A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
ORIGEM
DA PENITÊNCIA
9
de Julho de 1940
Prossigamos
estudando o Sacramento da Penitência. Jesus
Cristo, durante Sua estada na terra, exerceu o poder de perdoar pecados.
Frequentemente o demonstram: os Evangelhos. Exemplos: na cura do paralítico, no
episódio da mulher pecadora, etc. Tendo
fundado uma Igreja, que Ele expressamente chamou Sua, não podia deixar de
transmitir-lhe esse poder divino, essencial à salvação das almas. Tudo isso
esta no versículo 18 e seguintes, do capítulo XVI do Evangelho de São Mateus:
“E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino
dos céus. Tudo o que ligares na terra, será ligado no céu. Tudo o que
desligares na terra, será também desligado no céu”. Nada mais claro. Os verbos
estão no futuro. Trata-se de uma promessa.
Jesus
escolhe Pedro para pedra fundamental do seu edifício monumental. Vê-se que a
obra seria sólida — fundada sobre “pedra”. E duradoura: as portas do inferno
não prevaleceriam contra ela.
Seria
ingenuidade pensar que o inferno não teria poder contra a igreja só enquanto
vivessem os apóstolos. Note-se, porém, que o que Jesus disse e prometeu a
Pedro, quanto ao poder de ligar e desligar, disse-o aos demais apóstolos. É o
que se lê no versículo 18 do capítulo XVIII, do mesmo Evangelho de São Mateus:
“Em verdade eu vos digo que tudo quanto ligardes na terra, será ligado no céu;
tudo quanto desligardes na terra, será também desligado no céu”.
Jesus
prometeu ainda a Pedro que lhe daria as chaves do Reino dos céus. Que vigorosa
expressão! Quem tem as chaves, é o dono da casa; tem o poder de governar;
admite ou repele os dignos ou os indignos... — Jesus constitui Pedro seu
representante, o dono da sua casa, o chefe da sua Igreja!
E
veja-se a distinção entre Pedro e os demais. Pedro é a base, a pedra angular,
só ele. Pedro terá as chaves do reino dos céus. Só ele. — Pedro liga e desliga
— os outros também. Pedro perdoa ou retém pecados — os outros também.
Realmente
o que Jesus promete, cumpre, como vemos nos versículos 21 a 23, capítulo XX do
Evangelho de São João: “A paz esteja convosco. Assim como o Pai me mandou,
assim também eu vos mando. E dizendo isto, soprou sobre eles, dizendo: recebei
o Espírito Santo. Aqueles a quem vós perdoardes os pecados, tais pecados serão
perdoados; aqueles a quem os retiverdes, tais pecados serão retidos”. Eis o
cumprimento da promessa.
Duas
coisas aparecem claras, de uma clareza meridiana. Primeira — que Jesus Cristo
deu o poder de perdoar pecados. Segunda — que esse divino poder há de ser
exercido a modo de tribunal; a definição de Penitência diz: é o Sacramento pelo
qual, em virtude da absolvição judicial dada pelo legítimo ministro, o fiel
verdadeiramente disposto é perdoado dos pecados cometidos depois do Batismo.
Se
há, portanto, casos em que as faltas são perdoadas e casos em que são retidas,
isto é, não perdoadas, há de ser constituído um tribunal, muito íntimo, sui generis, em que o penitente, que é
réu, se acuse perante o sacerdote que é Juiz. E o juiz, verificando as
disposições do réu, se ele está disposto ou não a se corrigir, dê ou não a
absolvição dos seus pecados.
Crer
nos Evangelhos e rejeitar a confissão é o maior dos absurdos. Como também é
absurdo confessar-se a Deus, no dizer pitoresco dos que seguem uma religião,
feita sob medida, e de acordo com o gosto e as inclinações de cada um.