A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
MATÉRIA
E FORMA DA EUCARISTIA
26
de Junho de 1940
Hoje trataremos da
matéria e da forma do Sacramento da Eucaristia.
A matéria é dupla —
pão e vinho. Só é matéria válida para a consagração o pão de trigo. Foi a
matéria que empregou Jesus na última Ceia. É o que diz a Tradição. E quando, em todas as línguas, se
emprega a palavra pão, entende-se invariavelmente o pão de trigo. Qualquer outra espécie deve ser indicada,
com expressões que estabeleçam distinção. Assim dizemos — pão de cevada, de
centeio, etc.
Praticamente, convém
saber que o pão para ser consagrado deve ser amassado com trigo e água natural, sem nenhuma outra mistura ou ingrediente. A
Igreja latina usa pão ázimo, isto é, sem fermento, em memória do que fez Jesus.
Pois na Páscoa dos judeus só se podia usar essa espécie de pão. Na Igreja
grega emprega-se o pão fermentado, que constitui matéria válida. O pão de trigo,
fermentado ou ázimo, é sempre pão. O Concílio Florentino disse expressamente:
“Os Sacerdotes devem consagrar o Corpo do Senhor, cada um segundo o costume da sua Igreja, quer ocidental, quer oriental.”[1]
O vinho, para ser matéria válida, há de ser de uva. Jesus Cristo
consagrou vinho de uva na Instituição da Eucaristia, como lemos no capítulo 14, versículo
25, de São Marcos. Há de ser
puro, natural, não corrompido.[2]
A Igreja tem
sempre o máximo cuidado a respeito
do pão e do vinho para a
consagração. Submete-os
frequentemente a exames, verificando
a pureza da farinha e qualidade do vinho, bem como a dosagem do
álcool.
E ninguém estranhará
esses cuidados, pois trata-se do Santíssimo Sacramento, o que nós temos de mais precioso
e respeitável no mundo.
A Igreja prescreve que
o Sacerdote que celebra a
Missa adicione algumas gotas de água ao vinho que deve ser consagrado[3]; isto lembra
o fato de ter saído sangue e água, do
lado aberto de Jesus, já morto. Significa
também a participação dos fiéis no Sacrifício
do altar.
A forma, como a matéria, é dupla. Para o pão, diz em latim o celebrante: Isto é o meu corpo. Para o vinho: Este é, pois, o Cálice do meu sangue, do novo Testamento — mistério da fé que por vós
e por muitos será derramado, para remissão dos pecados.
Estas palavras são
pronunciadas no grande momento da Consagração, na Missa. Duas consagrações — a
do pão e a do vinho... fazendo-nos
conceber o corpo e o sangue, como separados sacramentalmente. Que riqueza de
doutrina em que se revelam realidades misteriosas! Por certo a Paixão de Jesus
Cristo é maravilhosamente aqui representada por esta separação sacramental. Mas
o símbolo e a realidade estão unidos estreitamente. É o próprio Cristo que,
por Sua maneira de ser sacramental, exprime de novo e realiza o estado de morte
no qual Ele Se ofereceu ao Eterno Pai, sobre a cruz. O que leva Santo Tomás a
dizer: “A Eucaristia é o Sacramento perfeito da Paixão do Senhor, porque contém o mesmo Cristo em sua Paixão[4]”.
Eis a matéria e a forma do Santíssimo
Sacramento.
Pelas palavras da
forma vê-se bem que o Ministro principal do Santo Sacrifício da Missa é
Jesus Cristo. Os Sacerdotes, — e só os sacerdotes— são ministros secundários que oferecem o Sacrifício em
nome de Jesus Cristo e pelo poder que dEle receberam.
[1] Denzinger, n.º 692.
[2] Concílio Florentino – Denz. 698.
[3] C.Trid., Sess. XIII – Do S. Sacrifício
da Missa, cap. 7.º.
[4] Summa Theológica, pars III,
quest. 73, art. 5, sol. 2.ª.