Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
II.
— OBJETO DO CULTO
Vasos
litúrgicos
16. - Chamam-se vasos litúrgicos os vasos empregados no culto
divino. São de duas espécies: consagrados
e bentos.
Acrescentam-se os vasos, ou melhor,
objetos não consagrados nem bentos.
Os vasos consagrados ou bentos
perdem a consagração ou a bênção: a) se sofreram gastos ou mudanças tais que
lhes façam perder a forma anterior ou se tornem inutilizáveis ao fim a que
eram destinados; b) se serviram para usos profanos ou foram postos à venda
(can. 1305).
a) São
vasos consagrados
— o cálice e a patena: o cálice para a consagração do vinho, a patena ou o
pratinho redondo, que serve para conter a hóstia. Segundo atual
disciplina da Igreja, quer a taça do cálice, quer a atena, devem ser de ouro ou
prata dourada internamente: o pé do cálice pode ser de metal menos precioso.O cálice e a patena, antes de serem
usados para o santo sacrifício, devem ser consagrados pelo Bispo. Não perdem a
consagração se se estragou ou refez a douradura, mas no primeiro caso há
obrigação de fazê-los dourar de novo (can. 1035).
b) São
vasos simplesmente bentos
— a pyxide ou cibório, o ostensório, a custódia. Pyxide ou cibório é o vaso que serve para conter as
hóstias para a comunhão dos fiéis. Deve ter o bojo de ouro ou prata dourada
internamente.
Ostensório
é o vaso sacro em que a hóstia santa fica exposta á adoração dos fiéis.
Custodia
é um recipiente ou teca em que se coloca a hóstia a expôr-se no ostensório. Tem
uma meia lua ou luneta de ouro ou
prata, na qual se fixa a hóstia consagrada, a introduzir no ostensório.
A pyxide e a custodia devem ser
bentas pelo Bispo ou por um delegado seu: o ostensório convém, outrossim, que
seja bento.
c) Vasos
e objetos nem consagrados nem bentos,
usados no culto divino, são:
os vasos para conservar os óleos
consagrados pelo Bispo na Quinta-feira Santa, isto é, o óleo dos enfermos,
isto é, para o sacramento da extrema unção, o óleo dos catecúmenos e o santo
crisma;
as galhetas para o vinho e água do santo sacrifício;
a caldeirinha com o hyssope
ou aspersório para a água benta;
o turíbulo ou incensório e a naveta
para conter o incenso;
a campainha.
Alfaias
litúrgicas
17. - Chamam-se alfaias os panos que
servem para o culto divino.
a) Corporal — Pano de linho ou cânhamo, de forma quadrada, que o
sacerdote estende sobre o altar, pondo-lhe por cima o cálice e a hóstia a
consagrar ou a pyxide e o ostensório com o S. S. Sacramento.
Representa o lençol em que
envolveram o corpo do Senhor, após a morte.
b) Palia. — Pequeno paninho quadrado, da mesma substância que o corporal;
serve para cobrir o cálice.
c) Purificatório ou sanguíneo.
— Pequeno pano de linho ou cânhamo, que o sacerdote usa na Missa para
purificar o cálice, os dedos e os lábios após a ablução.
Essas três espécies de alfaias devem
ser bentas por quem tenha faculdades para isso: não podem ser lavadas pelos
leigos, sem primeiro ter sido purificadas na água por um clérigo revestido de
ordens maiores: a água dessa primeira lavagem deve ser lançada na piscina ou,
se esta faltar, ao fogo (Can. 1306).
d) Toalhas
do altar. — O altar, onde se celebra, deve ser coberto de três toalhas de
linho ou cânhamo, bentas pelo Bispo ou por quem tenha a respectiva faculdade.
A toalha superior será mais comprida
e descerá, pendendo, aos lados, quase a tocar a terra: pode ser ornada de
franjas ou rendas.
As toalhas lembram o sacro Sudário
em que foi envolto, no sepulcro, o corpo do Senhor.
e) Manustérgio. — Paninho com que o sacerdote
enxuga as mãos ao lavabo.
Vestes
litúrgicas
18. - Nos primeiros séculos do
cristianismo, os eclesiásticos, na vida privada, por medida de prudência, não
se vestiam diversamente dos leigos, mas traziam como eles a túnica e a toga. Quando, no século VI, os Romanos adotaram a veste curta dos
Bárbaros, a Igreja ficou fiel aos antigos usos e os eclesiásticos vestiram a sotaina, veste longa que se traz sob os
paramentos sacros. A sotaina ou batina é negra para os sacerdotes e clérigos, violácea para os Bispos, vermelha
para os Cardeais, branca para o Sumo
Pontífice.
O preto indica espírito de mortificação; o violáceo, maior dignidade e fervor no bem; o vermelho, presteza em derramar o sangue pela Igreja; o branco é símbolo da alegria da paz e da
humanidade regenerada por vida nova.
Quanto às funções sacras, parece que
nos primeiros séculos da Igreja não havia distinção entre o vestuário da vida
privada e o das funções sacras. Mais tarde, foram-se introduzindo vestes
especiais para as sacras funções. Sofreram transformações até à forma
atualmente em uso.
Quanto à cor de algumas vestes litúrgicas, no princípio houve uma cor
somente: — o branco; no século VII, já havia quatro cores; hoje há cinco: —
branco, vermelho, roxo, verde, negro.
a) O branco, emblema da alegria e da pureza, usa-se nas festas do
Senhor, de Maria Santíssima, dos Confessores, das Virgens, das Viúvas e nas
Domingas entre a Páscoa e Pentecostes;
b) o vermelho, símbolo do fogo da caridade e amor divino, emprega-se nas
festas do Espírito Santo, da Cruz, dos Apóstolos e dos Mártires;
c) o roxo, sinal de tristeza e mortificação, usa-se no tempo de penitência
e luto, especialmente na Quaresma, no Advento, nas Quatro Têmporas e nas
Vigílias;
d) o verde, símbolo da esperança, usa-se em todas as Domingas do ano,
em que se não empreguem o roxo e o branco;
e) o preto, sinal de luto, usa-se nas funções fúnebres e na Sexta-feira
Santa.
Em geral, as vestes sacras devem ser
bentas, salvo rara exceção. A bênção compete ao Bispo ou a um sacerdote por ele
delegado.
I. — Vestes litúrgicas comuns aos sacerdotes e aos ministros inferiores:
a) A sobrepeliz, resíduo da antiga túnica de linho dos Romanos,
encurtada várias vezes no decurso dos séculos. Quando as mangas são longas e
estreitas em torno dos pulsos, diz-se roquete:
é próprio dos Bispos, dos Prelados e dos Cônegos;
b) O Pluvial, derivação litúrgica da antiga veste romana, que se usava
nos dias chuvosos, e que significa a magnanimidade que deve ter o ministro da
Deus nas obras do divino apostolado.
II. — Vestes do diácono e subdiácono. — Nas missas solenes, usam-se o amicto,
a alva, o cíngulo e o manípulo. O subdiácono enverga a "tunicella” ou pequena túnica, veste
grande, ornada, que desce aos joelhos e tem mangas largas. O diácono traz a estola transversalmente ao ombro
esquerdo, de modo que as duas extremidades recaiam debaixo do braço direito; e
a dalmática, veste semelhante a “tunicella”,
assim chamada, porque era o vestuário distintivo dos Dálmatas. Tanto a
dalmática, como a tunicella, representam a alegria de haverem consagrado a
vida ao serviço de Deus.
III. — Vestes sacerdotais. — São vestes litúrgicas sacerdotais:
a) O amicto, pedaço de linho, quadrado ou retangular, com dois cadarços
longos, derivado do costume clássico de se apertar com algumas faixas a ampla
túnica sob as axilas, para que o flutuar não impedisse o movimento livre aos braços.
O sacerdote o põe sobre a cabeça e o
pescoço.
Representa: a) o elmo da salvação,
do qual deve estar ornado o ministro de Deus para repelir os assaltos do
demônio; b) o freio da voz, como diz o Pontifical Romano;
b) a alva, túnica de linho que desce aos pés, tem mangas compridas e
estreitas aos pulsos.
Representa a veste alva com que, por
derisão, foi revestido Nosso Senhor pelo rei Herodes: significa a pureza e a
limpidez do coração;
c) o cíngulo, cordão de linho, cânhamo ou seda, que segura a alva à pessoa.
Relembra as cordas com que ligaram a Nosso Senhor e significa a virtude da
continência e castidade;
d) o manípulo. — Era, na origem, um paninho ou lenço que se usava para
enxugar as lágrimas e o suor. Transformou-se, depois, em um pequeno pano da
mesma substância e cor da casula, ornado de três cruzes. Vem ligado, pendente,
ao braço esquerdo. Significa as fadigas e as lágrimas da vida evangélica, de
que são fruto as boas obras, que o sacerdote em manípulo ou feixe oferece ao
Senhor para, com elas, obter celeste recompensa;
e) a estola, longa faixa de fazenda, ornada de três cruzes; posta ao
pescoço, passa por sobre os ombros e pende até aos joelhos. O sacerdote a cruza
ao peito; o Bispo a deixa cair aos dois lados, para não cobrir a cruz peitoral.
É símbolo da inocência e imortalidade, perdida pelo pecado do primeiro homem;
f) a casula ou planeta. — Era
na origem um grande manto, largo e redondo, com uma abertura ao meio para dar
passagem à cabeça: o manto, ao cair, envolvia a pessoa toda, à guisa de casa,
motivo por que foi chamada casula ou casa pequena. O sacerdote a recolhia aos
lados sobre os braços para ficar livre nos movimentos; pouco a pouco se lhe reduziu
a amplidão, até a deixarem na forma atual, forma que, apesar de tudo, é das
mais antigas.
A palavra planeta, do grego, quer
dizer errante, porque —, não sendo
fechada ao corpo, errava livremente no ar, nos movimentos que fazia o
sacerdote. Representa o jugo do Senhor, que o sacerdote precisa trazer para
merecer a graça.
IV. — Vestes episcopais. — Além dos paramentos comuns a todos os que
oferecem o santo sacrifício, há alguns próprios dos Bispos. São:
a) A cruz peitoral, pendente de uma cadeia ou de um cordão de seda;
geralmente contem relíquias dos santos e por vezes uma partícula do santo lenho
da cruz.
Recorda ao Bispo que está em lugar
de Jesus Cristo e precisa seguir-lhe os passos;
b) a dalmática e a tunicella
de seda levíssima, que o Bispo enverga sob a casula, indicam-lhe que possui a
plenitude da Ordem e o poder de comunicá-la;
c) o anel, que traz ao anular da mão direita, significa a união que ele
contraiu com a sua diocese;
d) a mitra, barrete alto, de forma canônica, fendido lateralmente na
parte superior, adornado de recamos e pedras preciosas, tem na parte posterior
duas fitas que tombam sobre as espáduas. É símbolo do poder do Bispo e do zelo
com que deve combater em prol da religião;
e) o báculo pastoral, insígnia da jurisdição, usada pelo Bispo só na
própria Diocese;
f) as cáligas, as sandálias, as
luvas, o gremial, etc.
g) Paramento próprio do Sumo
Pontífice, dos Patriarcas e dos Metropolitas (Arcebispos de uma provinda
eclesiástica com dioceses sufragâneas) é o pálio, faixa de lã branca, ornada de
cruzes negras. Gira em torno aos ombros e tem duas extremidades pendentes, uma
sobre o peito e outra às costas. Os pálios são feitos cada ano, em Roma, com a
lã dos cordeiros bentos no túmulo de Santa Inês; bentos pelo Papa na vigília de
São Pedro e colocados sobre o túmulo do Santo Apóstolo, donde (de corpore P.
Petri) os tiram para dar aos que a eles têm direito. O pálio é sinal de
jurisdição: concede-o por vezes o Papa a simples Bispos em sinal de honra: —
deve ser trazido em certas solenidades e ir com ele sepultado quem obteve tal
privilégio.
V.— Vestes papais. — O Sumo Pontífice, nas missas pontificais, leva
como vestes particulares suas:
a) a falda, veste de seda branca, com uma longa cauda;
b) o fânon, que consiste em duas murças superpostas, sendo a inferior
mais longa que a de cima.
Entre uma e outra murça, vem
colocada a casula. Sobre o phanon prende-se o pálio com alfinetes de ouro;
c) a tiara, barrete elevado, ornado de três coroas sobrepostas, símbolo
do seu poder como Bispo, como Papa e como Rei. Alguns vêem, nas três coroas, indicado
o tríplice poder de magistério, de jurisdição e de ordem; outros, o poder
relativo à igreja militante, purificante e triunfante.