sábado, 16 de fevereiro de 2013

Doutrina Cristã - Parte 14

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

1.° MANDAMENTO

Não terás outros deuses diante de mim
O primeiro mandamento nos ordena sermos religiosos, isto é, crer em Deus, amá-lO, adorá-lO e servi-lO como único Deus verdadeiro, criador e Senhor de tudo.
Proíbe-nos o primeiro mandamento a impiedade, a superstição, a irreligiosidade; além do mais, a apostasia, a heresia, a dúvida voluntária e a ignorância culpável das verdades da fé.

Culto externo e interno

13. - A virtude moral da religião, imposta pelo primeiro mandamento, nos move a prestar a Deus tudo o que por nós, criaturas, Lhe é devido. O conjunto dos atos com que demonstramos a Deus a nossa submissão - diz-se Culto.
O culto distingue-se em interno e externo. Culto interno é a honra que a Deus se tributa somente com as faculdades do espírito - a mente e a vontade.
            Culto externo é a homenagem que a Deus se tributa com atos exteriores e objetos sensíveis. Não basta só adorar a Deus com o coração, internamente; mister se faz também o culto externo:

            a) porque somos sujeitos a Deus, alma e corpo, e deve também o corpo demonstrar, pelos atos de culto, a sua submissão a Deus;
            b) para darmos bom exemplo;
            c) porque serve o culto externo para se manter o espírito religioso;
            d) porque não só o indivíduo, senão também a sociedade deve prestar culto a Deus.
            Não pode o culto externo subsistir sem o interno, porque ficaria privado de vida, mérito e eficácia, como um corpo sem alma.

Culto público e privado

            14. - O culto distingue-se em público e privado.
            Diz-se público o culto que se presta a Deus, à Virgem, aos Santos e aos Bem-aventurados por meio de pessoas legitimamente deputadas pela Igreja e com os atos estabelecidos pela própria Igreja para esse único fim.
            Qualquer outro culto é privado, quer se preste individual, quer coletivamente.

Culto de latria, hiperdulia e dulia

            15- O culto que a Deus se deve chama-se culto de latria ou adoração: - é devido só a Deus e, portanto, à S. S. Trindade, a Jesus Cristo, à S. S. Eucaristia e ao S. Coração de Jesus.
            Não é proibido honrar-se e invocar os Anjos e os Santos: - antes, devemos fazê-lo, porque é coisa útil e boa, altamente recomenda pela Igreja.
            Vai, porém, diferença entre o culto devido a Deus e o que damos aos Santos e à S. S. Virgem.
            O culto que a Maria Santíssima tributamos é o de veneração especialíssima, porque é a mãe de Deus, e diz-se o de hiperdulia.
              O culto que aos Santos rendemos é o de veneração ou dulia: veneramo-los, porque, havendo eles praticado, em vida, as virtudes em grau heróico, se tornaram amigos de Deus e, como tais, poderosos intercessores nossos junto d'Ele.
            O culto prestado à Virgem e aos Santos indiretamente redunda em ser prestado a Deus, que é glorificado em seus Santos pelas virtudes que, em vida, exercitaram por graça divina e pelos favores que Deus nos concede pela Intercessão dos mesmos.

Culto das imagens e relíquias

            16. - Deus proibira, no Velho Testamento, esculturas e imagens, porque os Hebreus, vivendo em meio a povos idólatras, facilmente haveriam podido prestar-lhes as honras divinas.
            Nós, pelo contrário, podemos honrar as imagens de Jesus e dos Santos, porque o culto a elas prestado não é absoluto, isto é, não a elas dirigido como objetos em si, mas relativo, - dirigido ao que elas representam.
            É também lícito o culto das relíquias. Por esse nome entendem-se os corpos dos Santos e objetos a eles pertencentes, ainda que distribuídos em fragmentos ou partículas.
            Veneramos os corpos dos Santos, porque foram membros vivos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo, e devem ressurgir gloriosos na vida eterna.
            Veneramos os objetos pertencentes aos Santos, porque nos servem para lhes recordar as virtudes e lhes manter o afeto.

Pecados por defeito

            17. - Contra o primeiro mandamento, peca-se por defeito ou por excesso.

            Peca-se por defeito negando-se a Deus totalmente ou em parte o culto que Lhe é devido ou prestando-Ih'O de modo irreverente: - temos assim a impiedade, a irreligiosidade, a heresia, a apostasia, dúvida voluntária e a ignorância culpável das verdades da fé.
            Impiedade é recusar a Deus um culto qualquer.
            Irreligiosidade é a irreverência a Deus e contra as coisas divinas.

            São espécies de irreligiosidade:

            a) a tentação de Deus, que ocorre quando se quer tentar, ou pôr à prova o poder de Deus, exigindo a intervenção divina sem necessidade.
            Assim tenta a Deus quem, sem necessidade alguma, se expõe a perigos espirituais ou materiais, esperando uma intervenção divina;
            b) o sacrilégio ou profanação da pessoa, coisa ou lugar sagrados.
            Pessoa sacra são as consagradas a Deus no estado eclesiástico ou pelos votos religiosos.
            Coisas sacras são, primeiro, os sacramentos, depois - os vasos consagrados, as relíquias, etc.
            Lugares sacros são a igreja, o cemitério, etc.
            c) A simonia ou compra e venda de coisas espirituais (sacramentos, indulgências, etc.) ou conexas com as espirituais (vasos sacros, relíquias, etc.).
            Toma o nome de Simão Mago, que por dinheiro queria de São Pedro o poder de dar o Espírito Santo (Atos, VIII).
             Heresia é a negação pertinaz de uma verdade de fé.
            Apostasia, quando por um ato externo se renega a fé professada antes.     
          Dúvida voluntária, quando voluntariamente se duvida de uma verdade de fé, sem se fazer coisa alguma para sair dessa dúvida.
            Ignorância culpável das verdades da fá, quando, sendo possível fazê-lo, alguém se descuida de se instruir na religião.

Pecados por excesso: - superstição e várias espécies

            18. - Peca-se por excesso, quando se presta a Deus um culto de modo inconveniente ou quando se presta a quem não é Deus o culto de adoração, só a Deus devido: - temos assim a superstição.    
            Presta-se a Deus um culto de modo inconveniente, se, por exemplo, honrarmos a Deus com o culto judaico hoje abolido, se difundirmos relíquias falsas ou falsos milagres, etc.
            Presta-se a quem não é Deus um culto de adoração:
            1.º- pela idolatria, ou culto dos ídolos;
           2.º- pelo recurso ao demônio e aos espíritos, o que se obtinha antigamente por meio da magia e da adivinhação e hoje se faz por meio do espiritismo.
            O espiritismo é a arte de se comunicar com os espíritos e de, mediante a intervenção destes, obter efeitos superiores às forças humanas. Os espíritos que intervêm nesses atos não podem ser senão demônios: não poderiam ser os anjos nem as almas dos defuntos, porque não lhes permite Deus a intervenção para vir satisfazer aos caprichos humanos e porque as circunstâncias que acompanham as sessões espiritistas estão muito longe de serem morais e sérias.
              Por isso o Espiritismo é absolutamente proibido pela Igreja.
            Importa não confundir o espiritismo com o magnetismo e o hipnotismo, que consistem em produzir num indivíduo o sono artificial e fazer o indivíduo operar dependentemente da nossa vontade.
            Isto, em muitos casos, é fenômeno natural e pode ser permitido a pessoas peritas e de consciência, em havendo razões graves e em se excluindo qualquer perigo para a alma e para o corpo. Não, porém, o Espiritismo.
            3. º- Pela vã observância, que reside em atribuir-se a uma ação ou coisa uma eficácia ou virtude que não possui e que depende de Deus unicamente: assim, atribuíra objetos ou a circunstâncias particulares a preservação de males, a boa ou má fortuna.
            Não é, porém, superstição trazer consigo, ao corpo, medalhas, imagens ou coisas bentas, porque, nesse caso, o efeito bom não é atribuído ao objeto material em si, mas à intercessão do santo nele representado: - urge, todavia, que tal uso venha acompanhado de sentimentos de piedade, mormente o da fuga do pecado e o da confiança em Deus.