CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO
Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937
CONCLUSÃO
102.
— Conheceis, jovem amigo, o que o Evangelho refere dos Magos do Oriente que
vieram em Belém para adorar o Menino Jesus.
Uma
estrela brilhou no céu. Ao redor deles talvez ninguém a reparasse.
Reconheceram-na eles, porém, como o sinal do Deus e disseram uns aos outros: «É
o sinal do grande rei: vamos oferecer-lhe nossos presentes.»— Com efeito,
seguiram a estrela que os guiou até o presépio onde repousava o Menino Deus: «Ali,
entraram em casa, prostraram-se aos pés de Jesus e Lhe ofereceram seus
tesouros, ouro, incenso e mirra.»
Jesus,
uma vez descoberto e adorado, «voltaram eles para sua terra seguindo caminhos
novos,» e a tradição conta que perante seus concidadãos foram os primeiros
apóstolos do Evangelho.
Toda
vossa própria história se resume nestas poucas palavras.
Vistes
no céu brilhar a estrela do grande Rei. Vossos amigos não perceberam a mesma
luz, porque Deus não concedeu a todos semelhantes privilégios. Por uma graça
especial, o astro divino feriu-vos as vistas, a voz divina ressoou até vosso
coração e dissestes: «Seguirei a estrela e irei até os pés do grande Rei que me
chama.» E desde então resolvestes fazer as primeiras tentativas para satisfazer
o imperioso dever de vosso coração. Agora que encontrastes Aquele que a estrela
designava, agora que estais aos pés do Cristo Jesus, agora que estais seguro de
vossa vocação, abri todos vossos tesouros; dai tudo: o espírito, o coração, a
vontade, o próprio corpo; Deus gosta de possuir todas vossas faculdades; quer
tê-las todas para empregá-las na mais bela das causas. Durante o período da
formação, sede totalmente «entregue á graça de Deus.»
E
depois de conhecer e adorar o Rei Jesus, depois de Lhe dar tudo, depois de
aprender os segredos e experimentar a poderosa ação d’Ele, ireis, por caminhos
novos, pregá-lO entre o povo. Nestes labores do apostolado, longe das doçuras
inefáveis do primeiro encontro com Jesus, trabalhareis sem cansaço, sem
desânimo.
Enfim na extremidade do caminho que seguireis
sem vos desviar para um lado nem para outro, encontrareis o Mestre, que estará
a vossa espera e Lhe direis: «Senhor Jesus, agradeço-Vos por me terdes chamado
e preferido a tantos outros que valiam muito mais do que eu. Por vossa graça
percorri até o fim a áspera senda do dever; remeto-Vos meu espírito que guardou
Vossa fé divina, meu coração que guardou Vosso puro amor, minha vontade que
guardou Vossos mandamentos; comigo, apresento-Vos a colheita de almas que reuni
ao longo da estrada e, por causa delas, suplico-Vos que me recebais em vossa
misericórdia.» E Jesus responder-vos-á: «Bom e fiel servo, entrai na alegria de
vosso Mestre.»