Os atributos de Deus.
Deus e suas criaturas (3)
Considerada de diferentes pontos, uma paisagem apresenta diferentes aspectos; assim também Deus, julgado pelas Suas obras. Os atributos de Deus propriamente não são senão a própria essência divina. Corretamente não se deveria, portanto, dizer: Deus é eterno, onipotente, etc., mas: Deus é a eternidade, a onipotência, etc. Dos atributos divinos, uns se referem ao ser (eterno, onipresente, imutável), outros ao conhecer (onisciente, sapientíssimo), os restantes ao querer de Deus.
Deus tem as seguintes qualidades:
1) É Eterno, q. d. Deus sempre existiu, existe e existirá.
Com as palavras: "Eu sou aquele que é”, dirigidas a Moisés, Deus deu a entender a Sua eternidade. O círculo, que não tem princípio nem fim, é símbolo da eternidade. Por ser redonda, a santa hóstia indica que nela está presente o Eterno. Deus, por ser eterno, é representado, geralmente, como um ancião de longas barbas; poderia ser, com igual direito, representado moço. Os anjos e as almas humanas não são eternas, mas somente perecíveis. Para Deus não há tempo. Eis porque S. Pedro diz: “Mil anos, perante Ele, são como um dia.” A eternidade nos é incompreensível. “Deus existia antes de todos os séculos e permanece por toda a eternidade.” A eternidade refere-se ao tempo; a onipresença ao espaço.
2) Deus é onipresente, i. e. Deus está em todos os lugares.
As palavras proferidas por Jacó depois do sonho com a escada do céu: “Realmente, Deus está neste lugar e eu não sabia”, podem ser aplicadas a todos os lugares. Representa-se simbolicamente a onipresença de Deus por um olho encerrado num triângulo, donde partem raios para todas as direções. Assim como o pensamento está no seu espírito, o mundo todo está em Deus. Quem na tentação se lembrar da onipresença de Deus, como o fez José do Egito, toma horror ao pecado. Lembra-te, onde quer que estiveres, que Deus está próximo.
3) Deus é imutável, i. e., Deus permanece constantemente igual.
Dá-se com Deus o mesmo que com a verdade. Esta (p. ex. 2x2 = 4) não se pode alterar. Da própria eternidade de Deus resulta que ele deve ser imutável; pois uma coisa que muda, torna-se diferente do que era; deixa, portanto, de ser eterna. Por conseguinte, Deus nada pode adquirir nem perder. Por mais que Deus ora castigue ora premia, contudo não se altera, tão pouco como o sol, cuja luz, coada por vidros de diferentes cores, toma cores diferentes. Deus, na criação do mundo, não mudou, portanto apenas executava o que desde toda a eternidade resolvera. Tão pouco mudou, operando a Redenção, como também não muda o pensamento quando revestido de palavras.
4) Deus é onisciente, i. e., Deus sabe tudo: o passado, presente e futuro, e mesmo os nossos pensamentos mais secretos.
Cristo previa a negação de S. Pedro; igualmente a destruição de Jerusalém. Não raro, dizia aos homens os pensamentos deles. De modo mais claro, porém, manifestar-se-á a onisciência de Deus no dia do Juízo. Deus que nos deu a vista, haveria de não nos ver? Ele que nos deu o ouvido, não nos ouviria? Onde quer que eu esteja, o que quer que eu faça, sempre Deus me observa. Há uma vista a qual nada escapa, nem sequer o que se pratica na escuridão da noite.
5) Deus é sapientíssimo, i. e., Deus sabe dispor tudo de modo a conseguir o seu fim.
1) O que Deus visa em tudo é a Sua própria glorificação e o bem de Suas criaturas. 2) Revela-se particularmente a sabedoria de Deus na criação e na vida dos santos, p. ex. na de José do Egito. Deus sabe servir-se de coisas insignificantes, para operar grandezas. Sabe até aproveitar-se do mal para o bem.
6) Deus é onipotente, i. e., pode fazer tudo o que quer.
É na criação e nos milagres de Jesus Cristo que se manifesta particularmente a onipotência de Deus. Diz a s. Escritura: “O firmamento anuncia o poder de suas mãos”. Onipotente que é, pode Deus auxiliar-nos mesmo na maior das necessidades, pois pode operar um milagre. É o que se depreende da libertação de S. Pedro do cárcere, e da dos três jovens da fornalha ardente. O que a nós, homens, parece impossível, é possível a Deus. Eis porque Jesus diz que “perante Deus tudo é possível”. Não há nada tão grande e difícil que Deus fosse incapaz de fazer.
7) Deus é sumamente bondoso, i. e., ama-nos mais do que um pai ama os filhos.
Um pai estremece o filho; mais ainda vos ama o Pai do Céu. 1) O amor de Deus manifesta-se esplendorosamente no fato de ter entregue por nós seu próprio filho. Por isso diz Jesus: “Tanto amou Deus o mundo que entregou o seu próprio unigênito.” 2) Patenteia-se também o amor de Deus nos muitos benefícios que Ele nos dispensa. O que eu sou e o que possuo, tudo é dom de Deus, meu Pai. 3) A atitude do Crucificado ilustra adoravelmente o grande amor de Deus por nós. Sto. Agostinho comenta assim: “Ele traz a cabeça inclinada para nos beijar, estendidos os braços para nos abraçar, aberto o coração para nos amar.” Por ser bondoso, Deus é também longânime e misericordioso.
8) Deus é longânime, i. e., dá tempo, muito tempo, às vezes, para que o pecador se converta.
Os homens vingam-se logo que são ofendidos. Deus não. Ele é como uma boa mãe, que procura acalmar o filho renitente. Aos contemporâneos de Noé, Deus concedeu 120 anos; À cidade de Nínive, 40 dias, para se converterem. Já por nos ter remido, tem Ele tanta paciência conosco. Ninguém joga fora o que comprou caro, mas procura, antes, remediar-lhe algum defeito.
9) Deus é misericordioso, i. e., gosta de perdoar ao pecador que se arrepende e que promete emenda de seus pecados.
Na parábola do filho pródigo e na indulgência do bom ladrão, Jesus Cristo demonstra a grande misericórdia divina. A Igreja reza: “Ó Deus que costumas sempre ter compaixão e perdoar...” Se Deus nos manda perdoar 70 x 7 aos que nos ofendem, como não há de ser ele mais indulgente?
10) Deus é santíssimo, i. e., ma o bem e detesta o mal.
Os pagãos julgavam os seus deuses viciosos e protetores dos vícios. Não é assim o verdadeiro Deus: é isento de qualquer mácula. Por isso cantam-lhe os anjos do céu: “Santo, santo, santo...” Sê santo e puro, e serás querido de Deus!
11) Deus é sumamente justo, i. e., premia o bem e castiga o mal.
1) No dilúvio, Deus castigou os homens pecadores e salvou Noé. Castigou Sodoma, mas salvou Ló. 2) Deus costuma punir os homens por onde eles pecaram. Diz assim a s. Escritura: “Naquilo que alguém peca, nisso será punido”. Absalão gabava-se de sua farta cabeleira; foi exatamente por ela que ele pereceu, preso a uns galhos. Antioco mandou retalhar os corpos dos judeus, entre os quais os dos irmãos Macabeus e da mãe destes; pois Antioco morreu comido por vermes. O rico avarento pecara pela língua, dela é que ele foi sofrer mais no inferno. 3) Não é, todavia, neste mundo que se faz perfeita retribuição; esta só se dá verdadeiramente depois da morte. Muitos que hoje são os primeiros, serão então os últimos. É o que se percebe na parábola do rico avarento. 4) Por Deus ser sumamente justo, devemos temê-lo. Diz a s. Escritura que “o temor de Deus é o inicio da sabedoria”.
12) Deus é veraz, i. e., não revela senão a verdade.
Deus não pode errar, nem mentir. Há de se realizar, pois, tudo quanto Deus revelou; portanto, é verdade que continuaremos vivendo depois da morte, e que ressurgiremos um dia.
13) Deus é fiel, i. e., cumpre o prometido e executa as suas ameaças.
Prova-o o embargo da reedificação do templo de Jerusalém no ano de 361, sob o governo do imperador Juliano. Céus e terra passarão, não passará, porém, a palavra de Deus.