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Fr. Manuel Sancho,
Exercícios Espirituais para Crianças
1955
PARTE PRIMEIRA
A conversão da vida do pecado à vida da graça
(Vida Purgativa. — 1.ª semana)
4.
— Entre os santos em que trasborda a Igreja, e que antes de serem grandes
santos foram grandes pecadores, um deles é S. Pedro Armengol. Este santo era da
família dos Condes de Urgel, pertencentes à melhor nobreza catalã. Seus pais
eram honrados e mui cristãos, e criavam seu filho no santo temor de Deus, coisa
de que o santo deu provas desde menino. Mais tarde, esquecido de tão bons
começos, começou a entregar-se ao vício, e, à medida que sua juventude avançava,
sua vida tornava-se mais perdida.
Um
dia, caçando, matou um javali sobre o qual alegava direitos outro caçador que
também dizia havê-lo morto. Discutiram, acenderam-se os ânimos, vieram às mãos,
separaram-nos à viva força. Armengol retirou-se da caça ardendo em desejos de
vingança.
Desse
acontecimento veio a sua total ruína. Reuniu gente perdida e constituiu-se
chefe de uma quadrilha de bandidos. Praticou crimes, consumou vinganças, praticou
vários malfeitos.
O
pai, que estava pesarosíssimo com aquela vida desastrosa de seu filho, foi
enviado pelo rei à montanha para perseguir os bandos de malfeitores que
infestavam o país. Numa das batidas que Arnaldo, que assim se chamava o pai de
Armengol, deu pela montanha, topou com o bando comandado por seu filho.
Viram-se frente a frente o filho e o pai, de espadas desembainhadas. Pedro
Armengol, ferido por um raio da graça divina, qual novo filho pródigo, disse
atirando fora a espada e atirando-se ele mesmo aos pés de Arnaldo:
Pai,
perdão!
O
pai abraçou chorando o chefe de bandidos e levou-o para Barcelona. Pleiteou do
rei o perdão para seu filho, perdão que o Monarca concedeu de bom grado.
Mas
não parou nisto a conversão desse pródigo. O chefe de bandidos meditava na sua
alma uma conversão mais profunda. Um dia entrou no templo das Mercês de
Barcelona. Um religioso mercedário, Frei Raimundo de Coebera, que morreu em
fama de santidade, pregava fervorosamente quando Pedro Armengol entrou no
templo. Como setas inflamadas, as palavras do santo religioso penetraram no
coração de Pedro, e ali, diante da Virgem das Mercês, prometeu entregar-se como
seu filho e começar deveras uma vida exemplar de santificação e de penitência.
Como
o prometeu o cumpriu. Pediu o hábito branco ao Mestre Geral das Mercês, e
entrou para aquela sagrada Ordem.
Uma
vez religioso, deu-se à penitência, e ao domínio das suas paixões, e à
aquisição das virtudes mais heróicas, merecendo ser enforcado por Cristo e ser
sustentado na forca, para que não morresse, pela própria Rainha do Céu. Os anos
que ele sobreviveu ao seu martírio foram mais de anjo do que de homem, pela
vida contemplativa que levava, morrendo afinal santamente e operando Deus por
sua intercessão muitos milagres.
Já
vedes, meus filhos, como de um bandoleiro pode Deus Nosso Senhor fazer um
santo. E já vedes como há na Igreja filhos pródigos que, depois de viverem mal,
entregues aos
maiores excessos, se converteram e disseram como o filho pródigo do Evangelho:
“Levantar-me-ei e irei para a casa de meu Pai”.
Se
por desgraça houver entre vós algum réu de pecado grave, que diga também de
coração: “Levantar-me-ei e irei para a casa de meu pai”. E, se temerdes a
justiça de Deus, recorrei à Virgem Santíssima, que só sabe perdoar, e
dizei-lhe:
—
Minha Mãe, penso em fazer uma boa confissão e empreender uma vida nova, como
São Pedro Armengol. Senhora, ajudai-me a fazer um bom ato de contrição, e
depois uma confissão tal que, se eu morresse depois dela e de receber vosso
Filho na comunhão, eu fosse direitinho para o céu, a gozar convosco de Deus por
todos os séculos.
Pedi
a Ela esta mercê, rezando comigo três Ave-Marias.