A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
PENITÊNCIA
8
de Julho de 1940
Três
foram os Sacramentos que já tivemos oportunidade de estudar — o Batismo, a
Confirmação e a Eucaristia. Hoje
e toda esta semana, veremos o quarto Sacramento — Penitência ou Confissão. Trata-se
de uma das coisas mais preciosas e eficazes do Catolicismo e, ao mesmo tempo —
da mais combatida e atacada! Quantos aceitam e mesmo louvam toda a estrutura da
nossa veneranda Igreja, as suas práticas, os incontáveis benefícios de ordem
física, moral e material! Quando, porém, se fala em Confissão, já se revoltam,
chegando a ponto de mudar os louvores em recriminações e impropérios!
Para
um espírito refletido, esse destino militante da Confissão, é por si mesmo uma
eloquente prova em seu favor. Que significam essas revoltas que, há 19 séculos,
zumbem em torno do Tribunal da Penitência? — Significam que este Tribunal tem
uma vitalidade superior a todas as tempestades que contra ele se desencadeiam.
A
imortalidade entre entusiasmos interesseiros e paixões satisfeitas — é a das
coisas da terra. Quando essa imortalidade se verifica no meio das zombarias,
das censuras, dos ataques e dos ódios é a imortalidade das coisas de Deus!
A
revolta contra a Confissão prova que ela é incômoda a muita gente, ou
impraticável porque exige o combate às más inclinações, impõe o rompimento de
certas relações, prescreve o cumprimento do dever, colocando-o acima dos
interesses subalternos, do amor próprio, do egoísmo.
A
Confissão é combatida porque é o maior e mais poderoso freio contra toda sorte
de paixões.
A
boa lógica costuma tirar sua defesa dos próprios argumentos dos adversários: é
o nosso caso. Os golpes de lança contra a Confissão curam as feridas que
produzem.
Santo
Agostinho, fotografando sua alma, ou seguindo o progresso da época, filmando
sua vida nas célebres “Confissões”, oferece ao mundo, a todas as gerações, um
empolgante testemunho do valor da absolvição sacramental, para a regeneração do
pecador. São do grande Bispo de Hipona estas ardentes palavras: “Fazer um justo
do que era um ímpio, é obra maior do que criar o céu e a terra!”[1]
Jesus
Cristo, como havemos de examinar cuidadosamente no momento oportuno, deu a
determinados homens o poder de perdoar pecados. É assim que se faz de um
pecador, um justo. Esse processo nada tem de humano. É divino. E é diariamente
aplicado hoje, como o foi ontem e como será amanhã e sempre, até à consumação
dos séculos.
Submetem-se
a esse estranho processo os pobres, os pequenos, os humildes; como os nobres,
os ricos e os grandes, reis, chefes de Estados, Ministros, funcionários de
todas as categorias; Sacerdotes, párocos de aldeia, como de grandes cidades, os
mais graduados, os Bispos, os Cardeais, o Papa! Não há muito, numa dessas
descrições da vida íntima do Chefe da Igreja Universal, vinha esta nota: e aos
sábados Pio XII, o Sumo Pontífice, de joelhos aos pés de um sacerdote, faz sua
confissão semanal.
Eis
o prólogo do estudo sobre o 4.° Sacramento.
[1] Apud Caussette, “Ananie ou Guide de l’Homme” — La Confession, pág. 159: “Majus opus est ex impio justum facere, quam creare caelum et terram”.