quinta-feira, 25 de julho de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus - Uma palavra acerca da agricultura

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


V- Uma palavra acerca da agricultura

Seria agora ocasião de falar das diversas profissões e carreiras que podem abraçar os jovens. Se excetuarmos algumas que são marcadas de infâmia, e que, por conseguinte não podem ser escolhidas por uma mãe cristã, todas são úteis para bem da sociedade, todas têm dado eleitos ao Céu. Abster-nos-emos de tratar das vantagens e dos perigos, que cada uma delas pode oferecer. Falaremos dum estado muito desprezado, e todavia estimável, sob tantas relações. Falo da agricultura, dessa arte que se pode chamar a base da formação dos povos, a agricultura, de que todos os poetas cantaram os encantos, e que tão honrada foi por todos os povos, a ponto de ser considerada a honra da virtude. Segundo a expressão dos nossos livros santos, a agricultura foi criada pelo Altíssimo, e o próprio Deus nos proíbe de desprezá-la. É porque ela produz a saúde, a virtude, e a fé, três dos mais preciosos bens.

«A loja, o armazém, o escritório, o gabinete, são lugares bem tristes, nauseabundos e doentios!exclama um escritor contemporâneo, e quanto sofrem aí dentro encerrados esses pobres forçados que a indústria, o comércio, o estudo, e os negócios aí retêm de manhã até à noite, em que o corpo se tortura e a alma se aniquila! Mas a oficina do aldeão é a imensidade dos campos! Aí, sob a benéfica influência dum ar puro e abundante, desenvolvem-se as forças físicas do lavrador, que é sustentado por alimentos sãos, e fortificado por violentos, mas salutares labores. Por isso é que, quem quiser encontrar membros vigorosos, corpos robustos e velhos ainda ágeis e valentes, embora em avançada idade, nada mais tem do que dar um passeio pelas aldeias, e travar conhecimento com os seus habitantes.

Com a saúde, floresce muitas vezes a virtude, no seio da vida campestre. Os penosos trabalhos da agricultura, fatigando o corpo, reprimem-lhes as revoltas. A alimentação simples e frugal do lavrador deixa adormentado o fogo das paixões, que os exemplos perversos do mundo não são capazes de despertar. É também entre os lavradores que se encontra ainda viva essa fé dos nossos pais, que parece hoje prestes a extinguir-se. «Se há um fato que não sofre contestação, escreve Mgr. Plantier, é que  as povoações agrícolas são por toda a parte as mais religiosas. «Noutros estados, não sendo o homem testemunha, senão das obras do homem, esquece mais facilmente o seu Criador, cuja ação não lhe é perceptível; e, sentindo-se autor de tudo o que o rodeia, conta consigo próprio, e julga poder passar sem Deus. Mas o lavrador está sempre em face das obras maravilhosas do Criador. Todos os dias o Senhor patenteia a seus olhos os tesouros do Seu poder e da Sua misericórdia, e muitas vezes também faz estalar a Sua cólera. As flores e os frutos; as neves do inverno e os fortes calores do estio; o orvalho benfazejo e a saraiva destruidora, o sol que fecunda e a nuvem negra onde se amontoam as trovoadas, tudo isto fala de Deus ao lavrador, e lhe faz sentir a sua dependência d’Aquele de cuja misericórdia ele espera o pão de cada dia, e cuja cólera, caso se desencadeie, o deixaria sem recursos.

Além disso o lavrador, na sua aldeia, está muito mais ao abrigo da impiedade, que o habitante das cidades, porque as publicações antirreligiosas poucas vezes ali chegam. Por isso venera o sacerdote, respeita a autoridade da Igreja, cujas leis se presa de cumprir, acata a religião e os seus dogmas.

Que mais poderemos dizer acerca das consola­ções da vida dos campos, das doçuras da família, que só o lavrador sabe gozar? O que dissemos é mais que suficiente para mostrarmos quanto a agricultura é útil e digna de respeito, pelas grandes vantagens que prodigaliza — «Ó lavradores! — disse há muitos séculos um poeta, que felizes seríeis, se soubésseis apreciar todos os bens que a agricultura vos proporciona!» E, dirigindo-nos às mulheres do campo, diremos: — Nada mais podeis desejar para vossos filhos que a saúde, a virtude, e a religião, com as doçuras duma vida simples e pacífica, que a agricultura abundantemente lhes fornece. Longe, pois, de os desencaminhar, de os desviar duma profissão tão nobre e tão salutar, fazei-a amar e estimar, mostrando-lhes a sua utilidade e os seus encantos. Insuflai-lhes gosto para os trabalhos campestres, e para essa vida laboriosa e rude, que é a guarda da sua inocência. Ensinai-lhes a amarem esse campo, regado pelo suor dos seus pais, e essa choupana, onde morreram os seus avós. Inspirai-lhes aversão por essa mania, hoje tão espalhada, de fugirem para as cidades, embora haja quem lhes aconselhe erradamente a fazerem-no.

Mas hoje segue-se infelizmente outro caminho. Apenas um rapaz atinge os quinze anos, mandam-no procurar emprego para a cidade. As raparigas aban­donam o seu tugúrio, para se transformarem em aprendizas de costureira, ou em criadas de sala de qualquer casa. Ou então amontoam-nas em oficinas, sem se preocuparem do que elas aí poderão aprender, ou dos exemplos que terão diante dos olhos. Mas— dizem os pais — aí ganham mais, e com menos trabalho. Pais insensatos, que assim raciocinais! Não pensais em procurar para vossos filhos senão o bem estar material, os vestuários à moda, e uma comida mais delicada? A inocência não vale nada? E a sua salvação eterna? Pois quê! Atirais as vossas filhas para longe, para um mar tempestuoso, onde provavelmente naufragarão, e, perdida a virtude, e talvez a fé, consolais-vos com o pensamento da abundância em que vivem! São esses os vossos sentimentos cristãos?

Mas essas grandezas, esses sonhos de felicidade dificilmente se realizam, porque, se na cidade se podem encontrar empregos mais lucrativos, gasta-se também muito mais, e a saúde altera-se com muito mais facilidade.— «A vida no campo, diz um escritor, é menos brilhante, mas é mais segura e mais sólida; o dinheiro colocado na terra, está sempre na mesma; mas na indústria, passa uma borrasca e leva tudo. Há seis meses um homem era rico, hoje está crivado de dívidas. No campo, são menores as soldadas, mas podeis trabalhar todos os dias. Além disso, vem uma perturbação nos negócios, uma exuberância de produtos, e eis milhares de operários postos na rua. Hoje, nas grandes cidades, está tudo cheio de desgraçados, de pais de família que vêem agonizar os seus queridos filhos, e que nos vêem dizer: — «Salvai-me, tende piedade de meus filhos; trabalharei muito barato; mas antes quero ganhar alguns soldos do que mendigar.» — Eis o que nós vemos todos os dias, o que nos aflige. Para terminar: Onde se encontra a grande massa dos pobres? É no campo ou na cidade?»