Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
XI.
— PATER NOSTER
Excelência
77. - A mais excelente oração é o Padre Nosso ou Oração dominical, isto é,
do Senhor.
O Padre Nosso é a mais excelente oração, por que:
a) a compôs Jesus Cristo diretamente
e Ele mesmo a ensinou aos Apóstolos, quando O interrogaram de que modo deviam
orar. (Luc. XI, 1-4);
b) porque encerra claramente em
poucas palavras tudo o que podemos pedir a Deus e de Deus esperar.
Proêmio
78. - O Padre Nosso compõe-se de um proêmio
ou introdução e de sete petições ou
pedidos. Os três primeiros pedidos referem-se à glória de Deus e os outros
quatro, às nossas necessidades espirituais e temporais.
No proêmio — “Padre Nosso, que estais no Céu” —, chamamos a Deus nosso
Pai, porque Ele verdadeiramente é pai de todos os homens, a quem criou, e de
modo especial pai adotivo dos
cristãos, porque os remiu e adotou por filhos no Batismo.
(A palavra Padre, em Português, é o mesmo termo pai dito mais reverentemente,
como o termo V. Excelência é mais reverencial que o termo Você).
Chamar a Deus nosso Pai nos anima a recorrer a Deus com a
confiança de filhos e orai, não só por nós, senão também pelos nossos irmãos;
por esse motivo dizemos — Padre nosso.
Acrescentamos — “que estais no Céu”,
— não para excluirmos que Deus esteja em toda parte, mas para pensarmos em Seu
reino, onde Ele se manifesta plena e visivelmente aos eleitos.
As
três primeiras petições
79. - Como filhos, desejamos e
pedimos em primeiro lugar a glória de nosso Pai e dizemos “santificado seja o vosso nome",
isto é, queremos que Deus seja conhecido e glorificado pelos homens.
É, porém, nosso vivo desejo
participar também nós da glória de nosso Pai. Daí o acrescentarmos: Venha a nós o vosso Reino, isto é,
reinai em nós com a Vossa graça, reinai na Igreja com o Vosso espírito e
concedei-nos o reinar convoco em Vossa glória.
O meio essencial para que Deus possa
reinar em nós com a graça e possamos reinar com Ele na glória é o de fazer-Lhe
a vontade; pelo que, na terceira petição, Jesus Cristo nos faz dizer: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra,
como no céu”. Com essas palavras, declaramo-nos dispostos a aceitar das
mãos de Deus tudo o que Ele estabeleceu na economia geral do mundo; ao mesmo
tempo implorarmos fazer a vontade de Deus nas coisas que deixou ao nosso livre
arbítrio e fazei-a prontamente, como no céu o fazem os anjos.
Quarta
petição
80. - Além do meio essencial, há os
meios secundários, isto é, praticar o
bem e ficar longe do mal. O bem desejado pode ser duplo: — espiritual e
material. Está contido na quarta petição: — “O pão nosso de cada dia nos dai hoje”, isto é, tudo o que serve
para manter a vida da alma e do corpo.
Para a alma, a graça de Deus, dada
pelos sacramentos, especialmente pela SSma. Eucaristia, e alimentada pela
palavra de Deus nos sermões, nas leituras espirituais e nas inspirações
divinas.
Para o corpo, tudo quanto for
necessário à vida material: — alimento, vestuário, habitação, etc.
As
três últimas petições. — Amém
81. - As três últimas petições
entendem com a libertação do mal passado,
futuro e presente.
Mal passado são os pecados, com os quais contraímos o débito de pena
com a divina justiça e por isso dizemos: “Perdoai
as nossas dívidas, assim, como nós perdoamos aos nossos devedores”, lembrados
da palavra de Jesus Cristo, isto é, que o Pai celeste não perdoará os nossos
pecados, se não perdoarmos, de coração, primeiro a quem nos ofendeu.
Mal futuro é o perigo a que nos expõem as tentações ou provas que o
Senhor permite para conhecer a nossa fidelidade.
“Não
nos deixeis cair em tentação”, isto é, não permitais que sejamos tentados e
dai-nos a graça para das tentações sairmos vitoriosos.
Mal presente é o pecado, — único mal verdadeiro, do qual pedimos ser
libertos: “Mas livrai-nos do mal.”
Chamamos também mal ao que nos faz
sofrer moral ou fisicamente: desses males podemos pedir também fiquemos livres,
se tal for útil à nossa própria santificação.
Concluímos com o Amém, “assim seja”, — para exprimirmos a nossa confiança de ser ouvidos
por Deus.