Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
III - Do sustento
Desde
que a criança já não carece do leite materno, é preciso que o seu sustento seja
quanto possível são e abundante, mas sem profusão e sem vã delicadeza, como diz
o Snr. Bispo de Orleans. Privar a criança dos alimentos substanciais
necessários ao seu desenvolvimento físico é condená-la a ficar sempre sem
vigor. É fato que se devem abster de lhe dar de comer todas as vezes que o
pedir, pois seria um abuso tão condenável, como deixá-la sofrer fome. «É preciso,
pelo contrário, diz Fénelon, regular por forma tal as suas comidas, que coma
muitas vezes, em proporção da necessidade; que não coma fora das suas
refeições, porque é sobrecarregar o estômago, enquanto a digestão não está
acabada; que não coma nada que a excite a comer além do necessário, e que a
desgoste dos alimentos mais convenientes à saúde; e que enfim lhe não sirvam
muitas coisas diferentes, porque a variedade das carnes que vêem uma atrás da
outra, sustenta o apetite depois de satisfeita a necessidade de comer.
S.
Jerônimo tinha escrito no mesmo sentido a uma senhora romana: «Que o alimento
de sua filha seja simples; lhe dizia ele, dê-lhe costumes de temperança, e que
se levante da mesa, antes de estar completamente saciada.»
A
história de Santa Mônica diz-nos a que austero regime ela foi submetida, desde
a infância. Nos primeiros anos, fora das horas em que se servia o seu modesto
repasto à mesa de seus pais, ainda que estivesse devorada de sede, a sua
governanta não lhe permitia nunca beber uma gota de água, a fim de habituá-la à
sobriedade, à penitência, à força da alma, e ao espírito de Sacrifício.
Para
evitar que seus filhos se entregassem à sensualidade, M.me Acarie fazia servir
à mesa comidas comuns, e quase sempre um só prato. Exigia ainda que nunca
dissessem o seu gosto, e que nunca se fizessem exigentes. Uma de suas filhas, de
dez anos de idade, tendo dito um dia que não gostava de certa comida, a mãe lha
fez dar a todas as refeições, durante quinze dias. A criança ficou tão
castigada, que nunca mais se desgostou de nada que se servisse à mesa. A sua
segunda filha gostava de fruta, mas a mãe, para lhe ensinar a temperar os
desejos, tornava-lhe a pedir os frutos que lhe tinha dado; ou, se notava que os
comia muito depressa, fazia-lhe imediatamente retirar tudo diante de si.
Tais
exemplos condenam energicamente essas mulheres, que, nos nossos dias, fazem
consistir toda a ternura para com os filhos, nas gulodices que lhes dão.
Vivendo no hábito de tudo conciliarem entre si, fazem servir à mesa comidas de
toda a qualidade. As crianças estão presentes; passeiam uma vista ávida sobre
todas essas superfluidades, e quando têm o estômago saciado, ainda não saciaram
o desejo de gozar. A mãe de família nas aldeias vê-se obrigada a banir da sua
mesa frugal essa variedade supérflua, mas permite que seus filhos comam a toda
a hora, e com uma avidez muitas vezes inconveniente. É pois útil dizê-lo aqui,
indo buscar as palavras ao Espírito Santo: Quem ama os festins, ficará na indigência...
A intemperança levou ao túmulo grande número de pessoas; e quem se preservar
das suas investidas terá uma longa vida. Uma dor que expulsa o sono atormenta
quem comeu demasiadamente, enquanto que um sono benfazejo faz descansar quem
sabe moderar-se no uso da sua comida. Funesta à saúde, a intemperança faz
também adormentar o espírito; abate a alma e tira-lhe toda a atividade. O
estudo e o trabalho tornam-se, para a criança desregrada nas comidas um fardo,
que é incapaz de sustentar. Desenvolvem-se nela as paixões com uma facilidade
espantosa, e não encontram resistência viva que as reprima. A castidade,
companheira e irmã da temperança, poderia estabelecer o seu império na alma da
criança, cuja mãe, muito fraca, lhe lisonjeia a gulodice?
Ajuntemos
ainda com o Espírito Santo, que a moderação no beber faz a saúde da alma e do
corpo. Também S. Jerônimo na sua carta a Laeta, nobre viúva romana, lhe
recomendava que acostumasse sua filha a privar-se de beber vinho.
Este
conselho seria certamente pouco estimado pelos pais que vêem com uma louca e
grosseira alegria os seus filhinhos despejar um copo de vinho puro, ou de
licor, sem preverem as conseqüências que podem ter tais hábitos contraídos
desde a infância[1] .
Terminando
este capítulo, inútil será exortar uma mulher cristã a repetir muitas vezes a
seus filhos estas palavras dos nossos santos livros: Quando tiverdes comido e
estiverdes satisfeitos, não vos esqueçais do Senhor vosso Deus. O cão tem uma
carícia, para quem lhe atira um pouco de pão; e, coisa triste é dizê-lo, há
famílias, onde se come o alimento que Deus dá, sem que ofereçam da sua parte a
este bom Senhor um ato de reconhecimento. E estas famílias dizem-se cristãs!...
Nota:
[1] «A água fortifica o estômago e o corpo da criança, enquanto que o vinho debilita
um e outro.» Hufeland, citado pelo abade Collomb.