A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
ORIGEM
E DESENVOLVIMENTO
31
de Agosto de 1945
Vamos
focalizar hoje a Igreja nascente, dividindo a sua história em três estádios.
No
primeiro o Evangelho foi pregado somente aos judeus; e, na verdade, muitos se
converteram à fé. E Pedro mandava que eles se separassem da Sinagoga, para
formar uma sociedade própria, especial. — “Retirai-os desta geração depravada!”
(At 2, 40). Reuniam-se os privilegiados e realizavam o rito da fração do pão ou
a Eucaristia. Apesar de comparecerem ao templo para orar, os estranhos não ousavam,
entretanto, juntar-se a eles. Amavam-se e entendiam-se. Lemos nos Atos dos Apóstolos:
“A multidão dos crentes era um só coração e uma só alma” (At 4, 32). E, segundo
o mesmo livro, Pedro os visitava a todos frequentemente.
São
João Crisóstomo observa a esse respeito: (Homilia 21) — “Pedro era como um
chefe que andava por toda parte, vendo tudo, examinando os núcleos, observando
os que já estavam catequizados, pensando nos que ainda não se tinham convertido...
animando a todos com a sua presença.
No
segundo estádio, o Evangelho foi pregado não só aos judeus, mas também aos
gentios. Pedro advertido por uma revelação, batiza o centurião Cornélio; foi
este ato a abertura da porto do aprisco para todos. Não haveria mais distinção entre
judeu e gentio. E os discípulos de Jesus falaram aos gregos, anunciando-lhes a
Boa Nova. Dilatavam-se as fronteiras do reino de Cristo! (At 10 sgs).
No
terceiro estádio, finalmente, que compreende o período decorrido entre o
Concílio de Jerusalém e a morte dos apóstolos, a Igreja está muitíssimo
difundida entre os gentios, apresentando sempre as características de
verdadeira sociedade. Nela se encontra a unidade da fé, a unidade de
sacramentos e de sacrifícios. Esta sociedade, todavia, não é de invenção
humana. É o que ensina São Paulo aos fiéis de Éfeso (cap IV) — “O mesmo Jesus
Cristo fez a uns, apóstolos; a outros, profetas, a outros, evangelistas; a
outros, pastores e doutores, para edificação do corpo de Cristo; até que todos
cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus” (Ef 11-13).
A
Igreja é sociedade religiosa, espiritual e sobrenatural.
Religiosa
— porque foi instituída para propagar e guardar a religião do mesmo Cristo,
segundo aquelas palavras do Mestre: “assim como meu Pai me enviou, assim também
eu vos envio... ide, doutrinai todos os povos, ensinando-lhes a observar tudo
quanto eu vos determinei”.
Podeis
conferir, a respeito, os textos dos capítulos 20 de São João e 28 de São
Mateus.
Sociedade
espiritual — porque visa especialmente as almas; e tudo quanto realiza na
esfera material é com vistas ao espiritual.
E
por isso mesmo é sobrenatural — pois emprega meios acima da natureza visível
para conseguir sua finalidade: a infusão da graça pela administração dos
Sacramentos.
Leão
XIII, em sua Encíclica lmmortale Dei, ensina: “Esta sociedade, apesar de ser
composta de homens, como a sociedade civil, todavia, em razão do fim que lhe
está determinado e dos instrumentos de que se serve para conseguir esse fim, é
sobrenatural e espiritual”.
A
Igreja foi concebida quando Jesus começou a ensinar sua doutrina, preparando os
apóstolos para a grande missão de evangelizar a humanidade; quando Ele
instituiu os Sacramentos, o Sacrifício, o Sacerdócio.
A
Igreja nasceu quando Jesus morreu crucificado; então extinguiu-se a sinagoga;
disto foi sinal o rasgar-se de alto a baixo o véu do Templo.
A
Igreja foi promulgada no dia de Pentecostes, quando, depois de ter recebido o
Espírito Santo, os apóstolos começaram a pregar a nova lei, — lei que se
tornava obrigatória a todos quantos dela iam tendo conhecimento.