domingo, 31 de janeiro de 2010

São João Bosco, Confessor!

São João Bosco, Confessor!

Deu-Lhe Deus grande sabedoria e alargou o seu coração como as praias do mar.
Sl. Louvai, ó servos, o Senhor, louvai o nome do Senhor.


"Prometi a Deus que até meu último suspiro seria para os jovens."
São João Bosco

sábado, 30 de janeiro de 2010

EL GOZO INMUTABLE - Pío XII y la familia


EL GOZO INMUTABLE
(17 de Mayo de 1939)
Pío XII y la familia
 
Siempre son gratas a nuestra mirada, y más gratas todavía a nuestro corazón, estas reuniones de recién casados que vienen al Padre común de las almas para recibir su bendición, que quiere ser —y es en realidad— signo y prenda de la de Dios.

Pero nos resulta especialmente grata esta de hoy, en el día que precede a la fiesta de Nuestro Señor Jesucristo.

Es la fiesta del gozo puro, de la esperanza serena, de los deseos santos, de los que parece como un reflejo la solemnidad de vuestras bodas, queridos esposos, porque en el matrimonio cristiano que habéis celebrado ante el Santo Altar, todo parece suscitar y anunciar gozo, esperanza, deseos, propósitos. Para que estos sentimientos que han alegrado y alegran vuestros corazones, sean profundamente sinceros y durables, unidlos a los que os sugiere la gran festividad de mañana.

Sea puro vuestro gozo, como el de los Apóstoles que se retiraron del Monte de los Olivos, después de haber asistido a la Gloriosa Ascensión del Señor, “cum, gaudio magno”, con el corazón rebosante de alegría por gloria de Jesús que coronaba su vida terrena con esta triunfal entrada en el cielo: de alegría por su propia felicidad eterna que entreveían en el triunfo del Divino Maestro.

Sobre estos motivos, amadísimos hijos, debe fundarse vuestro gozo para ser verdadero y puro: y así como aquéllos no pueden jamás disminuir, tampoco vuestra alegría estará sujeta a las mutaciones de los goces efímeros que el mundo promete: “Pacem meam do vobis: non quomodo mundus dat, Ego do vobis”, había dicho Jesús, Os doy mi paz; no como el mundo la da, Os la doy.

El gozo de aquel día se perpetúa y se dilata en los corazones de los fieles de Cristo, porque se sostiene en la más segura esperanza: “Yo voy al cielo a preparar el puesto para vosotros”, dijo el mismo Señor Nuestro: y añadía: “Recibiréis la virtud del Espíritu Santo, que vendrá sobre vosotros”.

Promesas magníficas; la promesa del cielo y la promesa de la efusión de las gracias del Espíritu Santo. Todo esto debe animar vuestra fe, alimentar y robustecer vuestra esperanza, elevar vuestros pensamientos y vuestros deseos.

Ésta es la oración de la Iglesia en la Sagrada Liturgia. “Dios omnipotente nos conceda que, así como creemos que este día subió el Redentor al cielo, también nosotros vivamos en espíritu entre las cosas celestiales”, y también: “entre las vicisitudes mudables de la vida terrena, estén fijos nuestros corazones allí donde únicamente se encuentran los verdaderos gozos”: “inter mundanas varietates ibi nostra fixa sint corda, ubi vera sunt gaudia”.

Y Nos os bendecimos, queridos esposos, en nombre de aquel Jesús que bendijo a los Apóstoles y a los primeros discípulos mientras subía al cielo, “dum benediceret illis recessit ab eis et ferebatur in cœlum”.

(Retirado do blogue: Signum Magnum)

Grandes almas!


As grandes almas

Quando falo de grandes almas, não penso nos heróis cuja ação abalou o mundo, cujo nome ressoa por toda parte e figura em todos os jornais. A maioria dos homens não têm, no decurso da vida, uma só ocasião de fazer um ato de heroísmo. Os jovens são cheios de entusiasmo.

Contam com fogo o que fariam numa expedição ao pólo sul, afirmam que morreriam de bom grado pela sua fé, que gostariam de dar a vida por Cristo nas missões, que estão prontos a derramar seu sangue pela pátria... e muitas outras coisas semelhantes. Por certo que é belíssimo esse entusiasmo; mas, se fica apenas no devaneio, se não é amadurecido, não vale grande coisa na simples vida de todos os dias. Porque sacrifício semelhante, provavelmente jamais lhes será pedido.

O que importa, é procurar utilizar a força desse entusiasmo, fazendo-o enfunar as velas dos pequenos deveres quotidianos. Desta maneira, representará já uma energia motora considerável. Se quiseres dar uma volta de bonde, uma nota de cem mil réis, no teu bolso não te será de nenhuma utilidade. Se não tiveres dinheiro miúdo, o condutor logo te fará descer; fazer o que com tamanha nota?

Pois bem, é exatamente assim na vida moral. Se não trocares em dinheiro miúdo o teu ideal de patriotismo, ou o teu desejo de martírio, não poderás cumprir convenientemente os mandamentos da nossa religião, nem os teus deveres patrióticos, - todos, até os mais pequeninos, - com perseverança invencível.
Podes hoje praticar a tua fé sem receio do martírio e, provavelmente, não terás que morrer como herói pela pátria. Mas o que a religião e a pátria esperam de ti é, desde agora, uma vida heróica! E isto é mais difícil. Bem sabes, pelo exemplo de infelizes suicidas, que muitas vezes é preciso mais coragem para viver do que para morrer.

Durante a guerra, tiveram que vacinar soldados contra a cólera. E sabes o que eu vi então, com grande surpresa, no hospital da retaguarda onde servia? Aqueles robustos rapagões que não haviam pestanejado debaixo duma saraivada de obuses, puseram-se a tremer diante da inofensiva seringa de injeção. Bem vês que o entusiasmo heróico quase não existe na vida diária.
Conheço homens em cujo ânimo a coragem é leviandade e vaidade, muito mais do que a virtude.

Pode ser que esses homens não temam sem seque a morte, - mas o que eles temem, certamente, são os sofrimentos que a vida lhes pode reservar; e este temor fá-los covardes e pecadores.
O público do circo olha, trêmulo, os saltos perigosos dos acrobatas; mas não acredites que esses que expõem assim a vida tão levianamente sejam capazes, a sair-se de dificuldades, em alguma circunstância pouco importante.
É preciso menos coragem para, no mês de julho, mergulhar num rio gelado, do que para ficar fiel aos princípios de pureza moral, num sociedade mal orientada.
A coragem de dizer sempre a verdade!
A coragem de permanecer honesto!
A coragem de nunca abandonar seus princípios!
Eis o que faz as grandes almas.

(O Moço de caráter - Mons. Tihamér Tóth)
PS: Grifos meus

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

A tática do combate (Vida espiritual)


A tática do Combate

Hi in curribus et hi in equis: nos autem in nomine Domini Dei nostri invocabimus (Sl 19,8).
Uns confiam em seus carros, outros em seus cavalos; quanto a nós, apoiamo-nos no nome do Nosso Deus que invocamos.

Se o trabalho da perfeição é uma luta, há, pois, uma estratégia a adotar, uma tática a seguir. Nos combates humanos, triunfa aquele que tem fé em si. O grande recurso do general é manter no coração do soldado a confiança no seu próprio valor.

No combate com o divino amor, o guerreiro mais terrível é a criancinha que nenhuma confiança tem em si mesma, e tudo espera de Jesus que com ela combate. Entretém incessantemente em tua alma a desconfiança absoluta em ti mesma e exalta cada vez mais tua confiança em Deus, e vencerás.

O pais do divino amor é situado além das fronteiras humanas. A nenhum homem é dado pretender sequer, com suas próprias forças, fazer ainda que um passo no caminho que para lá conduz.

O natural e o sobrenatural aproximam-se, entrelaçam-se tão bem, que a alma se engana muitas vezes. Ela atribui a si um papel que pertence exclusivamente à graça. Jesus insinuou-Se de tal modo em seu ser que não raro ela julga andar só, quando é levada em Seus divinos braços.

Deves persuadir-se de que a fraqueza da natureza humana, mesmo corrigida, sustentada e enobrecida pela graça, é sem limites. Tua vontade é a tal ponto volúvel que, sem um socorro gratuito de Deus, apesar de todas as graças passadas, és capaz de cometer o pecado mortal mais abominável e renegar a Jesus que tanto amaste até hoje.

Não percas jamais de vista esta verdade fundamental.

E o que ainda é mais assustador nessa fraqueza radical é que a alma nem por isso se assusta. Ao contrário, ela alimenta em si mesma uma secreta presunção que lhe faz dizer: Jamais cairei!

Essa presunção é, talvez, o único obstáculo sério na vida espiritual. É tão fortemente arraigada em certas almas que, após muitos anos, ainda persiste. Para arrancá-la, Deus, na sua misericórdia, permite numerosas quedas, algumas vezes mesmo pesadas, para que, enfim, a alma decubra o horrível cancro que a consome.

Oh! como é preciso rogar a Deus que nos faça conhecer a nossa fraqueza sem nos deixar cair no precipício.

A alma não chega à completa desconfiança de si mesma senão gradativamente. A princípio, consegue, com a experiência repetida de sua fraqueza, não se admira mais de suas faltas. Para transpor esse primeiro passo, é preciso, para certas almas, bem longos anos, tão boas elas se julgam.

Em seguida, a poder de graças especiais, a alma consegue não somente não mais se admirar, mas mesmo não se despeitar das suas incessantes recaídas. Ela volta a Jesus, depois de cada falta, com a mesma confiança filial, exprime-Lhe o seu pesar, renova-Lhe sua resolução e abraça-O, sem suspeitar que Jesus possa lembrar-Se de sua infidelidade.

Enfim, chegada ao fundo desse abismo, não somente ela não se admira e nem se despeita mais de suas culpas, mas experimenta uma alegria real em sentir-se tão pequena e tão fraca diante de um Deus tão poderoso. Cada uma de suas fraquezas dá ensejo a um ardente ato de amor e de confiança inabalável na bondade de Deus.

Assim, no fundo de seu nada, a alma encontra o máximo da confiança de Deus.

O verdadeiro, o único fundamento desta confiança é, pois Deus só, Deus que é infinitamente bom, poderoso e fiel em Suas promessas. De um lado, nada podemos na ordem sobrenatural, pois que um abismo intransponível a separa da natureza humana. Por outro, Deus exige que sejamos perfeitos, que sejamos santos e imaculados em sua presença.

É claro, pois, que Ele nos dará o necessário para cumprirmos sua vontade.

E não somente Ele nos dará, mas deve dar, pois, sem isso, seria exigir o fim sem os meios. Essa obrigação, Deus impôs-Se a Si mesmo. Chegou até a dar no Evangelho Sua palavra de honra, que Ele a contratava e que Sua promessa seria infalível. Ele nos pede para não duvidar nem de Sua palavra nem de Sua bondade.

Além disso, Ele quer que se saiba que não faz depender a eficácia da oração do mérito daquele que ora, mas tão somente da força intrínseca da divina promessa. Quanto mais miseráveis somos tanto mais o auxílio de Deus deve seguir pronta e plenamente nosso grito de angústia.

Para que esta bondade de Deus te cause mais forte impressão, lembra-te do quanto Deus fez por ti no passado, quando mesmo ainda não O procuravas ou, quem sabe, O evitavas.

Que não faria Ele hoje, quando O amas e buscas de todo o teu coração?

Lembra-te também que o único desejo do Salvador, Sua ocupação única de Redentor, é perdoar tuas faltas e conduzir-te à santidade, à qual aspiras. Toda a obra de Redenção, os imensos sacrifícios que Jesus Se impôs, Seu nascimento, Sua morte cruel, Sua vida eucarística, não tem outro fim senão preparar-te para receberes Seus dons, e agora que desejas recebê-los, agora que suplicas que te não repila, esse Jesus tão indulgente ocultar-Se-ia de ti?

Considera, além disso, que o divino Mestre tem todo o interesse em te conceder a santidade, pois és uma pequena parte Dele mesmo, és um membro do Corpo do qual Ele é a Cabeça.

Tua glória é a Sua, tua imperfeição é para Ele um desdouro.
Se Ele trabalha com essa paciência divina, arrancando-te de ti mesmo, é a fim de formar-te à Sua imagem, infundir em ti Sua vida e apresentar-te ao Seu divino Pai como um outro Cristo.

... Deixa essas verdades consoladoras penetrarem em tua inteligência e descerem no teu coração, e depois faze um ato de confiança heróica como jamais fizeste. Medita profundamente no abismo de teu nada, representa-te toda tua fealdade aos olhos de um Deus infinitamente puro, depois levanta a fronte com uma confiança e uma temeridade criança ...

Roga sem cessar a Jesus que conserve em teu coração o desejo da santidade, pede-Lhe que arranque todo o apoio em ti mesmo, e depois deixa que falem os sábios que se escandalizam de tua temeridade infantil.

... Deixa-te, pois, atrair por Jesus, não permitas ao temor ou à desconfiança perturbar teu coração. Afasta, incontinenti, todo pensamento inquietador, toda idéia deprimente, todo sentimento de tristeza ou de desânimo. Esses são os frutos da confiança em ti mesmo.

... Para avançar rapidamente no caminho da santidade, conta mais com  a paciência que com a precipitação. Esse caminho conduz do berço ao túmulo: É preciso caminhar sempre e sempre avançar. A precipitação não encurta a estrada a percorrer; ao contrário, ela provoca o cansaço e o desânimo. Está certo de chegar aquele que, após cada falta, se levantar calmamente e continua seu caminho.

Quanto mais a alma economiza suas forças modera seus ímpetos e contém seu ardor, tanto mais longe irá.
O apressado, ao contrário, esgota-se, enfraquece e tomba sem forças para continuar o caminho.
Confiou demais em si mesmo.

Tem, pois uma vontade sempre enérgica, jamais precipitada, um espírito sempre alerta, jamais preocupado, um coração sempre corajoso, jamais agitado.

Convence-te que, na vida espiritual, Deus leva mais em consideração a imensidade de teus desejos que a perfeição de tuas obras. Esmera-te em executar os bons desígnos, age como se tudo dependesse de ti unicamente e depois observa, sem despeito, que nada fizeste.

O homem não é realmente forte senão em desejos e Deus considera o desejo sincero como se fosse realizado.

Forma grandes projetos, porém confia a Jesus sua excecução. Se forem para Sua glória, Ele há de executá-los por ti ou por outros ainda mais débeis do que tu. Deus não tem necessidade de tuas obras. Ele quer apenas que tenhas a disposição sincera de executar aquilo que te impôs.

Se Ele precisar de criaturas para levar avante grandes empreendimentos, saberá formá-las. Irá buscá-las entre aquelas que não se apóiam na própria força, habilidade ou mérito.

E agora, minha alma, repele toda a confiança em ti mesma, ama a Jesus, oculta-se em Seu Coração, encarrega-O de fazer de ti uma grande santa (alma). Ele o fará certamente.

(Excertos do livro: O Divino Amigo - Pe. Schrijvers)

PS: Grifos meus
Ver também : O Grande Combate

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Deveres dos filhos



Deveres dos filhos

Os três primeiros Mandamentos são os maiores pela importância e dignidade: referem-se diretamente a Deus. Os outros se referem ao próximo, cujo amor é semelhante ao que devemos a Deus (Mt. 22,39), servindo mesmo de sinal para sabermos e mostrarmos que amamos a Deus (Jo. 4,20).

Como os nossos pais ocupam entre os nossos próximos o mais alto lugar, e estão logo abaixo de Deus, o primeiro dos Mandamentos do amor do próximo é o que nos manda honrá-los e está expresso no Êxodo: "Honra teu pai e tua mãe, a fim de teres uma dilatada vida sobre a terra que o Senhor teu Deus te dará" (Êx.20,12).

Sentido do Mandamento

1 - Há entre o amor de Deus e o do próximo uma grande diferença. Deus deve ser amado com um amor supremo e sem limites: "de todo o teu coração, de toda a tua alma, com todas as tuas forças" (Deut. 4,5). Mas as criaturas, bens finitos, só podem ser amadas com limites. Ainda que sejam os pais. "Quem ama a seu pai e a sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim" (Mt. 10,37)

2 - O 4º Mandamento abrange os deveres para com os mestres e superiores temporais e espirituais, e, reciprocamente, os deveres dos pais para com os filhos, e dos superiores para com os inferiores.

3 - Os deveres dos filhos para com os pais são: amor, respeito, obediência e assistência.

Amor

1 - Este amor é em razão da causa que os pais são de nossa vida. "lembra-te que sem eles não terias nascido" (Sr. 7,30). É em razão da gratidão: "Honra a teu pai, e não esqueças os gemidos de tua mãe" (ibid. 29).  Um filho nunca pode esquecer que Deus se serviu de seus pais para lhes dar a vida. Devia pensar sempre quanto custou de trabalhos, sacrifícios, cuidados e mesmo em dinheiro a seus pais.

Principalmente à sua mãe: "Honra a tua mãe durante todos os dias de sua vida, porque te deves lembrar de quantos e quão grandes perigos padeceu por ti, trazendo-te no ventre" (Tb.4,3-4).
Os pais são nossos maiores benfeitores.

2 - Pecam, portanto, gravemente, os que:

a) odeiam os pais;
b) tratam-nos asperadamente. A Bíblia está cheia de maldições contra os filhos que maltratam os pais (Prov., 20,20 ; 30,17);
c) querem que eles morram, seja para se verem livres de sua tutela, seja para herdarem os seus bens; - foi tremendo o castigo de Absalão, que queriam expulsar a Davi do trono para reinar em seu lugar ( 2 Reg. capítulos 15 e 18).
d) irritam-nos ou desgostam, sem justa e grave causa; "Quem aflige a seu pai e afugenta sua mãe, é um ignomioso e infeliz" (Prov 19,26);
e) deles se envergonham por serem pobres, ignorantes ou doentes. Embora filho de suma pecadora, o rei Salomão levantou-se para receber sua mãe, saudou-a com grande reverência e fê-la assentar num trono à sua direita (3 Rg. 2,19).

Respeito

1 - Por maior que seja o amor filial, não pode dispensar a reverência:
a) interna, que reconhece a superioridade dos pais;
b) externa, que se manifesta por palavras e atos.

2 - Misto de veneração e de temor, o respeito é devido aos pais em razão da sua preeminência, independentemente da idade, posição social, superioridade intelectual e moral dos filhos, e ainda dos defeitos e fraquezas ou culpa dos pais.

3 - Não é contra o respeito, mas muito de acordo com a piedade filial, procurar com bons modos corrigir os defeitos dos pais.

Obediência

1 - Os filhos devem obediência aos pais nas coisas lícitas e honestas, que tocam ao regime da família, e enquanto estão sob a autoridade paterna. "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, porque isto é justo" (Ef. 6,1).

2 - Quando os pais proíbem certas companhias, a freqüentação de lugares, jogos e diversões; quando traçam as normas morais do regime doméstico; quando recomendam a freqüentação dos sacramentos e ofícios religiosos; quando exigem o necessário cuidado nos estudos; quando limitam as despesas, etc., os filhos estão obrigados a obedecer.

3 - A obediência aos pais não obriga, quando estes ordenam coisas contrárias à lei de Deus, pois "é preciso antes obedecer a Deus que aos homens" (At. 5,29). Seria uma desordem. Como sempre, devemos fazer antes a vontade de Deus para sermos dignos de Deus (Mt. 10,37).

4 - Também a obediência não atinge a escolha do estado. Os bons filhos devem comunicar-se e aconselhar-se com seus pais. Mas estes até pecariam, se impusessem aos filhos um estado de vida contrário a suas tendências, como também se lhes proibissem seguir a vocação religiosa, sacerdotal ou matrimonial - a menos que haja bem justas razões para isto.


Assistência

1 - Dos pais recebem tudo os filhos. É grave dever assisti-los nas necessidades corporais ou espirituais. Naquelas, com o auxílio econômico na doença, na pobreza, na velhice, e retribuindo os cuidados que deles receberam em pequeninos. "Filho ampara a velhice de teu pai" ( Sr. 3,14)

Ver o exemplo de José socorrendo a seu velho pai nas dificuldades (Gn. 45,9-13) e o de Rute respingando espigas para a sua sogra (Rute 2,18).

2 - Nas necessidades espirituais os filhos devem a seus pais:

a) rezar sempre por eles, procurar aproximá-los de Deus, facilitar-lhes, em caso de moléstia, a recepção dos sacramentos;
b) depois da morte, promover-lhes funerais dignos de sua posição social, mandar dizer missas e rezar por seu eterno repouso.

3 - Nas doenças, na velhice, é especial dever suportar as impaciências e nervosidades dos pais. Lembrem-se quantos sacrifícios custaram aos pais. Por isto diz o Espírito Santo: "Como é infame aquele que desampara o seu pai" (Sr. 3,18). Edificante exemplo de dedicação ao velho pai cego é Tobias, cuja história é interessante e encantadora. (Ver o livro de Tobias).

Benção e castigos

1 - São Paulo observa que é este o primeiro Mandamento a que Deus junta uma promessa de recompensa (Ef 6,2-3). Por outro lado, a própria experiência mostra como são infelizes os maus filhos.

2 - A Sagrada Escritura se compraz em apontar as benção dos bons filhos e as maldições dos maus.
- O desrespeito de Cam a Nóe acarretou-lhe a condição de escravo dos próprios irmãos (Gn. 8,25); mas Sem e Jafé receberam as bençãos do Senhor.
- José, o bom filho, terminou glorificado, enquanto os seus irmãos, que fizeram sofer o velho pai, padeceram humilhação. Absalão, o filho revoltado, teve morte horrível, como os filhos de Heli (I Rg. 4, 10-11), mas os filhos como Samuel e Tobias foram cumulados das bençãos divinas.

Para viver a doutrina

1- Respeitada a lei de Deus, um filho nunca deveria pôr limites ao amor que consagra a seus pais. Na realidade nunca faremos por eles o que eles fizeram por nós.

2 - Sejamos serviçais para com eles. E não a contragosto, esperando que nos peçam ou mandem, ou - ainda pior - que nos obriguem. Mas ajude-no-los com prazer, prevenindo e adivinhando seus desejos. Se eles são pobres, auxiliando-os no trabalho, para aliviar-lhes o peso da vida. Se não são, procurando o que lhes possa dar prazer.

3 - Em geral, nada contenta mais aos pais do que o bom procedimento dos filhos. Em casa com os irmãos, na rua com os companheiros, no colégio com os mestres e colegas. Como também nada os desgosta mais do que uma conduta repreensível.

4 - Em questões de estudos é de justiça corresponder aos esforços de nossos pais. Eles estão gastando conosco. Não aproveitar desta despesa é um verdadeiro furto. E às vezes, isto representa para eles um sacrifício. Passam dificuldades, para nos manterem no colégio. Seria crueldade nossa não correspondermos.

5 - Pecado muito freqüente é a desobediência dos filhos. Isto aflige sobremaneira os pais...O bom filho obedece prontamente, porque a dilação já é uma espécie de desobediência. Aqui, como em tudo, é Jesus nosso modelo. Em Nazaré lá está Ele, verdadeiro Deus, obedecendo a José e Maria (Lc. 2,51). Quanto ao Pai celeste, não procurava outra coisa, senão fazer o que Lhe era do agrado (Jo 8,29), ainda nas mais difícies coisas (Lc.22,42).

Grandes consolações daríamos a nossos pais, se procurássemos fazer também o que lhes é do agrado em tudo, como aconselha São Paulo (Col. 3,20).

6 - Rezar pelos pais é grave obrigação que um filho não pode esquecer. Sempre. Pricipalmente, se os pais não são bons católicos, não praticam, não fazem a Páscoa, não vão à Missa de precieto, etc. Esta obrigação se estende para depois da morte dos pais. Às vezes, ficam os nossos pais sofrendo longos anos no Purgatório à falta de nossos sulfrágios!

7 - Especial cuidado deve ter um filho de facilitar a seus pais os socorros espirituais em caso de enfermidade grave. Nada de receios infundados nem de adiantamentos indefinidos. Os sacramentos não matam, antes fortalecem o espírito, podendo curar o corpo. É dever nosso avisar ao pároco para uma visita, e dispor em casa as coisas devidamente. Nem deixe isto para outros, porque, se todos agem assim, ninguém trata disso.

(Excertos do livro: O caminho da vida - Pe. Àlvaro Negromonte)

PS: Grifos meus e itálicos do autor.
Ver também: Deveres dos pais

A vontade - Arma da Pureza


A vontade - Arma da Pureza

Neste nosso século de moleza e de comodidades em que os moços, com um tostão, poupam-se a fadiga de cem metros de caminho que deveriam fazer a pé, tomando carros elétricos, ou o ascensor, para evitar a subida de quarenta degraus, não será demasiado insistir sobre a grande importância da vontade.

Multíplices são as causas que enervam a sensibilidade.
Muito poucas as que contribuem para tornar viril o jovem, dando-lhe a verdadeira robustez.

A sólida formação do caráter e a educação geral da vontade, é que se deveria ter em vista, para toda e qualquer formação dos jovens.

Que fazer de todos esses abúlicos, desses anêmicos, cujo sangue parece carecer de glóbulos vermelhos e abundar de leucólitos? Convencei-vos de que o menino mais disciplinado, o que tivesse maiores prêmios ao colégio e fosse mesmo presidente de Congregação e conquistasse, cada ano, o primeiro prêmio de comportamento, estaria terrivelmente exposto a fraquear, se lhe faltasse a vontade.

Não é verdade?
... Retomemos, por alguns instantes, o assunto das leituras, encarado sob este aspecto, de que nos ocupamos: o da vontade. Evita, caro amigo, as leituras lânguidas, como as daquele de quem J. Lemaitre dizia: "Exala-se de sua obra um sortilégo, um malefício, uma lânguidez mortal".

Lê, pelo contrário, a vida de um homem enérgico. Toma parte de seu magnetismo, ou como se diria em física: entra em seu "campo de indução". Os nossos esforços pessoais nem sempre bastam para fortificar o nosso caráter, o exemplo de outrem ser-te-á sempre de auxílio.

... Caros jovens, qual pensais vem a ser o fim que temos em vista, em nosso colégios?
Acha-se muito bem expressado nas duas seguintes afirmações: a do Cardeal Fleury ao terminar a educação do jovem Luiz XV, declarando-lhe:

"Tudo o que eu procurei fazer-vos foi tornar-me ínutil!", e a do Bispo Dupanloup, ao concluir um seu tratado pedagógico, com esta ponderação: "O que faz o mestre é nada, o que ele faz opraticar, é tudo."

É o nosso papel  na vossa formação: esforçamo-nos por adestrar-nos por adestrar-vos a lutardes, por vós mesmos.

Por vós mesmos: porquanto não estaremos sempre ao pé de vós, para vos amparar.
Por vós mesmos: porque, afinal, é cada um que se salva a si mesmo.

Não é o vosso confessor que vos salva.
... Um penitente do santo Cura d'Arc, não perde nunca a potência de se condenar.
Não é o vosso diretor espiritual quem vos salva nem o vosso pregador.

Eles o que fazem é apontar-vos o caminho: são, digamos assim, como postes indicadores do caminho do céu. Mas de que serve o melhor poste indicador, que muito bem aponta o roteiro, se o viajante não tem a coragem de seguir por esse caminho? O poste indica mas não sabe de seu sítio.

Não é a Virgem nem os santos que vos salvam.
Eles incitam-vos ao bem mas a ninguém forçam.
São magníficos guias. Mas se o que tiver o melhor guia, o não seguir, de que servirá tê-lo?

Nem mesmo o próprio Deus somente, pois, "Deus que vos criou sem vós, vos não salvará sem vós". (Santo Agostinho).

Podem recomendar-vos a virtude mas, em suma, a vós toca praticá-la.
Ninguém vos dispensa do esforço e de um "trabalho individual", que não admite substituto algum.

Santo Inácio a quem injustamente acusam de haver substituído a iniciativa pessoal, por métodos e fórmulas, começa os Exercícios Espirituais por notar: ser necessário "se exercere", exercitar-se a si mesmo. É tão radicalmente impossível o querer, em vosso lugar, como o nutrir-se alguém, por vós.

Praticai, vós mesmos, o bem.
A virtude não é coisa extrinseca, mas intrinseca.
O que quer dizer isso?

A guarda da pureza não pode limitar-se a uma precaução exterior, com o suprimir simplesmente as ocasiões perigosas. Não há dúvida que a vigilância nos bons colégios, procura afastar de vós, caros jovens, o que poderia ser causa de tentações.. É elementar prudência.

Mas se contentarmos só com isso, o nosso sistema de educação, seria utópico e falho. Porque enfim, logo à noite, encontrareis fatalmente solicitações libidinosas, ao saírdes do colégio para irdes às vossas casas: serão cartazes de cinemas, exposição de fotografias, cartões postais, pinturas, estátuas pouco friorentas, pares amorosos, encontros nas rodas escolares, etc.

Suponhamos que sois internos e que assim vos livrais das tentações, pela volta quotidiana aos vossos lares; em todo o caso lá virão as férias e tudo o que elas trazem consigo: desocupação, o campo com seus costumes menos recatados, estações de banhos...

E além disso, ou internos ou não, depois do vosso curso, tereis que deixar o colégio. Se vos encerraram numa estufa demasiadamente quente, é sempre perigosa a brusca passagem para o ar livre de fora, pois vos exporiam a incomodas pleurisias e a pneumonias mortais.

Sem cessar, nós nos esforçamos por preservar-vos dos perigos da alma, é de elementar obrigação nossa; mas afinal, como os encontrareis cedo ou tarde e até vivereis no meio deles, o principal cuidado há de consistir em vos armar bem.

O inimigo estará vigilante, mas tereis então armazenada em vós, a necessária força de resistência.

Jesus rogando por seus discípulos, dizia a seu Pai: "Não vos peço os tireis deste mundo, mas que os protejais contra o mal". (Jo. 17-15). São Paulo sentindo o aguilhão da carne e os açoites de Satanás, escrevia: "Pedi a Deus para que a tentação de mim se afastasse. Deus, porém, respondeu-me: a minha graça te basta". (II Cor. 12-8)

O moço frágil  sucumbe no seio da família a mais piedosa, nos meios os mais virtuosos.
E, pelo contrário, um jovem pode permanecer casto nos meios mais deletérios. Será forte se compreendeu bem as noções do dever, do pecado mortal, se tiver sólidas convicções, acerca do céu, do inferno, do amor de Jesus Cristo por nossas almas imortais.

... Tudo o que dissemos pode resumir-se em duas palavras: a vitória não consiste no fato extrínseco e negativo de que a tentação desapareça (é, infelizmente, impossível), mas no fato intrínseco e positivo de se possuir, em si mesmo, uma fonte de fortaleza cristã.

(Excertos do livro: A Grande Guerra - Pe. Hoornaert)
PS: Grifos meus

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Calvário e a Missa - 5º Parte: Comunhão


A Comunhão


"Tenho Sede".
(S. João 19, 28)

O Nosso bem-amado Salvador, chega à comunhão da Sua Missa quando, no íntimo do Sagrado Coração, parte este grito: "Tenho sede".

Não se trata, certamente, de sede de água, pois a Terra, e tudo quanto ela encerra, Lhe pertenciam, e Ele acalmou as ondas quando as águas enfurecidas pareciam querer ultrapassar os seus limites.

Quando Lhe ofereceram de beber, Ele não aceitou. Era outra, era diferente a sede que atormentava Jesus - era a sede das almas e dos corações humanos. Esse grito foi uma apelo à comunhão - o último da longa série de apelos que o Pastor que é Jesus, dirigiu aos homens.

O próprio fato de ter sido traduzido pelo mais pungente de todos os sofrimentos humanos, que é a sede, dá a medida da sua profunidade e da sua força. A humanidade pode sentir-se faminta de Deus, mas Deus sente-Se sequioso da humanidade.

Ele sentiu essa sede na Criação, quando a fez participante da divindade no jardim do paraíso, e ainda na Revelação, quando tentou chamar a Si o coração afastado do homem, contando-lhe os segredos do Seu amor.

Essa sede renovou-se na Incarnação, quando Jesus Se tornou semelhante àquele que amava, revestindo a forma e as aparências humanas. Na Cruz, o Salvador manifestou a mesma sede na Redenção pelo maior amor que jamais existiu, pois que ofereceu a própria vida por aqueles a quem amava. Esse foi o apelo final para a comunhão, antes de se correr a cortina sobre o Grande Drama da vida de Jesus sobre a terra.

Todo o amor dos pais pelos filhos e dos esposo pela esposa, reunidos num amor imenso, representariam apenas uma insignificante parcela, a mais ínfima fração do amor de Deus pelo homem, revelado naquele grito de sede. Ele significou, simultaneamente, não apenas a sede que sentiu por todos os humildes, pelos corações famintos, pelas almas vazias, mas a infinita intensidade do Seu desejo em satisfazer os nossos anseios.

A nossa sede de Deus não encerra algo de misterioso, porque a boca sequiosa suspira pela fonte, a planta volta-se para o sol e os rios correm na direção do mar. Dada, porém, a nossa insignificância e a mesquinhez do nosso amor para com Deus, o amor que Ele nos dedica é, realmente, um mistério. Esse é o significado da sede divina pela Comunhão conosco.

O Salvador já expressara isso mesmo, na parábola da ovelha tresmalhada, ao dizer que O não satisfazia a presença das noventa e nove ovelhas que O seguiam, pois só a recuperação de uma ovelha perdida poderia dar-Lhe alegria completa.

Esta verdade foi novamente expressa na Cruz. Nada podia satisfazer devidamente a Sua sede, senão o coração de cada homem, mulher ou criança, que, uma vez nascidos para Ele, só n'Ele poderiam encontrar a paz e a felicidade.

Esta prece pela comunhão baseia-se no amor, pois este, pela sua própria natureza, é propenso à união. É o amor de cada um de nós pelo próximo que se firma a unidade de um estado. É do amor do homem e da mulher que resulta a união de dois seres numa só carne.

O amor de Deus pelo homem apela, portanto, para a unidade baseada na Incarnação - unidade de todos os homens no Corpo e no Sangue de Cristo. Foi para selar esse amor por nós que Ele Se deu na Sagrada Comunhão, para que, assim como Ele e a Sua natureza humana, nascendo das entranhas da Sua Mãe Santíssima, formaram um só na unidade na Sua Pessoa, também Ele e nós, nascidos das entranhas da humanidade, pudéssemos ser um só na unidade do Corpo Místico de Cristo.

E é por essa razão que empregamos a palavra "receber", quando falamos da Comunhão com Nosso Senhor na Eucaristia, pois, literalmente, "recebemos" a Vida Diviva, exatamente como a criancinha recebe a vida através de sua mãe. Cada vida é sustentada pela comunhão com uma Vida mais elevada.

Se as plantas falassem, elas diriam ao orvalho e ao sol: "Só entrando em comunhão comigo, participareis das minhas leis e poderes, e revelareis a vida que em vós existe".

Se os animais pudessem falar, eles diriam às plantas: "Só participareis da minha vida, entrando em comunhão comigo".

Todos nós também, os seres humanos, dizemos aos seres inferiores da Criação: "A não ser que entreis em comunhão comigo, não participareis da minha vida humana". Porque é, pois, que Nosso Senhor não havia de dizer-nos também: "A não ser que entreis em comunhão comigo, a Vida não entrará em Vós".

O inferior é transformado em superior: as plantas em animais, os animais no homem, e este, por caminho mais elevado, é "divinizado", se corresponder àquele apelo, isto é, por intermédio da Vida de Cristo.

A comunhão é, pois, a primeira maneira de recebermos a Vida Divina, à qual não temos mais direito do que a pedra-mármore tem de vir algum dia a dar flor. É apenas uma pura dádiva do Todo-Poderoso que nos amou ao ponto de querer unir-Se a nós, não por meio dos laços da carne, mas sim pelos sagrados laços do Espírito, cujo amor não está sujeito à saciedade, pois é feito de êxtase e alegria.

Quão depressa nos teríamos esquecido de guardar nas nossas almas as dádivas e a imagem de Jesus de Belém e de Nazaré! Deus Nosso Senhor bem sabia que seria assim, mas sabia também quanto precisávamos d'Ele e daí, a dádiva de Si próprio na comunhão, na qual existe um outro aspecto em que raras vezes pensamos.

A comunhão implica não somente a recepção da Vida Divina mas também a oferta, pois todo o amor é recíproco. Não há amor unilateral, pois, por sua natureza, o amor exige reciprocidade.

Deus tem sede de nós, mas isso quer dizer que o homem também tem sede de Deus.

Quando vamos receber a Sagrada Comunhão, não devemos nunca esquecer que não vamos apenas "receber" Deus Nosso Senhor, mas sim retribuir também a Sua dádiva, oferecendo-nos a nós próprios na reciprocidade do amor.

Existe ainda um outro aspecto da Comunhão, além da recepção da Vida Divina. São João refere-se a esse aspecto e São Paulo dá-nos essa verdade completamente na sua Epístola aos Coríntios.

A Comunhão não é apenas uma incorporação na Vida de Cristo, mas também uma incorporação na Sua Morte.

"Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes deste cálice comemorais a morte do Senhor, até que Ele venha".

A vida natural tem duas faces: a anabólica e a catabólica.
A vida sobrenatural tem também duas faces: a reconstrução, segundo o modelo que é Cristo, e a destruição do velho Adão.

A Comunhão implica, portanto, não apenas receber, mas também dar. Não pode haver ascensão a uma vida superior, se não se extinguir a vida inferior.


O Domingo de Páscoa pressupõe uma Sexta-Feira Santa. O amor implica uma dádiva mútua que termina na própria recuperação. Assim, a Mesa da Eucaristia é um lugar de troca, e não um lugar de exclusiva recepção.

Acaso poderíamos receber toda a Vida de Cristo, sem Lhe darmos nada em troca?
Acaso poderíamos esgotar o cálice, sem contribuir com algo para o encher?

Devemos receber o pão, se oferecer o grão que deve ser moído; receber o vinho, sem dar as uvas que devem ser esmagadas?

Se durante a nossa vida fôssemos sempre à Comunhão para receber a Vida Divina, e A levássemos conosco, sem deixar nada em troca, seríamos parasitas do Corpo Místico de Cristo.

Devemos, pois, levar conosco, para a Mesa da Eucaristia, o espírito de sacrifício, a mortificação da inferioridade do nosso ser, as cruzes suportadas com paciência, a crucificação do nosso egoísmo, a morte da nossa concupiscência, e, inclusivamente, a nossa falta de merecimentos para receber a Comunhão.

Só nestas circunstâncias a Comunhão será o que realmente sempre deve ser, isto é, uma troca, um comércio entre Cristo e a alma, na qual Ele dá a sua Morte, em troca das nossas vidas, e a Sua Vida pelos Seus filhos adotivos.

Nós damos-Lhe o nosso tempo, Ele dá-nos a Sua Eternidade; nós damos-Lhe a nossa humanidade; Ele dá-nos a Sua Divindade; nós damos-Lhe a nossa insignificância, Ele dá-Nos a Sua plenitude, toda a Sua grandeza.

Compreenderemos, realmente, toda a grandeza do amor?

Não teremos dito já, em momentos de afetuosa expansão por uma criancinha, numa linguagem que pode variar, mas cujo sentido é o mesmo: "Amo-a tanto, como se ela fizesse parte do meu ser"?

E porquê? Precisamente porque todo o amor anseia pela unidade.

Pela ordem natural, Deus dispensou prazeres à união dos laços da carne, mas esses não podem comparar-se ao prazer da união espiritual, nos quais a divindade se sobrepõe à humanidade esta se reveste de aspecto divino, pois toda a nossa aspiração vai para Deus, e Deus vem até nós, e cessamos de ser simples seres humanos para começarmos a ser filhos de Deus.

Se alguma vez na nossa vida tivestes um momento em que uma nobre afeição vos elevou... se alguma vez amastes alguém de todo o vosso coração, é caso para perguntar o que sentiríeis unindo-vos completamente ao grande Coração do Amor.

Se o coração humano pode dar e sentir tão nobres e elevadas alegrias, o que poderá dar-nos o grande Coração de Cristo?

Oh! Se a simples centelha, já de si, é brilhante, como será a própria chama!

Teremos nós a plena consciência da íntima ligação que existe entre a Comunhão e o Sacrifício, por parte de Nosso Senhor e por parte das Suas humildes criaturas, que somos nós?

A Missa torna-nos inseparáveis, pois não há Comunhão sem uma Consagração. Não há recepção do pão e do vinho que oferecemos, a não ser que tenham sido transubstanciados no Corpo e no Sangue de Cristo.

A Comunhão é a conseqüência do Calvário.

Toda a natureza testemunha esta verdade; a nossa vida, alimenta-se sacrificando os animais dos campos e as plantas da terra. É da crucificação que nós recebemos a vida. Matamo-los, não para destruir, mas sim para realizar.

E, agora, por um belo paradoxo do Divino Amor, Deus faz da Sua Cruz o meio da nossa salvação. Os homens mataram Jesus, crucificaram-nO na Cruz, mas o Amor do Seu coração eterno não foi extinto nem vencido. Ele quis dar-nos a própria vida que Lhe tirámos, o próprio alimento que destruímos, alimentar-nos com o pão e o vinho que sepultamos.

Ele transformou o nosso próprio crime numa culpa abençoada, transformando a Crucificação em Redenção, a Consagração em Comunhão, a morte na vida eterna.

O homem é, precisamente, o mais misterioso de todos os seres. Compreende-se que o homem seja amado, mas o que não se compreende é que não retribua o amor que recebe.

Qual a razão que há para se fazer de Deus Nosso Senhor, o Grande Desamado?
Que razão existe para não se amar o próprio Amor?
Por que Lhe damos fel e vinagre, quando Ele exclama: "Tenho Sede"...?

(O Calvário e a Missa  - Arcebispo Fulton J. Sheen - 5º Parte - Comunhão)

PS: Grifos meus
Ver também: (Outros textos do mesmo livro ... continua)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Bela oração - Santa Teresa de Jesus



Que um dia, Bem meu,
eu possa pagar um centavo do muito que Vos devo.
Ordenai, Senhor, de acordo com a Vossa vontade,
que esta serva Vossa Vos sirva em algo.

Outras também eram mulheres,
e fizeram coisas heróicas por amor a Vós.
De minha parte, só sei tagarelar e por isso não quereis,
Deus meu, levar-me a agir;
sirvo somente em palavras e desejos,
e nem para isso tenho liberdade, e, caso a tivesse,
em tudo cometeria faltas.

Fotalecei minha alma, preparando-a primeiro,
Bem de todos os bens e Jesus meu,
ordenando em seguida os meios para Vos servir,
pois já não suporto receber tanto e nada pagar.

Custe o que custar, Senhor,
não permitais que eu chegue diande Vós com as mãos vazias,
pois a recompensa será dada de acordo com as obras.

Aqui está a minha vida, aqui está a minha honra e a minha vontade;
tudo Vos dei, Vossa sou, disponde de mim de acordo com a Vossa vontade.

Bem vejo, meu Senhor, que pouco posso;
mas, aproximando-me de Vós,
chegando a essa fortaleza de onde se vêem verdades,
e não Vos afastando de mim,
tudo poderei; se me afasto de Vós,
por menos que seja,
voltarei para onde estava, o inferno.

(Livro da Vida - Santa Teresa de Jesus)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Alicerces de areia...vida vazia!


Há quem diga em versos:

Tem alicerces de areia
o que constróis cada dia;
vida que corres tão cheia,
para a morte tão vazia...

Aí está, leitora: não podes construir sobre areia, levando uma vida de mil futilidades e cuidados que nada têm a ver com "o único necessário". Por isso já agora, com flóridas primaveras, tens de construir para o futuro. Pois muitas vezes a vida toda se prende à senda trilhada na mocidade.

Colheitas de venturas ou de tristezas têm suas sementeiras nessas horas que parecem enfeitadas, cada qual com flores mais garridas.

Não pretendas figurar entre as moças que tão somente querem divertir-se na mocidade,contando com a seriedade para os dias de amanhã. Com flirts, danças e frivolidades atrevem-se a freqüentar o "curso preparatório" para a vida. Pretendem saber amanhã o que hoje não estudaram.

Contam com improvisações, de caráter, de renúncia, de sacrifício, quando hoje nadam à mercê de todas as correntes. E estão certas de que serão esposas fiéis, castas, devotadas, vivendo por enquanto como jovens egoístas, levianas, sensuais...

Alicerces de areia...vida vazia.

Não; respeita em ti o que serás amanhã. Respeita o amor, o casamento, a maternidade, a vida religiosa, o estado livre. Curva-te respeitosa diante da vida, tal como Deus a fez com as suas grandezas, suas funções, seus mistérios.

Á entrada do coração de toda jovem seriamente cristã há de estar um querubim com flamejante espada para afugentar o mal que entra por meio de voluntárias e pequenas covardias, vilanias, impurezas, pensamentos de orgulho e de egoísmo.

Os pais costumam ter filhos que se parecem com seus próprios e mais secretos pensamentos - afirmou célebre moralista. Amanhã terás de formar consciências e coração, almas e caractéres, leitora. Misteriosamente os seres nascidos de ti retirarão o que tens de melhor ou de pior.

A jovem que hoje luta contra seus defeitos, que escala a senda do ideal, está acumulando energias para as vontades que dependerem da sua no futuro. Ninguém quer a morte do riso, contentamento, da alegria na vida da moça. Mas que ao lado disso haja um programa baseado no princípio:

A mocidade não foi criada para o prazer, mas para o ...heroísmo.

A moça muitas vezes atira-se loucamente às diversões, porque não lhe "confiam" alguma coisa grande, cheia de responsabilidades. Por isso, toma tua vida - urna repleta de responsabilidades - e carrega-a com alma corajosa, confiante, resoluta.

Assim procedendo, não constróis alicerces sobre areia...

(Audi Filia! Páginas para moças - Pe. Geraldo Pires de Souza)
PS: Grifos meus

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os olhares de Jesus



Os olhares de Jesus

O olhar é o espelho fiel em que a alma vem refletir-se e mostrar-se inteira. Ele ilumina as feições do homem; é para o rosto o que o sol é para o firmamento... Um provérbio árabe diz: "Os olhos falam mais forte do que a boca", lê-se neles tudo o que os lábios não podem ou não querem revelar.

Há o olhar da criança com a sua expressão de candura e de limpidez cristalina - há o olhar da virgem, tão puro, tão doce; sente-se que ela ainda tem em si algo do anjo - há o olhar do jovem que vai direto diante dele, procurando varar os véus do futuro - há o olhar do homem qu revela ou a decisão do trabalhador, ou a flama interna do sábio, ou o ardor concentrado e o dinamismo potente do soldado - há, enfim, o olhar do velho, cheio de melancolia, e que fita o sol, como se quisesse decobrir nele o local do seu túmulo...

Mas quem poderá jamais dizer a beleza do olhar de Jesus, a sua profundeza, a sua doçura e a sua bondade, como também esse algo de único, de desconhecido na terra, que fascinava as multidões e as arrastava após Ele ao deserto?

... Ah! os olhares de Jesus, que pareciam alcançar muito além das coisas, e vos penetravam como os raios de um sol insustentável! Ora, o Evangelho assinala-nos alguns desses olhares divinos pousados sobre criaturas. Estudemo-los.

Olhar sobre Santa Madalena

... Conhece-se a história dela; era "a pecadora da cidade". Conta uma lenda que uma noite, quando na sacada da sua vivenda de Magdala ela acompanhava os seus aduladores, viu passar um grupo de homens e perguntou quem eram.

É Jesus de Nazaré, responderam-lhe. Logo, com o rosto alumiado pela lâmpada que trazia na mão, ela tentou sondar a noite que a lua iluminava um pouco. Subitamente, sentiu o olhar de Cristo pousar lentamente no seu... Logo, quase desfalecente, exclamou apontando para o coração: "Ele me tocou aqui"!

No dia seguinte, estava ela em casa do Fariseu onde Jesus fora convidade: Sigamo-la.

Ela entra na sala do festim, ouve os sarcasmos dos criados, e sente pesar sobre si os olhares furiosos dos "puros"; porém nada a detém. Jesus lá está. Ela Lhe cai aos pés, rega-os com suas lágrimas e enxuga-os com seus magnifícos cabelos desatados.

É só. Mas que cena! e, na sala, que silêncio! Aguarda-se a sentença de Jesus. Que vai dizer Ele? Que vai fazer? Pois Ele não pode deixar de saber que é uma alma manchada que Lhe rasteja aos pés...

Depois de admoestar o Fariseu, Jesus diz a Madalena estas simples palavras: "Mulher, teus pecados te são perdoados". Há dessas emoções que podem fazer morrer!

Louca de alegria porque segura do perdão, Madalena volta para casa purificada. Jesus lhe aparecerá, a ela, em primeiro. Mas tarde, a Igreja, colocá-la-á antes das Virgens que ela invoca nas suas ladaínhas dos Santos.

E isto nos mostra que o Amor apaga os pecados e restitui admiravelmente a pureza perdida. Mas para isso precisamos lembrar-nos da bela lição do Mestre: "Muitos pecados lhe são perdoados, porque ela muito amou!" Quando o amor verdadeiro se apossa de um coração generoso, ilumina e abrasa tudo, à maneira de um fogo que pega nos sarçais...

Olhar de Jesus sobre os Apóstolos

Estamos nas margens do lago de Tiberíades, alguns pobres pescadores, mal vestidos, exaustos pela pesca noturna, consertam suas redes. Estafados, não falam. Eis, porém, que se encaminha para eles um Ente que, de longe, parece querer chamá-los, conquistá-los.

Escapa-se Dele como que uma luz, e o Seu olhar, que começa a fitá-los, perturba-os até o fundo da alma; é que o olhar d'Ele não é como os outros. Há olhos de uma claridade tal, que descem ao fundo das almas como sol matinal na claridade trêmula da aurora.

Parando junto deles, naquela bela e clara manhã, Jesus, com aquela voz que não se parece com nenhuma outra voz, contenta-Se com lhes dizer: "Vinde; segui-me! Farei de vós pescadores de homens!"

Teriam então os Apóstolos compreendido bem o que Jesus lhes propunha?
Podiam adivinhar a formidável, sangrenta, mas tão gloriosa "aventura" em que Ele os queria lançar?
Vagamente, talvez.

... Quem quer que sejamos, saibamos bem que o olhar de Jesus, esse olhar que fascina e que salva, esse olhar divino que escolhe Seus Apóstolos, mais dia menos dia poderá ainda pousar sobre nós! Esse Salvador "à espreita" das almas que se perdem, procurará sempre operários para enviá-los à grande messe.

Ele nos vê, como aos pecadores do lago, ocupados nas nossas tarefazinhas de um dia, na nossa vidinha banal e egoísta talvez. Olha-nos. Tem pena. Não diz nada, pois nos conhece de cor e salteado. Sabe o que Ele poderia fazer de nós se, uma vez por todas, tivéssemos a coragem de deixar tudo, de segui-Lo através de tudo e de deixá-Lo fazer...

E, no silêncio, no fundo da alma, em breve uma voz faz-se ouvir, doce a princípio, depois forte, fortíssima, imperiosa. E essa voz nos diz: Há grande lástima no reino das almas! - Há almas que rondam em torno da verdade e que não a conhecem!

"Os pequenos pediram pão, e não se achou ninguém para lhes dar!"
É o convite, é o chamado.

Desde então, o drama principia. Tem-se "o êxtase e o terror de ser escolhido"...há muitos em que o terror sobreleva. E Jesus, triste, se vai! Quanto aos que viraram a cabeça e deixaram partir o Divino Caçador, esses poderão, mais tarde, repetir esta queixa dolorosa de Legouvé moribundo:

"Eu poderia ter sido uma grande alma; e nunca passei de um bom homem!"

... Ó Jesus abrasai, pois, o meu coração de uma amor às almas, louco irresistível. Mostrai-me que sou um "delegado à luz" junto a elas; e que é culpa nossa, de nós católicos pretensamente bem pensantes, se tantas almas se perdem! Lembrai-me que somos responsáveis por tudo, visto que, tendo a luz redentora em nossos pobres corações de homens, guardamos ciosamente o facho, sem passá-lo aos nossos irmãos que continuam a tatear dolorosamente na noite.

Dai-nos de sermos "o homem de ferro", aquele que sabe onde vai, que sabe o que faz, e que deve arrastar após si os pobres cegos, os sofredores, os arruinados que ele encontra pelo caminho. Enfim, ponde em nós a dor das almas, o mal-estar do zelo, e, arrancando-nos às nossas futilidades, aos nossos egoísmos, lançai-nos na estrada real que conduz a Vós e que leva ao Céu! Amém.

(Excertos do livro: Mais perto de Ti,  meu Cristo! - Pe. José Baeteman)

Meditação: Meio seguro de fortalecer e aperfeiçoar a alma

Meio seguro de fortalecer e aperfeiçoar a alma

Aquele que quiser ultrapassar a média comum na vida religiosa, recomendo fazer, outrossim, além das orações vocais, uma meditação diária. A alma se aperfeiçoa melhor no silêncio.

Quem aspirar seriamente a formar o caráter sólido, procure reservar cada dia alguns minutos, um quarto de hora, em que, alheio a todos os demais pensamentos, se ocupe exclusivamente com Deus e sua alma.

A meditação diária metódica é um meio excelente de auto-educação.

Não tem tempo? Julgo que todo o jovem de boa vontade pode incluir em seu programa cotidiana estes quinze minutos da manhã.

Não sabes fazer a meditação? Não é difícil. Escolhes um pensamento, uma verdade da fé, e tratas de penetrar nela, com todas as tuas faculdades; a vontade, a fantasia, a inteligência, a fim de que se enraíze bem profundamente na alma.

O método duma boa meditação é o seguinte:

Como preparação coloca-te, em espírito, na presença de Deus e pede-Lhe que se digne dar-te sua graça para uma boa meditação. Em seguida analisa a verdade escolhida para assunto, mediante a inteligência e a fantasia, considerando todas as suas particularidades, embora mínimas, e deixa atuar as impressões que surgem, sobre todas as faculdades da alma.

Encrementes pergunta em cada pormenor:

Que é que se conclui para mim, desta verdade?
Vivi de acordo com ela, até o presente?
Se não tiver sido assim, como quero viver daqui para o futuro?
(Faze aqui o firme propósito de aplicar durante o dia, a verdade conhecida)

Antes de terminar a meditação, fala ainda com Deus, em breve e sincero colóquio:
"Senhor, agradeço a graça com que me iluminastes durante minha contemplação. Rogo-Vos me ampareis com vosso auxílio a fim de poder cumprir as resoluções tomadas".

Então, é difícil?

A finalidade da meditação é concentrar-se alguém em pensamentos religiosos, e expor a alma aos seus raios confortadores e vivificantes. Bem sei que a meditação diária sistemática exige certo sacrificio de tempo; entretanto, seus ótimos efeitos educativos são sumamente compensadores.

Quando tivermos feito bem a meditação, por alguns meses, já sentiremos a alma bem mais achegada a Deus, a vontade revigorada, nossa mentalidade mais nobre, isto é, avançamos um grande passo na formação de nosso caráter. A facilitar-nos a meditação temos os Evangelhos (basta algumas linhas, diariamente), a "Filotéia" de São Francisco de Sales, a "Imitação de Cristo", e outros.

Será isto um penoso trabalho do dia? Sim, pode ser um peso, mas que alivia e eleva. As asas são igualmente um peso para a ave; se a tirares, porém, ela já não poderá voar!

(A Religião e a Juventude - Mons. Tihamér Tóth)
PS: Grifos meus

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Quanto importa, na infância, tratar com pessoas virtuosas!



CAPÍTULO 2.
Trata de como foi perdendo essas virtudes e de quanto importa, na infância, tratar com pessoas virtuosas.
(Santa Teresa de Jesus - Livro da Vida)

1. Parece-me que começou a fazer-me muito dano o que agora direi. Considero algumas vezes o mal que fazem os pais em não procurar que seus filhos vejam sempre - e de todas as maneiras - coisas de virtude. Porque, com ter tanta a minha mãe, como disse, de bom não tomei muito, nem quase nada - chegando ao uso da razão - e o mal causou-me muito dano. Era ela afeiçoada a livros de cavalaria. Não tomou, no entanto, esse passatempo tão mal com eu, pois com isso não deixava o trabalho; somente nos facilitava a sua leitura.

E talvez o fizesse para não pensar nos grandes trabalhos que tinha e ocupar seus filhos para que não andassem perdidos em outras coisas. Isto pesava tanto a meu pai, que era preciso andar com cuidado para que não o visse. Comecei a ficar com o costume de os ler; e aquela pequena falta que nela via fez resfriar os desejos em mim e faltar no demais. Não me parecia mal o gastar muitas horas do dia e da noite em tão vão exercício, embora às escondidas de meu pai. Era tão em excesso o que nisto me embebia que, se não tivesse livro novo, não tinha - a meu parecer - contentamento.

2. Comecei a enfeitar-me e a querer agradar com a boa aparência, a ter  muito cuidado com as mãos e cabelo, perfumes e todas as vaidades que nisto podia ter, porque eu era muito exigente. Não tinha má intenção, pois não quisera eu que alguém ofendesse a Deus por minha causa. Durou-me muitos anos este muito requinte no demasiado apuro e em coisas que me pareciam não ser nenhum pecado. Agora vejo o mal que devia ser.

Tinha eu uns primos irmãos que tinham entrada em casa de meu pai, que outros não tinham essa sorte, porque o meu pai era muito recatado; e quisera Deus que também o tivesse sido com esses, pois agora percebo o perigo que vem do contato, na idade em que se deve começar a ter virtudes, com pessoas que, não reconhecendo a vaidade do mundo, nos atraem para ela.

Eram quase da minha idade, um pouco mais velhos do que eu. Andávamos sempre juntos. Tinham-me grande amor e, em todas as coisas que lhes dava gosto, eu entretinha conversa com eles. Ouvia os sucessos de suas aspirações e ninharias nadinha boas; e o pior foi a alma abrir-se ao que foi causa de todo o seu mal.

3. Se eu houvesse de aconselhar, diria aos pais que, nesta idade, tivessem grande cuidado com pessoas com quem seus filhos tratam. Daqui vem muito mal, porque o nosso natural mais tende para o pior de que para o melhor.

Assim me aconteceu a mim; tinha uma irmã de muita mais idade do que eu, de cuja honestidade e bondade - que tinha muita - eu nada apanhei, e tomei todo o mal de uma parente que frequentava muito a nossa casa. Sua grande leviandade levara minha mãe a se esforçar muito para afastá-la de casa. Parece que adivinhava o mal que por ela me havia de vir. Mas era tanta a ocasião que havia para ter entrada que nada pôde. Passei a gostar dessa parenta.

Com ela era a minha conversação e práticas, porque me ajudava em todas as coisas de passatempo que eu queria e até me metia nelas e dava parte das suas conversas e vaidades.

Até o momento em que com ela convivi, por volta dos meus catorze anos,ou um pouco mais (quando ela era minha amiga e eu ouvia as suas confidências), não creio, ter me afastado de Deus por algum pecado mortal nem perdido o temor d'Ele, embora fosse mais forte o sentimento da honra.

Este temor teve força para eu não a perder de todo. e tenho a impressão de que nada neste mundo poderia me fazer mudar nesse aspecto, nem o amor de nenhuma pessoa era capaz de me fazer fraquejar quanto a isso. Assim tivesse eu tido fortaleza para não ir contra a honra de Deus, tal como ma dava o meu natural, para não perder no que a mim me parecia estar a honra do mundo! E, no entanto, eu a perdia de tantas outras maneiras!

4. Eu exagerava nesse inútil apego à honra! Dos meios que era mister para a guardar, não usava de nenhum; somente tinha grande cuidado em não me perder de todo. Meu pai e minha irmã sentiam muito esta amizade e dela me repreendiam muitas vezes. Como não podiam evitar que a parenta fosse à nossa casa, foram inúteis os seus esforços, pois era grande minha esperteza para o mal.

Espanta-me, algumas vezes, o dano que faz uma má companhia e, se eu não tivesse passado por isto, não o poderia crer; no tempo da mocidade, em especial, deve ser maior o mal que causa. Eu gostaria que os pais, com o meu exemplo, se acautelassem e observassem bem isso. A verdade é que essa amizade me transformou a tal ponto que quase nada restou da minha inclinação natural para a virtude; e me parece que ela e outra moça, que gostava do mesmo tipo de passatempo, imprimiam em mim maus hábitos.

5. Isso me faz entender o enorme proveito que vem da boa companhia, e estou certa de que, se naquela idade tivesse tido contato com pessoas virtuosas, a minha virtude teria se mantido intacta; porque, se tivesse tido, nessa idade, pessoas que me ensinassem a temer a Deus, a minha alma teria se fortalecido contra a queda. Tendo perdido esse temor de Deus, ficou-me apenas o de perder a honra, o que, em tudo o que eu fazia, me trazia aflição. Pensando que não se teria como descobrir, atrevi-me a fazer coisas contra a honra e contra Deus.

6. A princípio causaram-me dano as ditas coisas segundo me parece. Mas a culpa não devia ser sua senão minha. Porque depois bastou a minha malícia para o mal juntamente com o ter criadas, pois, para todo o mal, encontrava nelas boa ajuda. Se alguma tivesse sido de bom conselho, porventura me tivesse aproveitado; mas cegava-as o interesse e a mim a afeição. No entanto, nunca fui inclinada a muito mal, porque coisas desonestas naturalmente as aborrecia, mas me dedicava a conversas agradáveis - o que não impedia que eu estivesse em perigo, exposta a situações arriscadas, expondo a elas também meu pai e meus irmãos.

De tudo isso Deus me livrou e de um modo que mostrou com clareza estar Ele procurando, até contra a minha vontade, evitar que eu me perdesse por inteiro. Mas o meu proceder não permaneceu tão oculto a ponto de não lançar dúvidas contra a minha honra e criar suspeitas em meu pai. Eu estava envolvida nessas vaidades há uns três meses, quando me levaram a um mosteiro existente no lugar, nele, criavam-se pessoas em condições semelhantes, embora não de costumes tão ruins quanto os meus; e isso de maneira tão discreta, que só eu e um parente o soubemos.

Aguardaram para isso uma ocasião a não parecer estranho: foi o ter-se casado minha irmã e ficar eu só, sem mãe, não parecia bem.

7. Era tão demasiado o amor que meu pai me tinha e a minha muita dissimulação, que não acreditou tanto mal de mim e assim não ficou desagradado comigo. Mas, como esse tempo foi de curta duração, embora algo se tivesse percebido, com certeza, nada se devia ter dito. É que eu, como temia tanto a perda da honra, punha todas as minhas diligências em que fosse secreto e não olhava a que não o podia ser para Quem tudo vê.

Ó Deus meu, que dano causa ao mundo ter isto em pouca conta e pensar que pode haver coisa secreta feita contra Vós! Estou certa de que muitos males seriam evitados se soubéssemos que o importante  não é nos ocultar dos homens, mas evitar descontentar a Vós.

8. Os primeiros oito dias senti-os muito, e mais pela suspeita de que se tivesse percebido a minha vaidade do que por estar ali. Já andava cansada e não deixava de ter grande temor de Deus quando O ofendia, e procurava logo confessar-me. Trazia-me isto tal desassossego que, ao fim de oito dias e creio até menos, estava muito mais contente de que em casa de meu pai. Todas o estavam também comigo, porque, nisto de dar gosto onde quer que estivesse, me dava o Senhor graça e assim era muito querida.

Naquele tempo desgostava-me a idéia de tornar-me monja; apesar disso, eu apreciava ver as boas religiosas daquela casa, muito honestas, fervorosas e recatadas.

Mesmo com tudo isto, não deixava o demónio de me tentar, e procuravam os de fora desassossegar-me com recados. Mas, como a isso se não dava lugar, depressa acabou. Minha alma começou a acostumar-se de novo ao bem da minha primeira infância, e vi a grande mercê que Deus faz àqueles a quem põe em companhia dos bons. Parece-me que Sua Majestade andava a mirar e a remirar por onde e como me podia fazer voltar a Si. Bendito sejais, Vós, Senhor, que tanto me haveis sofrido! Amén.

(Livro da Vida - Santa Teresa de Jesus)
PS: Grifos meus