sábado, 6 de julho de 2013

CONFISSÃO AURICULAR

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

CONFISSÃO AURICULAR
12 de Julho de 1940

Vamos estudar hoje a confissão secreta ou auricular. É a única que prevalece na Igreja e seu uso remonta aos primeiros tempos do Cristianismo. O Concilio Tridentino[1] condena a opinião dos que dizem que a confissão auricular está em desacordo com o que Jesus Cristo instituiu e prescreveu. Conclui-se imediatamente: um católico não pode rejeitar, reprovar, combater a confissão em uso em sua Igreja.

Do século V para os nossos dias, não há dúvida alguma sobre a prática do quarto Sacramento, como se faz ordinariamente no mundo inteiro.[2]


No século V São Leão Magno atesta que a confissão privada, secreta, estava em pleno uso. Assim se exprime o grande Pontífice, em sua Epístola 168, aos Bispos de Campánia: “Ouvimos dizer que alguns sacerdotes lêem publicamente os libelos contendo os pecados dos penitentes. Condenamos estas praxes, contrárias às normas apostólicas. Para alí­vio das consciências basta relatar os pecados, só ao sacerdote, em confissão secreta”.

É bem expressiva a observação que faz o Santo: a leitura do libelo, publicamente, era contrária às normas apostólicas. A seguir indica o processo que se deve adotar: relatar as faltas secretamente ao sacerdote.

Eis um documento do século quinto, com re­ferência expressa aos usos dos apóstolos.

No quarto século a confissão auricular é atestada por Afraates, o douto persa, que, dirigindo-se a sacerdotes, recomenda paternalmente o máximo cuidado em guardar segredo a respeito dos pecados ouvidos na confissão. — Logo, no quarto século havia a confissão auricular, segundo a documentação da Patrologia síria, volume I, números 318 e 319.

Na Patrologia Latina lemos, na vida de Santo Ambrósio, a referência que dele faz o diácono Paulino: “Só Deus sabia os crimes, as prevaricações que os fiéis confessavam a Ambrósio” (Volume 14, página 40).

Nesse mesmo século IV a história regista a instituição dos Penitenciários, com a missão exclu­siva de ouvir as confissões secretas.

É do século III o testemunho de Orígenes, na homília II, sobre o Salmo 37: “como sabeis, está em uso tanto a confissão privada, como a pública”. É do mesmo teor o ensinamento de São Cipriano.

Quanto aos séculos segundo e primeiro, re­porto-me ao que já disse sobre São Leão Magno.

Conclusão: A confissão secreta ou auricular existe desde o princípio da Igreja. Quase sempre, entretanto, se manifestavam os pecados graves, por causa da penitência pública correspondente.

Isto fazia com que muita gente fugisse da confissão; pois se alguns sentiam na humilhação da penitência motivos de maior amor a Deus, ao próximo e à virtude, outros, em maior número, tinham horror a se verem denunciados e difamados, fugindo, por isso, à prática do sacramento.

À vista desses graves inconvenientes, a Igreja pouco a pouco aboliu a confissão pública e, mais tarde, as penitências públicas pelos pecados confessados. 

Notas:
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[1] Lugar citado.
[2] Cf. Tanquerey, Synopis Th. Dog. "De Poenitentia et Matrimonio", med. 24.ª, n.º 738.