A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
IGREJA
INDEFECTÍVEL
11
de Setembro de 1945
A
Igreja de Jesus Cristo é indefectível — isto é, há de durar para sempre e
também há de permanecer perpetuamente tal como foi instituída. Conservará,
portanto, até ao fim do mundo, a estrutura e as propriedades que lhe foram
assinaladas por seu divino Fundador.
Podem,
por isso mesmo, fazer-se modificações acidentais, em coisas acessórias; pode
admitir-se progresso no modo de expor a doutrina, acompanhando o
desenvolvimento da cultura dos povos; pode alterar-se o que, por ordem do
Salvador, compete à Igreja prescrever, organizar etc., — como os ritos que
devem ser observados na administração dos Sacramento, o jejum, a abstinência, a
obrigação de guardar os dias santos, etc. — Quanto às coisas essenciais,
entretanto, nada se pode alterar. Esta indefectibilidade, todavia, só pertence
a Igreja Universal que compreende o colégio apostólico sob a regência de Pedro
— e aos sucessores dos mesmos — os Bispos em união com o Papa.
As
provas desta afirmação, tiradas dos textos da Sagrada Escritura, já foram aqui
mesmo inúmeras vezes repetidas.
Na
verdade, Jesus Cristo edificou Sua Igreja sobre a pedra, declarando
expressamente: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Declarou
ainda que estará com esta mesma Igreja, até à consumação dos séculos. Ambos
estes textos se encontram em São Mateus — cap. 16 e 28. Em São João se lê que o
Espírito Santo permanecerá com a Igreja para sempre (Jo 14, 16-17).
Cristo
lhe estabeleceu apóstolos, pastores e doutores para a consumação dos santos,
até que todos nos achemos reunidos na unidade da Fé. — é o que afirma São Paulo
aos fiéis de Éfeso, capítulo 4.
Diante
disto, é claro que Jesus prometeu à Sua Igreja a indefectibilidade absoluta,
sem condições. Pois se o edifício está construído sobre a pedra e com tal
firmeza que as investidas do inferno não poderão nada contra ele; se o Espírito
de Deus acompanha e dirige sua fundação, muito de perto, se está com ela todos
os dias, até ao fim dos tempos; se a hierarquia da Igreja não deve ser
destruída até que estejamos todos como um só todo, na unidade da fé... de duas
uma: ou Jesus Cristo nos iludiu ou a Igreja é indefectível, também o grande São
Paulo seria um impostor. É interessante o que este apóstolo diz aos efésios, em
continuação ao texto que acabei de citar-vos. O inspirado missionário se refere
à unidade da fé e acrescenta: “para que não sejamos mais como crianças,
impelidas dum lado para outro, levadas por todo vento de doutrina, pela maldade
dos homens, e pela astúcia dos hereges” (v. 14).
O
magistério da Igreja universal há de permanecer para sempre; e é tal o seu
valor que todo aquele que o rejeitar, será condenado. E os apóstolos assim
entenderam esta verdade, pois São Paulo não hesitou em escrever aos gálatas:
“Se qualquer de nós ou mesmo um anjo do céu vos ensinasse um evangelho
diferente do que vos apresentamos, seja anátema!” (Gál 1, 8).
E
a Timóteo recomenda o mesmo apóstolo (l.ª c. VI —v. 20) — “Guarda o depósito,
evitando novidades profanas de palavras”.
A
razão teológica vem confirmar o que nos ensina a Bíblia. Se a Igreja foi
fundada para o fim exclusivo de conduzir os homens para a bem-aventurança, não
poderia alcançar essa finalidade se não fora substancialmente indefectível. Se,
depois de certo tempo houvesse solução de continuidade entre a Igreja do
passado e a do presente, estariam frustrados os planos de Jesus, o que seria o
mais escandaloso de todos os absurdos!
Concluamos,
pois: a Igreja instituída por Jesus Cristo é indefectível e substancialmente
imutável.