A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
A
TRANSUBSTANCIAÇÃO
20
de Junho de 1940
Continuando o nosso estudo sobre o
Sacramento da Eucaristia, veremos hoje — a transubstanciação e modo como Jesus
estão nas espécies eucarísticas.
A transubstanciação é um dogma de fé, que,
segundo define o Concílio Tridentino — “consiste na conversão de toda a
substância do pão no corpo de Cristo e de toda a substância do vinho no Seu
sangue, permanecendo todavia as espécies de pão e de vinho”[1].
A Igreja, ensinando esta doutrina, baseia-se nas próprias palavras do Divino
Mestre, quando, tomando o pão e abençoando-o, disse: Isto é o meu corpo. Há,
portanto, identidade entre o pão e o corpo. E não podendo uma coisa ser e
deixar de ser, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto, segue-se que no pão
consagrado está realmente Jesus Cristo. Deixa de existir a substância do pão,
permanecendo apenas os acidentes.
O mesmo se dá com o
vinho, depois da consagração. — Expondo esta matéria, o ilustre Cardeal
Billot,[2]
com Santo Tomás de Aquino e São Boaventura, diz que a transubstanciação não é a
destruição de uma substância; mas é uma ação simples, pela qual Deus imediatamente
muda tudo o que há na substância do pão, para o que há na substância do corpo
de Cristo. Este corpo não sofre mudança. Mudança sofre o pão, cuja substância
deixa de existir, permanecendo os acidentes: forma, cheiro, sabor, peso, cor,
etc. Igual prodígio se opera com o vinho por efeito das palavras da
consagração.
Quanto ao modo como está o Senhor nas espécies eucarísticas, ensina a Igreja: “Ele está todo inteiro sob cada uma das espécies
e em cada uma das partes em que forem as espécies divididas”.
Diz o Concílio de Trento: “Na Igreja de Deus, sempre houve a crença firme em que,
depois da consagração, existe o verdadeiro corpo de Nosso Senhor e o Seu
sangue, sob as espécies do pão e do vinho, juntamente com a Sua alma e
divindade. Por força das palavras, o corpo existe sob a espécie de pão e o
sangue sob a espécie de vinho. Em virtude da concomitância, Jesus Cristo está
realmente presente em Seu corpo, sangue, alma e divindade, tanto sob a
espécie de pão, como sob a espécie de vinho.”[3]
Quando, na última
Ceia, Jesus Cristo deu aos Seus apóstolos o Seu corpo e o Seu sangue, não lhes
deu Seu corpo morto, mas animado e vivo.
Força de vida e de vida divina, a
comunhão, ontem como hoje, é o alimento substancioso que conforta a alma e a
conserva para a vida eterna.
Portanto, sob as espécies
sacramentais, receberam os apóstolos o mesmo e único Senhor; e é o que
acontece agora aos que se aproximam da sagrada mesa eucarística. Ao sacerdote
que comunga sob as duas espécies, Jesus Cristo se dá todo inteiro, em corpo,
sangue, alma e divindade. Ao fiel que o recebe sob a espécie de pão unicamente,
Jesus Cristo se dá do mesmo modo.