A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
PRESENÇA
REAL PERMANENTE
21
de Junho de 1940
O Concílio Tridentino anatematiza quem disser que no admirável Sacramento da Eucaristia, feita a
consagração do pão e do vinho, estão o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo apenas enquanto as sagradas espécies são usadas naquela ocasião e
enquanto são recebidas como divino alimento; anatematiza quem disser que Jesus Cristo não permanece nas hóstias e partículas
consagradas que ficam no sacrário ou que sobram da Comunhão[1].
Jesus Cristo está presente nas sagradas espécies enquanto elas permanecem incorruptas. Corrompendo-se as espécies, cessa a presença real. (...)
Os enfermos que desejam receber em seu coração o médico divino,
os que aguardam o viático, alimento precioso para a última viagem — agradecem
ao bom Jesus a Sua permanência na Hóstia consagrada, único meio de satisfazerem
as suas tão justas aspirações.
O Divino Mestre fica ainda nas espécies consagradas, para receber
o nosso culto dia e noite. Para ser visitado, para ouvir os desabafos de tantas
almas atribuladas, que só em Deus encontram refúgio e consolação.
O culto que se presta a Jesus Cristo no Santíssimo Sacramento — é
o culto de adoração, ou latria. É de fé. Assim o definiu o Concílio de Trento.
São João Crisóstomo
dizia: “Adora e comunga”. Santo Agostinho: “Ninguém
coma desta carne, sem primeiro adorá-la. São Cirilo de Jerusalém ensina: “Depois da Comunhão do Corpo de
Cristo, aproxima-te também do Cálice do seu sangue, não estendendo as mãos,
mas prostrado, à maneira de adoração”. (...)
CONVENIÊNCIA DA EUCARISTIA
24 de Junho de 1940
Prossigamos estudando a divina
Eucaristia, orientados pelos filósofos cristãos, baseados na própria razão que,
despida de preconceitos, há de levar a bom termo as investigações sinceras.
A razão humana não pode, na verdade, demonstrar
por si só a realidade da
presença de Jesus Cristo na Eucaristia; mas pode demonstrar que este dogma é
inteiramente conveniente, quer da parte de Deus, quer da parte do homem. É
conveniente da parte de Deus, um dogma que ilustra as Suas perfeições; mas a
Eucaristia está precisamente neste caso; pois ilustra admiravelmente a onipotência, a sabedoria e a bondade divinas.
A onipotência de Deus, na pessoa de
Jesus, já se tinha demonstrado sucessivamente na multiplicação dos pães e no
fato assombroso do Cristo andando sobre as águas do mar de Tiberíades. No dia
seguinte a estes milagres, o divino Mestre promete a instituição do Santíssimo
Sacramento. — Diz que é o pão vivo que desceu do céu, e que “seu
corpo, sua carne, é verdadeiro alimento e seu sangue verdadeira
bebida”. — Instituindo, um ano mais tarde, a Eucaristia e determinando que os apóstolos façam o mesmo, através dos séculos e pelo mundo
universo — repete o milagre da multiplicação desse mesmo pão vivo, no qual Ele
está presente e vivo; repete o milagre da imponderabilidade do Seu corpo, a
cuja pressão as águas não cederam. O nosso grande sacramento, pois, é uma
proclamação ardente e perene da onipotência do Senhor.
A sabedoria. O Santíssimo Sacramento foi instituído com a mesma
finalidade do Mistério da Encarnação. Este promove a glória de Deus e a
salvação das almas. De fato, o Verbo feito homem dá ao eterno Pai mais glória
do que todo o universo reunido; dá a Deus uma glória infinita. O Verbo feito
homem veio resgatar a humanidade da escravidão do pecado, veio salvar as almas.
A Eucaristia continua a Encarnação através dos séculos e a difunde pela terra
inteira. Se não fosse a presença real de Jesus Cristo na hóstia consagrada, só
teriam tido a felicidade de estar perto do divino Jesus os que viveram os anos
felizes de Sua permanência no mundo. Assim dá glória ao Pai e santifica as almas na Comunhão.
A Eucaristia é também a maior demonstração da bondade de Deus,
que não Se esqueceu dos Seus filhos durante a penosa travessia do vale das
lágrimas.
Da parte do homem a presença real é conveniente. Fomenta a
preciosa virtude da fé, que maravilhosamente se
exercita ao vermos as espécies de pão e de vinho. Depois da consagração cremos
que é Jesus quem está presente, apesar do que, em contrário, possam dizer
nossos sentidos.
Cresce a esperança com a
Eucaristia, pois nada poderá abater quem tem a certeza de possuir em seu
coração a Jesus Cristo.
A caridade estua pelo Santíssimo
Sacramento. Basta recordar as palavras do Senhor: “Quem me recebe, permanece
em mim e eu nele!” — Eis a suprema caridade, o supremo
amor.
Logo a Eucaristia é conveniente,
da parte de Deus e da parte do homem.
[1] Sessão
XIII. Cânon 4.°.