A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
EXISTÊNCIA E NATUREZA
DA EUCARISTIA
25 de Junho de 1940
Terminamos ontem o estudo da
“presença real”.
Vamos examinar agora o Sacramento da
Eucaristia. Hoje: sua existência, sua natureza.
A Eucaristia é um sacramento da Nova Lei,
verdadeira e propriamente dito. É de fé. Como se sabe, sacramento é um sinal
sensível, instituído por Jesus Cristo e que confere graça.
Temos o sinal sensível nas espécies de pão e
de vinho.
É patente a instituição divina, na última
Ceia. Além de consagrar as ditas espécies e dá-las aos convivas daquele adorável
banquete, Jesus acrescentou: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24-25).
Conferindo a graça: É o mesmo Senhor quem o
afirma: aquele que recebe meu corpo e meu sangue, como comida e bebida, tem a vida em si. Ora, a vida da alma é o estado de
graça. Portanto a Eucaristia é verdadeiro Sacramento.
Chamam-na, e com muita razão, — o centro da
vida sacramental da Igreja — pois ela tem por efeito alimentar, nutrir a vida
espiritual: — “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós”. E todos os efeitos que a nutrição produz são atribuídos
à graça eucarística: o sustento
da vida. —Sem ela vem-nos a anemia espiritual, a fraqueza, a inanição; o progresso —
pelas energias que elevam para o alto; a reparação —
semelhante às substituições, preenchendo as lacunas na economia fisiológica. A
cada célula que morre, corresponde uma célula nova que vem preencher o seu
lugar e a sua função. A Eucaristia fomenta a vida divina, suprindo as nossas
misérias e deficiências.
Eis a Eucaristia Sacramento,
centro da vida sobrenatural.
A existência do
Santíssimo Sacramento está plenamente de acordo com a missão do Verbo Encarnado
no mundo. O Pai o mandou para que arrebanhasse as ovelhas do Seu rebanho e as
conduzisse ao redil da Bem-aventurança. — Terminada a obra
redentora, era de toda conveniência que se estabelecesse um meio de contato
permanente entre Jesus e os discípulos que fossem recebendo a doutrina e
aceitando a honra de participar do banquete do Pai de Família. E nenhum meio
mais adequado do que a Eucaristia: o Cristo conosco, ao nosso alcance, nos
nossos sacrários!
Este Sacramento é o
memorial da Paixão do Redentor. Por isso foi instituído na véspera dos grandes
tormentos e da morte do Messias. Nada mais acertado do que terminar Jesus que
os apóstolos e, naturalmente, Seus sucessores fizessem o que Ele fez, de modo
permanente. — Vemos cada dia erguer-se a Hóstia no altar... relembrando o
Calvário e a nossa própria salvação.
A Eucaristia tem por fim
acender o amor de Deus nas almas e mantê-lo, apesar das nossas fraquezas,
indiferenças e ingratidões. Jesus a estabeleceu em Sua Igreja e há de ser
consagrado o pão e o vinho, como fez o Mestre, até à consumação dos séculos!
Eis o resumo da doutrina
sobre a existência e a natureza do Sacramento da Eucaristia.