A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
MATÉRIA
DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA
15
de Julho de 1940
Vamos
estudar hoje o Sacramento da Penitência, propriamente dito.
Dois
são os sacramentos chamados “de mortos”: o batismo e a Penitência, pois são os
únicos que podem ser recebidos estando a alma morta pelo pecado. O primeiro é
necessário para todos; o segundo, para os que laboram em falta grave.
O
Concilio Tridentino apresenta estas verdades, declarando-as de fé. Nenhum
católico pode, portanto, rejeitá-la ou pô-las em dúvida.
Na
Confissão há, como em todos os Sacramentos, o sinal sensível: a manifestação
dos pecados e a sentença do juiz — um verdadeiro tribunal, correspondendo
exatamente às palavras da instituição. — Há também a graça comunicada pela
absolvição: “aqueles a quem perdoardes os pecados, tais pecados lhes serão
perdoados”. — Finalmente a instituição divina, em caráter permanente,
manifesta-se nas mesmas palavras do divino Mestre.
A
matéria remota da Penitência são todas as faltas cometidas depois do Batismo.
As faltas graves constituem matéria necessária, isto é, obrigatória. As
faltas leves são matéria suficiente e livre. Sendo as primeiras matéria
obrigatória, um pecado mortal oculto voluntariamente na confissão torna-a
inteiramente nula.
A
matéria próxima consta de 3 atos: contrição, confissão e satisfação. Assim o
declararam dois concílios — o de Florença[1] e o de Trento[2].
Ter
contrição é detestar os pecados cometidos com o propósito de não tornar a
cometê-los.
Mais
de uma vez lemos nos Evangelhos estas palavras de Jesus, perdoando o pecador:
“vai e não peques mais” (Jo 5, 14 e 8, 11).
Note-se
a delicadeza da expressão: propósito de não pecar — e não promessa, nem
juramento. Basta uma disposição série, sincera, de não voltar ao mesmo estado
de que se acaba de sair, para se receber, com a absolvição, a graça
santificante, perdida pela culpa.
A
confissão consiste em declarar ou acusar todas as faltas graves, sem omitir ou
atenuar nenhuma. Pois, como ficou dito, ocultar voluntariamente um pecado grave
é expor o sacramento à nulidade, acrescentando mais esta às faltas já
existentes.
Vê-se
logo a importância do exame de consciência, que deve preceder a confissão.
Retire-se o fiel a um lugar que convide ao recolhimento e a oração. Peça a Deus
que venha em seu auxílio.
Passe
em revista a sua vida, com cuidado e lealdade. Depois disso não irá dizer o que
diz muita gente presumida, ao acercar-se do sacerdote confessor: eu não tenho pecados:
não mato, não roubo, não faço mal a ninguém... — O melhor sistema de
confessar-se é declarar cada um os próprios pecados, conforme o exame que
anteriormente fez, sem esperar que o sacerdote o interrogue.
A
satisfação consiste na penitência imposta pelo confessor e que deve ser aceita
e executada fielmente quanto antes.
Nos
tempos antigos a penitência era pública e ordinariamente pesada. A bondade
maternal da Igreja foi mitigando as penas, reduzindo-as a orações mais ou menos
longas e a certos atos que são executados sem grave incômodo: audição da missa,
jejum, abstinência, esmolas, visita a um templo e outros semelhantes.
Notas:
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[1] Decretum ad Armenos.
[2] Sess. XIV, c. IV, cap. 3.