segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Apostolado da Mulher Católica

Fonte: Maria Rosa Mulher

Por Papa Pio XII
Traduzido por Andrea Patrícia

Alocução para a União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas

29 de setembro de 1957

S.S Pio XII   

Induzido pelo desejo de oferecer a seu Pai comum, como um sinal de respeito e devoção afetuosa, o fruto de cinco anos de apostolado e de dedicação generosa ao serviço da Igreja, vocês, filhas amadas da União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas nos pressionam e nos deixam profundamente tocados por esse testemunho de ligação filial. Expressando nossa alegria e satisfação, nós felicitamos através de vocês as trinta e seis milhões de mulheres Católicas, sócias de organizações nacionais que formam parte de sua União, e quem vocês aqui representam. 

Nós ficamos grandemente satisfeitos, em primeiro lugar, em sublinhar a importância de sua associação e a extensão da influência que adquiriram. Vocês agora têm a função de co-peticionárias do Conselho econômico e social das Nações Unidas, para UNESCO, FAO, OIT, UNICEF, para o Conselho Europeu, e a Organização dos Estados Americanos. Como resultado, vocês podem nos setores mais variados de opinião tornar conhecido o pensamento da Igreja no desenvolvimento da personalidade da mulher e na missão dela no mundo moderno.

O problema da “promoção da mulher”

E na realidade, não é este mesmo o problema, normalmente referido sob o título “promoção da mulher”, na vanguarda das preocupações de numerosas organizações internacionais de mulheres de várias tendências – protestantes, neutras, ou marxistas – como também de corpos internacionais oficiais? Agora a sociedade contemporânea está sofrendo convulsões profundas, especialmente nas nações nascidas recentemente; uma grande quantidade de problemas novos surge: problemas que vocês desejam encarar com a maior segurança em um espírito de fidelidade absoluta ao ensino cristão; vocês desejam pôr em prática a determinação da Igreja, que coloca a confiança dela em vocês e espera através de seus esforços a renovação cristã de uma civilização arruinada pelo laicismo, através do marxismo, ou confusa pelos movimentos religiosos enganadores. 

Por este motivo vocês pedem a Nós as diretrizes que iluminarão seu caminho e que sejam um estímulo para trabalhar. Vocês podem e têm que fazer com que seja seu, sem reservas, o programa de promoção da mulher que enche de imensa esperança a massa inumerável de suas irmãs ainda sujeitas aos costumes degradantes, ou vítimas da miséria e ignorância do ambiente delas ou totalmente privadas de meios de formação e instrução. Mas vocês querem que essa promoção da mulher seja concebida em condições cristãs, à luz da fé, na perspectiva da redenção e de sua vocação sobrenatural.

As investigações que vocês levaram a cabo em vários países de América Latina, Ásia e África só revelaram muito claramente a atração urgente que emerge dessas regiões, uma atração que espera uma resposta verdadeiramente inclusiva e satisfatória que mantém bem em todo plano da vida individual e social e acima de tudo que satisfaz as verdadeiras necessidades espirituais das pessoas. Para ajudá-las nesta tarefa onerosa, Nós gostaríamos de falar com vocês da missão e do apostolado da mulher Católica sob três aspectos: o apostolado de verdade, o apostolado de amor, o apostolado de ação.

TRÊS ASPECTOS DO APOSTOLADO DA MULHER CATÓLICA

I: O APOSTOLADO DA VERDADE

Três pontos essenciais

Para trazer de volta ao caminho correto uma civilização que se desviou tanto, é necessário começar corrigindo as ideias errôneas e os princípios que governam suas atitudes em prática. Em todo caso, todo apostolado bem planejado começa com reflexão, com consideração intelectual de verdades básicas nas quais todo o progresso adicional é fundado. Nós nos limitaremos aqui a mencionar três pontos essenciais que têm que modelar suas convicções pessoais e governar suas atividades apostólicas, isto é: a relação da mulher com Deus, o fato que ela pertence a Cristo, a dependência dela na Igreja.

A relação da mulher com Deus

A verdade mais mal compreendida pelos homens de hoje, pelo menos a julgar da atitude habitual deles, e a verdade que é a mais fundamental para vocês, é a relação da mulher com Deus. A mulher vem de Deus; ela deve a Ele sua existência, as características da sua natureza, suas tarefas na terra, e o destino eterno que coroará o cumprimento fiel da sua missão. Essa verdade, que a própria razão por si mesma pode nos ensinar, adquire na luz da fé sua significação completa e uma certeza absoluta que lhe emprestará apoio indispensável quando vocês forem expostas ao declínio e ao fluxo de ideias que os romances, os filmes, os palcos continuamente difundem entre as massas, enquanto lhes dá uma ideia profundamente distorcida da feminilidade.

Vocês sabem tão bem o que a fé Católica ensina com relação à origem do homem e da mulher, que seria infrutífero expor isto em detalhes. Deus os criou ambos à imagem e semelhança Dele, quer dizer, como seres inteligentes, livres, capazes de conhecê-lo e amá-lo, capazes também de perpetuar sua espécie, dominando a criação e usando-a para o seu próprio bem e no serviço Dele. Essa origem divina do ser humano simplesmente não é um fato do passado, de milhares de anos atrás, mas é também um fato  muito atual, uma realidade de todo instantâneo, porque em cada momento Deus dá existência a todo ser humano, imprime em sua inteligência o sinal de Sua presença, coloca em seu coração uma atração invencível para o bem, para o absoluto, para a felicidade perfeita. O senso inteiro de vida humana pode ser resumido nas palavras: “uma busca por Deus” – uma procura por Ele, que chama suas criaturas incessantemente, para derramar copiosamente nelas ainda mais a plenitude da Sua vida e do Seu amor.

Qual atitude o mundo moderno adota com respeito a essa verdade fundamental da origem divina do homem e da mulher? Vocês sabem, pela experiência direta que vocês têm de seu ambiente e das várias investigações sobre as condições da mulher, empreendidas pelas organizações de mulheres em partes diferentes do mundo. A ideia de Deus parece quase supérflua em um mundo que caiu nas mãos dos homens, no poder da ciência e da tecnologia, e do qual foram eliminados a superstição e os credos incômodos. Essa atmosfera de um ateísmo militante ou latente é uma ameaça mais grave para a mulher do que para o homem, tanto na vida pessoal quanto no papel dela na sociedade. A razão que nós sublinharemos ainda mais logo depois  é esta: pela sua disposição inata  e a função para as quais ela é destinada por natureza, a mulher está mais em harmonia com as realidades espirituais; ela as percebe com mais facilidade, ela as vive mais conscientemente, ela as interpreta e as faz tangíveis para outros, em particular para aqueles de quem, como esposa e mãe, ela é encarregada. Sua dignidade pessoal, o respeito devido a ela flui precisamente do desejo para salvaguardar essa missão espiritual, e então, na análise final, da proximidade dela com Deus. O respeito pela mulher e o reconhecimento do seu verdadeiro papel está intimamente ligado às convicções religiosas do grupo social ao qual ela pertence.

Vocês veem, então, qual é o objetivo primário de seu apostolado a serviço da verdade: restabelecer em toda sua integridade a fé em Deus, porque Deus é a fonte de sua existência e o último fim para quem que vocês tendem, e porque a marcha para melhorar a condição da mulher supõe como sua primeira fase, a afirmação do princípio que é sua garantia.

Deus não só tem dado à mulher a sua existência, mas a personalidade feminina também, em sua composição física e psicológica, corresponde a um desígnio especial do Criador. O homem e a mulher são imagens de Deus, e cada um de sua maneira própria é pessoa de igual dignidade e possui os mesmos direitos, de forma que é impossível sustentar que a mulher é de qualquer forma inferior. Na realidade, ela é chamada para colaborar com o homem na propagação e desenvolvimento da raça humana e assume nisso o papel delicado e sublime de maternidade: isso traz consigo alegrias e sofrimentos de intensidade incomum, porque implica a responsabilidade imensa de trazer uma criança ao mundo, protegendo, nutrindo, assistindo o crescimento e a educação dela, acompanhando-a com cuidado durante o período difícil da adolescência e assim preparando-a para suportar as responsabilidades de um adulto. Por conseguinte Deus concedeu à mulher dons de valor inestimável que lhe permitem não só transmitir a vida física, mas também as disposições mais íntimas de alma e qualidades da ordem espiritual e moral que determinam o caráter. A pesquisa psicológica moderna colocou em suficiente relevo a complexidade e a originalidade da natureza feminina. Não é necessário enfatizarmos isso. Nós também notamos que essas mesmas qualidades exercitam uma função feliz em todas as outras esferas de reunião social e vida cultural; elas trazem até mesmo uma contribuição indispensável, e a civilização que não as compreendeu ou excluiu sua influência inevitavelmente sofreu deformações mais sérias que impediram seu desenvolvimento e as condenou cedo ou tarde à esterilidade e ao declínio.

Enquanto a mulher dá expressão geralmente à doação de si mesma no matrimônio, através da maternidade, ela também pode corresponder ao plano divino de uma maneira mais direta, e fazer suas riquezas espirituais darem fruto na virgindade consagrada que, longe de ser um isolacionismo ou uma retirada em face às responsabilidades da vida, satisfaz o desejo para um mais total, mais puro, mais generoso dom de si mesma. Em países Cristãos, como também em terras de missão, a mulher que renuncia ao matrimônio para se dedicar sem obstáculo ao alívio do doente e infeliz, para a educação de crianças, para a melhoria das condições da família, manifesta desse modo para mentes imparciais a ação e a presença de Deus. E assim ela cumpre sua verdadeira vocação com a maior fidelidade e eficácia.

Vocês podem entender facilmente, filhas amadas, as consequências para seu apostolado que derivam dos princípios e fatos que nós mencionamos. Quando vocês resolvem trabalhar com todas as suas energias para elevar a condição da mulher, para estender a influência dela na vida social, vocês também se comprometem a desenvolver os seus dons apenas na perspectiva Cristã, que sozinha pode conferir a ela seu verdadeiro e completo valor. Se todas as mulheres pudessem dar-se conta da posse que Deus tem sobre elas e consagrassem sua influência para fazê-Lo conhecido e amado, que progresso maravilhoso haveria no mundo inteiro, que elevação radical do nível social e cultural dos povos.

A mulher pertence a Cristo

A segunda verdade que Nós gostaríamos de sublinhar como um dos fundamentos do apostolado da mulher Católica é o fato de que ela pertence a Cristo. Esse fato é expresso claramente em muitas passagens da Bíblia Sagrada e deriva, em todo caso, da mesma natureza do trabalho de Redenção. Como vocês podem salvar outros, a não ser levando-os a Cristo? E como vocês podem levá-los a Cristo, se vocês não O possuem? Porque “Tudo é vosso”, diz o Apóstolo dos Gentios, mas “vós sois de Cristo” (I Cor. 3, 23). Tal é a convicção profunda que permeia toda alma Cristã, governa sua vida e dirige seu apostolado. Vocês levam a outros a verdade e a graça de Cristo; o Evangelho, os sacramentos, a liturgia, as promessas de ressurreição e de vida eterna são dirigidas a vocês em toda sua plenitude e, se não parecer absolutamente necessário demonstrar tal verdade em um país Cristão, ela deve ser anunciada claramente nos países da Ásia e da África, onde quer que cultos pagãos mantenham concepções vivas de feminilidade que a degrada ou a relega a um nível inferior. Basta, em todo caso, ler o Evangelho e a história da Igreja para perceber imediatamente que nenhuma forma de heroísmo ou santidade é inacessível a mulheres, e que em todo campo de apostolado elas ocuparam os postos mais variados e indispensáveis.

O fato de que a mulher pertence a Cristo toma no matrimônio uma significação especial que São Paulo tem enfatizado vigorosamente. Ele escreve, de fato, aos Efésios: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef. 5, 25). “As mulheres sejam submissas a seus maridos, como ao Senhor… Assim como a Igreja é submissa a Cristo, assim também o sejam em tudo as mulheres a seus maridos” (Ef. 5, 22.24)Elevando à dignidade de um sacramento o matrimônio entre pessoas batizadas, Cristo conferiu ao marido e à esposa uma dignidade incomparável e deu à união deles uma função remissória. Quando afirma que as esposas devem ser submissas aos seus maridos, como a Igreja a Cristo, São Paulo estabelece uma diferença muito clara entre o marido e a esposa, mas, ao mesmo tempo, ilustra o poder que os une um ao outro e que faz indissolúvel o laço de união. Estados modernos e nações jovens que receberam suas independências ou aspiraram a isso desde a última guerra [1] tendem cada vez mais em sua legislação e costumes a colocar o homem e a mulher em um fundamento igual na família, como nos planos sociais, políticos e profissionais. Essa evolução tem seus aspectos legítimos e outros aspectos menos legítimos, acima de tudo quando está inspirada por princípios materialistas. Essa questão é muito vasta para discutirmos aqui. Nós só desejamos lembrar que seu apostolado tem que se manter firme pela concepção Cristã da esposa e do papel da mulher na família: só essa concepção inspira em casais casados o verdadeiro respeito, a estima mútua, a dedicação sem reserva, a fidelidade absoluta, e, acima de tudo, amor pronto para qualquer sacrifício, pronto para perdoar qualquer coisa.

A união de Cristo e da mulher achou seu maior esplendor e sua perfeição na Virgem Maria. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo. 1, 14). Foi pela Virgem Maria que Deus assumiu natureza humana e se tornou um dos filhos de Adão. A dignidade de Mãe de Deus trouxe a Maria graças especiais e privilégios extraordinários: preservação do pecado original e de todo pecado pessoal, o esplendor das virtudes e os dons do Espírito Santo, a participação íntima em todos os mistérios da vida de Cristo, em Seus  sofrimentos , em Sua morte e ressurreição, na continuação do Seu trabalho na Igreja, e em Sua Realeza  acima de toda a criação. Tudo isso foi dado a ela porque foi a Mãe de Deus, e porque desse modo ela teve um papel sem igual para desempenhar na redenção do mundo.

Quais são as consequências de tudo isso para vocês e para seu apostolado? Em primeiro lugar, vocês devem extrair disso o orgulho de seu sexo. Foi uma mulher a quem o poder do Altíssimo cobriu com Sua sombra, que a segunda Pessoa da Trindade Santa tomou Sua carne e sangue, sem a colaboração de qualquer homem. Se a vida revela a que profundidades de vício e degradação a mulher pode descer às vezes, Maria mostra a que alturas ela pode subir, em e por Cristo, até mesmo para ascender acima de todas as outras criaturas. Qual civilização, qual religião alguma vez elevou a tais alturas o ideal de feminilidade ou exaltou isso a tal perfeição? O humanismo moderno, o laicismo, a propaganda marxista, os mais desenvolvidos e difundidos cultos não-cristãos não têm nada a oferecer que possa ser comparado com essa visão, ao mesmo tempo tão gloriosa e humilde, tão transcendente e ao mesmo tempo tão facilmente acessível.

Nós desejamos mostrar a vocês o ideal da mulher como apresentado pela fé: vocês encontram isso em Maria, baseado na intimidade das ligações que a unem a Cristo. Nunca percam a visão desse exemplo, tanto em sua vida pessoal quanto em seu apostolado. Deixem-na inspirar suas palavras, seus julgamentos, suas atividades, quando vocês estiverem se esforçando para lançar luz sobre a dignidade da mulher e a nobreza da missão dela.

Mas não é bastante conhecer Maria e sua grandeza: também é necessário aproximar-se dela e viver no brilho de sua presença. Para uma mulher Católica envolvida no apostolado não possuir uma fervorosa devoção à Mãe de Deus seria quase uma contradição. A devoção a Maria a conduzirá a um melhor entendimento de Cristo e a uma mais intensa união com Seus mistérios. Vocês receberão, por assim dizer, Cristo dos braços da Mãe dele, e ela as ensinará a amá-lo e a imitá-lo. Rezem a ela, e ela pode lhes ajudar a guiar a mulher de hoje no caminho que conduz a Cristo.

Quando assume uma missão apostólica, a mulher Católica se acha no meio de um enxame de ideias, opiniões, tendências e sistemas que por todo lado solicitam a sua aderência. É então importante que ela esteja apta a dirigir os seus passos sem dificuldade, de acordo com as circunstâncias, e que possua normas seguras que a permitirão traçar uma linha de ação; é importante que ela também possua a força moral necessária para permanecer fiel a elas e descobrir e reparar qualquer erro que possa surgir. Onde ela achará essa regra firme de pensamento e ação senão no seio da comunidade Cristã, na Igreja Católica?

Pela vontade do Seu divino Fundador, a Igreja é a depositária da revelação sobrenatural, sua guardiã e sua única intérprete autorizada. O magisterium que ela exercita com respeito ao depósito de fé, supõe o poder para julgar toda a verdade, desde que o destino eterno do homem é um e invariável, e nada na vida do homem escapa a essa finalidade. Condições culturais, políticas, sociais e morais influenciam, todas elas, na direção da conduta do homem; a Igreja, com o dever de levar o homem para Deus, e possuindo, como ela possui, os meios infalíveis para distinguir a verdade da falsidade, pode julgar bem o valor exato dos princípios intelectuais e morais, como também que comportamento corresponde às demandas da verdade em casos concretos do indivíduo e da vida social.

Tanto na sua conduta pessoal quanto no seu apostolado, a mulher Católica deve tem que cuidar de manter o contato íntimo com a fonte viva de luz que Deus colocou em Sua Igreja: enquanto ela permanece sujeita à sua direção, aceita seu ensino e segue suas diretrizes, ela desfruta uma segurança infinitamente preciosa que confere em todos seus empreendimentos uma autoridade e uma estabilidade que carregam a impressão da autoridade e da estabilidade da própria Igreja.

Alguns desejaram limitar a competência do Magisterium da Igreja ao reino dos princípios, excluindo disso os fatos, os casos concretos. Eles pretendem que esse campo pertença ao leigo, que lá o leigo está em seu próprio terreno, no qual ele desfruta de uma competência da qual a autoridade eclesiástica carece. Deixem-nos repetir aqui somente que essa afirmação não pode ser apoiada: na medida em que não é simplesmente uma questão de determinar a existência de um fato material, mas sim de julgar suas implicações religiosas e morais, está em jogo o destino sobrenatural do homem e, como resultado, a responsabilidade da Igreja é chamada a entrar em jogo; em virtude de sua missão divina e da garantia que recebeu para esse efeito, a Igreja pode e deve determinar o grau de verdade e erro contido nesta ou naquela linha de conduta, nesta ou naquela maneira de agir.

Embora a Igreja recuse ver o campo da sua autoridade indevidamente limitado, ela não suprime nem diminui a liberdade e a iniciativa de seus filhos. A hierarquia eclesiástica não é a Igreja inteira, e ela não exercita seu poder de fora, como um poder civil, por exemplo, que trata seus subordinados somente no plano jurídico. Vocês são membros do Corpo Místico de Cristo, enquanto formando Nele um organismo animado pelo mesmo Espírito, enquanto vivendo uma mesma vida. A união dos membros com a Cabeça não insinua de nenhuma forma que eles abandonem sua autonomia ou renunciem ao exercício de suas funções; pelo contrário, é da Cabeça que eles recebem o impulso que os permite agir com força e precisão continuamente, em coordenação perfeita com todos os outros membros, para o bem do corpo inteiro.

Possam as mulheres Católicas alegrar-se por pertencerem com cada fibra do seu ser ao corpo da Igreja, como indivíduos livres, responsáveis, e garantir, de sua parte, as tarefas designadas a elas, que contribuem para o seu crescimento e expansão.

II: O APOSTOLADO DE AMOR

O apostolado da verdade, para o qual nós demos algumas diretrizes acima, permaneceria em grande parte ineficaz se não fosse continuado no apostolado do amor e no apostolado da ação. Esses dois apostolados são na realidade apenas dois aspectos da mesma realidade, porque o autêntico amor aspira ser traduzido em obras, e até mesmo o que parecem ser ações muito heróicas, por outro lado, são destituídas de valor, se elas também não forem portadoras de um amor sincero. De qualquer modo, como a mulher por sua natureza é chamada a manifestar a presença e o papel do elemento afetivo, é próprio que nós devemos dar a esta última atenção especial e que nós determinemos o lugar que ele ocupa nas atividades apostólicas de suas associações.

A Caridade inspira obras

Deixe-nos recordar em primeiro lugar o que o apostolado Católico é e quais são seus meios de ação. Vocês sabem que ele não consiste na mera transmissão de uma doutrina ou de um conjunto de fórmulas dogmáticas e regras de comportamento. Apesar de necessária, tal instrução forma só a base: o essencial consiste na prática dessas verdades em caridade viva que inspira obras e é absolutamente necessária para a plenitude da fé. Essa caridade evidentemente tem que preencher o apóstolo: é essa caridade que ele comunica ao mesmo tempo em que ele prega o Evangelho, e até mesmo antes que ele começasse a pregar. É essa caridade também que ele verá crescer e florescer no coração dos seus protegidos, como uma flor que brota da semente que plantou. Além disso, a primeira garantia do sucesso de seu apostolado será sua posse em abundância daquele tesouro que é o amor de Deus: um amor que impregna o amor humano, o faz expandir, o torna divino, o faz capaz de alcançar através dos gestos mais humildes essas regiões da alma onde o indivíduo livre, responsável, renuncia ao seu orgulho, egoísmo, e apegos desordenados, para render-se ao amor divino que o invade, para levá-lo pelo caminho planejado para isso.

Para sua caridade atingir tais efeitos, provavelmente terá que percorrer um longo caminho, semeado de obstáculos, porque vocês não esperam fazer os pecadores, cegados por suas paixões, compreender e aceitar as riquezas do dom de Deus, a menos que vocês pacientemente os tenham preparado de antemão. A economia da redenção exige que o homem receba e coloque sobre si o divino; aceita o homem como ele é, na sua miséria e impotência, e compromete-se a moldá-lo, purificá-lo, corrigi-lo sem pausa, como uma mãe acolhe o filho que Deus lhe dá, ama, consagra-lhe seu tempo e energias para que ele possa se tornar um dia um homem pronto para enfrentar a vida. Em geral, o que mede a grandeza e o heroísmo do amor é sua fidelidade ao prever todas as necessidades da pessoa amada, em seus mínimos detalhes, e com delicadeza infinita.

Ajuda aos países subdesenvolvidos

Vocês mesmas já perceberam, por suas investigações, que se espera que vocês prestem  sua ajuda às nações subdesenvolvidas em três planos: o espiritual, o cultural, o material. Somente uma ação realizada simultaneamente em todos os três níveis pode combater eficazmente o avanço do materialismo, do comunismo e das várias seitas. O trabalho de evangelização, portanto, iria trair o Evangelho se se detesse apenas na mera proclamação da mensagem cristã, e negligenciasse as suas implicações práticas, a saber, em particular a aplicação da doutrina social que a Igreja tem proclamado. A verdadeira caridade exige que vocês amem os homens como Cristo amou, que não envia seus ouvintes em jejum para que não desfaleçam no caminho (Mc. 8, 3). Mas também deve ser absolutamente óbvio que a sua dedicação é animada pelo amor de Deus, e não apenas por um natural sentimento de piedade ou simpatia. E pouco importa se vocês tenham sucesso ou não ao estimular sempre nos outros um eco de resposta aos seus esforços de caridade: vocês não trabalham por agradecimentos, como um retorno do carinho que demonstram. Deixe que sua indiferença seja uma indicação da pureza de suas intenções, como o Apóstolo São Paulo sugere em seu famoso hino à caridade: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Cor. 13, 4-7).

A caridade irá ajudá-lo também a adivinhar instintivamente as necessidades dos outros; irá fazer vocês prestarem atenção aos apelos do Reino de Deus, irá mostrar em que pontos a mais grave ameaça a sua intervenção é necessária. Ela irá permitir que vocês vençam as apreensões e a indolência, que passa aos outros as tarefas mais cansativas das empresas mais difíceis. Ela irá sugerir-lhe os meios mais adequados para atingir seu objeto. A dedicação mais sincera não pode, de fato, render-se a todos os impulsos espontâneos, sem julgá-los primeiro: ela tem de aceitar uma norma, impor limites. Às vezes, as almas se encontram com quem é muito generoso, mas incapazes de moderar seu interesse, ou de aceitar conselhos de discrição e prudência, de deixar para outros a necessária liberdade de ação, de apoiar o limite que qualquer colaboração impõe. Nem sempre é fácil renunciar a um bem particular, que atrai e alegra a sensibilidade, em favor das demandas austeras do bem-estar de todos. Resumindo, deixem sua caridade ser criteriosa e bem-ordenada. Aqui vocês podem perceber a importância daquilo que estava dizendo há pouco sobre o tema da submissão à Igreja e às suas diretivas; essa submissão é ainda mais necessária porque a natureza feminina é mais fortemente influenciada por fatores afetivos.

A perfeição da Caridade

Um dos resultados normais do apostolado de caridade será aumentá-la e purificá-la em vocês. Entre as conclusões da primeira sessão Latino-Americana da União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas, vocês perceberam que no patrimônio espiritual, familiar e social de América Latina há de ser achado como base um profundo sentimento religioso, grande abnegação na vida da mulher, uma generosidade evidente e um desejo veemente para a perfeição. Nós temos certeza de que podem ser tiradas conclusões semelhantes para muitas outras regiões: em geral, mulheres com as quais vocês se preocupam, já possuem recursos espirituais inegáveis, mas frequentemente escondidos e não cultivados por causa das condições de suas vidas. Não se aproximem delas com uma atitude de autossuficiência, como se vocês tivessem tudo para dar e nada a receber. Pelo contrário, a verdadeira caridade se apaga ante a pessoa de quem se aproxima, deseja receber tanto quanto possível, coloca em evidência os dons dos outros e os cultiva. E assim é edificada até mesmo pelo mais pobre e mais desapropriado. Pois tal é a lei profunda do amor: ela deseja a felicidade e perfeição do amado. Seu princípio de crescimento a direciona para o desapego de si mesmo: em vez de se pensar em si mesmo como sendo capaz de poder sozinho satisfazer os outros completamente, é persuadido de sua própria ineficácia, e assim dá carta branca à ação Daquele que é o único possuidor do coração do homem, isto é, Deus. Quando alcançar a sua perfeição, a caridade divina conservará facilmente unidade e harmonia entre os vários deveres e afetos que dividem seu coração. Sem negligenciar quaisquer de seus deveres no seio da família e em seu ambiente social, vocês acharão ainda uma superabundância de tempo e possibilidades de se dedicar a atividades apostólicas que o serviço da Igreja requer.


III. O APOSTOLADO DE AÇÃO

E assim nós chegamos à terceira parte desta alocução: o apostolado de ação. Iluminadas pelas verdades da fé, atraídas pelo ardor de consumir o amor de Deus, prontas para qualquer sacrifício, vocês esparramarão sobre si estes dons sobrenaturais, e por seu conselho, seu exemplo, sua atividade, vocês se tornarão para os outros uma luz que guia, uma força de sustentação e encorajamento. Aqui mais uma vez a experiência antiga da Igreja pode fornecer indicações preciosas para a direção de seu apostolado e aumentar sua eficácia. Nós consideraremos algumas características gerais de sua atividade imediatamente, e então enunciaremos algumas normas práticas.

Necessidade de ação

O primeiro ponto que é necessário mencionar, parece-nos, é a necessidade de ação: uma ação planejada claramente e firmemente determinada. Qualquer atitude de aceitação passiva de eventos, de “laisser-aller” [2], toda forma de passividade inerte será rejeitada. Vocês não devem se deixar de qualquer forma abertas à reprovação do Mestre que reprova o empregado que, em vez de fazer com que o talento dele frutificasse, estava contente em escondê-lo enterrado no chão (Mt. 25, 24-25). Em vez disso, imitem o bom Samaritano da parábola(Lc. 10, 30-37) que entendeu o dever dele para com seu próximo, a quem o Senhor propôs como exemplo a quem o inquiria: “Vai, e faze tu o mesmo.”

Transformando a iniciativa em ação

Mas sua intenção não é apenas prestar ajuda quando uma necessidade imediata se fizer sentir: vocês desejam tomar a iniciativa de ação, doar-se espontaneamente e seguir os passos do Senhor que de nenhuma maneira foi obrigado a descer à terra, obedeceu somente ao impulso da bondade misericordiosa Dele. Possam suas atividades sempre fluir do impulso de uma generosidade inspirada por um amor completamente desinteressado. Por outro lado, Cristo, antes de sua ascensão, deu aos seus apóstolos, e através deles para a Igreja inteira, a missão de evangelizar o mundo em Seu Nome. Deixem então que cada cristão seja convencido de que parte dessa carga descansa nos ombros dele, e que esta parte ninguém mais pode levar por ele.

Universalidade de ação

Uma terceira característica de sua ação será sua universalidade. Vocês têm que ajudar os outros de acordo com suas possibilidades e as necessidades deles. Essa universalidade achará expressão parcialmente no trabalho de cada uma de vocês, mas muito mais, como é óbvio, em sua União considerada como um todo. Quando trinta e seis milhões de mulheres Católicas espalhadas pelo mundo inteiro se esforçarem para realizar um programa comum, baseado nas exigências da fé e da vida cristã, então a sua união levará a impressão dessa catolicidade, que já é certamente uma característica de sua origem. Na realidade, por que reunir num congresso internacional ideias de troca e experiências adquiridas em vários países durante os últimos cinco anos, se não afirmar precisamente a universalidade de sua ação?

Nós somamos outra marca típica que distingue sua União dos outros grupos internacionais de mulheres. Ele, de quem na análise final dependem todos seus empreendimentos, que lhes dá a eficácia e o sucesso, é o próprio Deus, cuja Providência, inescrutável de seus modos, sempre é rodeada por um halo de mistério. Se às vezes os resultados não estiverem à altura de suas expectativas, se obstáculos insuperáveis pararem seu progresso neste ou naquele setor, se suas mais puras intenções são mal interpretadas, vocês ainda não têm nenhuma razão para ceder ante o desânimo. Nenhum de seus esforços é inútil, vocês podem estar seguras, porque Deus as vê e as leva em conta, mas Ele tem os Seus próprios desígnios também; Ele considera o Seu trabalho como um todo e dispõe como Ele vê o ajuste dos vários elementos. Deixem a decisão final a Ele, sem diminuir sua vivacidade, sem negar qualquer coisa que Ele solicite de vocês. Deste modo, vocês evitarão mais facilmente, também, aquela amargura e aquela inveja que transtornam a cordialidade e a harmonia de suas relações com os outros que compartilham o mesmo campo de apostolado.

Em relação ao seu próprio campo de apostolado e ao trabalho que vocês fazem lá, nós notamos que durante estas últimas décadas, estão constantemente se expandindo em quase todos os países. As causas mais variadas contribuíram para essa expansão e continuam tendo seus efeitos: industrialização, evolução social, elevação do nível de vida e cultura, criação de novos ramos de tecnologia. Na atualidade, podem ser encontradas mulheres em quase todas as profissões e instituições culturais, sociais e políticas, como também em organizações internacionais. A mulher Católica também, como os outros, partilha nesse movimento; ela não pode – nem deseja, em todo caso – fugir disso; de preferência, ela tem que assumir suas responsabilidades em todos os setores e encarar as demandas de um apostolado efetivo.

Em cada um dos setores onde trabalha - na família como esposa e mãe, no campo da educação, na vida social, em organizações legislativas, administrativas, judiciais, em relações internacionais - ela tem que seguir as normas morais e religiosas particulares sob as quais a Igreja e os Papas, mais especialmente, forneceram explicações úteis. Quando as circunstâncias não eram ainda suficientemente definidas, eles normalmente fixaram limites que não devem ser ultrapassados.

Exortação para o apostolado

A Santa Sé não apenas tolera sua ação. Ela as exorta ao apostolado, para que se entreguem à grande tarefa missionária da Cristandade, de unir todas as ovelhas perdidas em um rebanho e sob um pastor (Jo. 10,16).  A iniciativa individual tem sua função, ao lado da atividade organizada continuada por meio de várias associações. Essa iniciativa do apostolado leigo é perfeitamente justificada, até mesmo sem a preliminar e explícita “missão” da hierarquia. A mãe ocupada com a formação religiosa de suas crianças, a mulher que se dedica a trabalhos de ajuda caridosa, ela que mostra fidelidade corajosa salvaguardando a sua dignidade ou o tom moral do seu ambiente, todas exercitam um verdadeiro apostolado. Especialmente em países onde o contato com a hierarquia é difícil ou praticamente impossível, a preservação da fé e de um modo Cristão de vida depende em grande extensão de iniciativa pessoal; nesse caso os cristãos, em quem o dever mais recai, com a graça de Deus assumem todas suas responsabilidades. Está, no entanto, claro que até mesmo então nada deve ser empreendido que vá contra a vontade explícita ou implícita da Igreja, ou que seja de alguma forma contrária às normas da fé, da moralidade ou da disciplina eclesiástica.

Nós estamos contentes em ver em seu meio, membros das associações jovens da África e da Ásia. Elas se acham agora face a face com tarefas árduas de estatura considerável na qual precisam da ajuda das suas irmãs mais experientes. Nós não duvidamos de que, no mínimo, este Congresso reforce o laço de solidariedade e as garantias de ajuda efetiva dentro dos laços de sua união.

A respeito da América Latina parece que um urgente trabalho é pedido em duas direções. Em primeiro lugar, proteger contra a propaganda de seitas não católicas uma fé que ficou frequentemente superficial, faltando o suporte de um clero suficientemente numeroso. Vocês são determinadas para desenvolver as convicções religiosas do indivíduo e olhar para o aprofundamento da vida Cristã. Em segundo lugar, vocês planejam uma atividade social extensa para melhorar a condição gravemente desprivilegiada de uma boa proporção da população rural e de uma parte considerável do proletariado urbano. É necessário despertar as classes administrativas a uma realização das demandas de justiça social, e à necessidade de uma devoção pessoal para ajuda caridosa; mas acima de tudo, é necessário empreender sem demora a formação de uma elite entre as populações rurais e urbanas que podem estar como a levedura misturada com o grão e que trabalha de dentro. Não há nenhum substituto para essa elite na tarefa de elevar o nível religioso e social de povos desprivilegiados.

Temos sublinhado no início desta alocução o fato de que a União Mundial de Organizações de Mulheres Católicas detém o estatuto de consultora com diversas organizações internacionais. Pode, portanto, apresentar e fazer prevalecer em ambientes neutros o pensamento Católico sobre o desenvolvimento da personalidade da mulher e sua missão no mundo moderno. Esperamos que vocês sejam capazes de se beneficiar a partir desses relacionamentos, e através deles estender sua influência em círculos cada vez mais amplos. É sem dúvida uma forma de apostolado indireto, mas da maior importância. Mesmo que os resultados positivos alcançados não sejam tão grandes como se poderia desejar, muitas vezes, é possível impedir certos desvios perigosos.

Para concluir esta alocução: enquanto agradecemos a Deus por tudo o que Ele já realizou através de suas associações, olhamos com confiança para o futuro. Com certeza, as mais graves ameaças pairam sobre a humanidade, dividida em grupos rivais, ou em confronto com a tentação atraente de um materialismo inexorável, que sob o aspecto do prazer egoísta de bens materiais, agora sob esse aspecto ainda mais repugnante da opressão coletiva dos povos e nações inteiras, pretende restaurar o homem para o homem, arrebatando-lhe totalmente das mãos de Deus. Vocês, ao contrário, querem trazer ao indivíduo, à família, à sociedade, a mensagem da redenção em ambos os planos temporal e espiritual, simultaneamente, pela ação em conjunto de todas as mulheres católicas que, graças à sua União, estão agora mais conscientes da sua missão comum, do esforço que é pedido delas como um corpo, como membros vivos da mesma Igreja, para fazer com que o reino de Cristo penetre em toda a parte. Talvez o triunfo definitivo da fé cristã pareça ainda distante, mas vocês sabem que as pedras da Cidade Santa, que unirão um dia todos os filhos do Pai na alegria e no amor, devem ser carregadas uma por uma. Lenta, mas seguramente, a estrutura se levanta; longe de dar lugar à dúvida ou ao pessimismo, lembrem-se das promessas do Senhor: a Sua assistência contínua, e também Sua vinda gloriosa. “No mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo” (Jo. 10,16).

Como garantia de proteção divina e da nossa afeição paternal, concedo a vós, para vós, para todos os membros da sua União, e para todos os seus entes queridos, nossa bênção apostólica.

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Extraído do livro: Papal Teaching, The Woman in the Modern World. St. Paul Editions (1958).
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Notas da tradutora:

[1] Segunda Guerra Mundial.  
[2] O termo “laisser-aller” significa “deixar-se levar”, “deixar ir”.