O homem está neste mundo para conhecer,
amar e servir a Deus. Eis aí a sua grande ocupação, sem a qual todas as outras
seriam inúteis. Por isso, afirma um doutor da Igreja: -“O homem que quer viver para outra coisa, que não para Deus, não tem
razão de viver”.
“É para Vós mesmo, ó
meu Deus! Que criastes todas as coisas; e aquele que se quer pertencer a si
mesmo e não a Vós, certamente, entre todas as coisas se reduz a não ser coisa
alguma”.
Assim, pois, a tarefa principal da alma
humana é viver em condições de poder alcançar a Salvação Eterna. Preparar a
nossa Salvação é tender ao fim para que fomos criados: é cooperar com Jesus
Cristo na santificação da nossa alma; é fazer frutificar a graça que Ele nos
dispensou; é trabalhar por nos desprendermos do mal, afim de nos unirmos ao
soberano Bem.
Ai de nós! São bem raras as almas que
preenchem com energia estas condições da verdadeira felicidade! Vêem o céu,
aspiram a ele; e não se levantam nem se põe a caminho para lá. Os pensamentos,
as aspirações e as palavras elevam-se às alturas, mas o coração, as afeições e
os cuidados não passam da terra. “Marta, Marta, com muitas coisas te incomodas,
quando uma só te é necessária”. Esta admoestação de Jesus Cristo é aplicável a
um grande número de mães cristãs. Mesmo na esfera dos deveres públicos e das
boas obras, há frequentemente mais agitação do que progresso, mais tribulações
do que proveito. Cada dia nos devia aproximar mais do nosso fim sublime e,
contudo, quantas horas perdidas, quantos esforços inúteis, quantas obras
estéreis e mortas!
A nossa inconstância nesta grave tarefa
da salvação é a causa principal dos nossos desalentos. Fascinados com o falso
brilho das coisas mundanas descuidamos das coisas eternas, e, desorientados,
assim tornamo-nos incapazes de guiar aqueles que nos são confiados.
Não é a Graça que nos falta; nós é que
faltamos à Graça. A Luz foi nos dada para nos aclarar o caminho; Mas, diz o
evangelho, “as trevas não O compreenderam”.
Sabemos que Deus enviou Moisés ao faraó
e ao seu povo para lhes promulgar os decretos do céu e que essa missão foi
confirmada por uma infinidade de prodígios. Mas Satanás suscitou magos que, por
seus sortilégios, imitaram de algum modo as obras Divinas, a fim de lançarem os
egípcios nos encantamentos da vida e do orgulho. É a história do nosso tempo.
Nunca os meios de sedução foram mais numerosos nem mais requintados para
desviar os homens do seu fim verdadeiro e privá-los dos frutos da redenção.
Antigamente os dois campos estavam separados: Distinguiam-se claramente
os que pertenciam ao mundo e os que pertenciam a Deus. Hoje as diferenças se alteram
e se apagam. A própria piedade se torna mundana, enquanto que o espírito
mundano se reveste das formas da religião.
A força de exaltar o homem fora de
Deus, acima de Deus e a custa de Deus, deixa-se de reconhecer, de amar e de
servir a Ele. Vive-se neste mundo, como se a vida presente fosse o último termo
dos destinos humanos.
O cristianismo, doutrina de coisas
futuras, não se poderia harmonizar com estas idéias terrenas. Também por toda a
parte em que o Evangelho declina, vê-se o antigo paganismo despertar e
insinuar-se em todas as ordens de coisas: Vêmo-lo na educação, nos costumes,
nas ciências, nas artes, nos espetáculos, na literatura e em todos os usos e
práticas sociais. E ai está, forçoso é reconhecer, a funesta magia que estorva
a grande obra de nossa salvação. Enquanto nos acharmos sob o jugo do espírito
mundano, como seremos capazes de livrar dele os nossos filhos e de os educar
para o céu? “Assentar a felicidade entre as coisas
que passam, diz São Gregório, é construir um edifício sobre a torrente.”
Compenetremo-nos antes de tudo de que a
salvação eterna e o amor do mundo são duas coisas irreconciliáveis. Que aliança
se poderia formar entre o cálice de Nosso Senhor Jesus Cristo e a taça de
Belial? “Aquele que ama o mundo já não tem em
si o amor de Deus” – disse o apóstolo São João. O Salvador intercede pelos seus
discípulos e não pelo mundo.
Foi aos seus discípulos e não aos
partidários do mundo que Ele disse um dia: “Tudo que em meu nome pedirdes vos será dado”.
A vossa missão, ó mãe
cristã, é cooperar na salvação do vosso esposo e dos vossos filhos.
Procurai, pois, antes de tudo, para
eles como para vós, o que é necessário; e então, conforme a promessa positiva
dos Livros Sagrados, Deus abençoará a vossa solicitude e atenderá as vossas
súplicas e nem as assistências temporais nem as consolações celestes vos
faltarão jamais.