segunda-feira, 29 de abril de 2013

ESSÊNCIA DO MATRIMÔNIO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
ESSÊNCIA DO MATRIMÔNIO
12 de Agosto de 1940

            Veremos hoje a essência do Sacramento do Ma­trimônio.
            O Matrimônio legitimamente celebrado entre cristãos é um Sacramento propriamente dito. — Eis uma verdade de Fé, como definiu o Concílio Tridentino.[1]
            Assistindo àquelas núpcias em Caná da Galiléia e operando então o seu primeiro milagre, Jesus Cristo elevou o casamento à sua primitiva digni­dade.

            Quando, mais tarde, se discutia a respeito da possibilidade do divórcio e os fariseus alegavam a lei mosaica que permitia a separação, Jesus se reporta ao começo dos tempos, e declara: “No co­meço não foi assim”. E, com aquela expressão: “não queira o homem separar o que Deus uniu”, mostra não só a origem divina do Matrimônio, mas a continuidade da Bênção que vem do alto e san­tifica os esposos, que se unem com reta intenção.
            A doutrina que o apóstolo São Paulo bebeu na fonte puríssima do ensino recentemente dado pelo próprio Messias e que começava a ser trans­mitida pelos discípulos, evangelizadores da Boa Nova, — a doutrina pregada por São Paulo, convence-nos da dignidade do Matrimônio e do seu legítimo caráter Sacramental. Diz ele aos Efésios: “As mulheres estejam sujeitas aos seus maridos, como ao Senhor. Porque o homem é cabeça da mulher, como Cristo é cabeça da Igreja. Ele mes­mo é o Salvador do seu corpo. Mas assim como a Igreja está sujeita a Cristo, assim as mulheres hão de estar sujeitas a seu marido”. Tal submissão, entretanto, tem como base o amor e dele recebe sua força e perenidade. O apóstolo chega a dizer: “Uma vez que o esposo e a esposa já não são mais dois, porém um só, o marido, amando sua mulher, ama-se a si mesmo”. E remata dizendo: “Este Sacramento é grande, porém em Cristo e na Igreja”.[2]
            O Matrimônio é realmente um sinal sensível e sagrado. Representa a união de Jesus com sua Igreja, como acabamos de ver.
            Confere a graça que há de fomentar na fa­mília a vida conjugal, o desempenho das missões paterna e materna, a harmonia tão desejável entre os irmãos.
            Desde a aurora do Cristianismo, o Matrimônio é considerado um Sacramento. É o que lemos na epístola 167 de S. Leão Magno ad Rusticum, na de Inocêncio I, ad Probum. Santo Agostinho chama ao Matrimônio — “Sacramento das Núpcias”.[3] Santo Ambrósio dizia: “O Matrimônio se santifi­ca pela bênção sacerdotal”.[4] E o grande Tertuliano, em sua carta “ad uxores”, diz deste Sacramento: “Uma bênção o assinala, os anjos o anunciam e o Pai o ratifica”.[5]
            Entre cristãos, o contrato e o Sacramento do Matrimônio de tal modo estão ligados, que não pode dar-se o contrato do Matrimônio, sem que seja igualmente Sacramento.
            Leão XIII, na encíclica “Arcanum” que já vos citei, ensina: “Ninguém dê importância à dis­tinção tantas vezes proclamada pelos Regalistas, pela qual separam o contrato nupcial do Sacra­mento. É ponto averiguado no matrimônio cris­tão, contrato e Sacramento são inseparáveis”.

Notas
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[1] Sessão XXIV, c. I. 
[2] Para identificar as citações, ver citações ante­riores. 
[3] Comentário ao Evang. de S. João, cap. IX, n.° 2. 
[4] Epístola a Vigilâncio. 
[5] Livro II, c. 7.