terça-feira, 23 de julho de 2013

IGREJA VISÍVEL

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
IGREJA VISÍVEL
10 de Setembro de 1945

Do que já vimos, estudando a Igreja, decorrem três corolários: a Igreja fundada por Jesus é visível, indefectível, completa. Vejamos o primeiro. A Igreja é visível não só materialmente, porque consta de membros visíveis, mas também formalmente, ou na sua constituição, enquanto pode distinguir-se de toda e qualquer outra associação, como verdadeira e única Igreja fundada por Jesus Cristo.

Há, todavia, na Igreja, dois elementos: um interno e invisível — que é a graça de Deus, pela qual se aperfeiçoam e santificam as almas. E esta graça é comunicada, de modo especial, pelos Sacramentos.

O elemento visível aparece claramente na instituição e organização da Igreja. Jesus Cristo conferiu a Pedro, aos apóstolos e a seus sucessores —autoridade necessária para que eles continuassem a obra do divino Fundador, ensinando, batizando e dirigindo o rebanho que por tanto tempo estivera sem Pastor. Pedro recebe o comando supremo da Igreja, da qual o Mestre o fez pedra angular. Os Papas, como sucessores de Pedro, têm as mesmas prerrogativas, como já vos demonstrei.

Os apóstolos e os Bispos atuais têm a autoridade precisa para o desempenho do seu múnus.

Neste elemento visível encontramos o “magis­tério infalível”, de onde se deriva a unidade da fé; e o mando supremo, com suas leis e sanções, de onde se deriva a unidade de regime.

Prova-se esta asserção pela mesma instituição da Igreja. — “Ide, ensinai, batizai!” — Ordenou a todos os apóstolos quem podia dar essa ordem impressionante, que indicava o universo como arena dos trabalhos e das lutas missionárias. Línguas, fronteiras, raças, posições sociais... tudo isso desaparece quando se trata de estabelecer e difundir o reino de Cristo!

Pedro, entretanto, recebe prerrogativas espe­ciais: ele é pedra fundamental, — recebe as chaves do Reino. — Jesus lhe outorga o poder de ligar e desligar. — Por isso assevera Tanquerey, em seu Tratado Dogmático — “o colégio dos Bispos, sob as ordens do Romano Pontífice, tem autoritativamente o poder de ensinar e de fazer leis, e por isso mesmo de ligar todos os fiéis da Igreja com suas definições e decretos, de maneira que todo aquele que pertinazmente se recusar decer-lhes, deixa, desde logo, de ser membro Igreja”.

E isto mesmo se vê pelo nascimento e progres­so da Igreja. Os apóstolos, iluminados e transformados pelo Espírito Santo, pregam visivelmente e visivelmente unem, pelo batismo, os néo-convertidos, à primitiva cristandade. Quando surgem as primeiras dificuldades, reúne-se um concílio visível em Jerusalém; e os apóstolos elaboram um decreto de direito público. — Numa palavra, desde o início é visível a regra de fé, a saber: a autoridade dos Pastores; o regime, ao qual judeus e gentios são obrigados a obedecer; o sacerdócio visível: Bispos, Presbíteros e diáconos ordenados pela imposição das mãos.

Às mesmas conclusões chegamos nós, focalizando o próprio fim da Igreja. Esta foi instituída para dirigir os cristãos ao seu último fim, ensinando-lhes a sã doutrina, fazendo leis justas e adequadas. E se a Igreja não fosse visível, como poderiam os fiéis estar certos de ser membros da verdadeira Igreja? Como conheceriam seus legítimos Pastores, para lhes prestar obediência? — “Nada se pode comunicar aos homens, se não por meio das coisas externas que são percebidas pelos sentidos” — é o que ensina Leão XIII.[1]

Foi por isso que o Verbo divino se fez homem, para ensinar sua doutrina aos homens, fundando uma Igreja visível, para manter e propagar esta doutrina, sempre a mesma, até à consumação dos séculos.

Nota:
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[1] Encíclica “Satis cognitum”, 29 de Junho de 1896.