A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
IGREJA
INFALÍVEL[1]
3
de Setembro de 1945
Instituindo
a Sua Igreja, Jesus Cristo comunicou aos apóstolos a prerrogativa da
infalibilidade, em matéria de fé e de costumes. Ensinando, pois, eles não
podiam errar.
Examinemos
a questão. — Desde o começo de sua missão, vê-se claramente que o divino Mestre
preparava a criação de uma autoridade infalível.
Chamou
alguns discípulos para o seguirem mais de perto, mudando-os de pescadores de
peixes em pescadores de homens, isto é, pregadores do Evangelho. Escolheu
definitivamente doze a que denominou — apóstolos — dando a primazia a um deles.
Simão, que por vontade do Mestre ficou sendo Céfas — pedra ou Pedro.
Estes
doze eram os companheiros assíduos em todas as excursões; e tiveram a honra de
conhecer melhor os desígnios do Cristo, Sua doutrina e Seus mistérios. E certos
pontos da pregação, que ao povo eram expostos em forma de parábolas, aos
apóstolos Jesus falava claramente. A pregação teve inicio em missões breves, a
cidades e vilas determinadas. Eram os voos de experiência. Os apóstolos iam
assim pregar às ovelhas dispersas da casa de Israel. E deste modo se preparavam
para a catequese do mundo universo!
Um
dia Jesus lhes disse: “Recebereis a virtude do Espírito Santo, que descerá
sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na
Samaria e até aos confins da terra...” (At 1, 8). Essa testemunha de quem, por
sua vez, afirmou “eu sou a verdade” — exclui todo erro. Pois se os apóstolos claudicassem
no ensino, se errassem em matéria de fé e de costumes, ficaria inteiramente
desmoralizada a palavra do Mestre, pois teria prometido expressamente o que não
lhe seria possível cumprir.
Reforçando
este argumento, temos a outra frase célebre de Jesus, como se lê em São Mateus,
capítulo 28, vers. 18 a 20: “Todo poder me foi dado no céu e na terra; ide,
pois, ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo; ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eu estarei convosco
todos os dias até à consumação dos séculos”.
Notai
o emprego desta expressão de reforço: “eu estarei convosco até à consumação dos
séculos”. Já se entende que a assistência não sofreria solução de continuidade;
mas Ele acrescenta: “todos os dias”, para que não houvesse a menor dúvida a respeito
da infalibilidade, em matéria de fé e de costumes.
Encontrareis
ainda em São Marcos esta outra passagem que confirma a doutrina que estarei estudando:
“Quem crer e for batizado, será salvo; quem não crer, será condenado” (Me 16,
16).
Ninguém
pode ser obrigado a crer, sob pena de condenação, numa doutrina que pode ser errônea,
falsa.
Os
privilégios que Jesus Cristo concedeu aos apóstolos não morreram com eles. Concedeu-os
não só aos apóstolos como pessoas físicas, mas também aos seus sucessores, no
ofício de ensinar e reger a Igreja, sem perigo de cair em erro.
Se
Jesus prometeu Sua assistência aos apóstolos até à consumação dos séculos, é
claro que teve intenção de manter Sua promessa aos sucessores dos apóstolos,
até ao fim dos tempos.
Lembro
aqui o texto que citei anteriormente do capítulo 20.° dos Atos dos Apóstolos: “Zelai
por vós mesmos, diz São Paulo, e por todo o rebanho do qual o Espírito Santo
vos constituiu Bispos para regerdes a Igreja de Deus, que o Cristo conquistou
com seu próprio sangue”.
Os
Bispos a que se refere São Paulo já tinham sido criados pelos apóstolos.
Entretanto, era a mesma Igreja de Deus, a sociedade dos remidos pelo sangue do
Cordeiro. — A humanidade, todavia, tinha de seguir sempre o mesmo roteiro, em
matéria de fé e de costumes. E sempre está sujeita ao erro. Impõe-se, portanto,
a conclusão lógica: a Igreja é assistida pelo Cristo. Conduz seus filhos sem
perigo de erro, para a Bem-aventurança. Cumprirá sua missão até ao fim dos
tempos!
[1] Sobre “infalibilidade” — ver meu livro “O Decálogo” páginas 202 a 218.