Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
4.º
MANDAMENTO
Honrar pai e mãe
O
quarto mandamento nos ordena amar, respeitar e obedecer aos pais e a quem tenha
autoridade sobre nós, isto é, aos nossos superiores.
O
quarto mandamento nos proíbe faltar honra aos pais, aos superiores, e desobedecer-lhes.
A
Família- A Igreja. - O Estado
27.
- Os três primeiros mandamentos nos falam dos nossos deveres para com Deus; os
outros sete se referem aos deveres para conosco e para com o próximo.
O
homem nasceu para viver em sociedade. A primeira sociedade que encontra é a doméstica,
ou a família. Temos, após, a sociedade religiosa - a Igreja, e a sociedade
civil - o Estado.
Em
toda sociedade bem organizada, há de haver quem mande e quem obedeça; daí, as
relações de superioridade e sujeição determinadas pelo quarto mandamento.
Deveres
dos filhos para com os pais
28.
- O quarto mandamento respeita em primeiro lugar aos pais, isto é, àqueles a quem,
depois de Deus, devemos a vida e que com amor, penas e sacrifícios nos criaram
e educaram.
Nós
lhes devemos respeito, amor, obediência e assistência.
AMOR.
- A própria natureza nos inclina a amar os pais, isto é, a querer-lhes bem, a
desejar-lhes o bem e a nos compadecermos deles. O nosso amor deve ser de fato e
não de palavras; deve ser sobrenatural, isto é, inspirado em motivos sobrenaturais,
por amor de Deus, e devido sempre, ainda mesmo que, por graves causas, os pais
se tornassem indignos.
RESPEITO.
- Os pais são os representantes de Deus. Por onde, a eles se lhes deve o máximo
respeito, mostrado pelas obras, por palavras e em todas as ocasiões.
Se
houver nos progenitores defeitos naturais, convém suportá-los benevolamente; se
houver defeitos morais, não aprová-los, mas com prudência e delicadeza
procurar-lhes a emenda.
OBEDIÊNCIA.
- Pronta, alegre, confiante obediência devemo-la aos pais, lembrados de que eles
representam a Deus. Jesus Cristo nos deu exemplo disso com a Sua obediência a
José e Maria.
E
se os pais mandassem coisas pecaminosas? Importa ver se a coisa é má em si,
como por exemplo, a blasfêmia, ou má porque proibida, como por exemplo, o comer
carne as sextas-feiras, de preceito.
No
primeiro caso, os filhos, embora mostrando-se respeitosos, nunca devem obedecer;
no segundo, podem às vezes obedecer, para evitar mal maior contanto que
declarem não fazê-lo por desprezo à lei.
ASSISTÊNCIA.
- Devem os filhos ajudar os pais e assistir-lhes nas suas necessidades materiais
e muito mais espirituais, rezando por eles em vida e depois da morte, e
procurando-lhes, no perigo de morte, os socorros espirituais.
Deveres
dos pais para com os filhos
29.
- O quarto mandamento contém ainda indiretamente os deveres dos pais para com
os filhos. São: amor, exemplo, educação.
AMOR.
- A própria natureza o inspira. Deve ser, porém, amor cristão ou sobrenatural, que
procura sobretudo o verdadeiro bem, isto é, o da alma; amor sem fraquezas, sem preferências,
sem egoísmos; amor, que não impede aos filhos de seguirem a vocação divina e
que sabe oferecer tal sacrifício se Deus os chamar a si.
EXEMPLO.
- São filhos de Deus e têm alma imortal, destinada a conseguir a salvação eterna
Cumpre, conseguintemente, aos pais evitar tudo quanto possa trazer dano á alma
dos filhos, e lhes darem o bom exemplo com palavras e obras.
EDUCAÇAO.
- Devem os pais: a) dar aos filhos a primeira instrução religiosa e procurar-lhes,
a seguir, o modo de a completarem;
b)
procurar-lhes a instrução literária ou científica, segundo a idade e a
condição; ou a aprendizagem de uma arte ou ofício, atendendo cuidadosamente a
que, seja num, seja noutro caso, não sofram com isto a moralidade e a religião;
c)
vigiá-los, corrigi-los nas faltas, e, até, se preciso for, puni-los para o bem
seu e deles e não por motivos de ira ou ódio.
Deveres
dos inferiores para com os superiores e vice-versa
30.
- Além dos pais, o quarto mandamento nos ordena honrarmos os superiores em
autoridade, isto é, a quem quer que tenha autoridade sobre nós.
Os
superiores podem ser eclesiásticos (Papa, bispos, sacerdotes), civis (autoridades
do Estado) e domésticos (professores, patrões, tutores, etc.).
A
eles, como aos pais, lhes devemos amor, respeito e obediência, relembrando que
"não há poder que não venha de Deus... Aquele, pois, que resiste ao poder,
resiste à ordenação de Deus." (Rom., XIII, 1-2.)
Aos
deveres dos inferiores para com os superiores, correspondem os deveres dos
superiores para com os inferiores.
Estão
baseados sempre no amor, enquanto o superior, reconhecendo que vem de Deus a
sua autoridade, a emprega em procurar o bem ao súdito, o bem material e,
sobretudo, o espiritual; e evita tudo o que possa impedir tal bem, assim como
se esforça por fornecer ao súdito, na esfera da sua unção, tudo o que possa
contribuir para a consecução da verdadeira felicidade. Assim o professor evita,
no seu ensino, o que for contrário à vida cristã e aos ensinos da Igreja; o
patrão dá ao operário a possibilidade de cumprir os deveres religiosos, etc.