terça-feira, 16 de julho de 2013

IGREJA INFALÍVEL

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

IGREJA INFALÍVEL[1]
3 de Setembro de 1945

Instituindo a Sua Igreja, Jesus Cristo comunicou aos apóstolos a prerrogativa da infalibilidade, em matéria de fé e de costumes. Ensinando, pois, eles não podiam errar.  

Examinemos a questão. — Desde o começo de sua missão, vê-se claramente que o divino Mestre preparava a criação de uma autoridade infalível.

Chamou alguns discípulos para o seguirem mais de perto, mudando-os de pescadores de peixes em pescadores de homens, isto é, pregadores do Evangelho. Escolheu definitivamente doze a que denominou — apóstolos — dando a primazia a um deles. Simão, que por vontade do Mestre ficou sendo Céfas — pedra ou Pedro.

Estes doze eram os companheiros assíduos em todas as excursões; e tiveram a honra de conhecer melhor os desígnios do Cristo, Sua doutrina e Seus mistérios. E certos pontos da pregação, que ao povo eram expostos em forma de parábolas, aos apóstolos Jesus falava claramente. A pregação teve inicio em missões breves, a cidades e vilas determinadas. Eram os voos de experiência. Os apóstolos iam assim pregar às ovelhas dispersas da casa de Israel. E deste modo se preparavam para a catequese do mundo universo!

Um dia Jesus lhes disse: “Recebereis a virtude do Espírito Santo, que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria e até aos confins da terra...” (At 1, 8). Essa testemunha de quem, por sua vez, afirmou “eu sou a verdade” — exclui todo erro. Pois se os apóstolos claudicassem no ensino, se errassem em matéria de fé e de costumes, ficaria inteiramente desmoralizada a palavra do Mestre, pois teria prometido expressamente o que não lhe seria possível cumprir.

Reforçando este argumento, temos a outra frase célebre de Jesus, como se lê em São Mateus, capítulo 28, vers. 18 a 20: “Todo poder me foi dado no céu e na terra; ide, pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eu estarei convosco todos os dias até à consumação dos séculos”.

Notai o emprego desta expressão de reforço: “eu estarei convosco até à consumação dos séculos”. Já se entende que a assistência não sofreria solução de continuidade; mas Ele acrescenta: “todos os dias”, para que não houvesse a menor dúvida a respeito da infalibilidade, em matéria de fé e de costumes.

Encontrareis ainda em São Marcos esta outra passagem que confirma a doutrina que estarei estudando: “Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado” (Me 16, 16).

Ninguém pode ser obrigado a crer, sob pena de condenação, numa doutrina que pode ser errô­nea, falsa.

Os privilégios que Jesus Cristo concedeu aos apóstolos não morreram com eles. Concedeu-os não só aos apóstolos como pessoas físicas, mas também aos seus sucessores, no ofício de ensinar e reger a Igreja, sem perigo de cair em erro.

Se Jesus prometeu Sua assistência aos apóstolos até à consumação dos séculos, é claro que teve intenção de manter Sua promessa aos sucessores dos apóstolos, até ao fim dos tempos.

Lembro aqui o texto que citei anteriormente do capítulo 20.° dos Atos dos Apóstolos: “Zelai por vós mesmos, diz São Paulo, e por todo o rebanho do qual o Espírito Santo vos constituiu Bispos para regerdes a Igreja de Deus, que o Cristo conquistou com seu próprio sangue”.

Os Bispos a que se refere São Paulo já tinham sido criados pelos apóstolos. Entretanto, era a mesma Igreja de Deus, a sociedade dos remidos pelo sangue do Cordeiro. — A humanidade, todavia, tinha de seguir sempre o mesmo roteiro, em matéria de fé e de costumes. E sempre está sujeita ao erro. Impõe-se, portanto, a conclusão lógica: a Igreja é assistida pelo Cristo. Conduz seus filhos sem perigo de erro, para a Bem-aventurança. Cumprirá sua missão até ao fim dos tempos!



[1] Sobre “infalibilidade” — ver meu livro “O Decálogo” páginas 202 a 218.