A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
RESTAURAÇÃO
CRISTÃ DO MATRIMÔNIO
26
de Agosto de 1940
Há
quem se admire do deplorável estado a que está reduzida uma grande parte das
famílias cristãs, apesar de terem levantado o seu lar sobre os alicerces tão
firmes de um legítimo Sacramento, instituído para conferir graça.
Reflitamos,
porém, desapaixonadamente sobre o caso. Todos os sacramentos da Igreja são
meios ótimos de comunicar os méritos do sangue precioso de Jesus Cristo,
derramado para nossa Redenção. Mas, para que o Sacramento produza os seus
efeitos divinos para santificação das almas e, no caso, para a verdadeira vida
cristã na família — são indispensáveis certas disposições da parte de quem o
recebe.
Antes
de mais nada lembremos a obrigação de se confessarem os noivos, purificando a
alma para receberem um Sacramento de vivos, como é o Matrimônio. Procedendo de
acordo com o que manda a Igreja, os candidatos, bem dispostos, confortados com
a divina Eucaristia, ingressarão no templo do lar, como quem passa de um
santuário para outro.
O
verdadeiro matrimônio cristão é o que se realiza com celebração da Missa e as
bênçãos nupciais tão belas e emocionantes. Há um cerimonial litúrgico — a
apresentação dos nubentes, a expressão do mútuo consentimento, a união
simbólica das mãos, a bênção das alianças. O Sacerdote fala sobre o grande ato
e segue-se a Missa, na qual os esposos recebem a sagrada Comunhão. — Por duas
vezes o celebrante interrompe o santo Sacrifício e, voltado para os esposos, implora
as bênçãos da Deus para a nova família que nasce aos pés do altar sagrado.
Que
diferença entre esta série de cerimônias tão sugestivas e os casamentos, mesmo
entre cristãos, nos quais, cuida-se de tudo, menos da alma; e durante os
minutos em que se está na Igreja, nem uma vez se eleva o pensamento para Deus!
Não
há motivo para exclamações, se desmorona um lar constituído sobre base frágil:
vaidade, interesse, paixão desregrada e... o que é mais grave para um crente —
estando os noivos separados de Deus pelo pecado.
Contraído
cristãmente o Matrimônio, é indispensável conservar-lhe os efeitos preciosos,
que hão de orientar para sempre o lar doméstico.
Restaurar
o Matrimônio é reavivar nele a figura da união entre Jesus Cristo e a sua
Igreja; é viverem os esposos um para o outro, afastando energicamente tudo
quanto possa esfriar o mútuo amor que há de uni-los para sempre.
Restaurar
o Matrimônio é cumprir as suas leis: procriação e educação da prole e mútuo
auxílio. Da perfeita harmonia entre os esposos vem a disciplina e o controle da
concupiscência.
Daí
estas profundas palavras de Santo Agostinho: “tu, a Deus; a ti, a carne” isto
é, se tu estás unido a Deus, submeterás a matéria, a carne, as paixões, ao
domínio pleno da razão. Serás senhor e não escravo dos instintos da
animalidade.
Para
muitos — amor conjugal é velharia... em que só pensam os velhos casais, tipo
colonial...
Não!
o amor conjugal é a verdadeira felicidade do lar. Restaurai-o, restaurando
cristãmente o matrimônio e a família!