A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
IGREJA
VISÍVEL
10
de Setembro de 1945
Do
que já vimos, estudando a Igreja, decorrem três corolários: a Igreja fundada
por Jesus é visível, indefectível, completa. Vejamos
o primeiro. A Igreja é visível não só materialmente, porque consta de membros
visíveis, mas também formalmente, ou na sua constituição, enquanto pode
distinguir-se de toda e qualquer outra associação, como verdadeira e única
Igreja fundada por Jesus Cristo.
Há,
todavia, na Igreja, dois elementos: um interno e invisível — que é a graça de
Deus, pela qual se aperfeiçoam e santificam as almas. E esta graça é
comunicada, de modo especial, pelos Sacramentos.
O
elemento visível aparece claramente na instituição e organização da Igreja.
Jesus Cristo conferiu a Pedro, aos apóstolos e a seus sucessores —autoridade
necessária para que eles continuassem a obra do divino Fundador, ensinando,
batizando e dirigindo o rebanho que por tanto tempo estivera sem Pastor. Pedro
recebe o comando supremo da Igreja, da qual o Mestre o fez pedra angular. Os
Papas, como sucessores de Pedro, têm as mesmas prerrogativas, como já vos
demonstrei.
Os
apóstolos e os Bispos atuais têm a autoridade precisa para o desempenho do seu
múnus.
Neste
elemento visível encontramos o “magistério infalível”, de onde se deriva a
unidade da fé; e o mando supremo, com suas leis e sanções, de onde se deriva a
unidade de regime.
Prova-se
esta asserção pela mesma instituição da Igreja. — “Ide, ensinai, batizai!” —
Ordenou a todos os apóstolos quem podia dar essa ordem impressionante, que
indicava o universo como arena dos trabalhos e das lutas missionárias. Línguas,
fronteiras, raças, posições sociais... tudo isso desaparece quando se trata de
estabelecer e difundir o reino de Cristo!
Pedro,
entretanto, recebe prerrogativas especiais: ele é pedra fundamental, — recebe
as chaves do Reino. — Jesus lhe outorga o poder de ligar e desligar. — Por isso
assevera Tanquerey, em seu Tratado Dogmático — “o colégio dos Bispos, sob as
ordens do Romano Pontífice, tem autoritativamente o poder de ensinar e de fazer
leis, e por isso mesmo de ligar todos os fiéis da Igreja com suas definições e
decretos, de maneira que todo aquele que pertinazmente se recusar decer-lhes,
deixa, desde logo, de ser membro Igreja”.
E
isto mesmo se vê pelo nascimento e progresso da Igreja. Os apóstolos,
iluminados e transformados pelo Espírito Santo, pregam visivelmente e
visivelmente unem, pelo batismo, os néo-convertidos, à primitiva cristandade.
Quando surgem as primeiras dificuldades, reúne-se um concílio visível em
Jerusalém; e os apóstolos elaboram um decreto de direito público. — Numa
palavra, desde o início é visível a regra de fé, a saber: a autoridade dos
Pastores; o regime, ao qual judeus e gentios são obrigados a obedecer; o
sacerdócio visível: Bispos, Presbíteros e diáconos ordenados pela imposição das
mãos.
Às
mesmas conclusões chegamos nós, focalizando o próprio fim da Igreja. Esta foi
instituída para dirigir os cristãos ao seu último fim, ensinando-lhes a sã
doutrina, fazendo leis justas e adequadas. E se a Igreja não fosse visível,
como poderiam os fiéis estar certos de ser membros da verdadeira Igreja? Como
conheceriam seus legítimos Pastores, para lhes prestar obediência? — “Nada se
pode comunicar aos homens, se não por meio das coisas externas que são
percebidas pelos sentidos” — é o que ensina Leão XIII.[1]
Foi
por isso que o Verbo divino se fez homem, para ensinar sua doutrina aos homens,
fundando uma Igreja visível, para manter e propagar esta doutrina, sempre a
mesma, até à consumação dos séculos.
Nota:
_____________
[1]
Encíclica “Satis cognitum”, 29 de Junho de 1896.