A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
CONFISSÃO
AURICULAR
12
de Julho de 1940
Vamos
estudar hoje a confissão secreta ou auricular. É a única que prevalece na
Igreja e seu uso remonta aos primeiros tempos do Cristianismo. O
Concilio Tridentino[1] condena a opinião dos que dizem que a confissão auricular
está em desacordo com o que Jesus Cristo instituiu e prescreveu. Conclui-se
imediatamente: um católico não pode rejeitar, reprovar, combater a confissão em
uso em sua Igreja.
Do
século V para os nossos dias, não há dúvida alguma sobre a prática do quarto
Sacramento, como se faz ordinariamente no mundo inteiro.[2]
No
século V São Leão Magno atesta que a confissão privada, secreta, estava em
pleno uso. Assim se exprime o grande Pontífice, em sua Epístola 168, aos Bispos
de Campánia: “Ouvimos dizer que alguns sacerdotes lêem publicamente os libelos
contendo os pecados dos penitentes. Condenamos estas praxes, contrárias às
normas apostólicas. Para alívio das consciências basta relatar os pecados, só
ao sacerdote, em confissão secreta”.
Eis
um documento do século quinto, com referência expressa aos usos dos apóstolos.
No
quarto século a confissão auricular é atestada por Afraates, o douto persa,
que, dirigindo-se a sacerdotes, recomenda paternalmente o máximo cuidado em
guardar segredo a respeito dos pecados ouvidos na confissão. — Logo, no quarto
século havia a confissão auricular, segundo a documentação da Patrologia síria,
volume I, números 318 e 319.
Na
Patrologia Latina lemos, na vida de Santo Ambrósio, a referência que dele faz o
diácono Paulino: “Só Deus sabia os crimes, as prevaricações que os fiéis
confessavam a Ambrósio” (Volume 14, página 40).
Nesse
mesmo século IV a história regista a instituição dos Penitenciários, com a
missão exclusiva de ouvir as confissões secretas.
É
do século III o testemunho de Orígenes, na homília II, sobre o Salmo 37: “como
sabeis, está em uso tanto a confissão privada, como a pública”. É do mesmo teor
o ensinamento de São Cipriano.
Quanto
aos séculos segundo e primeiro, reporto-me ao que já disse sobre São Leão
Magno.
Conclusão:
A confissão secreta ou auricular existe desde o princípio da Igreja. Quase
sempre, entretanto, se manifestavam os pecados graves, por causa da penitência
pública correspondente.
Isto
fazia com que muita gente fugisse da confissão; pois se alguns sentiam na
humilhação da penitência motivos de maior amor a Deus, ao próximo e à virtude,
outros, em maior número, tinham horror a se verem denunciados e difamados,
fugindo, por isso, à prática do sacramento.
Notas:
____________
[1] Lugar citado.
[2] Cf. Tanquerey, Synopis Th. Dog. "De Poenitentia et Matrimonio", med. 24.ª, n.º 738.