A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
PEDRO
4
de Setembro de 1945
Continuando
o nosso estudo sobre a Igreja Católica, veremos hoje que o poder supremo de
ensinar e de governar compete a Pedro e aos seus sucessores, os Pontífices
Romanos.
É
interessante conhecer o cânon do Concílio Vaticano a esse respeito: “Ensinamos,
pois, e declaramos, conforme os testemunhos do Evangelho, que o Primado de
jurisdição sobre toda a Igreja de Deus foi imediata e diretamente prometido e
conferido por Nosso Senhor Jesus ao apóstolo São Pedro... Porém o que Jesus Cristo,
príncipe dos pastores e Pastor Supremo, estabeleceu na pessoa de S. Pedro, para
salvação perpétua e bem permanente da Igreja, deve subsistir, pela autoridade
de Cristo, na Igreja que, fundada sobre pedra, permanecerá inabalável até à
consumação dos séculos... Se, portanto, alguém disser que não e por instituição
do mesmo Cristo ou por direito divino, que São Pedro tem sucessores perpétuos
no primado sobre toda a Igreja — ou que o Pontífice Romano não é sucessor de
São Pedro no mesmo principado — seja anatematizado”.
O
Concílio menciona o Evangelho. Nesta preciosa fonte encontramos aquele célebre
episódio das cercanias de Cesaréia de Filipe, quando Jesus pergunta aos
discípulos que diziam os homens a Seu respeito e as opiniões se sucedem... O
Mestre então de novo se dirige a eles: “e vós? que dizeis de mim? quem sou eu?”
— Pedro toma a dianteira e responde: “Vós sois o Cristo, Filho de Deus vivo!”
E
Jesus: “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne nem
o sangue que te revelaram o que acabas de dizer, mas sim meu Pai que está no
céu. E eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja;
e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do
Reino dos céus. Tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus; e tudo o que
desligares na terra, será também desligado nos céus” (Mt 16, 13-20).
Estas
palavras são claras, incisivas. Quem crê nos Evangelhos, não pode, logicamente,
negar o primado de Pedro. Jesus concede graças, favores, privilégios a todos os
apóstolos. A Pedro, todavia, fala de modo diferente. Os apóstolos são colunas
da Igreja. Pedro é o fundamento, é a rocha viva, inabalável, sobre a qual o
fundador divino levanta o seu edifício que já venceu a duração de 20 séculos e
vencerá os séculos futuros, até ao fim dos tempos — A êle só foram entregues as
chaves do Reino dos Céus, símbolo do princípio e da fonte de todo poder, da
suprema autoridade. Ninguém pode ligar ou desligar por conta própria; mas única
e exclusivamente sob a dependência de Pedro, que foi quem recebeu as chaves do
Reino.
Ainda
sobre o primado de governo, temos aquela belíssima passagem em que São João descreve
a pesca miraculosa, depois da ressurreição de Jesus Cristo. — Quando os
pescadores descem na praia do lago de Genesaré, o mestre já os espera. Já lhes
preparou uma frugal refeição. Todos comem, encantados de tanta bondade. Em
seguida Jesus pergunta três vezes a Pedro se O ama, e mais do que os outros.
Depois das duas primeiras respostas afirmativas, o Mestre diz: “apascenta os
meus cordeiros”. E da terceira vez: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,
1-17). Todavia esta ordem do supremo pastoreio foi dada a Pedro,
individualmente. Jesus Cristo o constituiu pastor de cordeiros e de ovelhas, de
todo o rebanho. Em uma palavra, Pedro é nomeado pelo divino Fundador da Igreja,
pastor do rebanho e chefe de todos os Pastores.