A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
IGREJA
COMPLETA
13
de Setembro de 1945
Continuando
o nosso brevíssimo estudo sobre a Igreja Católica — chegamos ao ponto em que eu
vos falei de três corolários, decorrentes das teses sobre a Igreja. No primeiro
se ressalta sua prerrogativa de sociedade visível; no segundo, de indefectível.
Já os estudamos. Resta-nos o terceiro: a Igreja é uma sociedade completa, isto
é, independente da sociedade civil.
Completa
é a sociedade que, na sua ordem, é por si suficiente para conseguir o fim a que
se destina, independentemente de outra sociedade. Para isto se requer: 1.° —
que não seja parte de outra sociedade. Uma diocese, por exemplo, não constitui
sociedade completa, porque faz parte de outra sociedade —a Igreja. 2.° — que
não tenha seu fim subordinado a outra sociedade do mesmo gênero. Assim a
família não é sociedade completa, porque o bem que ela visa é ordenado ao bem
de uma sociedade maior — a cidade; assim como o bem da cidade é ordenado ao da
república. 3.°que seja dotada dos meios necessários à sua conservação e
consecução do seu fim.
Aplicando
esta doutrina à Igreja, temos: 1.º A Igreja não está subordinada a nenhuma
outra sociedade. Seu fim supremo é a glória de Deus e a salvação das almas.
Jesus determinou expressamente: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é
de Deus”. O mesmo divino Mestre ordenou aos apóstolos que pregassem o
Evangelho, mesmo contra a vontade dos príncipes. E’ o que lemos em São Marcos,
cap. 13: “Comparecereis perante os conselhos, sereis açoitados nas sinagogas,
hão de levar-vos à presença dos reis e dos governadores... mas primeiro o
Evangelho será anunciado a todas as nações” (Mc 13, 9-10). E segundo o capítulo
quinto dos Atos dos Apóstolos, quando os magistrados proibiram os apóstolos de
pregar o Evangelho, Pedro exclamou: “Devemos mais obediência a Deus, do que aos
homens” (At 5, 29); e continuaram a sua pregação.
2.º—
A Igreja não faz parte da sociedade civil. Por sua própria natureza é
universal. Foi o mesmo Cristo quem determinou: “ide, ensinai a todos os
povos... pregai o Evangelho a toda criatura”.
3.º
— A Igreja possui todos os meios para conseguir seu fim. Nela se encontra a
verdadeira hierarquia com o poder supremo de ensinar, de governar, de
santificar os homens. Entretanto a Igreja foi instituída na terra, para os
homens.
Seria
governada por homens que a ela deveriam dedicar-se inteiramente; por isso mesmo
a Igreja tem o direito de obter dos seus súbditos os meios necessários para a
manutenção do culto e para a sustentação dos seus ministros.
Consultai
a epístola primeira de São Paulo aos Coríntios, no capítulo 9.°, versículos 11
a 14: “Semeamos para vós o espiritual; será por ventura de estranhar que
recebamos alguma coisa dos vossos bens materiais? Se outros participam da vossa
generosidade, por que seremos nós excluídos?” — E adiante: “Não sabeis que os
que trabalham do santuário sustentam-se do que pertence ao santuário e que os
que servem ao altar participam do altar? Assim também ordenou o Senhor: Os que
pregam o Evangelho vivam do Evangelho”.
Logo
na Igreja se encontram todos os elementos que se exigem para uma sociedade
completa e independente. E Leão XIII ensina: “a Igreja é uma sociedade, no
gênero e por direito, perfeita, possuindo os elementos necessários para se
defender e agir livremente, por vontade e benevolência de seu divino Fundador.”[1]
Notas:
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[1] Encíclica “Immortale Dei”.