domingo, 14 de abril de 2013

EUCARISTIA— SACRIFÍCIO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946


EUCARISTIA— SACRIFÍCIO
3 de Julho de 1940

            Estudemos hoje a existência e essência do Santo Sacrifício da Missa.
     O conceito de sacrifício é muito nobre e ele­vado. Oferece-se a Deus uma coisa sensível, que é submetida a mudança radical. Presta-se, deste modo, homenagem ao supremo domínio de Deus, sobre todos os seres criados.
     Eram comuns no Antigo Testamento os sacri­fícios. Focalizemos o sacerdote imolando um cor­deiro sobre o altar de lenha, a que ateia fogo... e a vítima é consumida inteiramente.
     Assim fez Abel na aurora do mundo, assim fizeram tantos outros, ininterruptamente, até ao dia em que, no altar da Cruz, foi imolado o Cor­deiro sem mancha, para tirar o pecado dos homens!
     Quando o sacrifício tinha por fim reconhecer diretamente o supremo domínio de Deus, chamava- se "holocausto”. Se era em ação de graças, tinha o nome de “sacrifício eucarístico”. — “Impetratório” se envolvia o pedido de uma graça. “Pro­piciatório” se era em desagravo do pecado.
     Jesus Crucificado é síntese divina de todos os sacrifícios dos antigos tempos, que eram fi­guras da paixão e morte do Cristo Redentor. — Por isso mesmo, chegada a realidade esplêndida, cessaram para sempre as figuras do passado.

     Antes, porém, que tal acontecesse, na véspera da tragédia do Calvário, Jesus, terminada a Ceia última em companhia dos apóstolos, instituiu o Sacrifício incruento que, até à consumação dos séculos, representasse o sacrifício cruento, no qual Ele próprio seria sacerdote e vítima.
     Consagrando o pão, diz o divino Mestre: “isto é o meu corpo, que, por vós, será entregue”. Consagrando o vinho, diz: “Este é o cálice do meu sangue, que será derramado para remissão dos pe­cados”. E acrescenta: “Fazei isto em memória de mim”.
     E o apóstolo São Paulo ensina: “todas as ve­zes que comerdes deste pão e beberdes neste cá­lice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha”. (1 Cor 11, 26).
     Ouçamos São João Crisóstomo: “Não ofere­cemos nós o Sacrifício todos os dias? — Sim, oferecemo-lo, mas o que recordamos é a morte de Jesus. Nosso Pontífice foi quem ofereceu a Hóstia que nos purifica. Oferecemos agora a Hóstia que foi então oferecida e que não pode ser destruída[1]”. Apesar de ser consumida em cada Comunhão, a Hóstia divina permanece viva, dando vida e sem­pre pronta para novos Sacrifícios, até ao fim dos tempos! E São Cipriano: “Jesus Cristo foi o pri­meiro que se ofereceu a si mesmo ao Pai e determinou que isso se fizesse em sua memória”. Quem visita as catacumbas, relíquias preciosas do apogeu da fé, contempla inúmeras pinturas representando o Santo Sacrifício da Missa. Em algumas aparece o Sacerdote consagrando o pão e, na pa­rede fronteira, o sacrifício de Isaac por seu pai Abraão.
    Saibamos prezar os tesouros que possuímos. Amemos a Eucaristia; aceitemos docilmente o que nos ensina a Santa Igreja.


[1]- Homília 7.a, sobre a epíst. de S. Paulo aos Hebreus. Cf. Pesch — De essentia sacrificii Missae n.° 893.