quarta-feira, 27 de março de 2013

O Dia Eucarístico - SACRIFÍCIO

Nota do blogue: Queridos(as) de Deus, ave Maria Puríssima. O blogue parará até segunda-feira próxima. É preciso se unir em silêncio ao Calvário e ali contemplar o maior ato de amor do Amor. Hoje a Igreja nos traz Nossa Senhora das Dores que encontra Seu Filho -- santo e único-- no caminho para a morte, e que encontro, dois corações unificados na dor e no amor por nós. Amanhã, Quinta-feira Santa, a Igreja traz a Instituição de dois Sacramentos: A Eucaristia e a Ordem. Na Sexta-Feira Santa, o Calvário - monte dos amantes, como dizia São Francisco de Sales, dia para na dor aprender o amor. Sábado Santo, dia de grande angústia, solidão e dor... Domingo de Páscoa, dia de laetitia! Ele verdadeiramente ressuscitará!

Segue meu singelo mas querido presente de Semana Santa para todos os amigos leitores. Unamo-nos em sacrifício e silêncio aos pés do Calvário, que nossas almas sejam verdadeiras almas eucarísticas!

Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula


O Dia Eucarístico
SACRIFÍCIO

A Alma Eucarístia
Padre Antonino de Castellammare
Capuchinho
1929

            I- Dizia S. João da Cruz: —"É importante em sumo grau que a alma se exercite no amor, para que, consumindo-se rapi­damente, não fique limitada a esta terra, mas se esforce por con­templar a face do seu Deus”.
            Porém a angélica irmã de Santa Terezinha do Menino Je­sus, acrescenta: “Oferecer-se ao Amor como vítima não quer dizer oferecer-se às doçuras, às consolações; pelo contrário, é oferecer-se às angústias e a todas as amarguras, porque o Amor só vive pelos sacrifícios... Quanto mais queremos nos abandonar ao Amor, tanto mais devemos nos abandonar à Dor." (Histó­ria de uma alma—cap. XII).
            Que sabedoria nas palavras do Mestre! que exposição admirável nas palavras da discípula!
            Eis por que a alma eucarística, filha privilegiada do amor, também é (e por força) filha privilegiada da dor. Tardamos já em dizê-lo: a Eucaristia não é somente sacramento do amor, é também sacramento da dor. Jesus Sacramentado é o Deus da dor; Seu amor por nós é o amor da dor.

            II- Hoje um só sacrifício existe na nossa religião, é a santa Missa, que é essencialmente o sacrifício do Calvário. Do sacrifí­cio do Calvário se distingue como o rio da fonte: ao sacrifício do Calvário nada acrescenta da mesma forma que, no exemplo citado, o rio nada acrescenta à fonte de onde brotou.
            No universo, que é o grande templo de Deus, o Calvário foi o verdadeiro primeiro altar; depois, cada altar tornou-se Calvário. Sem Cruz, hoje não haveria Eucaristia, não haveria sacri­fício. A Cruz e a Hóstia! Ó palavras santas que resumem um único mistério de dor e de amor!
            Não se pode achar a Cruz, viva e verdadeira, senão na hóstia; e não pode haver hóstia sem cruz.
            Na Eucaristia, pois, ou na santa Missa, o conceito da dor entra por três modos: como sacrifício em gênero; como sacrifí­cio da cruz; e, por fim, como sacrifício eucarístico.

            III- Qualquer sacrifício não importa somente em dor, mas em dor suprema, porque, em qualquer sacrifício, para que seja perfeito, é indispensável que a vítima, realmente, ou, pelo menos misticamente, se imole e se consuma. Portanto onde não há imolação ou consumação não há sacrifício. E vice-versa, quan­to mais a vítima é imolada e consumida, tanto mais o holo­causto é perfeito.
             Assim, a perfeição do sacrifício se mede pela perfeição da imolação e da consumição.
            Ate quando a ovelhinha se debate e estrebucha, até quan­do bála e se lamenta, recebeu o golpe, mas ainda não morreu. Já é vítima, já seu sangue corre aos borbotões.
            Mas, somente quando não se lamentar mais, somente quan­do não balar mais, somente quando estiver perfeitamente morta há de ser perfeita vítima, porque, então unicamente (consummatum est!) há de ser perfeitamente imolada e destruída.
            Tudo isto é indispensável a qualquer sacrifício, visto que dele constitui a essência; tudo isto é indispensável à santa Mis­sa, mesmo considerada simplesmente como sacrifício em gênero.

            IV- Muito mais ainda se for considerada como sacrifício da Cruz.
            Toda a vida de Jesus já fôra uma imolação, iniciada no momento em que, fazendo-se homem, não desdenhou o seio de uma virgem.
            Desde aquele instante, Sua imolação cresceu e progrediu ao mesmo tempo em que os anos de Sua idade.
            Sua existência inteira foi uma Missa única, posso dizer assim: em Belém estava no Gloria; o santo velho Simeão, apertando-O nos braços, recitou o Ofertório. A entrada triunfal em Jerusalém foi o Prefacio... Porém o momento soleníssimo daquela Missa de trinta e três anos foi sobre o Calvário, quan­do a augusta Vítima, inclinando a cabeça, entregou o espírito...
            Cristo foi sempre vítima em toda a Sua vida; mas só quando n'Ele tudo ficou consumado tornou-Se vítima perfeita. E tudo n’Ele ficou consumado quando se realizaram aquelas palavras a um tempo terríveis e amáveis, que para sempre ale­grarão e farão chorar a humanidade: crucifixus, mortuus est sepultus est!

terça-feira, 26 de março de 2013

A PROPORÇÃO DO CRESCIMENTO DA GRAÇA

Nota do blogue: Agradeço a alma generosa que me enviou esse texto. Deus lhe pague.

Princípios da Vida de Intimidade com Maria Santíssima, 
autoria de Pe. Julio Maria Lombaerde.


Já percorremos as principais causas dos méritos da Virgem Maria. Falta somente uma última causa não menos importante e que reúne como que em um só feixe, melhor, em uma espécie de “Sol” todos os raios esparsos que até aqui analisamos. Pelo que já vimos, o espírito humano deve compreender sua impotência ao apreender esta “Maravilha do Altíssimo” que se chama a Mãe de Deus. 

Tantas belezas morais, tantas graças nos causam admiração; sente-se que o que se pode dizer a esse respeito nada é do que se teria e deveria dizer ainda. 

No assunto que temos a tratar aqui, encontra-se o abismo hiante, sem medida, ultrapassando todas as nossas concepções e todos os nossos cálculos. Para termos um pequeno sumário da proporção do crescimento da graça santificante em Maria, vários teólogos, como Suarez, Justino de Miechow, de Rhodes, Véga, Santo Ligório, Combalot e quase todos os modernos, têm recorrido aos algarismos, averiguando sua impotência, para exprimir em palavras o que seu espírito concebe a respeito da graça de Maria. 

Afim de proceder com clareza e precisão, ponhamos desde o início os princípios teológicos sobre os quais repousam estes cálculos.

PRIMEIRO PRINCÍPIO:

“Todo ato bom produz uma graça igual ao próprio ato”.

SEGUNDO PRINCÍPIO:

“Maria agiu sempre segundo sua força e conforme toda a virtude da graça e do hábito que nela estavam; em Maria não se pode supor nem negligencia, nem tibieza”. 

Porque cobrir as imagens Santas



O ato de cobrir as imagens fundamenta-se no luto pelo sofrimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, que leva os fiéis a meditar ao contemplar essas santas imagens cobertas. Obrigatório cobrir, com véus roxos, todas as cruzes e imagens expostas ao culto da Santa Igreja. No Missal Romano de S. Pio V, terminada a Santa Missa do Sábado que precedia o Domingo da Paixão, vinha esta rubrica: “Antes das Vésperas, cobrem-se as Cruzes e Imagens que haja na Santa Igreja. As Cruzes permanecem cobertas até ao fim da adoração da Santa Cruz, na Sexta-Feira Santa, e as imagens até ao Hino dos Anjos (Glória a Deus nas Alturas) no Sábado Santo”. Vê-se que era um costume ligado às duas últimas semanas da Quaresma, através do qual se desejava centrar a atenção dos fiéis no mistério da Paixão do Senhor. Para que na meditação da Santa Paixão, ficasse em destaque e as imagens dos Santos, cobria-se para dar sinal profundo recolhimento. Donde vem este costume? Certamente da tradição da Santa Igreja.


Os sagrados são cobertos de roxo, que simboliza a tristeza, a dor e a penitência. O pano é retirado após Cristo ressuscitar.

O cântico de Verônica durante a procissão do enterro do Senhor. 

Primeiramente, falemos um pouco sobre Verônica, cujo nome deriva-se de “veros icona” (imagem verdadeira), pelo fato de segundo a Tradição da Igreja, ela ter enxugado o rosto de Cristo a caminho do Calvário, e a imagem do rosto de Cristo ter ficado gravada milagrosamente no véu. Este episódio não consta na Sagrada Escritura, apenas na Tradição da Santa Igreja. O nome de Verônica é que se trata da mesma mulher curada por Jesus da hemorragia (cf. Lucas 8,43-48). 

Pois bem, na procissão Verônica canta a lamentação: “Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha dor.” Ressaltando a dor do Cristo que padece pela humanidade. Note-se que é comum cânticos e lamentações em velórios, conforme o testemunho de São Marcos e S. Mateus.

Doutrina Cristã - Parte 27

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã, 
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

EUCARISTIA
Definição. — Figuras. — Promessa. Instituição

            25.  A Eucaristia é o sacramento em que, sob a espécie do pão e do vinho, se contém REALMENTE o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo para alimento das almas.
            Eucaristia é palavra grega, que significa boa graça ou ação de graças; e é usada muito a propósito pois nesse sacramento recebemos a Jesus Cristo, o próprio autor da graça, e agradecemos a Deus os benefícios recebidos, como fez Jesus, que, antes de instituí-lo, levantou os olhos e deu graças.
            A Eucaristia foi de vários modos prefigurada no Antigo Testamento: assim o sacrifício de Abel, o de Melchisedech a oferecer pão e vinho, o maná do deserto, o cordeiro pascal, etc.
            Jesus Cristo prometeu este sacramento em Cafarnaum, quando, após o milagre da multiplicação dos pães, disse às turbas: — “Eu sou o pão vivo, que desci do céu... Se não comerdes a carne do Fi­lho do Homem e não beberdes o seu sangue, não te­reis a vida em vós. O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. VI, 51-55)
            Instituiu-o na última ceia, quando consagrou o pão e o vinho e os distribuiu aos Apóstolos como Cor­po e Sangue seu, mandando que fizessem outro tanto em Sua memória.

Matéria. — Forma. — Ministro

            26. — Matéria deste sacramento é o pão de tri­go e o vinho de uva. Jesus Cristo consagrou o pão asmo, isto é, não levedado, e assim costuma fazê-lo até agora a Igreja latina.
            Forma são as palavras que o ministro pronuncia em nome de Jesus Cristo na consagração: “Isto é meu corpo. Este é o cálice o meu Sangue... derramado por vós e por muitos (grifo do blogue) em remissão dos pecados’’...
            Ministro é o sacerdote, isto é, aquele que recebeu no Sacramento da Ordem o poder sobre o corpo real de Jesus Cristo.

segunda-feira, 25 de março de 2013

CRISTO ENTRA EN EL ALMA

Robert de Langeac
La vida oculta en Dios


Por fin se realiza el deseo de la Esposa y es escuchada su oración; Jesús viene a ella, entra en su jardín. ¿Cómo, Dios mío, penetras Tú en el alma que te ama? Nadie lo sabe. Ni ella misma lo sabe. Es un secreto de tu Omnipotencia y de tu Amor. Por lo demás, lo que al alma le importa no es el "cómo" de tu presencia, sino el hecho mismo de ella. Ahora bien, ese hecho es cierto. Algo misterioso y profundo, apacible y dulcísimo, ha sucedido en ella. Le ha parecido que Aquel a quien tanto ama y que hasta entonces estaba escondido en el fondo de su corazón se abría paso dulcemente como a través de la propia sustancia de ella misma y afloraba graciosamente a la cima de su ser. Es como si se hubiera producido una deliciosa eclosión del Amado hasta la región ordinariamente habitada por el alma.

"MATRIMONIO" ESPIRITUAL/ EL ALMA PARTICIPA EN LA VIDA TRINITARIA

Robert de Langeac
La vida oculta en Dios


¿Por qué la palabra matrimonio? Por el carácter indisoluble de esta unión.

Produce confirmación en gracia; por lo menos San Juan de la Cruz así lo dice. Se trata de un contrato irrevocable, de una fe jurada para la Eternidad. Tú, Dios mío, amarás siempre a tu Esposa y ella te amará siempre. El alma interior así lo entiende. Tiene de ello una persuasión íntima que vale para ella, pero que no podría atestiguar fuera, puesto que no puede, probarla. Por lo demás, a pesar de esa firmísima seguridad de la que tiene conciencia, sobre toda en ciertos momentos, el alma no cree estar dispensada en lo más mínimo de las reglas de la prudencia cristiana en el ritmo ordinaria de su vida. Ve, por el contrario, con la claridad de la evidencia, cuán indispensable le es someterse a estas reglas y no apartarse para nada de las vías de la obediencia. Dios la conduce e ilumina a quienes la dirigen en su nombre. Y ella está en paz.

EL ALMA PARTICIPA EN LA VIDA TRINITARIA

Tú, Dios mío, creaste las almas a tu imagen, las hiciste semejantes a Ti. Luego les comunicaste tu propia vida. Bajo las sombras de la fe creen ellas lo que Tú ves; esperan lo que Tú posees; aman lo que Tú amas, es decir, a Ti mismo. Las almas, gracias al principio sobrenatural de vida que Tú insertaste en lo más profundo de ellas, pueden, pues, alcanzarte a Ti mismo en tu vida íntima, comulgar verdaderamente en esa vida bienaventurada, decir a su manera tu adorable Verbo, producir a su vez tu Espíritu de Amor. Y luego, bajo el impulso dulcemente irresistible de ese Espíritu divino, las almas pueden refluir hacia Ti, ¡oh Padre, oh Hijo!, y reanudar constantemente, con un goce constantementerenovado, ese delicioso y sosegado proceso. ¿Hay en el mundo nada más bello que un alma que vive de tu vida, Dios mío?

REALIDAD DE LA POSESIÓN DE DIOS

Robert de Langeac
La vida oculta en Dios


Lo que tenemos que repetir mucho, de tanto como asombra e, incluso, a primera vista, desconcierta, es que esta posesión de Dios por el alma es lo más real que hay en el mundo. Hay algunas almas que pueden decir con toda verdad: "Dios está en mí". Y no hay en ello exageración ni ilusión alguna. Esa frase es la expresión fiel de la realidad. Cierto que esta posesión de Dios tiene grados, y muy diversos. Pero hay un fondo común a todos ellos, bien traducido por el Cantar de los Cantares: "Mi Amado es mío". Antes, el alma interior deseaba a Dios. Lo buscaba, lo escuchaba, lo entreveía; llegaba incluso a darse cuenta de que estaba muy cerca de ella y de que ella estaba muy cerca de Él, allí, en el fondo de sí misma. Pero entre buscar a Dios y luego encontrarlo y, sobre todo, poseerlo, hay un abismo. Son cosas muy distintas, Y esa diferencia que entre ambas existe, lo es todo.

sábado, 23 de março de 2013

Doutrina Cristã - Parte 26

 Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã, 
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

II. — BATISMO

Definição. — Instituição

            14— O Batismo é o sacramento que nos faz cristãos, isto é, sequazes de Jesus Cristo, filhos de Deus e membros da Igreja.
            O Batismo foi instituído por Jesus Cristo quan­do, após a Sua ressurreição, disse aos Apóstolos: “Ide, pois, e ensinai a todos os povos, batizando-os em no­me do Padre, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mat. XXVIII, 19.)

Matéria, forma e ministro.

            15. — Matéria remota do Batismo é a água na­tural. Fora, porém, do caso de necessidade, é mister empregar-se a água da sacra pia, benta solenemente no Sábado Santo ou Vigília de Pentecostes.
            Matéria próxima é a ablução, ou derramar-se água natural sobre a pessoa que deve ser batizada. Esta ablução pode-se fazer por imersão, por infusão e por aspersão.
            O Batismo por imersão foi antigamente usado na Igreja Latina; o Batismo por aspersão adotava-se, quando os batizados eram muitos. O uso presente da Igreja Latina é o Batismo por infusão, isto é, derramando-se água sobre a cabeça do batizando.
            Forma do Batismo são as palavras: — “Eu te batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo.”.
            Ministro do Batismo é, ordinariamente, o sacer­dote, mas em caso de necessidade, a saber, quando o batizando está em perigo de morte, pode ser qual­quer pessoa, até um herege ou infiel, contanto que tenha intenção de fazer o que faz a Igreja, isto é, de administrar o Sacramento do Batismo.

Doutrina Cristã - Parte 25

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã, 
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

OS SACRAMENTOS EM GERAL

Definição

            A palavra Sacramento teve primeiro um sentido lato e significou, em geral, coisa sacra e re­ligiosa. Em tal sentido, eram chamados Sacramen­tos alguns ritos, segundo os pagãos.
            No Antigo Testamento houve também Sacramen­tos impropriamente ditos ou ritos religiosos, como a circuncisão, os sacrifícios, o banquete do cordeiro pascal, etc., os quais não produziam a graça nem a renovação interior, mas apenas uma justiça exte­rior e legal. Em o Novo Testamento os Sacramentos são sinais eficazes da graça, instituídos por Cristo para nos santificarem.

            Desta definição transparece que três são os ele­mentos: sinal sensível, produção da graça, instituição divina.
            Sinal sensível, o qual, caindo sob os nossos sentidos, nos indica o efeito invisível da graça; as­sim por ex. no Batismo a ablução externa indica a ablução interna produzida pela graça.
            Produção da graça, enquanto o sinal sensível é eficaz, isto é, não só indica, mas produz por si a graça.
            Instituição divina, pois somente Deus pode dar a um rito qualquer o poder de conferir a graça.

Número

            6- Os Sacramentos são sete, porque segundo o ensino infalível da Igreja, tantos são os que instituíra Jesus Cristo. Os teólogos quiseram encontrar, para esse número centenário, uma razão de conveniência, comparando as necessidades da vida espiri­tual com as da vida natural. O homem, efetivamente, nasce, tem necessidade de se robustecer, de se nutrir, de se curar das enfermidades, de receber especiais cuidados na última doença, e, na vida so­cial, precisa de ser governado e de se perpetuar: assim, na vida espiritual, o homem nasce com o Batismo, se fortalece com a Crisma, se nutre na Eucaristia, sara com a Penitência, recebe auxílios e conforto para a última viagem na Extrema Unção, recebe a hierarquia para o governo das almas pela sacra Ordem, e se perpetua no Matrimônio.

quinta-feira, 21 de março de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus (II- As preferências)

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927

II-  As preferências


            Já acima o dissemos, e convém insistir neste ponto: a mãe deve amar todos os filhos sem exceção. Não são eles todos uma porção de si própria? Não os trouxe todos no seu seio, e não os alimentou com o seu leite? Concentrar num só, ou em alguns, todas as afeições, e ter pelos outros uma espécie de indiferença, ou mesmo de aversão, seria ir de encontro, não só contra natureza, mas contra a lei de Deus; seria perdê-los a todos, a uns por excesso, e a outros por deficiência de amor materno. As preferências injustas são efetivamente tão funestas aos filhos preferidos, como aos que o não são.
            A criança, que se sente objeto da predileção de seus pais, torna-se orgulhosa e altiva; acaba por desprezar seus irmãos, enchesse de fatuidade e de egoísmo; numa palavra é uma criança estragada, isto é, perdida, como diz Mgr. Dupanloup na sua obra Da Educação, que teremos ocasião de citar muitas vezes.

quarta-feira, 20 de março de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus (I- O amor materno)

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


I-                   O amor materno

            Pode a mãe esquecer o seu filho? diz o Espírito Santo, e pode a mulher deixar de amar o fruto do seu seio? seu coração é uma fonte inesgotável de contínua solicitude e amor; ama os seus filhos mais do que todas as outras pessoas, mais do que a si própria. Entre tantos quadros de amor materno que a história nos patenteia, nenhum achamos mais comovente do que o quadro em que a Escritura nos pinta a ternura da mãe do jovem Tobias.
            Acompanhado do arcanjo Rafael, disfarçado sob a forma humana, acabava de partir para a terra dos Medas; mas a mãe, chorando, dizia, no meio da sua dor, ao marido: «Ficaste sem o bordão da nossa velhice, e afastaste-lo de nós. Oxalá que nunca tivéssemos possuído o dinheiro necessário para a sua viagem! Os poucos bens que possuímos, não eram suficientes para nós? E não era para nós uma grande fortuna ver nosso filho aqui, conosco?» — «Não chores, respondia o velho, o anjo do Senhor acompanhará nosso filho.» E estas palavras enxugavam por um instante as suas lágrimas, e acalmavam as lamentações da mãe.
            Mas não vendo voltar, no dia fixado, o ente que amava, derramava abundantes lágrimas, que nenhuma consolação podia esgotar.— «Ah! quanto sou desgraçada! repetia ela; para que te mandamos para tão longe, meu filho, tu que eras a luz dos nossos olhos, o apoio da nossa velhice, a consolação da nossa vida e a esperança de nossa posteridade? Visto que eras tudo, neste mundo, para nós, nunca deverias ter-nos deixado.» — «Sossega replicava o velho Tobias, o nosso filho está em segurança; o homem, a quem o confiamos, é fiel. Mas a pobre mãe não queria receber consolações, e todos os dias, deixando a casa, percorria todos os caminhos, por onde esperava ver chegar o filho, procurando descobri-lo ao longe. Todos os dias se ia sentar sobre uma montanha, que dominava a estrada, e donde podia circunvagar à vontade o seu olhar. Um dia avistou-o, reconheceu-o imediatamente, correu a levar a seu marido a feliz notícia, e depois abraçou esse querido filho com lágrimas de alegria.

A Mãe segundo a vontade de Deus - Introdução

Nota do blogue: Iniciarei hoje a transcrição de uma volumosa e esplêndida obra intitulada A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, do célebre Padre J. Berthier, M.S. Esse livro já se encontra em arquivo PDF.

P.S do dia 31/01/2014: (incompleto, mas livro já existente no blogue em PDF)

Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula



Introdução
I- O amor materno
CUIDADOS CORPORAIS 


            Há entre a Igreja do Céu e a da terra uma maravilhosa harmonia: assim como no Céu, há diferentes graus na beatitude e na glória, o mesmo sucede na terra, onde há diversos estados livres, onde os homens podem merecer recompensas particulares.
            Dignos de Deus que os estabeleceu, todos estes estados são santos; mas nem todos têm a mesma perfeição, nem a mesma utilidade para a salvação. O mais elevado é, sem contradição, o episcopado, encarregado de perpetuar através dos séculos a missão de Jesus Cristo sobre a terra; em segundo lugar coloca-se a vida religiosa, em que o homem, num sacrifício absoluto, se consagra a Deus todo inteiro. Vem depois a virgindade, que, segundo a linguagem dos Santos Padres, atraiu o Filho de Deus à terra, povoa o Céu de eleitos, e faz a glória do sacerdócio católico. Enfim apresenta-se o casamento cristão, um dos sete sacramentos da lei nova, chamado pelo Apóstolo uma honrosa aliança. Instituído para aperfeiçoar nos esposos o seu amor mútuo, pode este sacramento, quando as almas são ávidas de santidade, sustentá-las em sublimes alturas.
            Citemos, para exemplo, Santo Henrique, imperador da Alemanha. Mandou chamar, já no leito de morte, os pais de Santa Conegundes, sua esposa, e alguns príncipes da corte, e, tomando a mão da santa imperatriz: «Eu vos recomendo, lhes disse, a que me destes por esposa; ei-la aqui. Recebi-a virgem, e virgem vo-la entrego.» Perfeitos imitadores de Maria Mãe de Deus e de José, seu casto esposo, tinham, durante mais de vinte anos, vivido na mais santa e virginal das uniões.
            É certo que, segundo a palavra de S. Jerônimo, «Deus não impõe a vida dos anjos, contenta-se em ensiná-la»; convida ao mais perfeito, mas sem obrigar ninguém. Além da castidade perfeita, guardada no casamento, por livre e mútuo consentimento dos esposos, resta outro encargo glorioso, revelado por S. Paulo, nos mais expressos termos à esposa cristã: «A mulher, diz ele, santifica-se, dando filhos»; grande missão, que associa de alguma sorte a esposa ao poder fecundo e aos admiráveis desígnios do Criador.
            Desgraçadas mil vezes as mulheres, que, renunciando por um lado ao heroísmo de uma castidade absoluta, e cedendo, por outro lado, por uma fraca desconfiança da Providência e do futuro, ao terror egoísta das santas fadigas da maternidade, transgridem duma forma grave as santas leis do casamento cristão. Erram nas vias tenebrosas do egoísmo e da sensualidade, que vão dar à perdição. Felizes, pelo contrário, aquelas cujas entranhas santamente fecundas deram à terra e ao Céu filhos numerosos.
            Nas trevas da idolatria, a mulher pagã, sem compreender toda a dignidade da sua missão, era nobremente altiva da sua fecundidade.
            É conhecida a história de Cornélia. Pediu-lhe um dia uma dama romana, que lhe mostrasse as suas jóias. — «Espere alguns instantes», respondeu a nobre mãe; e quando os seus filhos vieram das escolas de Roma: «eis aqui, diz ela, mostrando-os, as jóias de Cornélia».
            Quanto mais não se deve alegrar a mãe cristã! Com efeito, na criança gerada nas suas entranhas descobre a sua fé um ser imortal, feito à imagem de Deus. O seu primeiro passeio é para a Igreja, a fim de ser considerado Filho de Deus, e isento da mácula do pecado original. A sua primeira palavra será para chamar o Pai do Céu, ao mesmo tempo que o da terra. Ao primeiro raio da sua inteligência nascente, à primeira pulsação afetuosa do coração, começará a elevar-se até ao seu Criador, pelo conhecimento e pelo amor. Formado por uma mãe piedosa, esta criança promete vir aumentar o número dos que fazem a felicidade em louvar a Deus e em servi-lO; porque as lições da mãe têm, sobre seu filho, um império de doçura e de persuasão, a que nada saberia resistir.
            «O homem, tanto no moral, como no físico, é apenas o que a mulher o fez, disse o Padre Ventura. A mesma mãe que lhe deu a vida do corpo, por seu sangue, lhe deu a vida da inteligência, por sua palavra. »
            «É ordinariamente a mulher que faz a felicidade ou a desgraça da família, e que é o grande instrumento, a grande alavanca da sua moralidade ou da sua corrupção. Muitas vezes até a família toda inteira nada mais é, do que aquilo que a mulher a faz. Não é mais do que o espelho das suas boas qualidades ou de seus defeitos, das suas virtudes ou dos seus vícios.»
            Que salutar influência não exerceriam as mães se, com dedicação generosa, com santa perseverança, se pusessem resolutamente à obra! Por elas, não seria só a família, seria toda a sociedade regenerada!
            É para ajudar a mulher cristã nesta obra, que nós publicamos este livro.
            Sem dúvida que cairá bastantes vezes nas mãos de mães que têm dedicado todos os seus esforços ao desejo de instruírem os seus filhos. Mas quantas, no meio das solicitudes e dos cuidados da vida não têm perdido de vista algumas das suas obrigações! Este livro é destinado a recordar-lhas todas. Também fizemos, quanto pudemos, para nada lhe omitir, e ao mesmo tempo nada exagerar.
            E sendo bastante difícil tratar da educação, procuramos um concurso em toda a parte, onde o podemos encontrar. E para dar mais peso aos nossos conselhos, preferimos citar, a falarmos nós mesmos. Aí ficam, pois, numerosos exemplos tirados dos livros santos, dos Padres da Igreja e dos moralistas.
            Que Nosso Senhor, por intercessão de Maria, abençõe este humilde trabalho, para Sua maior glória, e salvação das almas, resgatadas por Seu sangue!

terça-feira, 19 de março de 2013

Amor do Próximo (Primeira parte)

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

3. - Amor do Próximo

            Quem é o meu próximo?
            - À luz da razão, diz Longhaye, o meu próximo são homens, homens iguais a mim, inferiores a mim, desiguais entre si.
            1.°- O meu próximo são homens com quem tenho de viver. - Tenho atenções com eles para que eles as tenham comigo, respeito-os para que eles me respeitem, suporto as suas faltas para que eles suportem as minhas, ajudo-os para que eles me ajudem. Há aqui uma solidariedade, uma harmonia puramente natural e habilmente mantida.
            2.°- O meu próximo são homens iguais a mim. - Perante eles é justo que eu me mantenha no meu lugar, que defenda os meus direitos e exija o que me é devido; por mim, também lhes não regateio o que lhes pertence.
            Há aqui uma vida de equilíbrio sustentada pelo egoísmo e por interesses mútuos.
           3.°- O meu próximo são homens inferiores a mim. - Aprecio-os relativamente à minha pessoa e às minhas funções. Considero-os inferiores a mim, portanto, devo sacrificá-los a mim em vez de me sacrificar por eles. Há aqui amor próprio, puro egoísmo - razão de todas as ofensas para com o próximo.
           4.°- O meu próximo são homens desiguais entre si. - São homens desiguais no espírito, no caráter, naturezas simpáticas ou antipáticas à minha. Em virtude disto tenho preferências: escolho, atraio, repito; tenho, pois, amigos, indiferentes e adversários, e, talvez possa dizer, inimigos.    
            À luz da fé, de uma fé viva, atual, presente, diz ainda Longhaye, eu vejo o meu próximo de uma maneira muito diferente.
            O meu próximo são todos os homens:
            1.°- Meus irmãos em Jesus Cristo. Foi este irmão mais velho que nos adquiriu o título e a qualidade real de filhos de Deus para conosco, diz São João, somos chamados e somos realmente filhos de Deus.
            2.°- Jesus Cristo em pessoa. Sim, todos os cristãos, sem distinção, são realmente e praticamente Jesus Cristo em pessoa. Isto não é uma piedosa crença, é uma verdade pura, escrita pela mão divina. Tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais humilde a mim o fizestes. O que não fizestes a um dos mais pequenos, foi o mesmo que recusá-lo a mim.(Mat. XXV, 40, 45).

I - Natureza do amor do próximo

VIVA SÃO JOSÉ!











sexta-feira, 15 de março de 2013

Pensamento da noite de 15/03/2013


FIM PRIMORDIAL DO MATRIMÔNIO

Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos,  edição de 1946.

FIM PRIMORDIAL DO MATRIMÔNIO
8 de Agosto de 1940

            O fim principal do Matrimônio é a geração e a educação da prole.
            Recordemos a lição que, a este respeito, nos deu o Santo Padre Pio XI, na sua célebre encíclica - "Casti Connubii" de 31 de Dezembro de 1930.
            Deus Criador, na Sua infinita bondade, quis servir-Se dos homens, como cooperadores, para propagar a vida. É o que se depreende das mesmas palavras da Bíblia Sagrada, descrevendo a maravilhosa cena da Criação dos nossos primeiros pais: "crescei e multiplicai-vos e enchei a terra".
            Note-se, porém, que esta ordem divina foi dada muito antes do primeiro pecado.
            Santo Agostinho, comentando - com a habitual elegância dos seus escritos - as palavras do apóstolo São Paulo a Timóteo, diz: "A opinião de São Paulo é que as núpcias devem ser contraídas por motivo da prole... Quero, continua o bispo de Hipona quero que as moças se casem, para procriarem os filhos e serem boas mães de família".

MATRIMÔNIO-SACRAMENTO

Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos,  edição de 1946.

MATRIMÔNIO-SACRAMENTO 
7 de Agosto de 1940

               Estou expondo o Sacramento: o Matrimônio.
            Os Protestantes, em geral, não consideram o Matrimônio como um Sacramento - pois falta-lhe a "promessa divina", no entender de Lutero. E Calvino disse: "As núpcias não foram consideradas sacramento antes do tempo de Gregório”.[1]
            Os Protestantes modernos reconhecem de boamente que o matrimônio é uma instituição religiosa, não, todavia, como o Batismo e a Ceia, nem tão pouco no sentido em que a toma a Igreja Romana.
            Os Ritualistas, entretanto, segundo Morgan Dix - Sistema Sacramental, págs. 87 e 88,- ensinam: "O matrimônio é um certo gênero de vida, instituído por Deus, quando o homem era ainda inocente; exprime a união mística de Jesus Cristo e da Igreja; foi coonestado com a presença de Cristo nas núpcias de Canaã da Galiléia e com o primeiro milagre que então realizou o Filho de Deus. Com direito e com razão, se diz entre nós (os Ritualistas) Sacramento do Matrimônio”.
            Agora, eis a doutrina da Igreja: "O vínculo perpétuo e indissolúvel do matrimônio está expresso nas palavras do primeiro homem ao contemplar a companheira que Deus lhe acabava de dar: “Eis o osso dos meus ossos, a carne da minha carne; pelo que deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher e serão dois uma só carne" (Gen. 2, 18-24).
            Estas palavras foram pronunciadas no momento em que Adão recebia de Deus sua esposa - eis a instituição divina do Matrimônio, como lemos no Gênesis, nas primeiras páginas da Bíblia Sagrada.
            Mais claro ainda é o que diz Jesus Cristo quando responde à pergunta acerca da possibilidade o divórcio: "Já não são dois, mas uma só carne. E acrescentou - "o que Deus uniu o homem não pode separar”' (At. 19, 6).

Matrimônio

Monsenhor Henrique Magalhães
A Igreja e seus mandamentos,  edição de 1946.

MATRIMÔNIO 
6 de Agosto de 1940

            Começamos hoje a estudar o último Sacramento, em ordem da enumeração da Igreja - o Matrimônio.
            Os cinco primeiros sacramentos – Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência e Extrema Unção santificam a vida individual; a Ordem e o Matrimônio santificam a vida social.
            A Ordem tem por fim a direção das multidões cristãs para Deus, a administração dos Sacramentos, a pregação da palavra, a evangelização dos povos, enfim o governo da Igreja universal.
            O Matrimônio visa a propagação da espécie em condições dignas do homem religioso, dignas da humanidade religiosa.
            A Ordem mantém a família sacerdotal, multiplicando, pela Ordenação legítima, os continuadores da Obra dos apóstolos, que é a mesma obra de Jesus Cristo.
            O Matrimônio mantém a família humana, repetindo, como um eco, as palavras do Criador crescei e multiplicai-vos - em Deus e para Deus!

quinta-feira, 14 de março de 2013

A FÉ E A DOR

Porque é que sou católico 
por Jean Guiraud, redator Chefe de "La Croux" - 1930


            Há momentos na vida em que nossa alma se sente desarvorada, como frágil batel ao sabor das vagas tormentosas! Já passei por esses momentos, e tu também, leitor amigo... Aquele pai não viveu senão para nós, labutando sem descanso, privando-se de tudo por nossa causa. Fomos a sua preocupação constante de todos os dias, de todas as horas. As rugas que lhe sulcam as faces, cavaram-nas os cuidados e ansiedades que lhe demos. Bem cedo privado daquela que compartilhava dos seus trabalhos, esperanças e ideais, foi para nós uma verdadeira mãe, aliando aos seus austeros exemplos ternura maternal. Para manifestar-lhe o nosso reconhecimento, buscamos não somente realizar os desígnios que sobre nós formava como acalentávamos ainda o doce sonho de preparar-lhe para os velhos dias uma vida de paz, de intimidade familiar, de cuidados afetuosos... Justamente quando julgamos pagar-lhe assim a nossa dívida de gratidão, ei-lo que morre! Que tristeza, que amarga decepção! Que melancolia sem remédio diante desse malogro repentino dos nossos mais caros projetos de afeição!
            Mas lá vem a nossa fé lembrar-nos que nada neste mundo atinge a perfeição e o pleno desenvolvimento, mas que nada também se faz em pura perda e que todo bem que aqui se põe em obra há de ter na outra vida a sua plena expansão! Os sonhos que sonhamos e que se malograram é o próprio Deus quem há de realizá-los! Esse pensamento sugerido pela fé, ao mesmo tempo que nos consola, transmudamos em esperança cheia de conforto a decepção e o luto.
            Tínhamos um filho, transbordante de generosidade, e que vibrava a todos os sentimentos nobres. Rebenta a guerra e não se pode ele resignar à espera da hora em que deverá partir. Alista-se, pede, como uma graça, os postos mais perigosos, e tomba, ceifado na flor da juventude, no entusiasmo dos vinte anos!
            Que consolo esperar dos homens e de uma filosofia puramente humana?
            “Aí está um que cumpriu, diz-nos ela, o seu destino e foi um belo exemplar de energia humana; guardar-lhe-emos a memória, plantando-lhe à beira da cova a cruz de guerra." Ah! quão frio é tudo isso e vazio, ao lado dos ensinamentos de nossa fé que nos mostra além campa aquele que choramos e nos lembra, que quanto maiores forem os sacrifícios neste mundo, maior há de ser no outro a recompensa. O dogma da comunhão dos santos nos ensina que aqueles que se foram e já não podem ser vistos pelos nossos olhos mortais, não deixam por isso de estar vivos, permanecem em comunicação conosco e, depois de curta ausência, havemos de encontrá-los na outra vida que não acaba nunca!
            Dias há em que tudo parece abandonar-nos; frustram-se os nossos mais caros projetos, atraiçoam-nos os amigos mais íntimos, e em paga do bem que lhes fazemos, não alcançamos outra coisa mais que a ingratidão. Deturpam-se-nos odiosamente as mais retas intenções; incompreendidas e menosprezadas ficam as nossas iniciativas; dir-se-ia que já neste mundo laço algum nos prende e que desertar dele fôra uma libertação.
            Em face dessas dores físicas e morais que nos conduzem à desesperação, a atitude das mais nobres filosofias humanas não tem sido outra senão a fuga ou a mentira.
            A mentira! Dor, não és mais que uma palavra! - diziam os estoicos, acreditando suprimir a dor com a negação dela. Bem sabiam, entretanto, que ela existia, que era uma realidade demasiado verdadeira, mas reagiam contra o seu domínio, e, sofrendo, atiravam-lhe um supremo desafio, renegando-a. Orgulho, forrado de mentira!