quarta-feira, 17 de abril de 2013

A mãe de São Gregório de Nazianzo

Fonte: Mãe Cristã


                No meado do século IV venerava-se em Nazianzo uma família, de que todos os membros se inscreveram, cada um por sua vez, no catálogo dos Santos. A bem-aventurada mãe destes santos se chamava Nonna. Deus lhe havia dado três filhos: S. Gregório, S. Cesário e Santa Gorgonia. Seu marido, chamado também Gregório e igualmente santo, por seus vastos conhecimentos se tornara ilustre; mas, infelizmente, se havia deixado seduzir pelas seitas heterodoxas que nesse tempo viciavam as igrejas do oriente.
                A sua admirável esposa é que o fez voltar ao bom caminho, não por meio de contínuas exortações, senão pelas suas ardentes preces e pelos encantos da sua piedade. Ela exercia uma irresistível influência tanto sobre a filha e os dois filhos como sobre o marido. Àqueles, desde os mais ternos anos, inspirou ela o horror ao pecado e o amor à virtude e, ao mesmo tempo que lhes aperfeiçoava a vida moral, desenvolvia-lhes o espírito pela cultura das ciências, das artes e das letras.
                O jovem Gregório, todo o tempo que estudava em Atenas, cuja célebre academia era frequentada por um mocidade licenciosa, nutriu na alma, sem se esquecer jamais os princípios que sua mãe lhe havia insinuado. Sempre em guarda contra as tentações desta famosa e corrupta cidade, ele se soube conservar íntegro e firme na sua fé no meio de uma sociedade essencialmente pagã. Felizmente a Providência ai lhe deparou um jovem companheiro e amigo que também se esforçava por seguir à risca os exemplos de uma santa mãe. Este amigo inseparável do nosso santo também veio a ser santo mais tarde: é o ilustre São Basílio Magno, um dos mais brilhantes fachos da fé católica.
                Quanto a Gregório, a Igreja o denomina o teólogo por excelência. Ele próprio nos conta a santa intimidade que prendia o seu coração ao coração de Basílio. Morando e trabalhado juntos, tornou-se-lhes comum o que a cada um deles pertencia. Posto que cercados de idólatras e de sofistas, os jovens conservaram ilesa sempre a pureza da doutrina e dos costumes e viviam de tal modo afastados das mundanas agitações que, na grande cidade, não conheciam senão dois caminhos: o que os levava à Igreja e o que os levava à Academia.
                Não escreveremos aqui a história deste grande bispo de Constantinopla que se tornou o oráculo de todas as igrejas do Oriente. Diremos apenas que reproduziu em si as nobres virtudes de sua mãe, a quem tomou por modelo, e a sua santidade eminente é como o belo fruto que nos faz conhecer as qualidades da árvore.
                Gregório fala-nos de sua mãe com fervoroso entusiasmo, tanto em seus discursos, como nas graciosas poesias que compôs e todas as suas fibras pulsam vivamente sempre que se abandona às efusões da piedade filial. Aqui temos algumas provas disto, colhidas em vários trechos esparsos das suas obras.
                Minha mãe – escreve ele – era filha de uma raça de santos, mas excedeu em muito a santidade dos seus avós. Era indulgente e modesta, sabendo porém, desenvolver em certas circunstâncias uma força e energia de alma superior à coragem dos homens. Bem que fosse de sangue e estirpe nobre, o maior título de nobreza, a seus olhos, era o seu título de cristã e filha de Deus. Era mui bela, mas desprezava o falso brilho da vaidade e, deixando às atrizes e comediantes os adornos artificiais, para si mesma não procurava mais do que um simples crucifixo ou imagem divina que, aliás, já tinha gravado no coração. Os exercícios de piedade, a que se entregava com fiel vigilância, não a impediam de se ocupar dos serviços da casa e o admirável é que, quando desempenhava os seus deveres domésticos, parecia não cogitar no serviço de Deus, como também quando se absorvia em seus exercícios religiosos, se poderia supor que esquecia todos os encargos do lar; tanto é certo que essas duas ocupações, na aparência opostas, se confundiam sempre em sua consciência calma, serena e vigilante.
                “A oração era todos os dias o seu primeiro e principal alimento; e com tão vivo sentimento de confiança se entregava às suas preces que parecia estar mais segura do que assim pedia e esperava, do que os outros o estão dos bens em cuja posse se acham”.
                “E, oh! Como era caridosa a minha querida mãe – continua este ditoso filho – Ela era a providência dos órfãos, dos desvalidos e dos aflitos; e tão largo e tão ardente era o seu desejo de os aliviar, de os contentar, de os saciar, que ela teria descido às profundezas do oceano para daí tirar o que fosse necessário a todos os que padeciam sede e fome. Muitas vezes lhe ouvi dizer que, sendo preciso, de bom grado se venderia para não negar nunca uma esmola aos pobres que lhe causavam mais compaixão.
                A sua vida, como a de todos os eleitos de Deus, foi bastante atravessada de dores e provações; muitas vezes bebeu ela o cálice amargoso de Jesus Cristo. Nessas dolorosas conjecturas, Nonna evitava que qualquer pessoa de sua casa fosse testemunha das suas penas; dissimulava-as delicadamente, reservando-as só para si, afim de poupar a sensibilidade dos que a amavam.
                Demais, ela considerava a cruz como a chave do paraíso e como o instrumento da santificação.
              No meio das piores vicissitudes não fraqueava nunca; sempre firme e de pé se mantinha, como forte coluna, animando a todos com o seu exemplo, de que se irradiava a esperança e a paz.
                Ardia inextinguível no seu coração, o fogo do divino amor, que ela atiçava pela meditação assídua dos textos sagrados, sopro vivificante que a enchia de uma lucidez e de uma dignidade toda celeste. Concebe-se a salutar influência de uma tão perfeita mãe sobre a educação dos filhos. As suas palavras, as suas lições e os seus conselhos, sustentados por constantes exemplos, repousavam sobre os princípios imutáveis dos livros santos, de sorte que seus filhos, obedecendo-lhe, obedeciam ao próprio Deus. Ela se mostrava particularmente zelosa em afastar da sua casa tudo que pudesse alterar a fé ou comprometer a moralidade, compreendendo que um elemento profano ou pagão se aliasse jamais com os hábitos das almas destinadas a serem as companheiras dos anjos. Não admira pois que todos os seus filhos se tornassem santos. Também nenhuma benção faltou a esta família cristã. A bem-aventurada mãe e o bem-aventurado pai de S. Gregório de Nazianzo chegaram à mais avançada idade, pois tinham ambos cerca de cem anos quando deixaram este mundo para irem no outro receber a eterna palma.
                 O real salmista deu um dia à sua harpa sonora este belo tema: “Generatio rectorum benedicetur”. A geração dos corações retos será bendita!
                Não há nada melhor do que verificar o cumprimento desta profecia. Preciosíssima é a herança que os pais fiéis transmitem à sua posteridade. As mais sólidas fortunas da terra se desmantelam, as mais ricas vantagens desaparecem e as mais brilhantes pompas, como os mais vivos prazeres, não duram mais do que um dia; ao passo que a benção de Deus atravessa as idades e os séculos, semelhante a um largo rio que espalha longe, bem longe, a fecundidade, a exuberância e a vida.