A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
ORDEM
25
de Julho de 1940
Vamos
começar hoje o estudo do sexto Sacramento — a Ordem.
Definamo-lo:
é um Sacramento da Nova Lei, pelo qual se dá um poder espiritual e se confere a
graça para consagrar a Eucaristia e exercer, segundo o rito, outros múnus
eclesiásticos.
Vê-se
logo que por este Sacramento não só se confere a graça, mas também um poder
verdadeiramente ativo; — que tal graça e poder se conferem especialmente para
consagrar a Eucaristia; — que secundariamente tal graça e poder concernem à
administração dos outros Sacramentos e ao desempenho de vários múnus sagrados.
A
ordem sacra é um verdadeiro Sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus
Cristo. — É o que nos ensina o Concílio de Trento.[1]
Tanto
no Antigo Testamento como em o Novo, sempre existiu um sacerdócio visível, que
não competia a todos, mas somente aos que eram designados e consagrados para
esse fim.
Figura
do sublime sacerdócio que Jesus havia de instituir, o sacerdócio do Antigo
Testamento constituía uma honra insigne para quem o exercia. Eram varões
privilegiados, aos quais Deus manifestava a sua vontade e comunicava poderes
especiais.
Em
o Novo Testamento, os apóstolos, primeiros sacerdotes da Nova Aliança, são
expressamente chamados pelo divino Mestre. “Vinde comigo, eu vos farei
pescadores de homens” (Mt 4, 19; Me 1, 16-20). — “Não fostes vós que me escolhestes;
mas sim eu que vos escolhi” (Jo 15, 16). Eis a vocação, a predileção, a
designação para uma especial e divina missão: pescadores de homens, chamados
nominalmente para tal, chamados de um modo que Jesus empregou exclusivamente
para a instituição do seu bem-amado sacerdócio!
E
na Ceia última, na hora sagrada das grandes revelações, das maiores
demonstrações de amor, Jesus diz de modo claro e insofismável aos privilegiados
convivas do Cenáculo: “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 24).
— Referia-se à consagração do pão e do Cálice com vinho. Referia-se à divina
Eucaristia que Ele confiava aos Seus sacerdotes — para que, até à consumação
dos séculos, eles fizessem o que o mesmo Cristo estava fazendo! Confiava-lhes,
portanto, a confecção e a guarda do Sacramento do seu Corpo, Sangue, alma e
divindade!Depois, quando a doutrina já estava confirmada e selada pelo
estupendo milagre da ressurreição, Jesus lhes comunica outros poderes: “Recebei
o Espírito Santo. Aqueles a quem vós perdoardes os pecados, tais pecados serão
perdoados; aqueles a quem vós os retiverdes, tais pecados serão retidos” (Jo
20, 22-23). Que maravilhosos poderes!
Pela
história dos primórdios do Cristianismo, vemos que os apóstolos consagravam ao
serviço novos sacerdotes, impondo-lhes as mãos e transmitindo poderes (At 6, 6;
13, 3; 14, 23; 1 Tim 4, 14; 2 Tim 1, 6, etc.). Era que o Sacerdócio devia ser
perpétuo, perpetuando a Igreja para sempre. E Jesus prometera assistir esta
mesma Igreja até à consumação dos séculos.
Um
exame cuidadosa da história da cristandade projeta luz esplêndida sobre o
sacerdócio, desde o Cenáculo de Jerusalém, até aos nossos dias!
Nota:
__________
[1] Sessão XXIII, cap. III.