A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
PRIMEIRO
MANDAMENTO
28
de Novembro de 1940
Estamos recordando a doutrina católica
sobre os Mandamentos da Igreja, o primeiro dos quais é assim expresso: Ouvir
Missa inteira nos domingos e festas de guarda.
Disse-vos ontem que este é o meio
prático e o melhor, de guardar o dia do Senhor, o domingo, e os dias de festa
de preceito que se assemelham ao dia do Senhor, no modo como devem ser comemorados.
Para quem conhece a doutrina católica, a
Missa é o maravilhoso meio de manter a vida divina na terra. É durante o Santo
Sacrifício que se consagra o Pão, como fez Jesus na Ceia última; que se
consagra o Cálice com o vinho, que também o Filho Unigênito de Deus consagrou
por nosso Amor. O Pão e o Vinho, transubstanciados no Corpo, Sangue, Alma e
Divindade do Senhor, perpetuam a presença real do Salvador aqui no mundo, o
vale das lágrimas, que não teria significação alguma, sem a vida espiritual.
Pois esta é a vida da alma que não morre nunca, ao passo que à vida do corpo
tem por termo a morte, seguindo-se a decomposição horrível que a todos faz
tremer!
Consagradas as espécies eucarísticas,
sempre na Missa, os fiéis têm, à sua disposição, o alimento dos fortes que gera
a santidade e integra a criatura na vida do próprio Criador! - Quem come do pão
consagrado, vive em Jesus Cristo e Jesus Cristo vive nesse cristão feliz -
conforme declarou expressamente o próprio divino Mestre.
Escondido na humilde prisão de um Tabernáculo,
o Senhor está à espera de Seus filhos, dia e noite. Pela manhã, as Comunhões
que se sucedem. E são homens, senhoras e crianças, que se abeiram da mesa
sempre posta, e recebem a parte que lhes toca, no banquete em que Deus é
iguaria pobres e ricos se ombreiam, se nivelam e todos são servidos, entoando o
mesmo hino das ações de graças! - Pelo dia adentro, inúmeros cristãos, passando
pela porta das igrejas, vão visitar a Jesus Cristo, dizer-Lhe uma palavra
afetuosa, contar-lhe uma amargura torturante, chorar aos pés do bom Amigo
algumas lágrimas, que o mundo nunca sabe consolar. E, por felicidade nossa,
aqui no Rio, Coração da Pátria, Cristo Rei, no seu trono de Sant'Ana, recebe a
adoração perpétua dos filhos, que dia e noite O homenageiam sem cessar! - Em
São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza... centros de piedade magníficos, também
floresce a Adoração perpétua, glorificando a sagrada Eucaristia!
E quando as ovelhas do rebanho de Jesus,
cansadas de sofrer e de lutar, chegam ao extremo da vida, antes que partam para
a viagem da eternidade, Cristo-Viático vai visitar essa ovelha bem-amada, e
fica em seu coração, para, com a luz divina, iluminar a estrada tenebrosa de
além túmulo!
Não é realmente a Eucaristia a vida
palpitante desse corpo, do qual o mesmo Jesus é a cabeça? E essa vida
palpitante; vem-nos pela Missa! maravilha preciosa que a infinita caridade de
Deus nos legou, na hora cheia de grandeza e de mistério, que precedeu a Paixão
dolorosíssima!
O Redentor do mundo, por amor de nós Se
aniquilou, como diz o apóstolo São Paulo; humilhou-Se, rebaixou-Se, tomando a
forma de um escravo. Ora essa aniquilação escapa facilmente à memória e ao
coração da humanidade. Por isso, diz sabiamente o Padre Plus, Ele quis criar um
meio, meio por excelência, de nos recordar, reproduzindo-a no altar, em cada
Missa, uma vinda nova de Sua Pessoa, em novo aniquilamento!
O pensamento de se oferecer Jesus ao
Pai, por nosso amor, nos escaparia. E Ele quis que, sob os nossos olhos, em
cada Missa, se reiterasse a oferta de Seu adorável Sacrifício! Ressalta de modo
impressionante a relação estreita entre o altar e o Calvário. - Os fiéis,
acompanhando de coração a santa Missa, não podem deixar de sentir por Jesus
Cristo um terno amor em que avulta gratidão infinda. Cada qual há de esmerar-se
em ser para a Vítima adorável o que foram Seus verdadeiros amigos junto à Cruz.
E, compenetrados, saturados dessa doutrina tão sublime e tão consoladora, acompanharão
inteligentemente o Santo Sacrifício, em suas quatro partes: Adoração, agradecimento,
desagravo e oração. Não há, mesmo agora claramente estais vendo, estais
sentindo, meio mais perfeito de honrar o Senhor; no dia que Lhe é consagrado.
Sábia, portanto, e sumamente piedosa é a
nossa Santa Igreja, quando prescreve aos seus filhos: "Ouvir Missa inteira
nos domingos e festas de guarda".
Cumpram os fiéis este preceito
generosamente. Embora seja doutrina corrente que chegando ao templo antes do
Ofertório ouviu-se a Missa, cumprindo-se o preceito, é triste que se esteja a
regatear alguns minutos, negando-os a Quem prodigamente nos dá tudo. É triste
ver tanta gente que habitualmente chega à Igreja quando a Missa está no fim,
parecendo até que só faz questão de exibir a sua toilette elegantíssima...
Ouvi a Missa inteira, recolhidamente,
piedosamente. Adorai de coração a Jesus Cristo, pedi perdão das vossas faltas
da semana, agradecemos benefícios recebidos... pedi as graças de que
necessitais, principalmente nas crises dolorosas que vos assoberbarem. Assim,
com certeza, saireis do templo com o coração cheio de Deus, e a alma forte e
bem armada para a luta.