A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
EXTREMA
UNÇÃO
23
de Julho de 1940
Estudemos
o Sacramento da Extrema Unção. A
Igreja o define: Sacramento da Nova Lei, pelo qual, em virtude da unção do óleo
e das orações do Sacerdote, confere e ao enfermo em estado grave, o conforto da
alma e mesmo a saúde do corpo, se isto for para salvação da alma.
Trata-se
de um legítimo Sacramento da Nova Lei. Assim o define o Concílio Tridentino.[1]
Prova-se
pela Sagrada Escritura. Lemos, de fato, na epístola de São Tiago apóstolo, no
capítulo V, versículos 14 e 15: “Há entre vós algum enfermo? Chamem-se os
Presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do
Senhor. A oração da fé salvará o enfermo. E o Senhor o aliviará. E se estiver
em pecados, esses pecados lhe serão perdoados”.
A
expressão enfermo, no texto, observa Tanquerey, quer dizer doente em estado
grave, quando há já perigo de vida. A oração a que se refere o apóstolo é a do
Presbítero e não a do enfermo como querem alguns intérpretes acatólicos.
Nas
palavras de São Tiago vemos os requisitos do Sacramento: sinal sensível, a unção
do óleo e a oração; graça que se confere — o enfermo será aliviado; instituição
divina, pois só de Deus pode vir o poder de perdoar pecados.
Quanto
ao uso tradicional da Extrema Unção, a epístola citada é claríssima. O
conselho, ou, se quiserdes, a ordem do apóstolo é tão serena, tão natural que
demonstra tratar-se de coisa reconhecida e aceita como certa e necessária, para
alívio dos que já estão às portas da morte.
Em
São Marcos, capítulo VI, versículo 13, há uma observação interessante que o Concílio
de Trento chama — insinuação do quinto Sacramento. Refere-se o Evangelista ao
fato de mandar Jesus os doze apóstolos, dois a dois, como que ensaiando-os na
grande missão de evangelizar. E diz: “eles se puseram a caminho, pregaram a
penitência, expulsaram muitos demônios e curaram numerosos enfermos, ungindo-os
com óleo”.
Tanto
na Igreja latina como na grega, a história menciona a prática da Extrema Unção desde
os tempos primitivos.
E
é natural que se encontre no seio da Igreja um conforto especial na hora
derradeira. Nós que, chegados ao mundo, fomos regenerados pela água batismal
que nos ministrou o sacerdote; que, durante os dias que vivemos, achamos
sempre à nossa disposição o remédio para as feridas que o pecado nos faz na
alma e o alimento precioso da Eucaristia — devemos encontrar um bálsamo sagrado
que nos suavize e dulcifique a aspereza e o amargor de uma partida quase sempre
dolorosa!
Quem,
como sacerdote, tem-se aproximado do agonizante tantas vezes, pode falar-vos do
valor de sacramentos recebidos na hora da partida para a grande viagem! A
última confissão, a última Comunhão, a Extrema Unção! Inúmeros são os casos em
que o ambiente de dor, de quase desespero, se transforma num prelúdio de bem-aventurança,
em que as próprias lágrimas são menos amargas, porque impregnadas de resignação
cristã!
E,
Senhores, ponde de lado os vossos preconceitos. Esquecei por um instante, ao
menos, o vosso materialismo, a vossa indiferença... curvai-vos diante da
verdade: — não há Religião melhor para nos recolher o último suspiro, do que a
Religião Católica!
Nota:
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[1] Sessão XIV, c. I. A Igreja — 14