice, mostrai-Vos ainda a Vosso Divino Pai, e intercede amorosamente por nós, até a consumação dos séculos.

A Terra foi cruel para conVosco, mas Vós serás extremamente misericordioso para com ela. A Terra Ergueu-Vos na Cruz, mas agora Vós elevarás a terra por meio por meio da Cruz. Abre as portas da celestial sacristia, ó Sumo Sacerdote! Vê que estamos agora à Vossa porta e não cessamos de bater!

E o que Vos diremos nós a Vós, Maria? a Vos que és a sacristia do Sumo Sacerdote, como já o foste em Belém, quando Ele veio até junto de Vós, para trazer ao mundo o grão e a cepa? E foste-o também na Cruz, onde Jesus Se transformou no Pão da Vida e no Vinho, por meio da Crucificação.

Vós és também o Seu sacristão, agora que Ele vem do altar da Cruz, trazendo apenas o Cálice enxuto do Seu sagrado corpo. Quando esse cálice repousa no Vosso regaço é como se voltasses aos tempos de Belém, porque Ele é Vosso, mais uma vez, O cálice só é, porém, o mesmo, na aparência, pois o de Belém sofrera apenas a prova do fogo que o moldara, ao passo que o da Paixão passara pelo duplo fogo do Gólgota e do Calvário.

Em Belém, Ele era branco, tal como viera das mãos de Deus, Seu Pai: agora é da cor de sangue, tal como vem até nós.

Vós és, porém, ainda a Mãe Imaculada daqueles que ajoelham junto ao latar; fazei com que nos apresentemos ali na maior pureza e assim nos conservemos, até ao dia em que entremos na Sacristia Celestial do Reino dos Céus, onde Vós serás a nossa eterna sacristia e Jesus o nosso eterno Sacerdote.

E vós, amigos do Crucificado, o vosso Sumo Sacerdote abandonou a Cruz, mas deixou-nos o altar.

Na Cruz, Ele estava só, mas na Missa está conosco.
Na Cruz, Ele sofreu no Seu corpo físico. No altar, Ele sofre no Seu Corpo Mistico, que somos nós.
Na Cruz, Ele era a única Hóstia; na Missa, nós representamos pequenas hóstias, e Ele a Hóstia imensa, recebendo o Seu Calvário por nosso intermédio.
Na Cruz, Ele era o Vinho; na Missa nós somos a gota de água, unida com o vinho e consagrada com Ele.

Sob esse aspecto, Ele está ainda na Cruz, rezando a Confissão conosco, perdoando-nos ainda, encomendando-nos ainda a Maria, sequioso ainda por nós, encaminhando-nos ainda para junto de Seu Pai, pois, enquanto o pecado existir na terra, a Cruz permanecerá!


"De dia ou de noite,
onde quer que o silêncio me rodeia,
sou surpreendido por um grito
que vem do alto da Cruz.

A vez primeira que o ouvi,
parti à procura...
E encontrei um homem nas agonias da crucificação.

E disse-Lhe:
"Vou despregar-Vos da Cruz!"
E tentei arrancar os cravos dos Seus pés,
mas Ele disse:
"Deixa-os estar, porque eu não posso ser retirado,
enquanto cada homem, cada mulher e cada criança
não vierem, juntos, retirar-me daqui".

E eu volvi:
"mas eu não posso ouvir Vosso grito. O que devo fazer?"
E Ele replicou:
"Vai, mundo fora, e diz, a todo aquele que encontrares
que está um Homem pregado na Cruz!"

(O Calvário e a Missa - Arcebispo Fulton J. Sheen - Sétima e última parte)
PS: Grifos meus

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Entre lobos: Jovens...coragem!

Entre lobos: Jovens... coragem!


"Quem me confessar diante dos homens,
eu o confessarei diante do Pai Celeste.
Quem me negar diante dos homens,
eu o negarei diante de meu Pai Celeste"
 (Mateus 10, 32-33)


Sabes, meu amigo, que coisa é não uivar com os lobos?

Ora! Esta pergunta te espanta? No entanto, ela aponta o grande perigo que ameaça muitos jovens que têm, infelizmente, caráter fraco. Lembro-me a profunda impressão que me causou a história da covardia de Pilatos. "Não acho culpa nesse homem", disse.

- Põe-te então no lado de Jesus acusado! Liberta-o! Defende-o contra o populacho! - Não, Pilatos não é capaz disso, porque lhe gritam ao ouvido que o acusarão diante de César. - Ah! junto a César? Então encerrarei minha carreira? - Pois que pereça Jesus, eu quero progredir!

Esta covarde falta de princípios repete-se na vida de tantos jovens ... Eles gostan de sua religião e praticam-na, contanto que ninguém em sua presença pense diversamente. Pois, se alguém começar a zombar da religião, se um cabecinha de vento ridicularizar as coisas mais sagradas eles se retraem receosos, calam-se, envergonham-se: poderiam dirigir-lhes motejos, chamá-los de carola ou ingênuo ...

A princípio sorriem sem jeito, "para não ofender os de outra opinião"; com o tempo aceitam opiniões mais livres; por medo dos homens, renegam covardemente sua fé.

Bastava que refletissem um pouco: por amor a quem trairam a verdade? Pilatos fê-lo por causa do populacho; e eles? Por causa de uns tolinhos de cabeça ôca.

Grandes idéias exigem mártires. É fácil filosofar em cômoda poltrona, junto à mesa posta ou à lareira confortável. mas, a força de um ideal só se manifesta deveras quando em luta de vida e morte, quando a defesa dum princípio pede o sacrifício da riqueza, do bem estar, da família, da própria vida.

Bem podes orgulhar-te da fé católica, quando mais não o fizesses senão por ter proporcionado fortaleza a milhões de mártires, a fim de perseverarem mau grado as mais horríveis torturas.

Há uma biblioteca inteira sobre os sofrimentos dos mártires. É impossível narrar pormenorizadamente aqui seus feitos sublimes. Servir-te-á, entretanto de incentivo na fé, a leitura freqüente de suas vidas, e o espetáculo de sua inabalável firmeza ante o martírio; não somente homens, mas ainda mulheres, anciãos, meninas e rapazes. Os imperadores romanos, os sacerdotes dos ídolos, os filósofos e os algozes sedentos de sangue jamais os pouparam, movidos pelo desepero do paganismo agonizante.

Entre eles houve meninos, que se poderiam ter subtraído às terríveis torturas, caso cedessem numa ninharia apenas: deitar uns grãozinhos de incenso no altar do ídolo; com uma única palavra renegar a Cristo. Mas não, não o fizeram!

Lêonidas o pai de Orpigenes fora encarcerado. O menino escreveu uma carta, em que pedia a seu pai não renegar sua fé por amor á família. Leônidas sofreu severamente a morte, e o órfão Orígenes suportou heroicamente com sua mãe e seus seis irmãos menores, a pobreza em que vieram a cair.

Cirilo, rapaz de doze anos, foi expulso de casa por seu pai, por causa da fé cristã. O juiz pagão mostrou-lhe os horrorosos instrumentos de tortura, para causar-lje medo. Cirilo exclamou: "Andem depressa, depressa, para que mais cedo eu chegue ao céu". E, durante a execução, era ele quem consolava os assistentes que choravam.

Contudo, não é somente nos primeiros séculos que correu o sangue de fiéis confessores da fé: sempre houve almas fortes que souberam suportar as dores por Jesus Cristo e pela fé católica.

Encontrarás nas páginas da história inúmeros homens de caráter que terminaram seus dias sob o cutelo do algoz, porque não quizeram abjurar a fé católica (na Inglaterra, por ex., o bispo Fisher, o chanceler Tomás Moro, etc.).

Não é pois uma inominável covardia, repudiar tua convicção religiosa, por medo a gente frívola e leviana?!

"Mas são rapazes de familias distintas!"
Não, não são! quem fala levianamente de coisas religiosas, dá prova cabal da baixeza de seu caráter.

"Contudo, são jovens da melhor sociedade!"
Não! Onde não se respeita a Deus, não há boa sociedade.

"Mas eles são muito mais velhos do que eu! Que posso fazer?"
Quem quer que ataque a religião, embora seja muito mais idoso do que tu, dizer-lhe tua opinião calma e refletida, mas corajosa e decididamente. Não entres em discussão com os adversários - isso não dá resultado - mas não suportes sem reação nenhuma calúnia.

Imagina então, a Jesus de novo diante de Pilatos, e indigna-te como se alguém fizesse mal a tua mãe:

Não permito que espezinhem minha fé católica!
Não suporto calado que se insultem coisas sagradas!
Não quero ouvir, covardemente passivo, os inimigos de minha religião!
Guardo no coração as palavras de Jesus:

"Quem me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante do Pai Celeste. Quem me negar diante dos homens, eu o negarei diante de meu Pai Celeste" (Mateus 10,32-33)

(Excertos do livro: A Religião e a Juventude - Mons. Tihamér Tóth)
PS: Grifos meus.

Seu pedestal

Se pedestal



Não é qualquer eminência que serve para destacar uma mulher sobre as outras. O Criador já lhe deu um pedestal, o quase único que a realça e celebriza. Queres conhecê-lo?

"O valor de uma mulher, desde a origem da humanidade até ao seu desaparecimento, mede-se e medir-se-á sempre, não pela classe social a que pertence, ou pela riqueza e elegância, ou pelos vestidos e beleza, nem mesmo pelos produtos literários, mas pela maneira com que desempenha a quádrupla missão de esposa, mãe de família, educadora e dona de casa.

Eis aí sua missão essencial, natural, divina. O resto é supérfluo. Há hoje em dia uma aberração dos espíritos, que antepõe o supérfluo ao essencial. Daí vem na sociedade moderna essa inversão: a mulher em vez de ser esposa torna-se associada; em vez de mãe muda-se em intelectual; em vez de educadora arnora-se em partidária política. Nefastos e patentes são os resultados sociais de tal transtorno..."

Leitora, não se muda o pedestal de uma estátua imponente e orientada, com a mesma facilidade com que se troca a forma de um chapéu.

Estás criando em tua casa umas filhas mimosas em vez de boas donas de casa, devotadas e carinhosas? Crias umas bonecas enfeitadas e inúteis? Então és responsável por um crime contra a família e a sociedade. Pois tuas filhas serão nulidades sociais...

(Excertos do livro: As três chamas do lar - Pe. Geraldo Pires de Souza)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

“Cuspiram-Lhe então no rosto e deram-Lhe bofetadas”

“Cuspiram-Lhe então no rosto e deram-Lhe bofetadas”
(Mt 26,67).


Depois de o julgarem digno de morte, como um homem já condenado ao suplício e declarado infame, aquela canalha pôs-se a maltratálo durante toda a noite com bofetadas, com golpes, com pontapés, arrancando-lhe a barba, cuspindo-Lhe no rosto, motejando Dele como dum falso profeta, dizendo-Lhe: “Adivinha, ó Cristo, quem te bateu?”

Tudo já predissera nosso Redentor por Isaías: “Entreguei meu corpo aos que me feriam e minha face aos que a laceravam; não desviei o rosto dos que me injuriavam e me cobriam de escarros” (Is 50,6).

Diz o devoto Tauler ser opinião de S. Jerônimo que só no dia do juízo final serão conhecidas todas as penas e injúrias que Jesus sofreu naquela noite. S. Agostinho, falando das ignomínias sofridas por Jesus Cristo, diz: Se este remédio não curar a nossa soberba, não sei o que há de curá-la (Serm. 1 in dom. 2 quadr.)

Ah, meu Jesus, Vós tão humilde e eu tão soberbo!
Senhor, dai-me luz, fazei-me conhecer quem sois Vós e quem sou eu.

Então suspiram-Lhe no rosto! Ó Deus, que maior afronta, que ser injuriado com escarros! O último dos ultrajes é receber escarros, diz Orígenes. Onde se costuma escarrar, senão em lugares sórdidos? E Vós, meu Jesus, sofreis escarros no rosto. Esses iníquos Vos o maltratam com bofetadas e pontapés, Vos injuriam e cospem no Vosso rosto, fazem conVosco o que querem e não os ameaçais, nem os reprovais: “O qual, sendo amaldiçoado, não amaldiçoava, sendo maltratado, não ameaçava, mas entregava-Se àquele que o julgava injustamente” (1Pd 2,23).

Como um cordeiro inocente, humilde e manso, tudo suportastes sem nenhum lamento, oferecendo tudo ao Vosso Pai para nos obter o perdão de nossos pecados: “Como um cordeiro diante do que o tosquia, emudecerá e não abrirá sua boa” (Is 53,7)...

Ah, meu Senhor, Vós bem sabeis que houve um tempo em que Vos fiz as mesmas injúrias, quando Vos pospus aos meus malditos prazeres. Meu Jesus, perdoai-me, que eu me arrependo de meu passado e de hoje em diante quero preferir-Vos a todas as coisas.

Eu Vos estimo e Vos amo acima de todos os bens; prefiro mil vezes morrer a abandonar-Vos. Dai-me a santa perseverança, dai-me o Vosso amor...

Consideremos, como em nosso Redentor se realizou perfeitamente o que dissera o Salmista, isto é, que Ele se tornaria na Sua paixão o opróbrio dos homens e o ludíbrio da plebe: “Eu sou um verme e não um homem, o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe” (Sl 21,7), chegando a morrer coberto de vergonha, justiçado pela mão do carrasco num patíbulo, como um malfeitor, no meio de dois celerados: “E foi posto no número dos malfeitores” (Is53,12).

Ó Senhor altíssimo, tornado o mais baixo de todos os homens, exclama S. Bernardo; ó excelso tornado vil, ó glória dos anjos tornada o opróbrio dos homens!

Ó graça, ó força do amor de um Deus, continua S. Bernardo (Serm. de pass. Dm.). É assim que o Senhor Supremo de todos se fez o ínfimo de todos! E quem fez isto? O amor. Tudo fez o amor que Deus consagra aos homens, para nos patentear quanto Ele nos ama e ensinar-nos com Seu exemplo a sofrer pacientemente os desprezos e as injúrias. “Cristo padeceu por nós, diz S. Pedro, deixando-vos o exemplo para que sigais os meus vestígios" (1Pd 2,21).

Eleazar, perguntado por sua esposa como podia suportar com tanta paciência as injúrias que lhe eram feitas, respondeu: Eu me ponho a considerar Jesus desprezado e confesso que minhas afrontas nada são em comparação com as que Ele, sendo meu Deus, quis suportar por amor de mim.

Ah, meu Jesus, e como é que eu, à vista de um Deus tão ultrajado por meu amor, não sei suportar o mínimo desprezo por vosso amor? Pecador e soberbo! Donde, Senhor, me pode vir este orgulho?

Ah! pelos merecimentos dos desprezos que sofrestes, dai-me a graça de suportar com paciência e alegria as afrontas e injúrias. Proponho de agora em diante com o Vosso auxílio não mostrar mais ressentimento e  receber com alegria todas as injúrias que me forem feitas.

Outros desprezos mereci eu, que desprezei a vossa divina Majestade e por isso mereci os desprezos do inferno. Vós, meu amado Redentor, me fizestes mui doces e amáveis as afrontas, abraçando tantos desprezos por meu amor.

Proponho, além disso, para Vos comprazer, beneficiar quanto puder quem me desprezar ou pelo menos dizer bem dele e rezar por ele. E agora vos suplico encher de graças aqueles de quem recebi alguma injúria. Eu Vos amo, Bondade Infinita, e quero amar-Vos sempre quanto eu puder. Amém.

(Excertos do livro: A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo - Volume I - Santo Afonso Maria de Ligório)

PS: Grifos meus.

Muitos filhos: Confiança em Deus

Confiança em Deus


"Nunca vi o justo abandonado,
nem a sua descendência a mendigar o pão"
(Sl. 36,35).

Falta aos cônjuges modernos, mesmos católicos a confiança em Deus. Temos o direito de exprobrar-lhes a falta de generosidade e de esperança. O tremendo egoísmo burguês dessorou os corações.

... O filho é hoje economicamente encarado, "um herdeiro". Vê-se no filho a nascer mais um leito, mais um prato, mais uma mensalidade de colégio. Pior ainda, talvez: "mais um trabalho". A própria mãe é quem teme e se queixa.

As queixas mais lamentáveis para lábios maternos: está envelhecendo; não pode mais freqüentar a sociedade; não tem mais tempo para nada; as senhoras antigas podiam ter muitos filhos, mas hoje não! É a linguagem do egoísmo gélido e desalmado. E isto é tanto pior quanto são os aquinhoamentos da fortuna que mais se queixam.

Outros experimentam reais dificuldades. Cresce-lhes a família e não se lhes aumentam os meios. A continuar assim, temem chegar à penúria.

A uns e outros lembramos que a generosidade divina não se deixa vencer. Retrai-se diante dos que retraem. Mas não terá limites com os que põem no Pai toda a sua confiança.

"Quando Deus dá a boca, dá o prato", diziam os nossos antigos, muito mais cristãos do que nós. E o Livro Sagrado afirma na palavra do Salmista: "Nunca vi o justo abandonado, nem a sua descendência a mendigar o pão" (Sl. 36,35).

As dificuldades econômicas ou pessoais com uma família numerosa são largamente compensadas.
Os que querem filhos bem educados só têm que desejá-los numerosos.

É a família numerosa o melhor ambiente para uma boa educação. Importa, porém, não confundir a boa educação, formadora de homens fortes, viris e santos, com as facilidades que servem apenas para fazer comodistas, gozadores e maricas.

Os bons cristãos não se satisfazem com não pecar pelo escandâlo infundado que venha a provocar seu procedimento correto. Querem dar bom exemplo: que seu procedimento brilhe como a luz do Evangelho, posta sobre o alqueire. Os seus muitos filhos serão estímulo à covardia de uns, à falta de confiança de outros.

Mais. Para os bons cristãos o matrimônio é um Sacramento: coisa sagrada, fonte eficaz das graças divinas, figura da mística e real união entre Cristo e a Igreja. Ao administrar-se este sacramento, a Igreja expressou aos cônjuges seus sentimentos a este respeito.

Está na benção nupcial que a esposa seja "fecunda em prole" e "como vide abundante"; que os filhos "estejam em redor da mesa, como rebentos de oliveira"; e nisto estão as bençãos de Deus: "assim será abençoado o homem que teme o Senhor". A estes ensinamentos cristãos refere-se a Encíclica Casti Connubbi:

"Daí se vê facilmente quão grande dom da bondade divina e quão precioso fruto do matrimônio sejam os filhos, germinados da força onipotente de Deus e com a cooperação dos cônjuges".

E, mais expressivamente ainda:

"Os cônjuges verãos nos filhos, recebidos com ânimo pronto e reconhecido das mãos divinas, um tesouro que lhes foi confiado por Deus, não para dele servir-se em sua próprua vantagem nem da pátria terrena, mas para restituí-lo depois, com juros, no dia da prestação final das contas".

É, sem dúvida, a perfeição cristã. E a perfeição não se impõe. Mas se aconselha. E tem-se o direito de esperar dos bons cristãos, principalmente quando o mundo tanto precisa de bons exemplos e de ação regeneradora.

(Excertos do livro: Noivos e esposos - Pe. Álvaro Negromonte)
PS: Grifos meus

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sem "mobílias inúteis" (?)

Sem "mobílias inúteis" (?)

Certa mocidade de certo país, distante do nosso, adotou para os cartões de convites às festas as finais S.M.I. (Sem mobílias inúteis), isto é, sem ... os pais. Devia a convidada comparecer, mas sem trazer “peças inúteis”, gente que apenas vinha estorvar a livre expansão da alegria, ou fiscalizar as liberdades que se esperavam ou já se prometiam para os salões.

Estar à vontade e ser independente – eis o sonho de muita moça e de muitas que gentilmente vão lendo estas linhas. Qualquer controle lhes é pesado. O menor limite às suas vontades lhe parece violação de fronteiras. E lembram aos pais que outras moças são boas e comportadas, gozando, contudo, de mais liberdade. Que são piedosas e “da igreja”, tendo, porém, livres e sem vigilância suas saídas e entradas.

Ora, creia-me a senhorita, a tal independência da vontade dos pais não é possível, nem vantajosa para uma moça. Na mocidade é indispensável uma autoridade moral mais experimentada que a sua para a aconselhar e dirigir.

Quem não aceita essa dependência dos pais, rejeita também toda e qualquer outra. E então lá se vão as reservas, vêm as tolices, aparecem as falsas apreciações. Não tardará muito e a tal independente entregue a uma mentalidade muito vaga, na qual as cores dos compromissos são mais do que esfumadas.

Mais. Quando alguém pode fazer o que entende, entrega-se logo àquilo que atrai. E esse atraente não é o dever, mas sim o prazer. Acompanhar a correnteza é mais convidativo do que enfrentá-la.
Há na vida uma lei elementar que diz: Quem não se sujeita as exigências mais nobres há de servir a imposições mais vis. Por isso seremos sempre dependentes, ou da autoridade moral dos superiores, ou dos nossos caprichos e das nossas paixões, e de quantos sabem explorá-las.

Em comparação com a tirania das últimas, é até um reinado a dependência aceita com amor – Deus, para nos dar a liberdade de filhos Seus, que fez? Deu-nos mandamentos que nos livram de escravidões e dependências vergonhosas.

(Audi Filia! – Pe. Geraldo Pires de Souza)
PS: Grifos meus
PS2: Ver também: A donzela cristã e a obediência

Quinta ferida: Dores de Nossa Senhora

Quinta ferida - Morte de Jesus




"O Coração de Jesus e o Coração de Maria
formaram um só no Monte do Calvário,
pela submissão à vontade do Pai.
Cada um tem a sua cruz no mundo,
 mas não há duas cruzes que sejam idênticas.
A de Nosso Senhor era a Cruz da Redenção
 para os pecados do Mundo;
 a de Nossa Senhora foi uma vida inteira
 de união com a Cruz."

A Cruz não une apenas os amigos de Nosso Senhor, mas também os Seus inimigos. Só os medíocres lhe escapam. Nosso Senhor era perfeitíssimo; perturbava as consciências, portanto devia morrer.

Os ladrões eram a maldade em pessoa; perturbavam a falsa segurança dos proprietários; deviam morrer. O Próprio Cristo anunciara que seria tirado da Terra, tal como a serpente de bronze de Moisés. Assim como os Israelitas, mordidos por serpentes venenosas eram curados pela simples vista desta – sem veneno -, assim também Cristo tomou a forma do homem – mas sem o veneno do pecado; e todos os que para Ele levantem os olhos serão curados do pecado que vem da serpente, como quem diz, do demônio.

Ninguém olha de mais perto a Cruz do que Maria. Nosso Senhor mergulhou a espada no Seu Próprio coração, porque ninguém Lhe tomou a vida: “Eu dou a minha vida...” De pé, como se fora um Padre, acabrunhado como se fosse uma Vítima, entregou-Se à iniqüidade do homem, de maneira a quem o homem pudesse fazer-Lhe todo o mal possível.

O pior que um homem pode fazer é matar Deus. Permitindo ao homem que chamasse contra Ele os Seus mais mortíferos meios, e impondo-lhe, em seguida, uma completa derrota pela Sua Ressurreição dentre os mortos, Cristo provou que o mal nunca sairia vitorioso.

Foi na medida em que ela tinha preparado o Padre para ser a Vítima, que a espada penetrou na alma de Maria, por ocasião da quinta ferida. A Sua cooperação foi tão real, tão ativa, que Ela se teve de pé, junto da Cruz. Todos os quadros que representam a Crucificação nos mostram sempre Maria Madalena prostrada aos pés do Salvador. Mas a Santíssima Virgem é figurada de pé. João, que também lá estava, tão impressionado ficou de A ver de pé, durante essas três horas, que assim o escreveu no seu Evangelho.

O paraíso terrestre foi desmoronado. Três fatos concorreram para a nossa queda: um homem desobediente, Adão; uma mulher orgulhosa, Eva; e uma árvore. Deus toma esses três elementos que levaram o homem à derrota, e deles se serve como instrumentos de vitória: o novo Adão obediente, Cristo; a mulher humilde, Maria; e a árvore da Cruz.

Demoremo-nos na quinta dor, para considerar a seguinte particularidade: Nosso Senhor pronunciou, sobre a Cruz, sete palavras que foram como que as sete notas de um hino fúnebre. Por outro lado, só sete palavras de Maria o Evangelho referiu. Não quer isto dizer que Ela só tivesse falado sete vezes, mas que apenas sete vezes se Lhe fez menção. A propósito de cada uma das palavras de Jesus moribundo, o coração de Maria levava-A a recordar as palavras que Ela própria pronunciara, e a Sua dor ganha intensidade na medida em que Ela vê aprofundar-se o mistério d’Aquele que devia ser “um objeto de contradição”.

Primeira

A primeira expressão de Nosso Senhor na Cruz foi esta: “Perdoai-lhes, Pai porque eles não sabem o que fazem”. Não é a sabedoria do Mundo que salva, mas a ignorância. Se os carrascos soubessem o que de horrível faziam, quando repeliam o Filho do homem; se, sabendo que Ele era o Filho de Deus, tivessem continuado deliberadamente a provocar-Lhe a morte, então não haveria esperança de os pecadores se salvarem. Foi por virtude da ignorância da blasfêmia que praticavam que eles foram chamados a ouvir cair sobre si as palavras de perdão, e a obtê-lo.

Esta primeira expressão lembra a Maria a Sua. Também Ela dizia respeito à ignorância. Quando o Anjo Lhe anunciou que ia ser Mãe do Filho de Deus, perguntara: “Como pode ser isso, se não conheci varão?” Ignorância, aqui, significava inocência, virtude, virgindade. Ignorância que se confessa não é ignorância da verdade, mas ignorância do mal.

Jesus perdoa aos pecadores que são ignorantes, mas não os anjos rebeldes que sabiam o que faziam e que, por conseqüência, se tinham colocado fora da Redenção. Maria é bendita, porque era ignorante do homem, devido ao Seu voto de virgindade.

As duas expressões unem-se aqui numa só dor para Jesus e para Maria: a dor de ver que os homens não possuem a verdadeira sabedoria, aquela que só às crianças é dada: eles ignoram que só Cristo os pode salvar.

Segunda

A segunda expressão de Cristo foi dirigida ao ladrão arrependido. Este começou por blasfemar contra Ele, mas, ao ouvir as palavras de perdão, ao ver a beleza de Sua Mãe, corresponde à graça; considera o seu castigo como “uma recompensa dos seus crimes”. A vista do Homem na Cruz central, obedecendo à vontade de Seu Pai, leva-o a aceitar a sua própria cruz, como provinha da vontade de Deus. E então lança ele um supremo apelo ao perdão, e Cristo lhe responde: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.

Esta magnífica aceitação dos seus sofrimentos, por parte do ladrão, para expiar as suas faltas, faz que Maria se lembre da outra palavra do Anjo. Quando este Lhe disse que Ela ia ser Mãe d’Aquele a quem Isaías descreveu como o homem batido e afligido por Deus, proferiu Ela a Sua segunda palavra: Fiat. “Faça-se em mim a Tua palavra”.Não há nada no Universo que mais importância tenha do que fazer a vontade de Deus, ainda que isso leve ao ladrão um suplício, e uma dor Àquela que se tem de pé junto da Cruz.

O Fiat de Maria foi uma dos grandes Fiats do Mundo: um fez a luz, o outro aceitou a vontade do Pai, no Jardim das Oliveiras. Quanto ao de Maria, traduz-se na aceitação de uma outra vida, em que Ela se esquecerá de Si própria, para ser a companheira da Cruz.

O Coração de Jesus e o Coração de Maria formaram um só no Monte do Calvário, pela submissão à vontade do Pai. Cada um tem a sua cruz no mundo, mas não há duas cruzes que sejam idênticas. A de Nosso Senhor era a Cruz da Redenção para os pecados do Mundo; a de Nossa Senhora foi uma vida inteira de união com a Cruz.

Quanto à do ladrão, consistiu em suportar a agonia na cruz, como prelúdio de uma coroa. Uma vez que a nossa liberdade é a única coisa que possuímos como própria, constitui a mais perfeita oferenda que a Deus podemos fazer.

Terceira

A primeira palavra de Nosso Senhor era para os seus carrascos; a segunda para os pecadores; a terceira foi dirigida a Sua Mãe e a São João. Palavra de saudação e, no entanto, mercê dessa palavra, todas as relações humanas foram modificadas. Jesus chama a Sua Mãe “Mulher”, e a João “Filho”. – “Mulher, eis ai o teu Filho.” – “Filho, eis aí a tua Mãe.” É a ordem dada a todos os que quererão segui-Lo, para que vejam em Sua Mãe a própria Mãe deles. Tudo o mais Ele o dera. Ia agora dar-Se também. Mas, naturalmente, voltaria a encontrá-La, como Mãe do Seu Corpo Místico.

A terceira expressão de Maria foi também uma saudação. Não sabemos com rigor quais as palavras que empregou, mas sabemos que ia visitar e cumprimentar sua prima Isabel. Nesta cena evangélica, havia também um João – João Batista – que proclamava Maria como Sua Mãe. Isabel, sentindo seu filho agitar-se de alegria em seu próprio ventre, fala, por sua vez, e dirige-se a Maria como “Mãe de Deus”. Dois meninos estabelecem relações ainda mesmo antes de nascerem!

Quando Jesus, na Cruz, proferia a Sua terceira expressão, pensava Maria na sua. Na Visitação, era portadora da influência de Cristo, antes mesmo de Ele ter nascido, por, no Calvário, estar destinada a ser Mãe de todos aqueles que quisessem renascer.

O nascimento de Jesus nenhuma dor Lhe causou. Mas o de João e de milhões de entre nós, ao pé da Cruz, tal agonia Lhe levaram, que Ela bem mereceu o título de Rainha dos Mártires. Jesus sacrificou-nos Sua Mãe, para d’Ela fazer nossa Mãe. Maria sacrificou o Seu Divino Filho, para de nós fazer Seus filhos. Triste troca! Mas Ela estava convencida de que valia bem a pena.

Quarta

A quarta palavra da Santíssima Virgem foi o Seu Magnificat; a quarta expressão de Nosso Senhor é tirada do salmo vinte e um, que começa com este desabafo de tristeza: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” – mas que, todavia, termina quase como o canto de Maria: “Os pobres começarão e ficarão saciados; os extremos da Terra se lembrarão do Senhor e a Ele adorarão.”

Os dois cânticos elevam-se, sem que seja dado nenhum sinal de segura vitória.

Como é fraca, quando a consideramos apenas pelo lado humano, essa Mulher mergulha os Seus olhares até ao fim dos tempos e que profetiza: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada!” E como, pelo lado humano, se nos afigura sem esperança o desejo d’Aquele que ao mundo veio para se apoderar da Terra e que, repelido agora por ela, chama por Seu Pai!

Mas, para Jesus e para Maria, há tesouros na noite: para Maria, na noite duma Mulher; para Jesus, na noite do Gólgota.

Só aqueles que marcham na noite vêem as estrelas.

Quinta

A quinta expressão de Maria foi proferida quando Ela interroga Jesus: “Meu Filho! Porque procedeste assim conosco? Vosso pai e eu Te procurávamos aflitos.” É essa a expressão de todas as criaturas à procura de Deus. A quinta expressão de Nosso Senhor é a do Criador à procura do homem: “Tenho sede”. Não é a sede das águas da Terra, mas das almas.

As palavras de Maria resumem as aspirações de todas as almas em relação a Cristo, e as palavras de Cristo consubstanciam o Seu amor por cada uma das almas que Ele criou. Ora, no mundo, só existe uma coisa capaz de impedir esse encontro: é a vontade do homem. Para encontrar Deus, é preciso querer. Do contrário, Ele parecerá sempre que é um Deus que Se esconde.

Sexta

A sexta expressão de Maria tinha sido uma simples prece: “Eles não têm vinho”: palavras que apressaram Nosso Senhor a realizar o Seu primeiro milagre e a meter-Se no caminho real do Calvário. Depois de Nosso Senhor ter saboreado, na Cruz, o vinho que Lhe foi dado por um soldado, disse Ele: “Tudo está consumado.” Essa “Hora”, que Maria tinha, por assim dizer, começado, quando Cristo transmutou a água em vinho, está agora terminada: o vinho da Sua vida transformou-se em Sangue: o Sangue do Seu Sacrifício. Em Cana, Maria mandava Seu Filho para a Cruz; no Calvário, Cristo declara que terminou o Seu trabalho de Redenção.

O Coração Imaculado de Maria era o altar vivo sobre o qual o Sagrado Coração de Jesus se oferecia em Sacrifício, e Maria não ignorava que, a partir desse momento, os homens só seriam salvos pela oferenda do Filho de Deus.

Sétima

As últimas palavras de Maria, referidas pelo Evangelho, são as de abandono completo à vontade de Deus: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 11-5). Na Transfiguração, o Pai Celeste fala assim: “Eis o meu Filho bem-amado, escutai-O”.

E Maria lança este supremo apelo: “Fazei a Sua Vontade.” As últimas palavras de Jesus, na Cruz, foram aquelas pelas quais Ele abandonou a Sua vida à vontade de Deus: “Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito.”

Maria abandonou-Se a Jesus, e Jesus abandonou-Se a Seu Pai. Fazer a vontade de Deus, até à morte, tal o segredo de toda a santidade.

E aqui Jesus nos ensina a morrer, porque se Ele quis ter Sua Mãe junto de Si, na suprema hora do Seu grande abandono, como nos atreveríamos nós a deixar de dizer, diariamente:

“Rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém” ?

(O Primeiro Amor- Arcebispo Fulton J.Sheen – Quinta ferida)

PS: Grifos meus
PS: Ver também: Feridas anteriores

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Feminismo: Cancro na alma feminina

Feminismo: Cancro na alma feminina

Trechos do livro de Elisabeth Badinter - dita como escritora feminista e filósofa

"A continuidade dos cuidados mútuos altera a pureza inicial dos sentimentos e a autoridade da família do marido é um jugo insuportável."
(G.Mongrédien, Les précieux et les précieuses, Paris, Mercure de France, 1939, p. 149-150.)

"Uma bela dama que enterrou com honra seus sogros, avós, e madrasta... quando se acredita livre de um mal, cai em outro. Teve de lastimar a velhice, agora lastima a juventude fecunda e demasiado abundante, que a fez mãe e a sujeita a cada ano a um novo peso, a um perigo visível, a uma carga importuna, a dores indizíveis e a mil conseqüências desagradáveis. Mas é preciso sofrê-las sem dizer palavra: a idéia do dever predomina sobre todas as outras e condena todos os momentos de indiferença que se possa ter..."
 (Michel de Purê)

Ridículas talvez para todos os que não toleram que se deseje deixar a condição original, essas primeiras feministas são comoventes, como todos os autodidatas. Sua inabilidade não impediu a propagação de algumas de suas idéias. Nos meios que se pretendiam refinados, os homens mudaram sensivelmente de atitude para com suas esposas ou amantes. Os valores familiares tradicionais perderam seu peso, embora essas preciosas tenham tido inimigas acerbas entre as que pensavam que: "a virtude escrupulosa determinava que uma dama não soubesse fazer outra coisa senão ser mulher de seu marido, mãe de seus filhos e senhora de sua família e de seus escravos". (Texto do Grand Cyrus, tomo X)

Elas tiveram também adversários renitentes entre os burgueses, tão bem descritos por Molière, apegados aos valores tradicionais: os Sganarelle, Gorgibus ou Chrysale "que consideram as mulheres apenas como as primeiras escravas de suas casas, e proibiam às suas filhas ler outros livros afora os que lhes serviam para orar a Deus".

Essas mulheres precisaram de muita coragem e perseverança para ler os livros proibidos. Não que arriscassem grande coisa ao desafiar as proibições, mas haviam recebido uma educação tão medíocre, para não dizer nula, que nos surpreende sua ambição intelectual. E, finalmente, a sua realização.

Pais e maridos, porém, não viam com tão bons olhos essa avidez de cultura. Como não podiam eliminar-lhe a causa, tudo fizeram para minorar-lhe os efeitos. Do fim do século XVI a meados do século XVIII, a maior parte dos homens, e os mais eminentes deles, uniram-se para tentar, com um mesmo discurso, dissuadi-las de seguir esse caminho. De Montaigne a Rousseau, passando por Molière e Fénelon, conjuram-nas a voltar às suas funções naturais de dona-de-casa e de mãe.
 
O saber, dizem eles, estraga a mulher, distraindo-a de seus deveres mais sagrados. É preciso reconhecer que preciosas e cultas faziam pouco caso da economia doméstica e deixaram fama de execráveis donas -de-casa. G. Faniez descreve-as como sendo cada qual mais desinteressada de sua casa.
 
Madame de Rambouillet era incapaz no lar, como Madame de Sablé, que não deixou quase nada  aos filhos. O marechal de Coligny tomou da mulher a direção da casa, e conta-se que Marie de Montauron, filha de um célebre financista, só usava seus dez dedos para segurar seus mapas...

Os exemplos nesse sentido são numerosos, sendo impossível negar que Chrysale tenha razão: a ciência das mulheres prejudica muito o bom andamento da casa. Armande, Bélise ou Philaminte não discordariam. Mas Armande respondeu antecipadamente a todas essas diatribes desde a primeira cena das Fetnmes savantes. Suas palavras resumem a ideologia feminista de suas companheiras. Comparando as alegrias do casamento com as da filosofia, o elogio desta última não se faz sem a condenação do primeiro. À mulher casada no espírito tradicional, ela diz:

"Desempenhais no mundo um pequeno papel, entre as coisas da casa vos emparedando, e sem imaginardes prazeres melhores que o ídolo do esposo, e os fedelhos dos filhos!"

Ela aconselha à reticente Henriette entregar-se antes ao Espírito:

"Case-se, minha irmã, com a filosofia, que nos eleva acima de todo o gênero humano e dá à razão o império soberano."
Armande e Philaminte não escondem suas ambições e sua vontade de poder. Esperam que o saber as eleve à posição dos homens e lhes dê o mesmo prestígio. Talvez até queiram mais do que a igualdade dos sexos. Há espírito de revanche nessas mulheres, como se esperassem que o poder intelectual castigasse os homens pela tradicional sujeição feminina

(Retirado do livro: Um amor conquistado: O Mito do Amor Materno - Elisabeth Badinter)
PS: Grifos meus

Que é a contrição perfeita?

Que é a contrição perfeita?


Não me move meu Deus, para querer-Te,
O Céu que me tens prometido,
Nem me move o inferno, tão temido,
Para deixar por isso de ofender-Te.

Tu me moves, Deus meu, move-me o ver-Te
Cravado em uma Cruz, escarnecido;
Move-me o ver Teu Corpo tão ferido,
Movem-me Tuas afrontas e Tua morte;
Move-me, enfim, Teu amor e de tal maneira
que, ainda que não houvesse Céu, Te amaria,
E, ainda que não houvesse inferno, Te temeria.

Nada tens que dar-me porque Te quero;
Porque, se não esperasse o que espero,
Te queria o mesmo que Te quero.

(Ato de amor perfeito e contrição perfeita,
atribuído a São Francisco Xavier)

Contrição é uma dor da alma e uma detestação dos pecados cometidos. Deve acompanhá-la o propósito, quer dizer, uma firme vontade de emendar a vida e de não mais pecar. Para que a contrição seja legítima, deve ser interna e estar na alma, isto é‚ que não seja uma mera expressão feita com os lábios e sem reflexão: isto seria apenas contrição de boca.

Não é necessário manifestar exteriormente a contrição interna por meio de suspiros, lágrimas, etc.: tudo isto pode ser sinal de contrição, não é, porém, sua essência. A essência da contrição está na alma, na vontade, em afastar-se deveras do pecado e converter-se para Deus.

Além disto, a contrição deve ser geral, quer dizer, deve estender-se a todos os pecados cometidos ou, pelo menos, a todos os mortais. Deve, finalmente, ser sobrenatural e não meramente natural, pois esta nada aproveita.

Segue-se que a contrição, como todo o bem, deve proceder de Deus e da sua graça, e, com a graça de Deus, desenvolver-se na alma. Porém, não tenhas receio; basta que a peças, basta que tenhas boa vontade e te arrependas por algum motivo legítimo, sobrenatural, e Deus te dará a graça necessária.

Se o motivo se funda na natureza ou somente na razão (por exemplo, nos danos temporais, na vergonha, doença, etc.), é muito fácil que a dor seja puramente natural e sem mérito; porém, se o motivo da contrição é alguma verdade da Fé, por exemplo: o inferno, o purgatório, o céu, Deus, etc., então a contrição é legítima, sobrenatural.

E esta contrição legítima e sobrenatural pode, por sua vez, ser de duas classes: perfeita e imperfeita; e com isto temos chegado a nossa matéria da contrição perfeita.

Em poucas palavras, contrição perfeita é a contrição que procede de amor; imperfeita, a que procede do temor de Deus.

É contrição perfeita quando procede de amor perfeito a Deus. Pois bem, o nosso amor a Deus é perfeito quando o amamos porque Ele é em Si infinitamente perfeito, formoso e bom (amor de benevolência), e porque nos mostrou de uma maneira tão admirável o seu amor (amor de agradecimento).

É imperfeito o amor de Deus quando o amamos porque esperamos alguma coisa dEle. De modo que, com o amor imperfeito, pensamos sobretudo nos dons; com o perfeito, na bondade do dador; com o amor imperfeito, amamos mais os dons; com o perfeito amamos mais o dador, e isto não tanto pelos seus dons como pelo amor e bondade que nos dons se manifesta.

Do amor nasce a contrição. Será, pois, perfeita a contrição se nos arrependermos dos pecados por amor perfeito de Deus, quer seja de benevolência quer de agradecimento. Será imperfeita se nos arrependermos dos pecados por temor de Deus, porque pelo pecado perdemos a recompensa de Deus, o Céu, e merecemos seu castigo, o inferno ou o purgatório.

Na contrição imperfeita, fixamo-nos principalmente em nós e nas desgraças que, segundo a Fé nos ensina, nos acarretou o pecado. Na contrição perfeita, fixamo-nos sobretudo em Deus, na sua grandeza, na sua formosura, amor e bondade, vendo quanto o pecado O ofende, e que foi o pecado que Lhe ocasionou tantos sofrimentos e dores para nos redimir. Na contrição perfeita, não queremos unicamente o nosso bem, senão o bem de Deus.

Com um exemplo o verás melhor. Quando São Pedro negou o Divino Salvador, saiu fora e “chorou amargamente” (I Lc 22,62). — Por que chora São Pedro? É, porventura, pensando na vergonha que vai ter diante dos outros apóstolos? Se assim fosse, a sua dor teria sido puramente natural e sem mérito. É porque receia que seu Divino Mestre lhe tire, como ele merece, o cargo de Apóstolo e Superior e o expulse do seu reino?

Então seria boa contrição, mas somente imperfeita. Mas, não; Pedro arrepende-se e chora, antes de tudo, porque ofendeu a seu amado Mestre, tão bom, tão santo, tão digno de ser amado e por ser tão desagradecido ao seu imenso amor por ele. Tem, pois, verdadeira e perfeita contrição. Agora dize-me: tens tu também, cristão de minha alma, algum fundamento, algum motivo, parecido com o de São Pedro, para te arrependeres dos teus pecados por amor, e por amor perfeito e agradecido?

Sim, certamente, pois os benefícios que Deus te tem feito são mais que os cabelos da tua cabeça, e, considerando-os, podes dizer, em cada um deles, o que dizia São João: “Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19).

E como te amou?

Com amor eterno te amei — disse Ele — e me compadeci de ti e te atrai a mim” (Jer 31,3).

Sim, com amor eterno te amou. Desde toda a eternidade, desde quando ainda não havia nem um átomo de ti sobre a terra, te olhou com aqueles seus olhos amorosos e que tudo penetram, e te preparou alma e corpo, céu e terra, com o amor com que uma mãe prepara todo o necessário para o filhinho que ainda não nasceu. Ele deu-te a saúde e a vida, Ele te deu e te dá, em cada dia, todos os bens naturais.

Consideração esta que até aos pagãos pode fazê-los chegar ao conhecimento e amor perfeito de Deus; quanto mais a ti, cristão, que conheces outro gênero muito diferente de amor e de bondade, o amor e bondade sobrenatural de Deus para contigo; porque Deus se compadeceu de ti; e quando, com todo o gênero humano, estavas condenado pela culpa original, Deus enviou o seu Unigênito Filho, e Ele se fez teu Salvador e te remiu com seu sangue, morrendo na Cruz.

E em ti pensava com entranhado amor quando agonizava no horto das Oliveiras, e quando derramava o seu sangue com os açoites e os espinhos, e quando subia arrastando a pesada Cruz pelo longo e áspero caminho do Calvário; e quando, cravado nela, se desfazia em sangue entre indizíveis tormentos. Em ti pensava com entranhado amor, como se tu foras o único homem da terra.

Que tens a concluir daqui? “Amemos a Deus já que Ele nos amou primeiro” (I Jo 4,19).

E Deus te atraiu a Ele pelo batismo, graça capital e primeira da tua vida, e ela Igreja, em cujo seio foste então admitido. Quantos há que, só a força de trabalhos e canseiras, conseguem encontrar a verdadeira Fé, e a ti te a ofereceu Deus desde o berço, por puro amor. Atraiu-te a Ele e te atrai sempre pelos sacramentos e pelas inumeráveis graças interiores e exteriores de que te enche todos os dias, pois, em verdade, estás nadando, como em imenso mar, na bondade e amor de Deus. E este amor, quer ainda coroá-lo colocando-te consigo no Céu e fazendo-te eternamente feliz.

Que lhe deves por tanto amor? Não é verdade que deves corresponder a ele? Amemos também a Deus já que Ele nos amou primeiro.

Pois, vamos a contas e dize-me: Como tens pago a Deus, tão bom e amoroso, o seu amor e bondade para contigo? Dir-me-ás, sem dúvida, que com ingratidão e pecados. E pesa-te essa ingratidão? Sem dúvida que sim e queres ressarcir a tua pesada ingratidão, amando quanto possas tão grande e amoroso benfeitor. Pois, olha, se assim é, já tens contrição perfeita, contrição de amor de Deus. Para facilitar, chama-se a esta contrição de amor de Deus, contrição de amor ou de caridade.

Na mesma contrição de caridade, há uma mais levantada, que é quando alguém ama a Deus porque Ele é em si infinitamente formoso, glorioso, perfeito e digno de amor, prescindindo do seu amor e misericórdia para conosco. Há estrelas — e com esta comparação julgo que entenderás melhor — que, por estarem muito longe de nós, não as podemos distinguir, e, contudo, são tão grandes e formosas como o sol, que tão prodigamente nos dá o calor e a vida.

Pois assim, ainda quando o homem não tivesse visto nem gozado nunca do amor de Deus, eterna estrela do céu, ainda quando Deus não tivesse criado o mundo nem criatura alguma, seria apesar disso grande, formoso, glorioso e digno de ser amado, porque é em si mesmo e para si, o bem mais excelente, o mais perfeito e digno de amor. Isto e não outra coisa quer dizer essa expressão que, mais de uma vez, terás encontrado nos devocionários e nas fórmulas do ato de contrição e te terá parecido talvez algum tanto obscura.

Detém-te, pois, agora e contempla o amor de Deus; contempla-o, sobretudo, nos amargos sofrimentos do Salvador, a cuja luz o compreenderás tão facilmente como facilmente te arrebatará o coração.

Eis aqui o modo de alcançar praticamente a contrição perfeita.

(Retirado do livro: A contrição perfeita uma chave de ouro do Céu - J. de Driesch - Sacerdote da Arquidiocese de Colônia)

PS: Esse livreto pode ser adquirido em PDF aqui. Segue alguns pontos tratados no mesmo:

- Como se excita a contrição perfeita?
- É difícil excitar a contrição perfeita?
- E que efeitos são estes que produz a contrição perfeita?
- Por que é tão importante e até necessária a contrição perfeita?
- Quando se deve excitar a contrição perfeita?
- Atos de Contrição
- Disposição do Código de Direito Canônico sobre a contrição perfeita