sexta-feira, 26 de julho de 2013

Conselhos sobre vocação (para meninos de 12 a 18 anos) - Parte 20

Nota do blogue: Acompanhe esse Especial AQUI.

CONSELHOS SOBRE A VOCAÇÃO

Padre J. Guibert
(Superior do Seminário do Instituto Católico de Paris)
edição de 1937


Conservar a vontade

98. — A vontade é a sentinela que vigia na porta do espírito e do coração: tudo em vós estará em segurança, vossa vocação será preservada de qualquer perigo, se a vontade permanece fiel a seus deveres.

O que caracteriza uma vontade é a coragem que de nada se amedronta, é a energia que nada cansa, é a perseverança que nada faz parar, é a firme retidão que nada faz desviar. Um homem conserva sua vontade quando nunca cede debaixo do peso das dificuldades.

Já estais convencido que uma vontade forte vos é necessária, porque a vida é um longo caminho a percorrer, porque este caminho é áspero e montuoso, porque muitas causas se reúnem para esgotar as forças e suspender a marcha.

99. — Três causas principais contribuem para enfraquecer a vontade: o cansaço, o aborrecimento e o desânimo. Aprendei a combater estes três perigos.


Primeiro, o cansaço. No começo, tendes muito entusiasmo, experimentais as alegrias do fervor, estais arrastado pela própria novidade deste gênero de vida. Em breve, não sentireis mais nada: a brisa que enfunava a vela de vossa embarcação, há de cessar; não podereis ir para diante senão a poder de remos. Então experimentareis um sentimento de fadiga; os dias vos serão pesados, o trabalho vos parecerá duro, o horizonte do futuro se apresentará triste, despido de qualquer atrativo. Que grande tentação tereis de sustentar! Para que ir mais adiante, direis, pois que já estou sem forças?

Não vos deixeis abater por esta impressão. Contentai-vos em considerar o dia de hoje: não podeis continuar até a noite? que força será necessária para andar mais estes poucos passos? Cada manhã, tomareis de novo o fardo do dever, apenas por um dia: para o futuro Deus há de prover: «A cada dia basta sua pena.»

Conta-se que um religioso, violentamente tentado de abandonar o mosteiro, tomou a resolução de adiar sempre para a manhã seguinte a execução deste desígnio. Conseguiu por este meio enganar o tentador: quando prouve a Deus chamá-lo ao céu, estava sempre na véspera de sair.

100. — O aborrecimento é o veneno da alma. O aborrecimento, também chamado saudade, que toda a gente conhece sem poder defini-la, é o sentimento de uma alma que tem a impressão de viver no deserto, de não se afeiçoar a ninguém pela amizade, de estar tão vazia e desolada no interior como está abandonada no exterior; parece-lhe que é como um navio sem bússola, sem leme e sem velas, feito joguete das ondas... É, sobretudo nas horas de aborrecimento que a vontade cede, que a alma se deixa estragar pelo pecado, que a vocação se perde. 


Na crise aguda do aborrecimento, lançai-vos nos braços de Deus e de Maria Santíssima pela oração e repeti esta máxima cara aos santos: «Deus só me basta!» Para curar a triste tendência ao aborrecimento, eis dois meios. Em primeiro lugar, tende ordem em vossa vida, de modo que nunca estejais entregue ao acaso: estareis com Deus, com vossos trabalhos ou com os homens, mas nunca estareis sozinho. Uma regra religiosa bem observada não deixa nenhum lugar ao aborrecimento. Depois, sede simpático, afável, não tenhais nada de selvagem e de esquivo em vossos modos, de sorte que tenhais verdadeiros amigos nos irmãos que vos cercam: como tereis corações para expandir o vosso, não sofreres muito da superabundância de sentimentos; como tereis corações que de vez em quando se derramam no vosso, nem tão pouco sofrereis de esterilidade.

101. — Do aborrecimento nasce muitas vezes o desânimo. Contudo, o mau êxito é a causa mais ordinária do desânimo. Caem-se no desalento porque não se consegue vencer depressa o pecado, corrigir logo os defeitos, ornar prontamente a alma das virtudes religiosas. Caímos no desalento quando temos mau êxito nos estudos, quando os colegas nos excedem em talentos e virtudes, quando não entendemos o que o professor explica. Caímos no desalento quando estamos abandonados, quando imaginamos que somos desprezados, quando alguém nos contradiz em nossas mais queridas empresas. Pobres almas desanimadas! Causam-me grande piedade! Sofrem tanto! Apesar disso, todas suas forças se esgotam em pura perda como as águas de um canal rachado por toda a parte. Que deveis fazer si o desânimo vos oprimir um dia?
Em primeiro lugar, continuai com paciência o trabalho de vossa formação: não é em um dia só que podeis ser perfeito. Um ato de vontade muito enérgica pode originar em vós uma ação heróica; mas não pode, em um instante, desarraigar vossas más tendências e desenvolver bons hábitos. As virtudes cristãs crescem, como as plantas, lentamente, sem que a vista perceba o movimento da seiva interior. Resignai-vos a sentir-vos ainda cheio de defeitos: mas rezai e trabalhai. Aliás, Deus não exige que sejais perfeitos: exige que trabalheis continuadamente para sê-lo um dia.

Quanto aos estudos, é a aplicação que se exige e não o feliz êxito imediato. Não vos queixeis mais de não ter elevadas faculdades: porque Deus não vos pedirá contas senão dos meios que vos deu. Tende apenas a peito desenvolver todos os talentos que recebestes. Com talentos medíocres, mas assíduo trabalho, há sempre bom êxito. Em todo caso, o bom êxito depende, em definitiva, da bênção de Deus: ora, Deus vos abençoará e fecundará todos vossos atos, contanto que depois de trabalhar com todas as forças, fiqueis muito humilde e muito resignado na dependência d’Ele.

Enfim, tende a alma bastante grande, a fé bastante viva, para que os encorajamentos humanos não vos sejam necessários, para que a convicção de ter cumprido o dever e servido o divino Mestre de todas as forças vos seja mais valiosa do que qualquer aprovação humana. Entrai no íntimo de vossa alma, e escutai sinceramente a resposta de Deus: si Ele vos disser que está satisfeito com vossos esforços, que fizestes o que pudestes, contentai-vos com tal afirmação. Um dia virá em que sereis mais perfeitamente conhecido, em que vosso trabalho será mais justamente apreciado, em que vossos esforços serão elogiados: por enquanto, a contradição dos homens é um estímulo que vos excita a proceder melhor ainda, e não uma barreira que vos tranque o caminho. Sofrei pois com resignação, esperai em Deus, o qual contempla vossos esforços, mas não cesseis de trabalhar por Ele.