A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
LIMITAÇÃO DA NATALIDADE
9 de Agosto de 1940
Veremos hoje: Matrimônios fecundos. —
Diminuição da natalidade.
Se, criando o ser inteligente e
livre, Deus preceitua: “crescei e multiplicai-vos e povoai a terra”- o fim da
união é a procriação.
O assunto é delicado. Falarei, tendo
diante dos olhos a Encíclica preciosa do Santo Padre Pio XI.
Há tanta gente que repele os filhos,
por considerá-los “peso insuportável”, fonte de trabalhos e preocupações
constantes e de tremendas responsabilidades.
Outros há que se unem em matrimônio
para fruir o gozo que nele possa haver.
Alega-se também a dificuldade de
criar e educar os filhos... sendo o ganho insuficiente para fazer face às
despesas cada vez maiores — habitação, alimento, vestuário, remédios...
“Entretanto, diz o Sumo Pontífice,
não pode haver razão, mesmo gravíssima, que possa tornar conforme à natureza e
à honestidade, o que é anti- natural e desonesto. E sendo o matrimônio, por sua
natureza, dirigido a gerar a prole, usá-lo de modo de fazê-lo propositadamente
incapaz da sua finalidade é transformá-lo num ato torpe e intrinsecamente
desonesto”.
Inúmeras pessoas, abandonando
manifestamente a doutrina cristã, ensinada desde as origens da Igreja e nunca
modificada, pretendem, em nossos dias, dar nova orientação à matéria em
apreço. E a Igreja, a quem Deus confiou a defesa da fé e dos costumes, diante
da corrupção cada vez mais intensa da sociedade, clama e torna a clamar com
toda a energia de que é capaz: o uso do matrimônio com restrição da natalidade
é contra a lei de Deus, é contra a natureza e os que agem deste modo tornam-se réus
de culpa grave.
O Santo Padre Pio XI admoesta nestes
termos os sacerdotes que atendem os fiéis em confissão ou têm almas ao seu
cuidado: não deixem os penitentes errar impunemente em coisa de tanta gravidade;
não se tornem coniventes com os culpados, absolvendo-os sem que eles prometam
corrigir-se, permitindo-lhes o uso dos sacramentos, nesse estado, facilitando,
em suma, a fraude conjugal.
E conclui dizendo: “Se algum
sacerdote permitir esses erros, ou, pela sua excessiva indulgência, deixar que
os fiéis caiam no pecado, saiba que terá de prestar severas contas a Deus,
Supremo Juiz, pois está sendo traidor — e deve tomar para si estas palavras do
Evangelho de São Mateus: “Cegos, guiando cegos... Se um cego serve de guia a
outro, ambos cairão no precipício”.
Quanto às dificuldades materiais — a
vida cada vez mais cara e, para o pobre, cada vez mais sufocante, — o Santo
Padre afirma: não há dificuldades nem embaraços, por mais sérios e prementes
que sejam, que dispensem do cumprimento da lei de Deus. — É certo e é de fé
que Deus não manda o impossível.
Haja boa vontade, haja espírito de
fé e de sacrifício, haja o desejo sincero e firme do cumprimento do dever — e
triunfará o preceito divino, para bem da Família e da Pátria.