terça-feira, 23 de julho de 2013

OS SUCESSORES DE PEDRO

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

OS SUCESSORES DE PEDRO[1]
5 de Setembro de 1945

Já vimos Pedro, feito por Jesus pedra angular de Sua Igreja; constituído chefe do colégio apostólico; recebendo as chaves do Reino dos céus, com o poder de ligar e desligar. Prossigamos. — Pedro foi feito pedra e fundamento da Igreja, para a conservar segura e invencível contra os assaltos e ataques dos inimigos que, mercê de Deus, nunca lhe têm faltado.

E digo mercê de Deus, porque nada pior para a Igreja do que navegar em mar de rosas. Apodera-se logo dos seus membros a indisposição para o trabalho na seara espiritual. Para que esforços e canseiras — se tudo vai tão bem, se todos que nos rodeiam são bons amigos e só têm para nós amabilidades e sorrisos?!... — Ribomba o trovão, cortam os ares os coriscos, relâmpagos intermitentes clareiam com a luz fantástica toda a terra... — e a tormenta que se aproxima! e a cristandade desperta, dispõe-se a lutar em defesa da sua fé.

Quanto benefício não têm já feito à Igreja seus ferozes inimigos, nos dias sombrios que estamos vivendo! — Um despertar de vida se manifesta de uma extremidade a outra do Brasil. Feridos em seus brios, ameaçados em suas mais queridas tradições, os católicos cerram fileiras em torno da cruz de Jesus Cristo, dispostos à luta na defesa do altar, da família e da Pátria!

Mas... vamos adiante. — Pedro recebeu as chaves do Reino com o poder de ligar e desligar; estes privilégios, entretanto, criados para beneficiar a humanidade, hão de prevalecer enquanto existir a humanidade.

Pedro é distinguido com o múnus de apascentar cordeiros e ovelhas; esta missão ficará de pé enquanto houver cordeiros e ovelhas, enquanto existir no mundo o rebanho do eterno Bom Pastor!

Pedro, como chefe dos apóstolos, estava presente quando o Cristo disse: “Eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Essas palavras não se referem ao fim da idade apostólica mas evidentemente ao fim do mundo.

Recorramos à história, considerada universalmente mestra da verdade.

Nos primeiros séculos da Igreja vemos os escritos de São Clemente,[2] Papa no ano 92, e Santo Inácio mártir;[3] no século segundo, de Santo Irineu:[4] — são claras as referências ao primado do Romano Pontífice.

Não posso deixar de citar, todavia, a interes­sante passagem que se encontra no tratado “De Pudicitia” de Tertuliano, capítulo primeiro. O autor tinha já resvalado no erro dos montanistas. Entretanto, bem contra a sua vontade, escreve: “Ouço também dizer que fora publicado um edito, e peremptório, a saber: O Pontífice Máximo, isto é, o Bispo dos Bispos, decreta...” etc. e São Cipriano não é menos explícito, no parágrafo 5.° da epístola 40.a, ao povo: “Deus é um, Cristo é um; uma é a Igreja e a Cátedra, fundada sobre a pedra, pela palavra do Senhor”. — E adiante: “Certamente os outros apóstolos eram o que foi Pedro, adornados de igual participação de honra e poder, mas o princípio parte da unidade e o primado é dado a Pedro, para que a Igreja de Cristo se mostre uma e uma a sua cátedra”.

Na epístola 45 o mesmo Cipriano chama a sede romana de “raiz e matriz da Igreja católica”. Na epístola 67 lemos que ele se dirigiu ao Sumo Pontífice Estevão, pedindo que “excomungasse a arciano, Bispo de Arles, que seguira o partido de Novaciano, e que o fizesse substituir por outro”.

Santo Agostinho, referindo-se à Igreja de Roma, em sua carta 43, contra os Donatistas, diz que “naquela sede sempre vigorou o principado da Cadeira apostólica”.

Esta é a doutrina dos Concílios. No de Calcedônia, em 451, vemos aquela frase célebre: “Pedro falou pela boca de Leão”. Vemos a mesma verdade exposta nos Concílios de Constantinopla e Florença. Os demais Concílios não discrepam, até ao último — do Vaticano, — que proclama dogma de fé a infalibilidade.
Logo, — Jesus Cristo fez de Pedro o chefe supremo de Sua Igreja e os mesmos privilégios concedidos a Pedro são conferidos aos sucessores do Príncipe dos apóstolos, isto é, a cada um dos Papas, até à consumação dos séculos.

Notas:
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[1] Sobre o Romano Pontífice – ver meu livro “O Decálogo” páginas 156 a 201. 
[2] Epístola aos Coríntios.
[3] Epístola aos Romanos.
[4] Contra os hereges, livro III, c. 3.