(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)
I. — Filho, está certo que quanto
mais terrível e severo for o Meu Juízo para com os pecadores, tanto mais amável
e suave será para com os Meus eleitos.
Se Me tiveres amado, se tiveres
trabalhado santamente por Mim, ditoso de ti naquele dia: será para ti dia de
dulcíssima segurança! Levanta desde já tranquilo a fronte; porque aquele será o
dia da tua salvação.
Arrebatado ao ar, no meio dos coros
dos Anjos, aparecerás em Minha presença [1]; e, separado
dos pecadores, esperarás cheio de alegria e confiança o julgamento de um justo
Juiz, que, amado, obedecido e imitado por ti, te será totalmente favorável e
empenhado em te exaltar.
Oh! quanto bendirás então o teres fugido
do mundo, e teres sido contrário a suas perversas máximas e fatais lisonjas!
II. — Ânimo pois, filho, ânimo;
procura se luminar esplendido pela doutrina santa e pelo bom exemplo, aceso
pela caridade e pelo zelo, e luzirás como as estrelas e até como o sol. Eu
mesmo publicarei os louvores, devidos a teus trabalhos, humildade, zelo e
caridade [2].
Se te não tiveres envergonhado de Mim,
também Eu Me não envergonharei de ti; e se, desprezando os vãos temores dos homens, Me confessares diante deles, também Eu te confessarei por Meu diante de Meu
divino Pai.
A mesma confusão dos ímpios, e a
vingança que sobre eles cairá, serão para ti ocasião de júbilo.
Que inefável prazer! que imensa
alegria gozarás em Mim, que sou teu Jesus, vendo-Me reinar plena e
absolutamente, vencidos todos os Meus inimigos, e forçados a estarem debaixo
dos Meus pés, gloriosamente conculcados pela Minha justiça!
III. — Trabalha pois, filho, e
peleja como bom soldado; que te espera naquele dia uma nobre e imarcescível
cora de glória, por haveres apascentado o Meu rebanho, não por vil interesse,
mas por Meu amor[3], Cultiva com zelo a Minha vinha, e serás dos primeiros a colher
o fruto... Se assim o fizeres, e se deixares tudo por seguir-Me e cumprir tua
santa profissão, tenho-te preparado um rico sólio, sobre o qual te sentarás, como
juiz, para julgar comigo os homens, e até os mesmos Anjos! [4]
Tanta segurança, tão grande
exaltação e triunfo, que glória te não prometem no Céu? Esta esperança, não
incerta, mas firme, não merecerá que padeças um pouco comigo pela tua salvação
e pela dos outros, neste mundo, para gozar depois comigo de tanta glória no
outro?
Fruto. — Ama e pratica todos os dias obras de Misericórdia, das quais, com especialidade, te pedirá conta Jesus
Cristo no dia do Juízo [5]. Terás assim
mais favorável o Juiz, tendo Ele mesmo declarado expressamente que as há de
premiar como feitas a Ele mesmo.
Mais rigorosas contas darás destas obras,
se, sendo beneficiado, estás mais obrigado a elas.
O Beato Gregório Barbarigo, que
despendeu em esmolas oitocentos mil ducados, sendo elogiado por esta grande
liberalidade, dizia sorrindo: Que belo elogio este! Louvar um beneficiado por
não ser ladrão! Ora, se é tão meritório o preservar, por meio da esmola, um
pobrezinho daquela morte, que, cedo ou tarde, há de sofrer, quanto mais
meritório será livrar da morte eterna uma alma, e segurar-lhe uma vida que
nunca terá fim?
Notas
__________________________
[1] ... Rapiemur in nubibus coram Christo in aere, et sic semper cum Domino erimus. Itaque consolamini invicem in verbis istis. (l.ª Thessal., IV, 16-17.)
[2] ... Tunc laus erit unicuique a Deo. (l.ª Corinth., IV, 5.)
[3] Pascite qui in vobis est gregem Dei, providentes non coacte, sed spontanee, secundum Deum: neque turpis lucri gratia, sed voluntarie... Et cum apparuerit princeps pastorum, percipietis immarcescibilem gloriae coronam. (l.a Petrus, V, 2-4.)
[4] In regeneratione, cum sederit Filius Hominis in sede majestatis suae, sedebitis et vos judicantes duodecim tribus Israel. (Math., XIX, 28)
[5] Beati misericordes, quoniam ipsi misericordiam consequentur. (Math., V, 7.) Judicium sine misericordia ei qui non fecit miselicordiam... (Jacob, II, 12.)