sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Igreja e seus mandamentos (Terceiro Mandamento)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

TERCEIRO MANDAMENTO
2 de Dezembro de 1940.

            Continuando a recordar os mandamentos da Igreja, examinaremos hoje o terceiro, que o catecismo enuncia assim: comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição.
            Trata-se pois, da Comunhão Pascal. Uns dizem - pascal - outros, - pascoal. Aulette, em seu dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa, manda dizer - pascal - não mencionando outra forma. O nosso dicionário brasileiro da língua portuguesa, de Hildebrando Lima e Gustavo Barroso, revisto e aumentado pela fina flor dos cultores da nossa língua pátria, diz o pascal, relativo à Páscoa; e adiante, pascoal, o mesmo que pascal. - Resolvida a questão linguística, passemos ao Direito Canônico.
            Cânon 859: "Todo fiel, de um e de outro sexo, depois de chegar à idade de discrição, isto é, ao e uso da razão, deve, uma vez no ano, ao menos por ocasião da Páscoa, receber o sacramento d' Eucaristia, salvo se, a juízo do próprio sacerdote, isto é, do confessor, a recepção desse sacramento dever adiar-se por algum tempo, havendo causa razoável". Se, por exemplo, como diz Ballerini, o confessor não vir no penitente sinais de arrependimento dos pecados, ou notar falta de firmeza no propósito de não pecar mais.
            Deve-se persuadir os fiéis a fazerem a Comunhão Pascal em sua própria paróquia; e a comunicarem ao pároco respectivo o cumprimento desse preceito grave, quando o fizerem em paróquia alheia. Esta doutrina é confirmada pelo Concílio Plenário Brasileiro.
            Diz finalmente o mesmo Cânon: Quem não comungou dentro do prazo marcado pela Igreja não está, por isso, dispensado do preceito da Comunhão anual. Comungue, pois, em qualquer dia. Este preceito não se cumpre com uma Comunhão sacrílega -- conforme o Cânon 861.
            No Brasil o preceito da Comunhão Pascal pode ser cumprido desde o domingo da septuagésima, até ao dia 29 de Junho, festa dos Apóstolos São Pedro e São Paulo. A septuagésima é o terceiro domingo antes da quaresma, contando-se assim: septuagésima, sexagésima, quinquagésima; seguem-se a este domingo mais dois dias consagrados aos doidos; vem a quarta-feira de Cinzas e o 1.° domingo da quaresma. Eis a situação exata da septuagésima.

            Falando a respeito do Pão vivo que desceu do céu, para dar vida a seus amados filhos, Jesus Cristo disse da necessidade absoluta que temos de participar desse alimento sobrenatural. E disse-o categoricamente. “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele...” Eis a união com Jesus Cristo, que disse também com a mesma firmeza: "Eu sou a vida!" - Mais: "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida, em vós.”.
            Segundo a doutrina pregada pelo mesmo Senhor e Mestre, é indispensável ao homem comer a carne de Jesus, beber o Seu sangue. Ele é o Pão vivo que desceu do céu. Na última ceia Jesus consagra o Pão e o vinho do Cálice e apresenta a Seus apóstolos o Pão que é Seu corpo, e o vinho que é Seu sangue, para que esses mesmos apóstolos comam e bebam a verdadeira vida, no verdadeiro alimento das almas, que por Ele se tornarão fortes e crescerão em perfeição, em santidade.
            Depois de cada uma das consagrações; como ensina o apóstolo São Paulo, o Senhor ordenou aos apóstolos: "Fazei isto em memória de mim". Compreendendo o valor da Eucaristia, os primeiros cristãos se aproximavam frequentemente da Comunhão, recebendo-a ordinariamente sempre que assistiam à Santa Missa. E' o que afirma o Catecismo Romano. E acrescenta: Todos os que praticavam a fé cristã estavam inflamados de um verdadeiro amor, perseveravam na oração e nos exercícios de piedade, de modo que estavam sem preparados para receber o mistério do Corpo Jesus Cristo. - E o mesmo Catecismo Romano assevera que, durante muito tempo, o sacerdote que celebrava a Santa Missa, depois de receber Hóstia consagrada, voltava-se para os fiéis e dizia "Vinde, irmãos, à Comunhão".
            No tempo de Carlos Magno, diz Santo Afonso, os Bispos ordenaram que os fiéis recebessem Comunhão nos domingos e festas solenes.
            Deharbe S. J., em seu "Grande Catecismo” cita uma passagem preciosa do Concilio Agatense no ano 506: "Os seculares que não comungam pelo Natal, Páscoa e Pentecostes, não devem considerados como católicos ... "
            O Sínodo de Tolosa, 1129, considera suspeita de heresia quem se abstém da prática do Corpo Sangue de Nosso Senhor.
            Muito indulgente se mostra, pois, a Igreja quando, pela autoridade do IV Concílio de Latrão, prescreve a confissão anual e a Comunhão pela Páscoa da Ressurreição. É o mínimo, que pode um cristão fazer e só por isso não se pode julgar um modelo perfeito, um verdadeiro amigo de Jesus Cristo.
            A mesma razão clama contra esses filhos descuidados, ingratos, que desprezam o meio por excelência de adquirir a perfeição e mesmo de assegurar a salvação da própria alma.
            Uma comunhão por ano é pouco, é nada! Multidões e multidões de mortos... porquanto não buscam a vida que se encerra nesse Pão que é Jesus Cristo!  
            Hoje uma corrente que, se avoluma dia a dia, compreendendo a força vital da divina Eucaristia, dela se aproxima com frequência, afervora-se cada vez mais na piedade, faz ressurgir aquela, geração de crentes que mantinha a mais estreita união com Jesus Cristo. E é edificante observar que um grande número de homens, senhoras e crianças, de diversas camadas sociais, recebem diariamente a sagrada Comunhão. São os verdadeiros amigos de Jesus, porque sabem corresponder com amor ao amor infinito que nos dedica o Redentor, que instituiu a divina Eucaristia para dar-Se todo a nós, sendo Seu desejo que nos demos a Ele generosamente, sem reservas!