A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
O
DIVÓRCIO E A FELICIDADE CONJUGAL
23
de Agosto de 1940
O
ilustrado Padre Leonel Franca, em seu livro:
“O
Divórcio”, abordando o assunto que hoje me serve de tema, apresenta como
fatores dessa apreciável felicidade: 1.° — a boa escolha recíproca dos que aspiram
a percorrer juntos o caminho da vida. 2.° — a inteligência entre os esposos e o
combate às tentações contra a fidelidade conjugal.
O
divórcio dispensa o cuidado na escolha do futuro cônjuge. O Matrimônio se reduz
a uma tentativa de felicidade, que pode ser arriscada sem grandes preocupações.
Viram-se, gostaram-se... para que perder tempo em indagações? Se a união não
der bom resultado, desata-se o nó, que é apenas uma laçada e facilmente se
desmancha.
Já
houve pensadores que lançaram a idéia dos casamentos para experiência, dos
casamentos temporários — uma espécie de noviciado, em que os descontentes
sempre encontram aberta a porta por onde entraram nesses Matrimônios
verdadeiramente cinematográficos.
Não
nos devemos admirar de que haja tantos partidários do divórcio, numa época em
que predomina a irreflexão. O número de espíritos ponderados decresce de
maneira assustadora. Forjam-se uniões de uma hora para outra e o critério mais
em voga é o da satisfação das paixões explosivas, o mais depressa possível.
Dois
seres se aproximam um do outro. Nasce, com a violência dos tufões, um amor
descontrolado. Não se cogita se são aptos ou não para o Matrimônio; se estão ou
não ligados pelo laço indissolúvel que os obriga até à morte. — Querem unir-se,
unem-se mesmo... contra as leis divinas, as leis eclesiásticas, as leis civis,
as normas sociais... — tudo é zero diante da violência de um amor cego!
Há
cinco ou seis anos a “Revista Paulistana de Higiene Mental” publicava uma série
de entrevistas, com pessoas notáveis no mundo das ciências e das letras — a
respeito do divórcio.
Um
médico muito conhecido na capital bandeirante era de opinião que se devia
acabar com a indissolubilidade. “As aves não se casam, dizia ele, os animais
também não se casam e vivem livremente a sua vida, cumprindo seu destino,
segundo as leis da natureza. Não há motivo para submeter a criatura racional a
um cativeiro estúpido, restos de preconceitos incompatíveis com o progresso”.
E
rematava: “adotemos o divórcio, que é o primeiro passo para o amor livre...” —
E é isso o que deseja muita gente... não o declarando por um restinho de
escrúpulo muito compreensível.
A
leviandade, a precipitação na escolha do futuro cônjuge são fatores de
infelicidade. — Eis um dos frutos do divórcio.
Se
com facilidade os esposos podem separar-se e realizar nova união — a menor
desinteligência cresce e se transforma em obstáculo à continuidade da vida
matrimonial. — Um simples arrufo gera a célebre incompatibilidade de gênios.
E
as tentações? E as paixões que arremetem com fúria contra o lar, para
dissolvê-lo? Essa vida intensa fora de casa, esses cassinos, esses modos
levianos... caldo de cultura para todos os males contra a família — serão
incentivos para o divórcio que, em vez de acalmar a sensualidade, excita-a mais
e mais, arrasando o santuário que só pode conservar-se e progredir à sombra do
amor e da paz.
O
divórcio é um espantalho à felicidade conjugal — se apenas uma ameaça. Arrasa-a
pela base, se realidade.