Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
A EUCARISTIA NA DOUTRINA DE SÃO PAULO E NA TRADIÇÃO
19 de Junho de 1940
Continuo a tratar da Eucaristia. O
assunto de hoje é a doutrina do apóstolo São Paulo e a tradição.
No Capítulo 11.°, versículo 23 e
seguintes, da primeira epístola aos Coríntios, lemos: “Eu recebi do Senhor o
que vos ensinei, isto é: que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue,
tomou o pão, e tendo dado graças, partiu-o e disse: “Tomai e comei, isto é o
meu Corpo, que será entregue por vós; fazei isto em memória de mim”. Da mesma
sorte, depois da Ceia, tomou o Cálice, dizendo: Este Cálice é o Novo Testamento
em meu sangue; fazei isto em memória de mim, todas as vezes que o beberdes.
Porque todas as vezes que comerdes este Pão e beberdes o Cálice, anunciareis a
morte do Senhor, até que ele venha”.
Vê-se qual é o pensamento de São Paulo,
sobre a Eucaristia: um memorial da morte do Senhor, um rito pelo qual é selada,
com o sangue de Jesus Cristo, a nova aliança da humanidade com Deus.
A seguir, porém, vemos mais alguma
coisa: “Todo aquele que comer este pão ou beber o cálice do Senhor
indignamente, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor”. Esta expressão réu do
Corpo — é característica. Se as palavras de Jesus relativamente ao pão e ao
Cálice, na última Ceia, devessem tomar-se em sentido metafórico, e se apenas o
Pão e o Vinho fossem figura do Mestre, apenas uma representação, um símbolo,
quem comesse o pão e bebesse o vinho indignamente, seria réu da pessoa do
Cristo. Entretanto São Paulo diz textualmente — réu do Corpo e do Sangue. Logo
o Pão e o Vinho, depois de consagrados, são o corpo, sangue, alma e divindade
de Jesus, isto é, o próprio Cristo realmente presente.
Na mesma epístola primeira ao Coríntios,
no capítulo anterior, São Paulo pergunta: “O cálice da bênção não é porventura
a comunicação do sangue de Cristo? — E o pão que partimos não é a participação
do Corpo do Senhor?”
Como pode haver participação do corpo e
do sangue, se na hóstia e no Cálice não estiverem realmente o Corpo e o
Sangue?
Para deixar de crer
na presença real, o homem precisa fazer uma ginástica dificílima; e, no fim,
torcendo a lógica, ferindo o bom senso, rasgando a Escritura Sagrada — o ímpio
dá uma triste prova do seu orgulho, da sua revolta contra uma verdade
cristalina e eminentemente consoladora.
No primeiro século da Igreja, Santo
Inácio, discípulo de São João, condena alguns hereges que se abstinham da
Eucaristia, para não confessarem que ela é a Carne do Salvador Jesus Cristo
(Epístola aos de Esmirna, n.°7). São Justino, no século 2.°, em sua Apologia
l.a ao imperador Antonino, ensina (n.°66): “A Eucaristia não é pão comum; é
Carne e Sangue do Verbo Encarnado”.
Orígenes, em sua homília 7.a sobre o
“Números”, refere-se ao maná que, no deserto, alimentando o povo de Deus,
figurava a Eucaristia; agora, temos a realidade, diz ele; cumpre-se a promessa
d’Aquele que disse: “Minha carne é verdadeiramente alimento, meu sangue é
verdadeiramente bebida.”
São Cirilo de Jerusalém ensina aos
catecúmenos (catequese 4.a) que, realizada a consagração, o pão e o vinho já
são o corpo e o sangue de Cristo.
São João Crisóstomo,
comentando aquela já citada passagem de São Paulo aos Coríntios, diz que o
Sangue que está no cálice é o mesmo que saiu do lado de Jesus...
E inúmeros outros, santos e sábios dos
tempos primitivos, de todas as idades, rememorados por Santo Tomás de Aquino,
imitados por todos os grandes crentes intelectuais, até aos nossos dias!
Confessemos, pois, de nossa parte, a
presença de Jesus Cristo na Hóstia Consagrada.