A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
MATÉRIA,
FORMA E MINISTRO DA EXTREMA UNÇÃO
24
de Julho de 1940
Completando
o nosso estudo sobre o quinto Sacramento, a Extrema Unção, vejamos a sua
matéria e forma e o seu Ministro.
A
matéria remota é o óleo de oliveira. É o que se depreende da Escritura Sagrada,
no texto de São Tiago Apóstolo. Confirma-o o Concilio de Florença. É matéria
adequada, pois o óleo é símbolo da doçura e a Extrema Unção dulcifica os amargores
da hora derradeira. — O óleo suaviza as dores do corpo, alimenta, ilumina,
exatamente o que a Igreja oferece com este Santo Sacramento: alívio na dor,
força para o último combate, luz que clareie o caminho da eternidade!
Esse
óleo é sagrado pelo Bispo, na quinta-feira santa, e distribuído por todas as
paróquias de cada diocese.
A
matéria próxima é a unção feita com o mesmo óleo. Solícita e sábia, a Igreja
prescreveu uma forma belíssima que diz com precisão a finalidade do quinto
Sacramento. O Sacerdote, ungindo o enfermo, assim procede: Unge os olhos e simultaneamente
diz: por esta santa unção e pela sua piíssima misericórdia, Deus te perdoe os
pecados que cometeste pela vista. — E unge os ouvidos, as narinas, os lábios,
as mãos e os pés dos enfermos. Antigamente se ungia o enfermo à altura dos
rins, unção que a disciplina atual suprimiu; permitindo que, por qualquer causa
razoável, se omita a unção dos pés.
Nessa
tocante cerimônia se focalizam todas as misérias humanas: os pecados inúmeros, frequentes,
cometidos pelo mau uso dos sentidos, pelas faculdades da palavra e da
locomoção.
Três
são os efeitos da Extrema Unção: conforto à alma, em artigo de morte; remissão
da culpa e da pena devida pelo pecado; saúde do corpo, se tal convier à eterna
salvação.
Quanto
ao conforto, é claro que para isso foi instituído esse Sacramento e é o que nos
diz São Tiago.
O
perdão dos pecados veniais é certo, como dizem comumente os doutores da Igreja.
Remissão dos pecados mortais é o que obtém o pecador que, sem tempo de se
confessar, em pleno uso da sua razão, arrepende-se do mal que praticou.
A
Extrema Unção perdoa também a pena devida ao pecado, na medida das disposições
do moribundo. É o que declara expressamente o Concílio Tridentino.[1]
Muitas
vezes este sacramento obtém para o enfermo a volta da saúde do corpo, dando-lhe
tempo de merecer mais, pela prática da virtude, e conseguir melhor recompensa
do Reino de Deus.
O
Ministro da Extrema Unção é o Sacerdote. São Tiago diz claramente: chamem os
presbíteros da Igreja. A palavra presbítero significa sempre o homem ornado com
o caráter sacerdotal; e no caso em apreço, ainda há para reforçar a intenção do
apóstolo, a palavra Ecclesiae — presbíteros da Igreja.
Aplicada
ao moribundo, diz Tanquerey, a Extrema Unção é como a consumação do Sacramento
da Penitência. Logo, só pode ser administrada pelo Sacerdote.
Há
em certos meios católicos uma triste superstição: enfermo que recebe a Extrema
Unção, morre logo... e por isso evitam a presença do sacerdote à cabeceira do
enfermo. E quantas vezes, nas ânsias da hora derradeira, o enfermo desejaria o
conforto dos Sacramentos... e seus parentes e amigos impedem a aproximação do
representante de Jesus Cristo! Que isso jamais aconteça em vosso lar!
Nota:
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[1] Sessão XIV, cap. II. Cf. Tanquerey, ed. 24, vol. III, n.º 970.