A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
EUCARISTIA— SACRIFÍCIO
3
de Julho de 1940
Estudemos hoje a existência e
essência do Santo Sacrifício da Missa.
O conceito de sacrifício é muito nobre e
elevado. Oferece-se a Deus uma coisa sensível, que é submetida a mudança
radical. Presta-se, deste modo, homenagem
ao supremo domínio de Deus, sobre todos os seres criados.
Eram comuns no Antigo Testamento os sacrifícios.
Focalizemos o sacerdote imolando um cordeiro sobre o altar de lenha, a que
ateia fogo... e a vítima é consumida
inteiramente.
Assim fez Abel na aurora do mundo, assim
fizeram tantos outros, ininterruptamente, até ao dia em que, no altar da Cruz,
foi imolado o Cordeiro sem mancha, para tirar o pecado dos homens!
Quando o sacrifício tinha por fim reconhecer
diretamente o supremo domínio de
Deus, chamava- se "holocausto”. Se
era em ação de graças, tinha o
nome de “sacrifício eucarístico”. — “Impetratório” — se envolvia o pedido
de uma graça. “Propiciatório” — se era em desagravo
do pecado.
Jesus
Crucificado é síntese divina de todos os sacrifícios dos antigos tempos, que
eram figuras da paixão e morte do Cristo Redentor. — Por isso mesmo, chegada a
realidade esplêndida, cessaram para sempre as figuras do passado.
Antes,
porém, que tal acontecesse, na véspera da tragédia do Calvário, Jesus,
terminada a Ceia última em companhia dos apóstolos, instituiu o Sacrifício
incruento que, até à consumação dos séculos, representasse o sacrifício
cruento, no qual Ele próprio seria sacerdote e vítima.
Consagrando o pão, diz o divino Mestre: “isto é o meu corpo, que, por vós, será
entregue”. Consagrando o vinho, diz: “Este é o
cálice do meu sangue, que será derramado para remissão dos pecados”. E
acrescenta: “Fazei isto em memória de mim”.
E o apóstolo São Paulo ensina: “todas as vezes
que comerdes deste pão e beberdes neste cálice, anunciareis a morte do Senhor,
até que Ele venha”. (1 Cor 11, 26).
Ouçamos São João Crisóstomo: “Não oferecemos
nós o Sacrifício todos os dias? — Sim, oferecemo-lo,
mas o que recordamos é a morte de Jesus. Nosso
Pontífice foi quem ofereceu a Hóstia que nos purifica. Oferecemos agora a
Hóstia que foi então oferecida e que não pode ser destruída[1]”. Apesar de ser
consumida em cada Comunhão, a Hóstia
divina permanece viva, dando vida e sempre pronta para novos Sacrifícios, até
ao fim dos tempos! E São Cipriano: “Jesus Cristo foi o primeiro que se ofereceu
a si mesmo ao Pai e determinou que isso se fizesse em sua memória”. Quem visita
as catacumbas, relíquias preciosas do apogeu da fé, contempla inúmeras pinturas
representando o Santo Sacrifício da Missa. Em algumas aparece o Sacerdote
consagrando o pão e, na parede fronteira, o sacrifício de Isaac por seu pai
Abraão.
Saibamos prezar os
tesouros que possuímos. Amemos a Eucaristia; aceitemos docilmente o que nos
ensina a Santa Igreja.
[1]-
Homília
7.a, sobre a epíst. de S. Paulo aos Hebreus. Cf. Pesch — De essentia sacrificii Missae n.° 893.