Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
Art. XI. - A Ressurreição da Carne.
Dogma da Ressurreição
61. - Ressurreição da carne quer dizer,
que o nosso corpo, no fim do mundo, se recomporá e se reunira à alma para
participar, com ela, do prêmio ou do castigo. Deus quer a ressurreição da
carne, para ser completa a vitória de Cristo sobre a morte e para que nosso
corpo, que fôra instrumento da alma no exercício das boas ou más obras, tenha
também parte no prêmio ou na pena.
A Escritura abertamente afirma esse dogma:
no Velho e Novo Testamento. Job diz: “Eu sei que o meu Redentor vive, e que no último
dia ressurgirei da terra, e serei novamente revestido da minha pele, e na minha
própria carne verei o meu Deus". (Job, XIX, 25-26). Daniel (XII, 2) diz: "A
multidão dos que dormem no pó da terra acordarão uns para a vida eterna, e
outros para o opróbrio, que terão sempre diante dos olhos".
Jesus Cristo, mais tarde, nos diz: -
"Vem a hora em que todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do
Filho de Deus; e os que obraram o bem sairão para a ressurreição da vida; mas
os que obraram o mal, para a ressurreição da condenação." (Jo., V, 28.)
A razão nos demonstra a conveniência da ressurreição:
a) porque, como dissemos, é justo que o corpo, instrumento que foi da alma ao
praticar as boas ou más obras, tenha de par o castigo ou prêmio; b) porque a
alma foi criada para ser unida ao corpo e lhe convém que, após breve separação,
se reúna ao mesmo.
O dogma da ressurreição faz que a Igreja
circunde de amoráveis cuidados os corpos dos defuntos: - realizadas as preces
das exéquias, são sepultados no cemitério, isto é, dormitório ou lugar de
repouso, onde dormem o sono da paz, até o dia em que acordarão. Por esse
motivo, a Igreja se opõe ã cremação dos cadáveres, salvo em casos de absoluta necessidade;
e a quem dispõe ser cremado, não lhe concede sepultura eclesiástica, salvo se
se arrependeu antes de morrer.
Qualidades dos corpos gloriosos e dos
condenados
62. - "Todos ressuscitarão, diz São
Paulo, mas nem todos serão mudados ou transformados na glória". Os corpos
dos eleitos serão impassíveis, isto
é, isentos das dores e da morte; luminosos
ou resplandecentes como a luz; ágeis, como o pensamento, em
transportar-se de um lugar a outro; sutis
e espirituais, de modo que não
encontrem obstáculo algum na matéria, como a luz não encontra obstáculo em
passar através do vidro.
Os corpos dos condenados, pelo contrário,
ficarão feios, disformes e sujeitos a todos os tormentos.