Toda criatura, ao nascer, traz consigo as disposições felizes ou fúnebres recebidas com o sangue dos que lhe transmitiram a vida.
Como seria interessante a história dos homens celebres, se a ela se juntasse o estudo das influências particulares que presidiram ao nascimento e a educação de cada um deles e aos primeiros passos que deram!
Ora, entre essas influências, nenhuma há mais profunda que a de uma mãe. À mãe pertence a tutela dos primeiros anos, como incumbe a missão de verter na alma ainda tenra do seu filhinho o leite das verdades primordiais. Ela consagra as primícias do desenvolvimento futuro; ela faz desabrochar o primeiro sorriso, o primeiro pensamento e o primeiro amor; ela é a preceptora natural e providencial da criança e a esta comunica, mesmo sem o sentir, impulsos que se perpetuam através de todas as fases da vida.
Conta-se que uma mãe gostava de enfeitar com ramalhetes e folhagens o berço do filho. E este filho, que na infância brincava com as flores, foi mais tarde o grande botânico Linneu. Um tal exemplo, apanhado entre mil outros, demonstra a importância das primeira impressões. A maior parte das tendências e aptidões que se desenvolvem no homem provém destas influências iniciais. A mãe é a dispensadora dos primeiros dons de Deus; ela não exercerá, porém, com facilidade a esta prerrogativa, se não com a condição de se conservar ligada e submetida a seu Deus, que é o foco das graças, certa de que, quanto mais a Ele estiver unida, tanto mais salutar será sua ação.
As mães sobretudo devem meditar e refletir nessa doce frase de Jesus Cristo: “Manete in dilectione mea”, “Permanecei no Meu Amor!”.
Se permanecerdes em mim e guardardes fielmente a Minha Palavra, vós frutificareis como os ramos da vinha e todas as vossas preces serão atendidas.
É, pois, verdadeiramente augusto sacramento que liga os esposos entre si e que os torna a ligar por um laço indissolúvel, a Jesus Cristo, seu Salvador. Este laço sagrado é a primeira condição da propagação da graça nas gerações cristãs. “Óh! Que aliança – exclama Tertuliano – a dos esposos cristãos, unidos numa mesma esperança, num mesmo juramento, numa mesma norma de proceder, numa mesma dependência! Eles não devem formar senão uma só unidade; tudo é comum entre eles, os cuidados, os sofrimentos, os dissabores e as alegrias. A sua vida deve ser uma mútua exortação e uma solidariedade de bons exemplos”
Nestas condições, os matrimônios são felizes e granjeiam as bênçãos que de raça em raça se propagam.
Com efeito, estas alianças fundamentalmente cristãs, melhor compreendida outrora do que hoje, glorificavam a Igreja, nobilitavam a sociedade civil e povoavam o céu. Não nos admiremos do número considerável de santos e de grandes homens que floreceram nessa época de fé. Eles eram nascidos de casais fiéis e se formavam na escola das mães piedosas.
A mãe não é completamente mãe, no sentido profundo da palavra, se não quando é mãe cristã. Este último título é que exalta e consagra sua dignidade; pois o sentido puramente natural também se acha nas demais criaturas, mesmo nas de ínfima espécie, e, quando não procede de um princípio religioso, é um amor desarrazoado que degenera em egoísmo e redunda muitas vezes em idolatria. É preciso que o amor maternal se purifique, harmonizando-se com o espírito de Deus, e que ele se banhe nas claridades superiores. A mãe não é a proprietária, senão apenas a depositária do seu filho; ela o deve amar como Jesus Cristo o amou, amá-lo para Ele e não para si só, e educá-lo voltando-o para a Celeste Pátria e não só para a terra. Tal é a missão da mãe e sempre que ela a desempenha com consciência e com a sua incomparável ternura, lança no coração do filho o sólido fundamento da religião, da moral e da felicidade.
Oh! Como é feliz o filho que, ao lembrar-se de sua mãe, sente vibrar no íntimo de sua alma as emoções religiosas. Ele dirá então como Santo Agostinho: “Tudo que sou, a minha mãe o devo; ela não me deu somente a vida corporal, deu-me também a vida da alma”. Um outro doutor da Igreja, o doce São Bernardo, atesta que, no meio das seduções do mundo e das ilusões que lhe perturbavam a consciência, um pensamento irresistível o impedia de se desencaminhar e perder: Era o pensamento de sua mãe. São Gregório de Nazianzo gostava de recordar as lições maternas e os exemplos edificantes que o tinham tocado desde a mais tenra idade.
A história dos santos está cheia destes testemunhos de piedade filial.
Um dos maiores vultos do cristianismo, Santo Atanásio, tinha uma mãe que, no momento em que deu a luz, logo o consagrou a Deus, pronunciando as seguintes memoráveis palavras: “Eu quero, com o socorro da graça, fazer de meu único filho um homem de Deus!” e ela desde cedo lhe inspirou por Jesus Cristo um tão delicado amor e tão perfeitamente o nutriu da doutrina evangélica, que teve a fortuna de ver realizadas as suas mais caras esperanças. São Basílio, esse prodígio de ciência e de santidade, fala igualmente com um orgulho todo cristão das graças de que ele era devedor a sua mãe e reconheceu verdadeiramente este dom inestimável como um dos maiores benefícios de Deus. São Gregório de Nyssa não cessou nunca de celebrar sua mãe e até se fez historiador e panegirista dela. São João Chrisóstomo, cognominado “boca de ouro” por causa de sua admirável eloqüência, era filho único de uma jovem mulher que enviuvou aos vinte anos. Esta mulher cristã, formada na escola de Jesus Cristo, desprezou, por seu filho como por si mesma, todas as frágeis prosperidades deste mundo e, animada de uma mais alta e pura ambição, não procurou senão os bens imortais. Uma outra mãe, não menos feliz, soube educar seus três filhos com uma inteligência tão perfeita, que chegou a fazer três santos e um deles foi o venerabilíssimo Santo Ambrósio. De uma santa nasceu o grande Santo Hilário, a glória do antigo cerco de Poitiers e a honra da Gália cristã. Enfim, São Gregório Magno presta uma homenagem magnífica a Santa Silvia, sua mãe, e de tal modo que, sendo Soberano Pontífice, ele a manda pintar sentada ao seu lado em atitude contemplativa. Seriam preciso numerosos volumes para reunir os traços esparços de santidade das mães cristãs, imortalizadas por seus filhos. A conclusão que disto se tiraria é bem significativa: Ela mostraria que, se os filhos reproduzem geralmente a imagem de seus pais, é a mãe sobretudo que lhes forma a índole e que a influência materna lhes atinge as fibras mais íntimas da alma, comunicando-lhes uma impulsão que eles mantém até ao derradeiro suspiro.