quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 29/02/2012


"Faltamos à simplicidade para com os nossos irmãos quando somos susceptíveis e desconfiados; uma vez mais a pretensão de ser alguém, a falta de recolhimento sobre o essencial, faz-nos ver dificuldades onde Deus as não pôs. Saibamos manter-nos mais dentro do círculo da presença divina, que ela nos apagará e nos prodigalizará a calma e a transparência. Só a natureza de Deus, contemplada na sua essência ou no Amor crucificado, ou na face imaculada de Maria, nos pode liberar de nós mesmos; só ela nos pode apaixonar. Foi neste sentido que foram ditas as palavras de Cristo: a verdade vos fará livres - veritas liberabit vos."
(Por um cartuxo anônimo)

Dos que morreram pelo amor e para o amor divino


Todos os mártires, Teótimo, morreram pelo amor divino; porque, quando se diz que muitos morreram pela fé, não se deve entender que tenha sido pela fé morta, mas pela fé viva, isto é, animada pela caridade.

Por isso a confissão da fé não é tanto um ato do entendimento e da fé como é um ato da vontade e do amor de Deus. E é por isso que o grande São Pedro, conservando a fé em sua alma no dia da Paixão, não obstante perdeu a caridade, não querendo confessar de boca como seu mestre aquele a quem reconhecia como tal no seu coração. Mas no entanto houve mártires que morreram expressamente só pela caridade, como o grande precursor do Salvador, que foi martirizado pela correção fraterna; e os gloriosos príncipes dos apóstolos, São Pedro e São Paulo, mas principalmente São Paulo, morreram por haverem convertido à santidade e castidade as mulheres que o infame Nero corrompera: os santos bispos Estanislau e Tomás de Cantuária também foram mortos por um motivo que não dizia respeito à fé, porém à caridade. E enfim em grande parte santas virgens e mártires foram trucidadas pelo zelo que tiveram em guardar a castidade que a caridade lhes fizera dedicar ao esposo celeste.

Há, porém, entre os amantes sagrados que se abandonam tão absolutamente aos exercícios do amor divino, alguns a quem esse santo fogo devora e aos quais consome a vida. O pesar impede às vezes tão longamente os aflitos de beber, de comer, de dormir, que afinal, enfraquecidos e definidos, eles morrem, e então o vulgo diz que eles morreram de pesar; mas não é a verdade, pois eles morrem de falta de forças e de inanição. É verdade que, havendo-lhes essa falta advindo por causa do pesar, cumpre confessar que, se eles não morreram de pesar, morreram por causa do pesar e pelo pesar.

Assim, meu caro Teótimo, quando o ardor do santo amor é grande, dá tantos assaltos ao coração, fere-o tão amiúde, causa-lhe tantos langores, leva-o a êxtases e arroubos tão freqüentes, que não podendo por esse meio a alma, quase toda ocupada em Deus, dispensar bastante assistência à natureza para fazer a digestão e nutrição conveniente, as forças animais e vitais começam a faltar pouco a pouco, a vida se encurta, e o desenlace ocorre.

Ó Deus! Teótimo, como é feliz essa morte! Como é doce essa amorosa seta que, ferindo-nos com essa chaga incurável da sagrada dileção, nos torna para sempre desfalecentes e doentes de uma palpitação de coração tão premente, que enfim há que morrer! De quanto pensais que esses sagrados langores, e os trabalhos suportados pela caridade, apressassem os dias os divinos amantes, como a Santa Catarina de Sena, a São Francisco, ao pequeno Estanislau Kostka, a São Carlos, e a várias centenas de outros, que morreram tão moços?

De certo, quanto a São Francisco, desde que ele recebeu os santos estigmas de seu Mestre, teve tão fortes e penosas dores, cólicas, convulsões e doenças, que só lhe ficou a pele e os ossos, e ele parecia antes uma anatomia, ou uma imagem da morte, do que um homem vivo e respirando ainda. 

(Tratado do amor de Deus, Livro sétimo, capítulo X)

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O HEROÍSMO pelo Papa Pio XII


Quantas vezes ouvistes repetir que "a vida do homem sobre a terra e uma luta"! Se a vida do homem sobre a terra é uma luta, porque o homem é composto de espírito e de corpo, existem dois campos de luta e de combate: um de combate corpóreo sobre o terreno material; outro de combate espiritual no íntimo de seu espírito. Todo combate e todo campo têm seus perigos, as suas disputas, as suas virtudes, os seus heróis e atos heróicos, seus heróicos triunfos e coroas.

As lutas corpóreas são abertas e claras; batalhas, vitórias e coroas ocultas, só de Deus conhecidas e por mais premiadas. A Ele somente são plenamente óbvios os méritos e as disputas que exaltam e elevam sobre os altares os heróis da virtude.

Sobre os campos de batalha, no céu e nos mares, quantos heroísmos resplandecem aquela fortaleza de ânimo que afronta os perigos de morte! Heroísmos manifestos de jovens militares e de intrépidos capitães, de coortes e de legiões, de sacerdotes que no meio do furor das lutas confortam feridos e moribundos, de enfermeiros e de enfermeiras que curam as doenças e as chagas. Pois, se toda guerra, que se alastra entre os povos, faz sofrer e causa horror a todo coração nobre, no qual a caridade de Cristo, que abraça amigos e adversários vive e tudo urge e inflama, não se pode porém negar que tão ferozes e cruéis turbilhões, com as austeras obrigações que impõem aos combatentes e aos não combatentes, suscitem horas e momentos de provas luminosas, nas quais se revelam as grandezas, muitas vezes insuspeitadas e inesperadas, de almas heróicas, sacrificando tudo, até a própria vida, para o cumprimento daqueles deveres, que lhes dita a consciência cristã.

Mas estaria bastante errado quem acreditasse que a grandeza de alma e heroísmos sejam virtudes reservadas, quase como flores extraordinárias, só para os campos cruentos, para os tempos de guerra, de catástrofes, de cruéis perseguições, de bruscas mudanças sociais e políticas. Ao lado destes heroísmos mais visíveis, desta magnanimidade e destes arrojos fúlgidos, surgem e crescem nos recessos dos vales e dos campos, nas estradas e nas sombras das cidades, velados pelo melancólico fluir da vida cotidiana, muitos atos não menos heróicos, brotando secretos competidores dos mais belos fatos propostos à admiração comum.

Não é porventura heróico o homem de negócios, o patrão de uma grande indústria, o qual, vendo-se reduzido aos extremos e quase à ruína, por acontecimentos adversos, imprevistos, enquanto a via fácil de salvação seria para ele recorrer a um dos expedientes que o mundo leviano escusa e absolve, quando leva ao sucesso, mas que a moral cristã não admite, - entra em si mesmo e interrogada a própria consciência, não desobedece à resposta que ela lhe fornece, mas como fiel cristão, rejeita um meio que lese a justiça, e prefere ruína e miséria a uma ofensa de Deus e do próximo?

Não é heróica a jovem pobre, que mal pode dar um pedaço de pão à velha mãe e aos irmãos órfãos com o escasso salário que recebe, mas afasta toda fácil condescendência e guarda energicamente a sua honra e o seu coração, intrépida em rejeitar o favor de um imoral doador de trabalho, desprezando abundantes e mal adquiridos ganhos, que poderiam retirá-la de sua penúria?

Não é heróica a menina, mártir de seu candor, que oferece a Deus, impurpurado pelo próprio sangue, o lírio de sua virginal virtude?

São estes heroísmos de justiça, heroísmo de cristã dignidade feminina, heroísmo digno dos anjos: heroísmos secretos, que sobressaem juntamente com os heroísmos da fé, da confiança em Deus, da paciência, da caridade nos hospitais civis e de guerra, ao longo dos caminhos dos arautos de Cristo nas terras dos infiéis, onde quer que a fortaleza de alma se ajunte ao amor de Deus e do próximo.

Não há de que se surpreender que também na sombra das paredes domésticas se esconda o heroísmo da família, e que a vida dos esposos cristãos tenha, ela também, seus heroísmos escondidos; heroísmos extraordinários em situações duramente trágicas e muitas vezes ignoradas pelo mundo; heroísmos cotidianos na farta sucessão de sacrifícios a cada hora renovada; heroísmos do pai, heroísmos da mãe, heroísmos de ambos juntamente.

(Discurso aos esposos, 13 de agosto, 1941.)

Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos.  

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 26/02/2012


"Na realidade, estamos entre fogos cruzados. Vós conheceis esta expressão, tirada da linguagem militar, e que designa a situação de um exército atacado ao mesmo tempo por todos os lados. Para nós, também o fogo do amor vem de todos os lados: diante de nós, a face do Pai, a Trindade que nos espera; atrás de nós, o amor virginal de Maria, que nos oferece a Deus. A vida espiritual consiste precisamente em se fazer conduzir e em se deixar arrebatar por estas mãos maternais para sermos apresentados ao Altíssimo."
(Por um cartuxo anônimo)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pensamento do dia 25/02/2012


"O inimigo serve-se da tristeza para tentar os bons até em suas boas obras, como se esforça também por levar os maus a se alegrarem de suas más ações; e, como ele não pode nos seduzir ao mal senão fazendo-o parecer agradável, assim também não nos pode apartar do bem senão fazendo-o parecer incômodo. Pode dizer-se que, sendo ele mesmo acabrunhado duma tristeza desesperadora por toda a eternidade, quer que todos os homens sejam tristes como ele."
(São Francisco de Sales)

O tempo


Contentar-se com o dever presente, colocar nele, para cumpri-lo perfeitamente, toda sua atenção e toda sua energia, animá-lo pela intenção do amor divino, tal é a tarefa da alma que quer chegar à santidade. Cada instante assim utilizado lhe faz alcançar, no momento preciso, toda perfeição de que ela é capaz. De então em diante, não lhe resta outro dever a cumprir senão o de continuar sem descanso, até ao fim, seu trabalho. É aqui precisamente, porém, que as almas não advertidas encontram um grande perigo. Quase todas querem ser santas no fim de alguns anos de esforços. Se o resultado não corresponde às suas esperanças, desolam-se e correm risco de tudo abandonar.

Estas almas negligenciam na sua santificação um elemento pouco apreciado, porém indispensável, isto é, o tempo.

Deus sabe o número de anos que temos a passar sobre a terra; conhece tambem o grau de santidade que devemos adquirir. Deixemos a Ele o cuidado de nos santificar antes de nossa morte. Contentemo-nos em servi-lO no momento presente, em amá-lO ardentemente, apaixonadamente.

Ponhamos todo nosso ardor em nossos atos. Deliciemo-nos em nos enraizar cada vez mais nEle e depois... abandonemos a Ele tudo o mais. Ele é nosso Pai, quer verdadeiramente se encarregar dos interesses de Seus filhos.

A menos que Deus intervenha de modo particular, o trabalho de nossa santificação não se fará na medida de nossos impacientes desejos.

A santidade é a orientação de toda vida para Deus; são todas as faculdades dispersas sobre as criaturas a reconduzir para Ele; é a inclinação de todo o homem para o sensível a transformar e a mudar em uma tendência constante para Deus, que é um puro Espírito; são inumeráveis apegos secretos às criaturas e a si mesmo a romper um a um; é um domínio pacifico da vontade a estabelecer sobre paixões impacientes do jugo; é, enfim, uma infinidade de ações quotidianas a impregnar da intenção do puro amor de Deus. Semelhante metamorfose não se opera geralmente em alguns anos.

Nos momentos de fervor e de estreita união com Deus, a alma pode bem sentir-se toda dEle e crer terminada a feliz transformação de todo seu ser, mas a triste experiência faz, com que ela volte bem cedo à realidade. Depois de suas ardentes orações, ela se encontra novamente natural, apegada a suas comodidades, frouxa e pusilânime. A alma admira-se de que, sendo tão imperfeita, Deus tenha podido favorecê-la com Suas caricias; concebe indignação contra si mesma; desanima. Contudo, nada é mais natural do que a conduta de Deus.

A alma está em marcha para a santidade; no momento presente, ela põe ao serviço de Deus toda soma de boa vontade de que dispõe, e, por seu lado, Deus mostra-Se satisfeito com seus esforços, e a favorece com Suas comunicações.

Mestre hábil na direção das almas, Ele sabe que, por momentos, elas têm necessidade de repouso durante a rude ascensão para o ideal e dá-lhes oportunidades de experimentarem, de tempos a tempos, Sua doce presença.

Mais tarde, tratá-las-á como almas perfeitas, fá-las-á assentarem-se à Sua mesa e introduzi-las-á definitivamente na Sua intimidade.

A alma deve, pois, ter paciência, confiança em Deus. O que não podem fazer seu ardor e mesmo sua fidelidade ao momento presente, o que não quer fazer, em regra geral, Deus, Ele mesmo, por um socorro especial, ela o obterá com o tempo e graças ao tempo. Deus assim o deseja: é com este fim que Ele a deixa sobre a terra. O tempo, este precioso auxiliar, conduzi-la-á infalivelmente à santidade, contanto que ela permaneça fiel ao dever presente.

Nossa vida compõe-se de uma infinidade de pequenos atos sem aparência exterior e quase imperceptíveis. A santidade é fruto destes atos; não se conquista por meio das ações brilhantes. Estas, entretanto, não nos são proibidas.

Devemos santificar-nos, pouco mais ou menos, como aprendemos a falar, escrever e ler. Quantos milhões de atos foram precisos para alcançar este resultado.

Contai, se podeis, aqueles que se fazem lendo um livro: Ato de percepção visual de cada letra, de cada palavra, de cada frase; atos correspondentes dos sentidos interiores para registrar e completar cada uma destas percepções; em seguida atos de formação de cada noção, de cada juízo, de cada raciocínio; atos de memória, de comparação dos conceitos, de juízos e de idéias.

Estendei este exemplo a todas as ocupações de um dia, de uma semana, de um ano, de uma vida, e chegareis a um conjunto de atos, cujo número desafia todo cálculo.

Entretanto, graças a esta constante aplicação, o homem pode assimilar uma multidão de conhecimentos e levar a bom termo empresas consideráveis. O mesmo acontece na vida espiritual. A vida de uma alma justa é um encadeamento de pequenos atos de virtude, que ela multiplica sem se aperceber graças à intenção virtual. Cada momento consagrado ao dever contém um novo mérito, um novo grau do amor de Deus.

Imaginai, se podeis, o que semelhante alma acumula de atos meritórios em um só dia, em um só ano, sobretudo, se ela é cuidadosa em dar à intenção toda pureza, toda intensidade.

Ajuntai a isto a ação incessante da graça, que trabalha esta alma, que a desapega da criatura e dela própria, que a transforma, sem ela o saber, que a orna de virtudes, que lhe instila gota a gota a divina Caridade, que a enraíza sem cessar cada vez mais no Cristo, que a habilita a viver com Deus, e concordareis que a alma se acha na feliz impossibilidade de não atingir a santidade.

Estes progressos contínuos escapam habitualmente ao olhar da alma. A ação que a transforma é demasiado sutil para ser perceptível.

Todavia, a certos momentos, ela nota que tal defeito, há tanto tempo combatido, desapareceu subitamente; que tal virtude, tão ardentemente desejada e pedida, veio tomar seu lugar; que suas relações com o divino Mestre tomaram um caráter de mais franca intimidade; que as preocupações passadas não exercem mais sobre ela sua tirânica influência.
São indícios verdadeiros de uma lenta, mas segura transformação. Todavia, mesmo na falta de provas palpáveis, saberíamos que a santificação deve operar-se assim. Os atos sem cessar repetidos produzem em nossas faculdades hábitos sempre mais poderosos, enraízam sempre mais profundamente em nós as virtudes infusas com a divina Caridade.

Possam estas poucas considerações moderar o ardor das almas inquietas, impacientes de chegar ao termo, e ensinar-lhes que nada de considerável se faz aqui na terra, mesmo na vida espiritual, sem o precioso concurso do tempo!

Uma virtude demasiadamente precoce é sempre suspeita aos olhos dos diretores espirituais. Talvez em aparência bela, é raramente sólida. Ao primeiro contato com as dificuldades reais da vida ela se quebra. É um fruto antecipadamente amadurecido, muitas vezes um verme oculto o rói.

Acompanhemos o passo de Deus e tenhamos paciência. Saibamos esperar seu momento; chegaremos seguramente à santidade. Não nos inquietemos a respeito da parte que Deus reservou para Si na obra de nossa perfeição. A nossa resume-se na fidelidade ao dever presente e no abandono ao nosso Pai celeste: Jacta super Dominum curam iuam et ipse te enutriet (Ps 54, 23).

(A Boa Vontade pelo Padre José Schrijvers C.SS.R, 1937)
P.S: Grifos meus.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Imoralidade pelo Papa Pio XII


Discurso, mulheres católicas, 20 de fevereiro de 1942

Não diversamente dos demais cristãos, também as pessoas dotadas simplesmente de honestidade e de bom-senso natural se admiram e aterram à vista da crescente maré de imoralidade que, embora estes últimos tempos já sejam extraordinariamente graves, ainda ameaça submergir a sociedade. Ninguém hesita em reconhecer como causa particular as publicações licenciosas e os espetáculos desonestos, que se apresentam aos olhos e aos ouvidos dos adolescentes e dos homens maduros, dos jovens e dos velhos, das mães e das crianças. Que dizer então da arte, da moda, dos costumes públicos e privados, masculinos e femininos? Difícil crer a que grau de corrupção moral não titubearam em descer determinados autores, editores, artistas, empreendedores e divulgadores de semelhantes obras literárias e dramáticas, artísticas e cênicas, convertendo o uso da pena e da arte, do progresso industrial e das admiráveis invenções modernas em meios, armas e lisonjas para a imoralidade. Escritos e obras, indignos da honra das letras e das artes, encontram leitores e espectadores aos milhares. E vós vedes adolescentes atirarem-se a tal alimento, para a mente e para os olhos, com toda a fúria das paixões que se acordam, vedes progenitores levarem e conduzirem consigo, a tão tristes cenas, meninos e meninas, em cujos tenros corações e em cujas pupilas se imprimem assim, em troca de inocentes e santas visões, fatais imagens e ânsias, que muitas vezes não mais se desvanecerão.

Que se deve portanto pensar que a natureza humana seja universal e profundamente depravada e que sua avidez de escândalos seja irremediável? Não, no coração humano Deus colocou por fundamento a bondade, à qual porém Satanás e a não refreada concupiscência armam ciladas. Salvo uma pequena minoria, o povo não procuraria espontaneamente, menos ainda pediria, divertimentos malsãos, se não fossem oferecidos, apresentados e, por vezes, quase impostos de surpresa. Por isto, se "contro miglior voler, voler mal pugna", é de extraordinária importância entrar na liça para a defesa da moral pública e social. Não é um combate de armas materiais e de sangue derramado mas um conflito de pensamentos e de sentimentos, entre o bem e o mal. Convém que todos aqueles que são bons (e já são muitos), enderecem seus esforços e coloquem todo seu talento para criar, promover uma literatura, um teatro, um cinema, que sejam educativos, sãos de conceitos e de costumes, e ao mesmo tempo interessantes e atraentes, verdadeiras obras artísticas. Não podemos suficientemente louvar e animar os beneméritos intelectos que a esta empresa se dedicam; são quais apóstolos do bem. É porém evidente que tal carga de apostolado não é para todos os ombros.

Não haveria para os outros algo que lhes conviesse? Podem eles acalentarem a esperança de que a atração das boas e belas obras será universalmente capaz de fazer nascer e difundir invencível desgosto e repúdio por todas as torpezas? Sobre isto ninguém é tão ingênuo que se iluda. E, então, encontram-se porventura desarmadas as pessoas de bem, diante dos mais desfrutadores da imprensa, da tela e do humorismo? Isto seria injusto afirmar, e tal injustiça manifestar-se-ia logo a quem quer que conhece e considera atentamente a louvável legislação que honra o País. Aos cidadãos respeitáveis, aos pais de família, aos educadores, está aberto o caminho para assegurar a aplicação e eficaz sanção daquelas leis providenciais, levando à autoridade civil, de modo devido, as denúncias baseadas sobre o fato, exata nas referências e quanto às pessoas, coisas e palavras, a fim de que tudo o que de reprovável fosse apresentado ao público seja reprimido ou impedido.

O trabalho, não o dissimulamos, é imenso e variado; porque imenso, oferece vasto campo para todos os de boa vontade; porque variado, é passível de todas as atitudes. Sua amplidão, porém, se de uma parte possui algo que causa medo e desencoraja os pusilânimes, de outra parte, no entretanto, serve para inflamar sempre mais o ardor das almas generosas.

Discurso, mulheres da Ação Católica, 24 de julho de 1949

Examinemos agora mais de perto nosso argumento, porque muito ainda permanece por ser feito, e a Igreja, de sua parte, muito espera de nós.

Sempre mais altas e penetrantes ressoam, do solo europeu e de além-mares, os gritos, as vozes de socorro pela infeliz condição das famílias e das gerações de jovens. Que a guerra seja a principal culpada, parece não padecer dúvidas. É responsável sobretudo pela violenta e funesta separação de milhões de cônjuges e de famílias, e pela destruição de inumeráveis habitações.

Mas é igualmente certo que a verdadeira e própria razão de tão grande mal é ainda mais profunda. Deve ser procurada naquilo que com um termo geral se chama materialismo, na negação ou ao menos no descaso e no desprezo de tudo o que é religião, cristianismo, submissão a Deus e a sua lei, vida futura e eternidade. Como um hálito pestífero, o materialismo invade sempre mais todo o ser e produz maléficos frutos no matrimônio, na família e nos jovens.

É, pode-se afirmar, unânime o juízo de que a moralidade dos jovens está em contínua decadência. E não somente isto acontece com a juventude da cidade. Também na do campo, onde outrora floriam sãos e robustos costumes, a degradação moral não se torna inferior, porque muito daquilo que na cidade leva ao luxo e ao prazer, obteve igualmente entrada franca nas vilas.

É supérfluo recordar quanto o rádio e o cinema foram usados e abusados para a difusão daquele materialismo, e do mesmo modo: o mau livro, a licenciosa revista ilustrada, o espetáculo impudico, o baile imoral, a imodéstia das praias contribuíram para aumentar a superficialidade, o mundanismo, a sensualidade da juventude.

Os relatórios que provêm de diversas regiões, assinalam tais fatores como causa do abandono moral e religioso dos jovens. É porém responsável, em primeiro lugar, a desagregação do matrimônio, cuja funesta conseqüência e cujo índice é o abaixamento moral da juventude.

Discurso aos Cineastas, E.U.A., 14 de julho de 1945

Pergunta-se, por vezes, se os dirigentes das indústrias cinematográficas avaliam exatamente o vasto poder que possuem de influenciar na vida social, quer no recesso da família, quer em mais amplos grupos civis.

Os olhos e os ouvidos são como amplas vias, que levam diretamente à alma do homem e estão abertas, o mais das vezes sem obstáculos, pelos espectadores dos vossos filmes. Que é que passa da tela para os recônditos da mente onde se desenvolve o fundo dos conhecimentos e se plasmam e afinam as normas e os motivos da conduta, que formarão o caráter definitivo dos jovens?

É algo que contribuirá para nos dar um cidadão melhor, trabalhador, observante da lei, temente a Deus o que o faz encontrar suas alegrias e recreio nas telas e nos divertimentos?

São Paulo citou Menandro, antigo poeta grego, quando escreveu aos fiéis de sua Igreja em Corinto que "a péssima conversa corrompe os bons costumes". Isso, que então foi verdade, não deixa de hoje também ser verdade, porque a natureza humana muda pouco com os séculos. E se é verdade, como o é realmente, que a má conversa corrompe a moral, quanto mais eficazmente não será esta corrompida pela má conversa acompanhada pela conduta, vivamente projetada, que contradiz as leis de Deus e da decência civil? Oh, imenso é o bem que o cinema pode fazer! Eis porque os espíritos maléficos, sempre ativos neste mundo, desejam perverter este instrumento para seus ímpios escopos; é encorajante saber que o vosso Comitê está consciente do perigo e torna-se sempre mais consciente de suas graves responsabilidades diante da sociedade e de Deus.

Cabe à opinião pública sustentar de todo o coração e efetivar todo esforço legítimo executado por homens de integridade e honra para purificar os filmes e mantê-los limpos, para melhorá-los e aumentar-lhes as utilidades.

Discurso, Juventude da Ação Católica, 6 de outubro de 1940

Moda e modéstia deveriam caminhar juntas como duas irmãs, porque ambos os vocábulos têm a mesma etimologia; do latim "modus", quer dizer, a reta medida, além e aquém da qual não se pode encontrar o justo. Mas a modéstia não é mais moda! Semelhantes àqueles pobres alienados que, tendo perdido o instinto da conservação e a noção do perigo, se atiram no fogo ou nos rios, não poucas almas femininas, esquecidas por ambiciosa vaidade, da modéstia cristã, vão miseravelmente ao encontro de perigos onde sua pureza pode encontrar a morte. Sofrem a tirania da moda, até a da moda imodesta, de sorte que parecem não suspeitar mais, nem mesmo da inconveniência; perderam o próprio conceito do perigo, o instinto da modéstia.

Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Henryk Szeryng: Tchaikovsky Violin Concerto: Mvt.2


CRISTO, REY DE LOS NIÑOS


Monsenhor Tihamér Tóth


Nunca como en nuestros días, se ha hablado tanto de los derechos de los niños, de proteger a la infancia, de cuidar con el mayor esmero la salud de los niños...Todo ello es muy valorable.

No obstante, muchas veces da la impresión de que nos olvidamos de lo más importante.

Nos fijamos sobre todo en la salud corporal del niño, en su cuidado material: alimentación, estimulación, higiene, instrucción…

Pero esto solo no basta, porque el niño, además de cuerpo, tiene también alma, espíritu, y está llamado a ser hijo de Dios. Y ¡qué poco se habla del cuidado del alma de los hijos! Y es sobre todo a los padres, a quienes Dios les ha confiado esta obligación, de la que tendrán que rendir un día cuentas.

Nuestro Señor Jesucristo quiere mucho a los niños: «Dejad que los niños vengan a Mí» (Mt 19,14; Mc 10,14). El los ama de una forma especial: «Y el que reciba a un niño como éste en mi nombre, a mí me recibe.» (Mt 18,5; Mc 9,36; Lc 9,48). Es El quien promulga la primera ley en defensa del niño: El que escandalice a un niño, mejor le sería que le colgasen del cuello una piedra de molino y le arrojasen al mar (Mt 18,6; Mc 9,41). Aún más, los pone como modelo, y exige a sus Apóstoles que hagan como ellos (Mt 18,3; Lc 9,48). Con los niños quería estar (Mt 19,13), y los bendecía. Cuando entró en Jerusalén, los niños le precedieron cantando el Hosanna. Hasta incluso en la Pasión, cuando llevaba la cruz, aún se preocupó de los niños: «Llorad por vosotras mismas y por vuestros hijos» (Lc 22,28).

Los padres deben considerar a sus hijos, no como una posesión, como algo que les pertenece, como un mero medio que satisface su instinto de maternidad o paternidad, sino ante todo como criaturas de Dios, como hijos de Dios, llamados a la vida eterna. De ahí que formar su alma, cultivar su espíritu, darle a conocer a Dios, sea la obligación más perentoria, el deber más honroso de los padres.

Si el niño pertenece más a Dios que a los padres — y no hay padre cristiano que no sienta la verdad de estas palabras —; si es verdad que Cristo es Rey de los niños, de ahí surge una consecuencia importantísima: el deber santo de educar al niño no sólo para esta vida terrenal, sino también y principalmente para la vida eterna.

Sin embargo, ¡cuántos padres olvidan esta verdad de capital importancia! ¡Cuántos hacen los mayores sacrificios y no escatiman fatigas ni trabajos para lograr que su hijo sea más y más sano, más listo, más instruido! Escuela, piano, idiomas, clases de baile, deporte...; todo esto está muy bien, pero el padre se olvida que su hijo tiene también alma... ¿Te has preocupado también de su alma? No olvides que el niño pertenece a Dios, quien te pedirá cuenta un día del tesoro que te ha confiado.

«A mi hijo ya le dan clases de religión en la escuela», se justifica el padre.

Pero eso no es suficiente. ¿De qué sirven una o dos lecciones semanales de religión, si en casa y en la calle, en los medios de comunicación social, el niño no ve puestas en práctica las hermosas verdades de la clase de religión o más bien contempla ejemplos completamente opuestos a los que aprende en la clase?

«Pues ¿qué he de hacer? ¿Predicarle continuamente? ¿Tendré que estar haciéndole rezar machaconamente?»

Ciertamente, tendrás que hablarle con frecuencia de Dios, de Nuestro Señor Jesucristo, de la Virgen, de los santos, y procurar que tu hijo rece, pero has de hacer algo más.

¿Qué? Tres cosas:

1.º Educar su voluntad.
2.º No ser ingenuo, vigilar su comportamiento, y
3.º Educar con el ejemplo.

1.º Educar la voluntad del niño.

Es decir, acostumbrarle a obedecer y a cumplir con su deber.

El Antiguo Testamento, en la historia de Helí, da un aviso muy serio a los padres que todo lo perdonan, que todo lo excusan.

«Castigaré perpetuamente su casa por causa de su iniquidad: puesto que sabiendo lo indignamente que se portan sus hijos, no los ha corregido como debía» (1 Reyes 3,13). Y, sin embargo, Helí reprendió a sus hijos, sólo que no lo hizo con la suficiente severidad.

Pues bien; ¿qué diría el Señor hoy sobre el amor insensato, el «amor melindroso» de los padres actuales? De los padres que dan culto a nueva clase de idolatría: en el trono está sentado un minúsculo tirano de cuatro o cinco años, que se enfada, que grita, que furioso golpea el suelo con los pies, y dos vasallos ya maduros, un hombre y una mujer, se inclinan asustados y corren a cumplir todos los necios caprichos del tirano amado, del querido idolito.

Educar implica no mimar con exceso al niño y acostumbrarlo a una obediencia pronta y sin réplica. Porque el niño al principio no sabe lo que es la obediencia, y hay que enseñársela.

«Pero, ¿y si llora el niño?, ¿si nos exige ciertas cosas?» Pues que llore, que esto no dañará su salud. Sépanlo bien los padres: Mejor es que llore el niño cuando sea pequeño, para que un día, cuando ya sea mayor, no tengan que llorar sus padres por él.

2.º Vigilad su comportamiento.

No necesitáis estar siempre detrás de él. Basta con que sepáis en cada momento dónde está vuestro hijo, qué es lo que hace y con quién está.

No os excuséis diciendo: «¡Mi hijo es aún tan ingenuo, tan niño, tan inocente!» No excuséis de esta manera vuestra negligencia. Vuestro hijo tiene, como todos, pecado original, y está expuesto como todos ser tentado y sufrir caídas. ¿Qué diría a semejantes padres SAN PABLO, el Apóstol de las gentes? «Si alguien no tiene cuidado de los suyos, principalmente de sus familiares, ha renegado de la fe y es peor que un infiel.» (1 Tim 5,8).

Es una lástima comprobar que muchos padres tienen tiempo para muchas cosas, menos para educar a sus hijos. No les interesa, y por eso, tampoco les vigilan y no les previenen de muchas ocasiones de peligro para sus almas.

3.º Y finalmente, educar al niño con el ejemplo.

Porque el ejemplo arrastra. Por desgracia, van desapareciendo hermosas costumbres cristianas en el hogar, que tanto bien han hecho. La oración matutina y vespertina hecha en común, lecturas religiosas, imágenes de santos colgadas de las paredes, conversaciones sobre temas religiosos...

«Si la raíz es santa, también lo son las ramas», dice el APÓSTOL (Rom 11,15).

¿Y si no es santa? Si el padre y madre tienen el alma fría, helada, ¿qué será del niño?...

¿Dónde puede estar la raíz del problema de la educación de los hijos? ¿No será que los criterios mundanos han contagiado el mismo santuario de las familias cristianas? ¿No será que los niños ya no se consideran como una «bendición», sino más bien de una «maldición» de la familia?

Si echamos una mirada retrospectiva a la Historia, vemos por todas partes que donde han vivido hombres honrados, allí se ha considerado al niño como el mejor tesoro de la familia. Un ejemplo, el pueblo judío del Antiguo Testamento. La mujer se consideraba desdichada si Dios no le concedía hijos. La Sagrada Escritura consigna de una manera conmovedora la oración de ANA, madre de Samuel: «Señor de los ejércitos, si te dignas volver los ojos para mirar la aflicción de tu sierva..., y das a tu sierva un hijo varón, le consagraré al Señor por todos los días de su vida» (I Samuel 1,2).

Acuérdate de Santa Isabel, que estaba profundamente entristecida por no tener hijos. Pero ¡cuál fue su júbilo al nacer San Juan Bautista!; «supieron los vecinos y parientes la gran misericordia que Dios le había hecho, y se congratulaban con ella» (Lc 1,58).

Repasa la historia de Roma y repara en los paganos de sentimientos rectos y nobles. Una amiga que viene de Capua visita a CORNELIA, una de las más nobles damas romanas, y no cesa de hacerse lenguas de sus propias alhajas. «Pero, querida amiga, enséñame tú también tus más hermosas joyas», le dice finalmente. Entonces Cornelia hace entrar a sus hijos: «Mira, éstas son mis alhajas más hermosas».

El niño era parte esencial de la familia, hasta el punto que ésta no se consideraba perfecta sin la bendición de los hijos. Si hoy preguntamos a un campesino cristiano, aún no contaminado por las corrientes modernas: «¿Tienes familia?», nos contestará: «Sí, tengo cinco», aludiendo a sus cinco hijos, porque, según su modo de pensar, donde no hay niños no hay familia.

Y, en verdad, ¿qué es el matrimonio sin hijos? Un árbol espléndido que no da ningún fruto.
¿Qué es el hogar más rico sin hijos? Un sol invernal que no irradia calor.

Pero hoy día se ha inculcado un pensamiento terrible: el miedo de las familias a tener niños. Es realmente lamentable ver a matrimonios que gozan de buena salud, a quienes Dios concedería la bendición de tener hijos, y sin embargo, ellos no quieren aceptar este don, porque, para ellos, el niño no es más que una carga.

Realmente es horrendo no aceptar la voluntad de Dios, no querer acoger al niño que el Señor les manda.

Da escalofríos solo pensar que haya novios que se casan con la idea de no tener niños, que quieren ser solo esposo y esposa, pero no padre y madre.

Nos asombra ver que el santuario de la familia se ha transformado en un antro de pecado; que la casa retumba de puro vacía; que sean los propios padres los que maten a sus propios hijos, o que pongan obstáculos para que sean concebidos; que haya madres que no quieran mecer la cuna de su bebé, sino cavar su tumba; que el vergel de la familia no tenga flores y no despida fragancia...

No quiero tratar más de este pecado, de este mal terrible.

¡Ojalá los esposos considerasen atentamente que ellos tendrán que rendir cuentas a Dios de este pecado, de haber rebajado el sacramento del matrimonio hasta límites realmente increíbles!

No se necesita ser muy listo para comprender adónde llegará una nación que deliberada y sistemáticamente las familias no tienen más que un solo hijo. Aunque haya dos, no por ello aumenta el número de la población, porque en tal caso, mueren dos viejos y se quedan dos jóvenes. Y no se compensa el número de los que por diversas circunstancias mueren solteros. Se necesitan hogares en que haya, por lo menos, tres hijos. ¡Cuántas son hoy día las familias que no tienen más de dos hijos! O uno solo. ¡Y quizá ni siquiera uno! Este terrorífico modo de pensar cunde por todos los sitios, no sólo en las ciudades, también en el campo.

Pues, si nadie se atreve a levantar la voz, por lo menos lo hace la Iglesia católica, para defender aquellas vidas inocentes a las cuales se les cierra la entrada a este mundo. Si la Iglesia no hubiese promovido siempre la vida, no tendríamos a San Francisco Javier, hijo séptimo de sus padres. No tendríamos a Santa Teresita de Lisieux, la novena de la familia. No tendríamos a San Ignacio de Loyola, que fue el hijo decimotercero. Y no tendríamos a Santa Catalina, la vigésima quinta. Y se podrían citar muchos más casos.

Siempre ha habido padres egoístas, pero nunca en proporciones tan asombrosas como en la actualidad.

Nunca se ha difundido este pecado con tan cínica propaganda. Nunca con tanta despreocupación y tan refinada maldad.

Me objetarán algunos: «Se ve que no conoce usted la vida real. No hay trabajo. Las casas son carísimas. ¡Todo está tan caro! A duras penas podemos vivir los dos; ¿qué haríamos, pues, si fuésemos cinco o seis en casa?»

He de confesar que tienes razón en algunas cosas. Bien sé cuánto cuesta vivir hoy. Y conozco los departamentos pequeños en que la gente vive hacinada. También sé cuánto cuesta la alimentación y el vestido. Y si yo fuera legislador, ordenaría que el padre de numerosa familia pagara menos contribución y recibiera más ayudas, y que en las ofertas de trabajo, que de alguna manera fuesen favorecidos en primer lugar, y prohibiría oficialmente los anuncios en que «se busca un matrimonio sin hijos». Sí, todo esto haría...

Pero también tengo que añadir: A pesar de todo, el mandato es claro y categórico. La Iglesia insiste y ha de insistir. Porque el Señor no promulgó el quinto mandamiento en esta forma: «No matarás, a no ser que no tengas casa.» Ni dio el sexto de esta manera: «No fornicarás, a no ser que seas pobre.» ¡No! En el Decálogo no hay condiciones. La forma de la ley es absoluta: “¡No matarás!» «¡No fornicarás!»

«Pero ¿y si somos muy pobres? ¿Y si la mujer es enfermiza?»

Y ¿no crees que el Señor Dios, que envía el niño, le dará también el pan de cada día? «¿Que la mujer es enfermiza?» Y ¿no es mejor que padecer la muerte del alma que se produce por el pecado de rebelarse contra la voluntad de Dios? Y si realmente ya no es posible educar más hijos, entonces hay esta solución: la continencia en el matrimonio, por lo menos en los días fértiles del periodo de la mujer. ¿Es muy difícil? Sí, lo es. Pero la Iglesia no puede ceder. Y aunque se quedara a solas con su opinión en el mundo actual, que camina cabeza abajo, aun entonces abogaría a voz en grito por la pureza del matrimonio: aun entonces protegería a los inocentes niños no nacidos todavía, porque Cristo es Rey también de los más pequeños.

Aunque perdiera con este proceder muchas almas tibias, contaminadas, seguiría abogando por la buena causa, sabiendo que no sólo defiende con ello las leyes de Dios, sino también los intereses de la Humanidad.

Y seamos sinceros: en la mayoría de los casos, donde más se huye de los hijos no es precisamente en las familias más pobres.

¿Qué familias suelen ser las más numerosas? Justamente las familias más modestas, las más pobres. En cambio, ¿dónde hay sólo un hijo, o ni siquiera uno? Entre la gente rica y acomodada. Si tuvieran muchos hijos, ¿no podrían darles de comer? ¡Oh!, ¡y con gran abundancia! Pan y leche no les faltarían. Pero los muchos hijos estorbarían sus vacaciones, sus diversiones, su bienestar.

¡Madres! ¿Habéis pensado en «el día de la ira», cuando los niños que no pudieron nacer levanten sus manectias para acusaros? ¡Acusaros a vosotras ante el trono de Dios!

Madres, madres que no queréis más que un hijo, ¡cuidado! ¿Qué será si Dios os quita el hijo único? ¿Qué será cuando, con los ojos arrasados de lágrimas, con el alma quebrantada, volváis del cementerio y estalléis en quejas contra Dios, porque ha permitido tan cruel desgracia?

(Cristo Rey - Resumen adaptado por Alberto Zuñiga Croxatto)

P.S: Grifos meus.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Coletânea de textos e livros para o tempo da Quaresma

Nota do blogue: Inicia-se hoje a Quaresma, coloco abaixo algumas sugestões de leitura para este tempo tão importante.



LIVROS em PDF:

- Dores e glórias de Jesus, livro de formação espiritual infantil (Romano)
A Subida do Calvário (Padre Luís Perroy, S.J)
- A Paixão (Padre Júlio Maria  C.Ss.R)
- Horas Santas (Padre Mateo Crawley- Boevey)
- Reflexões sobre as sete feridas de Maria (Arcebispo Fulton J. Sheen)

TEXTOS DIVERSOS:

- Carta aos amigos da Cruz (São Luís de Montfort)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Consciência e Educação (Papa Pio XII)


Escopo da educação na ordem natural é o desenvolvimento da criança para se tornar um homem completo: escopo da educação cristã é a formação do novo ser humano, renascido no batismo, até o perfeito cristão. 

Propomo-nos agora a sublinhar um elemento, que embora estando à base e como fulcro da educação, especialmente da cristã, parece, entretanto, a alguns, em primeira vista, quase estranho a ela. Queremos falar daquilo que há de mais profundo e intrínseco no homem: a sua consciência. A isto somos levados pelo fato de que algumas correntes do pensamento moderno começam a alterar-lhe o conceito e a impugnar-lhe o valor. Trataremos portanto da consciência enquanto objeto da educação. 

A consciência é como o núcleo mais íntimo e secreto do homem. Ali ele se refugia com suas faculdades espirituais em absoluta solidão; só consigo mesmo, ou melhor, só com Deus - de cuja voz a consciência é eco - e consigo mesmo. Ali ele se determina para o bem ou para o mal; ali escolhe entre a estrada da vitória e a da derrota. Ainda que quisesse, o homem não conseguiria jamais arrancá-la de si; com ela, aprovando ou condenando, percorrerá todo o caminho da vida, e igualmente com ela, testemunha veraz e incorrutível, apresentar-se-á perante o juízo de Deus. A consciência é, portanto, para dizer com uma imagem tão antiga quanto digna, um santuário, do qual o próprio Deus quer que se guarde o segredo com o sigilo do mais sagrado silêncio. 

Em que sentido portanto pode-se falar da educação da consciência? 

Ocorre chegar a alguns conceitos fundamentais da doutrina católica para bem compreender que a consciência pode e deve ser educada. 

O divino Salvador trouxe ao homem ignaro e débil a sua verdade e a sua graça; a verdade, para indicar-lhe a via que conduz à sua meta; a graça, para conferir-lhe a força de poder consegui-la. 

Percorrer aquele caminho significa, na prática, aceitar o querer e os mandamentos de Cristo e com eles conformar a vida, isto é, cada ato, interno e externo, que a livre vontade humana escolhe e fixa. Ora que faculdade espiritual, senão a consciência, nos casos particulares mostra à vontade mesma, a fim de que escolha e determine os atos que são conforme à vontade divina? 

Ela é portanto eco fiel, nítido reflexo da norma divina das ações humanas. De modo que as expressões, qual o "juízo da consciência cristã", ou outra "julgar segundo a consciência cristã", têm este significado: a norma da decisão última e pessoal para uma ação moral seja tomada da palavra e da vontade de Cristo. Ele é realmente caminho, verdade e vida, não somente para todos os homens tomados em conjunto, mas para cada indivíduo em particular; é tal para o homem maduro, e para a criança ou para jovem. 

Disto procede que formar a consciência cristã de uma criança ou de um jovem consiste, antes de tudo, em iluminar suas mentes acerca da vontade de Cristo, sua lei, sua via, e ainda mais em agir sobre seus ânimos, quanto isto possa ser feito de fora, a fim de induzi-lo à livre e constante execução da divina vontade. Este é o mais alto empenho da educação. 

Onde porém encontrarão educador e educando, em concreto e com facilidade e certeza, a lei moral cristã? Na lei do Criador impressa no coração de cada um e na Revelação, no complexo, isto é, das verdades e dos preceitos ensinados pelo divino Mestre. Ambos, seja a lei escrita no coração, ou seja a lei natural, sejam as verdades e os preceitos da revelação sobrenatural o Redentor Jesus deixou como tesouro moral da humanidade, nas mãos de sua Igreja, a fim de que ela os pregue a todas as criaturas, os ilustres; e intatos, defendidos de toda contaminação e erro, os transmita de uma a outra geração. 

Contra esta doutrina, por longos séculos inatacada, emergem agora dificuldades e objeções que necessário é esclarecer. 

Como da doutrina dogmática, assim também da estrutura moral católica querer-se-ia instituir quase uma radical revisão para deduzir uma valorização nova. 

O passo primário, ou, para dizer melhor, o primeiro golpe no edifício das normas morais cristãs, deveria ser aquele de desvencilhá-lo - como se pretende - da observância augusta e oprimente da autoridade da Igreja, de modo que, livre das sutilezas sofísticas do método casuístico, a moral seja reconduzida à sua forma originária e recolocada simplesmente à inteligência e à determinação da consciência individual. 

Cada qual vê a que funestas conseqüências conduziria tal abalo dos próprios fundamentos da educação. 

Omitindo relevar a manifesta imperícia e imaturidade de juízo de quem sustenta semelhantes opiniões, ajudará colocar em evidência o vício central desta "nova moral". Ela, colocando todo critério ético na consciência individual, fechada ciumentamente em si e tornada árbitra absoluta de suas determinações, longe de tornar expedito o caminho, afastá-lo-ia da via mestra que é Cristo. 

O divino Redentor consignou sua Revelação, da qual fazem parte essencial as obrigações morais, não aos indivíduos em particular, mas a sua Igreja, à qual deu a missão de conduzi-los a abraçar fielmente o sagrado depósito. 

Igualmente a divina assistência, ordenada a preservar a Revelação dos erros e das deformações, foi prometida à Igreja, e não aos indivíduos. Sábia providência também esta, porque a Igreja, organismo vivente, pode assim, com segurança e agilidade, quer iluminar e aprofundar as verdades, também morais, quer aplicá-las mantendo intata a substância, às condições variáveis dos lugares e dos tempos. 

Como é portanto possível conciliar as próvidas disposições do Salvador, que confiou à Igreja a tutela do patrimônio moral cristão, com uma espécie de autonomia individualista da consciência? 

Esta, subtraída ao seu clima natural, não pode produzir senão benéficos frutos os quais se reconhecerão somente comparando-os com algumas características da tradicional conduta e perfeição cristãs, cuja excelência está provada pelas obras incomparáveis dos santos. 

A "moral nova" afirma que a Igreja, antes que fomentar a lei da liberdade humana e do amor e de nisto insistir como dinâmica digna da vida moral, faz entretanto pressão, quase exclusivamente e com excessiva rigidez, sobre a firmeza e a intransigência da lei moral cristã, recorrendo muitas vezes a estes "sois obrigados", "não é lícito", que têm muito sabor de um aviltante pedantismo. 

Ora, pelo contrário a Igreja quer - e o coloca em luz expressamente quando se trata de formar as consciências - que os cristãos sejam introduzidos nas infinitas riquezas da fé e da graça, de modo persuasivo de modo que se sintam inclinados a penetrá-las profundamente. 

A Igreja porém não pode deixar de avisar os fiéis que estas riquezas não podem ser conseguidas e conservadas senão a preço de preciosas obrigações morais. Uma conduta diversa terminaria fazendo esquecer um princípio dominante, sob o qual sempre insistiu Jesus, seu Senhor e Mestre. Ele de fato ensinou que para entrar no reino dos céus não basta dizer "Senhor, Senhor", mas deve-se fazer a vontade do Pai Celeste. Ele falou da "porta estreita" e da "augusta via" que conduz à vida e adicionou: "Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque muitos, eu vos digo, procurarão entrar e não conseguirão". Colocou como comparação e sinal distintivo do amor para Consigo, Cristo, a observância dos mandamentos. Igualmente ao jovem rico, que o interroga, Ele diz: "Se queres entrar na vida, observa os mandamentos" e à nova pergunta "Quais?", responde: "Não matar! Não cometer adultério! Não roubar! Não dar falso testemunho! Honrar pai e mãe! e ama o próximo como a ti mesmo!" Colocou como condição a quem quer imitá-lo, renunciar a si mesmo e tomar cada dia sua cruz. Exige que o homem esteja pronto a deixar por Ele e por sua causa quanto tem de mais caro, como o pai, a mãe, os próprios filhos, e até o último bem, a própria vida. Pois que adiciona: "A vós digo, amigos; não temais aqueles que matam o corpo, e depois não podem nada mais fazer. Eu vos mostrarei quem deveis temer: temei Aquele, que depois de ter tirado a vida, pode ainda mandar para o Inferno". 

Assim falava Jesus, o divino Pedagogo, que sabe certamente, melhor do que os homens, penetrar nas almas e atraí-las ao seu amor com infinitas perfeições do seu Coração, "bonitate et amore plenum". 

Tomando portanto como estrita norma as palavras de Cristo, não devereis talvez dizer que a Igreja de hoje está inclinada mais à condescendência do que à severidade? De modo que a acusação de dureza oprimente, da "nova moral", movida contra a Igreja em realidade vai ferir em primeiro lugar a mesma adorável Pessoa de Cristo. 

Cientes portanto do direito e do dever da Sede Apostólica de intervir, quando há necessidade, autorizadamente nestas questões morais, Nós declaramos aos educadores e à própria juventude: o mandamento divino da pureza da alma e do corpo vale sem diminuição alguma, também para a juventude hodierna. Também ela tem a obrigação moral, e com a ajuda da graça, tem a possibilidade de conservar-se pura. Repelimos portanto como errônea a afirmação daqueles que consideram inevitável a queda nos anos da puberdade, a qual assim não mereceria que se tornasse em grande consideração, quase como se não fosse culpa grave, porque ordinariamente, dizem ainda, as paixões tiram a liberdade necessária, a fim de que um ato seja moralmente imputável. 

Ao contrário, é norma importante e sábia que o educador, embora não descurando apresentar aos jovens os nobres dons da pureza para impeli-los a amá-la, e desejá-la por si mesma, inculque entretanto claramente o mandamento como tal em toda a sua gravidade e seriedade de mandamento divino. Assim levará os jovens a evitar as ocasiões próximas, confortá-los-á na luta, cuja dureza não lhes esconderá, induzi-los-á a abraçar corajosamente os sacrifícios que a virtude exige, e exortá-los-á a perseverar e a não cair no perigo de depor as armas desde o princípio e de sucumbir sem resistência aos perversos hábitos. 

Mais do que no campo da conduta privada, existem hoje muitos que quereriam excluir o domínio da lei moral da vida pública, econômica e social, da ação dos poderes públicos, no interno e no externo, na paz e na guerra, como se aqui Deus nada tivesse a dizer, ao menos de modo definitivo. 

A emancipação da atividade humana externa, como as ciências, a política, a arte da moral vem às vezes motivada em filosofia, pela autonomia que a elas compete, em seus campos, de se governarem exclusivamente e segundo leis próprias, ainda que se admita que estas colimam de ordinário com as morais. E trazem por exemplo a arte, para a qual se nega não somente toda dependência, mas também qualquer relação com a moral, dizendo: a arte é só arte, e não moral, nem outra coisa; deve ser regida portanto, somente pelas leis da estética, a arte se é verdadeiramente tal, não se dobrará a servir a concupiscência. Deste modo fala-se da política e da economia que não têm necessidade de tomar conselho com outras ciências, e nem portanto da ética, mas guiadas por suas leis verdadeiras, são por isto mesmo boas e justas. 

É, como se vê, um sutil modo de subtrair a consciência ao império das leis morais. Em verdade, não se pode negar que tal autonomia seja justa, enquanto exprime o método próprio de cada atividade e limites que separam suas diversas formas em teoria; mas a separação de métodos não deve significar que o cientista, o artista, o político estejam livres da solicitude moral no exercício de suas atividades, especialmente se estas têm imediatos reflexos no campo moral, como a arte, a política, a economia. A separação nítida e teórica não tem sentido na vida, que é sempre uma síntese, pois que o sujeito único de cada espécie de atividade é o mesmo homem, cujos atos livres e conscientes não podem fugir à valorização moral. Continuando a observar o problema com o olhar amplo e prático, que por vezes falta a filósofos até insignes, tais distinções e autonomias são dirigidas pela natureza humana decaída a representar como leis da arte, da política ou da economia, o que é realmente cômodo à concupiscência, ao egoísmo e à cupidez. Assim a autonomia teórica da moral torna-se em prática rebelião amoral, e esfacela-se assim aquela harmonia ínsita às ciências e às artes, que os filósofos daquela escola perspicazmente encontram, mas dizem casual, enquanto é essencial, se tal harmonia é considerada da parte do sujeito que é o homem, e da parte de seu Criador, que é Deus. 

Nós não cessamos de insistir sobre o princípio de que a ordem querida por Deus abraça a vida inteira, não excluída a vida pública em cada uma de suas manifestações, persuadidos de que isto não é restrição alguma da verdadeira liberdade humana, nem intromissão na competência do Estado, mas uma asseguração contra os erros e abusos, dos quais a moral cristã, se retamente aplicada, pode proteger. Estas verdades devem ser ensinadas aos jovens e inculcadas em suas consciências por quem, na família ou na escola, tem a obrigação de olhar a educação deles, colocando assim a semente de um futuro melhor (1). 

(1) Rádio-mensagem para a "Jornada da Família", 24 de março, 1952.


Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pensamento do dia 19/02/2012



“Que uma alma nada produza diante dos homens ou que se esgote em mil trabalhos, pouco importa aos seus próprios olhos: na realidade, ela só faz uma coisa: viver de Deus. Essa é a sua tarefa. É o Pai que opera nela: ‘O Pai que permanece em mim, é quem faz as obras’ (João, XIV,10). Esta alma é, pois ‘simples com o Simples’ e, se mergulhar o olhar em si própria, descobrirá no seu interior um abismo de simplicidade que nada pode perturbar. É esta mesma simplicidade que constitui a sua força, a sua riqueza e a sua alegria inesgotável. ‘Quem me dará as asas da pomba para que eu possa voar e descansar?’ (Sal., LIV,7). ‘Sede simples como pombas’ (Mat., X,16).”
(Por um cartuxo anônimo)

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Pensamento da noite de 18/02/2012


"Levanta-te de tuas faltas com uma grande placidez de coração, humilhando-se profundamente diante de Deus e confessando-Lhe a tua miséria, mas sem te admirares disso. Que há, pois, de extraordinário que a enfermidade seja enferma, a fraqueza, fraca, e a miséria, miserável? Detesta, contudo, com todas as forças, a afronta feita à divina Majestade, e depois, com uma confiança inteira e animosa em sua misericórdia, volta ao caminho da virtude, que tinhas abandonado."
(São Francisco de Sales)

SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET E O DEMÔNIO


Um esquadrão de demônios viu o Pe. Claret ao lado esquerdo de sua cama quando, ainda seminarista, foi vítima de horrorosa tentação que se dissipou com a doce aparição de Maria Santíssima.

E este exército infernal combateu-o principalmente na época das missões, com as quais tantas almas o Pe. Claret arrebatou ao inferno, para apresentá-las a Jesus como gloriosos despojos de combate.

Encontrava-se em Vich o santo missionário.

Uma manhã, as pessoas da casa onde ele estava hospedado viram com grande surpresa que não descia para tomar seu café, na hora de costume. Temeram que estivesse indisposto. Bateram à porta, entraram no quarto e perguntaram-lhe se se encontrava adoentado.

– Sinto uma dor profunda no lado esquerdo – respondeu.

Alarmados com isto, pois o Pe. Claret não costumava queixar-se, chamaram o médico. Chegando este, mandou que descobrisse o lado afetado, e afastando a roupa, viu no lado esquerdo uma ferida como se uma fera lhe houvesse despedaçado a carne com as garras, deixando à mostra algumas costelas.

Ninguém conheceu a causa desse ferimento, porque o Pe. Claret nada dizia; mas todos acreditaram ser efeito do demônio que assim queria atormentar as carnes do inocente missionário.

Voltou por duas vezes o médico, e vendo que havia sinais de gangrena, após uma demorada consulta, resolveu ser necessária uma intervenção cirúrgica, e determinou fazê-la na manhã seguinte.

Veio; bateu à porta do doente, mas este não respondeu. Perguntou por ele, alarmado, e enquanto esperava, apareceu risonho o doente prodigioso.

– Não se espante, disse-lhe, ajude-me a agradecer a Deus este favor. Esta noite Nossa Senhora curou-me.

O doutor, atônito, mandou descobrir o lugar da ferida; e notou com surpresa que já havia cicatrizado, e o lugar recoberto de pele branca e firme.

– Milagre! – exclamaram a uma voz todos os circunstantes.

***

As perseguições do demônio eram mais freqüentes na época das missões.

Pregava o Pe. Claret em Sarreal, província de Tarragona. As multidões, comovidas, tomaram quase que de assalto a igreja; invadiam-na, deixando-a repleta; e muita gente se acotovelava no adro por não poder entrar no templo.

Quando o missionário estava mais fervoroso e emocionante no sermão, desprendeu-se do arco central do templo uma pedra enorme, que caiu em pedaços sobre a multidão.

– Não é nada!, gritou o Pe. Claret, ninguém se mova! É o demônio que quer impedir o fruto da santa missão. Mas não tem permissão de Deus para vos fazer mal.

Assim foi; pois os diversos pedaços não feriram a ninguém. Este milagre aumentou o fervor e o entusiasmo do auditório, e assim ficou derrotado o demônio.

***

Pregava, doutra feita, perante enorme concorrência. Estava já na metade da missão. O povo cada dia dava maiores demonstrações de piedade e arrependimento.

Era de noite. Quase todos os habitantes estavam reunidos na igreja. Quando o Pe. Claret tomou nas suas mãos o santo crucifixo para findar o sermão com fervorosa súplica, um desconhecido entrou à viva força no templo, alvoroçando o povo e gritando:

– Fogo! Fogo! Que se queima uma casa. Auxílio! Socorro!

O Pe. Claret, com voz forte, disse, interrompendo o sermão:

– É o demônio! Não há casa alguma a arder. E para que vos convençais, que vá o sacristão constatar o fato. Se houver fogo, iremos todos apagá-lo; mas, enquanto não vier o aviso, ficai tranquilos e sossegados.

Chegou o sacristão e disse não haver sinal nenhum de incêndio... Então o povo quis dar uma sova no homem, mas este, misteriosa e subitamente, desapareceu.

– Não vo-lo dizia?, exclamou o Pe. Claret, era o demônio, inimigo de vossas almas, que pretendia impedir o fruto desta santa missão.

E tomando pé deste fato, pregou novo sermão sobre a importância da salvação.

As lágrimas e soluços da multidão acompanhavam as palavras do missionário. O fracasso do demônio não podia ser maior nem mais humilhante.

***

A conquista das almas foi o lema que escreveu o heróico missionário no programa do seu apostolado. E para o efetuar, reproduziu na sua vida o catálogo de sofrimentos e perseguições que sofreu, no seu tempo, o Apóstolo das Gentes [São Paulo].

E como não devia ser alvo da perseguição, se cada alma, cada coração conquistado para Cristo era um despojo, que arrancava violentamente das garras de satanás?

Por isso, o demônio devotava ódio ferrenho às missões do Pe. Claret; porque principalmente com elas obtinha os grandes triunfos. E para impedi-los, lançou mão de todos os meios o príncipe das trevas.

***

Foi em Masnou, província de Tarragona.

Pregava o Pe. Claret uma missão. As povoações vizinhas, entusiasmadas e a se penitenciar, vinham todas as tardes escutar atentamente a palavra do missionário. Uma multidão compacta e fervorosa enchia o vasto templo paroquial.

Apareceu na capela-mor o Pe. Claret e entoou, em frente do auditório, um cântico da missão.

A multidão, que conhecia aquele cântico, acompanhou-o unissonamente, como imensa massa coral.

O organista, Pe. João Quintana, carmelita calçado, assentou-se ao órgão para acompanhar o canto. Mas, contra a vontade do organista, saía dos tubos do órgão a música duma canção escandalosa, muito em voga naquele tempo em teatros e tabernas...

O público emudeceu, escandalizado, e logo alvoroçou-se diante do insulto...

O organista, espantado, trabalhava para dominar o teclado do órgão, mas seu esforço era em vão. A canção continuava soando escandalosamente.

Então o Pe. Claret subiu rapidamente ao púlpito e, dirigindo-se à multidão, disse com voz dominadora:

– Meus irmãos, não vos espanteis! É o demônio que, com esta canção escandalosa, quer inutilizar o fruto dos sermões...

E erguendo a mão em direção ao coro, gritou:

– Sr. Organista, abra o registro flautado, porque dentro dele está o demônio.

Assim fez o organista, e o demônio fugiu vencido.

O órgão acompanhou harmoniosamente os cantos da missão; serenou o auditório e, ao findar a pregação, puderam recolher os ceifadores evangélicos do campo espiritual magnífica colheita de pecadores convertidos.

***

Estava um dia a pregar em campo aberto. Foi uma solenidade religiosa em que milhares de ouvintes se reuniram para escutar o sermão do ilustre missionário.

Quando sua palavra apostólica ecoava mais eloqüente e ungida de piedade, cobriu-se o céu de nuvens pardacentas; despontou o raio e o trovão, e em torvelinho de poeira se desencadeou o furacão.

A multidão, aterrorizada, começou a fugir, mas o Pe. Claret a conteve, dizendo:

– Ninguém se mova! É o demônio que vem, envolto na tempestade. Prestes fugirá, vencido. 

[E tal ocorreu.]

Em outro dia, pregava uma missão na igreja. Mas era tão numerosa a assistência, que se viu forçado a improvisar um púlpito em praça pública. Ao império da sua eloqüência sobrenatural, a multidão, entre profundos soluços e lágrimas sinceras, implorava de Deus perdão para seus pecados.

De repente ouve-se um golpe como se fosse uma chicotada, no púlpito; o rosto do Pe. Claret contrai-se em trejeitos de dor; seu corpo treme; e, quando parece que vai cair, e o público, alarmado, se precipita para ampará-lo, brada com voz serena:

– Deixai-me... nada receeis. É o demônio que me deu este golpe para que não pregue mais.

O Pe. Claret ficou em silêncio alguns minutos, e o povo a chorar e com os braços ao alto, exclamava:

– Perdão, ó meu Deus! Perdão e clemência!

***

Foi desta vez em Igualada. A missão estava dando belos resultados. Já de público se contavam as grandes conversões, e estavam prestes a dar esse passo outros muitos pecadores.

Para mover a estes que permaneciam hesitantes, o Pe. Claret preparou com a oração e o estudo, um sermão especial: o sermão da Madalena. 

Todos choravam ao escutá-lo... Sua palavras era uma concentração luminosa e palpitante de todas as ternuras, de todos os arrependimentos, de todos os amores que sentiu na hora feliz da sua conversão a Madalena, a sublime penitente...

Quando mais ardentes e gerais eram os soluços no auditório, um ruído espantoso alvoroçou o público.

Milhares de cães raivosos brigavam, mordiam-se, despedaçavam-se invisivelmente na igreja; perseguiam-se, desgarravam-se com uivos aterradores. A multidão, consternada, lançou um grito de espanto. Todos olhavam em redor, mas ninguém via onde estavam os cachorros.

Então o Pe. Claret, estendendo a mão sobre o auditório disse:

– Calma, meus irmãos! Calma! Não vos espanteis. Esses cães são os demônios que receiam vos aproveiteis da santa missão. Desprezai-os e logo vos largarão.

Tranqüilizou-se o público ao ouvir estas palavras do santo missionário; os demônios fugiram e a matilha de cães emudeceu...

Mais tarde, o Pe. Claret, referindo-se a esta época de suas missões, consignou em sua ‘Autobiografia’ estas singelas palavras:

– Se foi grande a perseguição que contra mim levantava o inferno, imensamente maior foi a proteção do céu. Conhecia visivelmente que a Virgem Santíssima, os Anjos e Santos me conduziam por caminhos ignorados; livraram-me dos ladrões e assassinos, e me conduziram a porto seguro, sem que eu conhecesse o modo.

(Pe. João Echevarria, CMF, in: Santo Antônio Claret, Editora Ave-Maria, São Paulo: 1962, 2ª edição, páginas 101-107)

PS.: Agradeço a alma generosa que me enviou o texto, Deus lhe pague!