terça-feira, 30 de julho de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus - Da economia (Parte I)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


VI- Da economia

Visto que, — como acabamos de provar —, a mãe cristã tem obrigação de fornecer, a seus filhos um meio de existência, estabelecendo-os em conformidade com a sua condição, segue-se que deve procurar recursos necessários para cumprir este dever, e obtê-los-á, por meio da economia, que não é outra coisa, senão a arte de bem governar uma casa.

«A maior parte das mulheres, diz Fenelon, desprezam a economia, por considerarem que é uma condição vil, só própria de lavradores e de operários; e a economia é uma ciência, que só por ignorância se pode desprezar. É preciso efetivamente um gênio bem mais elevado, e mais largo do que têm algumas donas de casas, que querem verdadeiramente olhar por tudo quanto diz respeito à sua elevada missão, não perdendo o geral costume de quererem discorrer sobre modas, dedicar-se ao inglório tiroteio da conversação.»

O próprio Deus ordenou a economia à mulher o que se pode ver, em muitos lugares da Escritura. Aí se lê efetivamente, que Raguel e sua mulher, ao despedirem sua filha, que se casava com Tobias, lhe recomendaram que «bem dirigisse a sua família, e bem governasse a sua casa.» A mulher forte, diz o Espírito Santo, faz as suas provisões de lã e de linho, obra que ela faz por suas mãos. Levanta-se ao romper do dia, para tratar da alimentação da sua família. Se encontrar um campo, que aumente o seu patrimônio, compra-o, e manda aí plantar uma vinha, com os recursos obtidos por sua indústria. Se vê que as suas empresas progridem, redobra de ardor, e não deixa apagar a lâmpada durante o noite, a fim de trabalhar cada vez mais. Tanto emprega as mãos em rudes trabalhos, como em casa se ocupa a manejar o fuso. Não deve temer para a sua casa, nem o frio, nem a neve, porque todos os criados têm uma dupla andada de roupa, para se resguardarem. Examina com cuidado tudo o que se passa em torno de si, e não come o seu pão na ociosidade.» Tal é o modelo que Deus pôs, sob os olhos das mulheres cristãs, a fim de excitá-las a imitá-lo. 

Como a mulher forte, de que fala a Escritura, deve a mãe de família procurar adquirir os bens que lhe são necessários, e conservar os que já possui; e é nestes dois pontos que se encerra tudo quanto temos a dizer, acerca do bom governo duma casa.

O que não há, adquire-se pelo trabalho, e pela indústria. Não carecemos de gastar tempo a provar que o trabalho é necessário a todos, para nos preservar dos vícios que são gerados pela ociosidade, posto seja bem poderosa esta consideração para nos excitar a amar o trabalho. Limitar-nos-emos a dizer com a Escritura, que todo aquele que não trabalha há de viver sempre na indigência. Ainda que rico seja, cairá sobre ele a pobreza, como um soldado armado.» Pelo contrário, «a ceifa do homem diligente é abundante, como as águas duma rica fonte, e a miséria foge para longe dele.»

Todavia, para, que o trabalho seja eficaz, deve ser dirigido com certa habilidade. É certo que há trabalhos, cujos suores e fadigas ficam sempre estéreis, por não serem fecundados pela indústria; enquanto que outros florescem com menos dificuldade, porque são feitos com inteligência. Uma mãe de família, industriosa trata, pois, de indagar o gênero de trabalho ou de negócio, de que mais proveito possa tirar, e depois de tê-lo descoberto, aplica-se a ele, sem descanso. Uma coisa importante, é dar de mão a esses mil passatempos que ocupam de ordinário muitas horas, em certas classes da sociedade, e já têm ocasião de melhor se ocupar dos seus negócios. Ainda mesmo que os seus rendimentos lhe cheguem abundantemente para todas as suas despesas, nem por esse fato se deve julgar dispensada da grande lei do trabalho. Dessa forma é que a ilustre santa Isabel, duquesa da Thuringia, longe de empregar as horas vagas em distrações mundanas, fiava lã com suas damas de honor, fazendo depois por suas próprias mãos roupas para os seus pobres, — Nunca se encontrava a baronesa de Chantal[1] desocupada, escreve um historiador da sua vida. Se alguém a ia visitar, era com a obra na mão que recebia as suas visitas. Rogando-lhe um dia a sua criada particular, que repousasse: «Oh! não! disse ela. Se eu perdesse tempo inutilmente, julgaria fazer um roubo à Igreja, e aos pobres, a quem o destino.»

Para conservar o que se adquiriu, é preciso primeiramente evitar tudo o que sejam despesas supérfluas. Inútil será recomendar a mulheres cristãs, que não dissipem, por meio do jogo, os bens que lhes custaram a adquirir. É bom aqui dizer com o Espírito Santo: «Quem procura os festins, cairá na indigência.» Quantas fortunas arruinadas, pelo luxo da mesa! Se as conveniências sociais nos obrigam a receber condignamente parentes e amigos, não há coisa alguma que nos obrigue a multiplicar inúteis convites, nem a apresentar, em simples jantares de família, uma ostentação que a religião condena! Algumas mulheres dissipam todo o fruto dos seus trabalhos, procurando para seus filhos tudo quanto lhes possa lisonjear as paixões nascentes; como se vê, em certas famílias há dias de festa em que a mesa regurgita de mil variadas iguarias, enquanto que no resto do ano chega a faltar até o necessário!

O luxo dos vestuários é outro abismo, em que se consomem muitas vezes as fortunas. Não há mulheres, que por suas vaidades, e pelas loucas despesas que fazem, são a desgraça dos seus maridos? E todavia é para lhes agradar, que elas dizem que se adornam. Mas quanto não se afastam do caminho traçado pelas santas, que, como diz um apóstolo, tinham cuidado de ganhar o coração de seu marido, ornando-se de modéstia e de submissão! — «À compostura de santa Joana de Chantal, tão modesta, antes do casamento, ainda mais se tornou depois; deixou os ricos vestidos da sua mocidade e vestiu fazendas mais baratas; suprimiu todas as despesas de toilette, a tal ponto que se dizia dela que nada tinha novo na sua pessoa, senão o rosto.»

A respeito do luxo das casas e da suntuosidade da mobília, nem vale a pena falar, porque ninguém ignora as funestas conseqüências da vaidade.

Para se conservar o que se possui, importa também acautelar-se de toda a empresa imprudente, havendo todo o cuidado de só comprar, não o que se deseja, mas o que seja verdadeiramente necessário. E visto que a miséria segue de perto as dívidas, é necessário, quanto possível, pagar logo tudo aquilo que se compra. É o meio de obter os gêneros por um preço reduzido. E haja muita cautela em não reter por muito tempo o salário dos criados e dos operários.

Os bens conservam-se por meio duma atenta vigilância, sobre tudo o que se passa na casa. A mulher deve estar ao fato de tudo quanto diz respeito à sua fortuna, assim como das receitas e das despesas, dos rendimentos e das dívidas, do guarda-roupa e do mobiliário; deve vigiar os criados, para ver se cumprem as suas obrigações; e não deixar passar em claro nem o comércio, nem a agricultura. O justo, diz o Espírito Santo, até conhece o número exato de todos os seus animais: isto é não despreza nenhum dos mais humildes cuidados, que, digam respeito à economia. A pouca limpeza e a desordem também gastam e deterioram os objetos. Eis a razão porque a mulher cristã deve fazer reinar na sua casa a ordem e a limpeza. — «Nada contribui mais para a economia, e para a limpeza, escrevia Fenelon, do que ter sempre cada coisa no seu lugar. Esta regra parece pouco importante, e todavia iria longe se fosse exatamente executada. Precisais de alguma coisa? Não perdeis um momento a procurá-la. Não há disputa, nem indecisão, nem embaraço, quando se carece dela. Pondes-lhe a mão por cima, e quando vos tiverdes servido dela tornais a colocá-la no mesmo sítio, em que a encontraste. Esta bela ordem constitui uma das maiores propriedades da limpeza: é o que fere mais a vista vendo este arranjo assim perfeito. Além disso, sendo o lugar que se dá a cada coisa, o que mais lhe convém, não só para a boa graça e para o prazer dos olhos, como para a sua conservação, esse objeto dura muito mais tempo bem acondicionado; está mais bem conservado, não se quebra por qualquer acidente; porque um vaso, por exemplo, não está tanto em perigo de se quebrar, quando é colocado no seu lugar, logo imediatamente depois de nos termos servido dele.

«O espírito de exatidão que faz colocar, faz também limpar. Além disso basta ver, que por meio deste hábito, tiramos aos criados o espírito de preguiça e de confusão.

«Mas da mesma forma que é bom evitar o excesso da polidez, é bom também não exagerar o excesso da limpeza. A limpeza, quando é moderada, é uma virtude; mas quando é exagerada, degenera, ou pode degenerar em pequenez de espírito. O bom gosto rejeita a delicadeza excessiva. Trata as pequenas coisas, como pequenas, e nunca se sente fe­rido[2]».

Não esqueçamos que a economia é irmã gémea da liberalidade, visto que é impossível dar muito, se dissipamos quanto possuímos. «—Não se devem, diz, eliminar as despesas supérfluas, senão para mais facilmente poder cumprir os deveres que a amizade ou a caridade inspiram. Era tão caridosa a senhora de Chantal, que se levantava antes dos criados, para distribuir a cada um as suas ocupa­ções diárias. E todos os dias, depois de ter ouvido missa, visitava as cozinhas, os páteos, e algumas vezes mesmo as quintas mais afastadas, dando a tudo essa vista do dono, que tudo faz prosperar[3].

Continua...

Notas:
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[1] Santa Joana Francisca de Chantal, viúva do Barão do mesmo título, natural de Dijon, falecida em 1641; foi canonizada por Clemente XIII. Foi fundadora da ordem da Visitação, e avó da célebre Mme. de Sevigné. (Nota do tradutor)
[2] Fenelon. Da educação das meninas.
[3] Abade Bougaud.