Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
1.°
MANDAMENTO
Não
terás outros deuses diante de mim
O primeiro mandamento nos ordena sermos
religiosos, isto é, crer em Deus, amá-lO, adorá-lO e servi-lO como único Deus
verdadeiro, criador e Senhor de tudo.
Proíbe-nos o primeiro mandamento a
impiedade, a superstição, a irreligiosidade; além do mais, a apostasia, a
heresia, a dúvida voluntária e a ignorância culpável das verdades da fé.
Culto
externo e interno
13. - A virtude moral da religião,
imposta pelo primeiro mandamento, nos move a prestar a Deus tudo o que por nós,
criaturas, Lhe é devido. O conjunto dos atos com que demonstramos a Deus a
nossa submissão - diz-se Culto.
O culto distingue-se em interno e
externo. Culto interno é a honra que a Deus se tributa somente com as
faculdades do espírito - a mente e a vontade.
Culto externo é a homenagem que a
Deus se tributa com atos exteriores e objetos sensíveis. Não basta só adorar a
Deus com o coração, internamente; mister se faz também o culto externo:
a) porque somos sujeitos a Deus, alma e corpo, e deve também o corpo demonstrar, pelos atos de culto, a sua submissão a Deus;
b) para darmos bom exemplo;
c) porque serve o culto externo para
se manter o espírito religioso;
d) porque não só o indivíduo, senão também
a sociedade deve prestar culto a Deus.
Não pode o culto externo subsistir
sem o interno, porque ficaria privado de vida, mérito e eficácia, como um corpo
sem alma.
Culto
público e privado
14. - O culto distingue-se em público
e privado.
Diz-se público o culto que se presta a Deus, à Virgem, aos Santos e aos Bem-aventurados por meio de pessoas legitimamente deputadas pela Igreja e com os atos estabelecidos pela própria Igreja para esse único fim.
Diz-se público o culto que se presta a Deus, à Virgem, aos Santos e aos Bem-aventurados por meio de pessoas legitimamente deputadas pela Igreja e com os atos estabelecidos pela própria Igreja para esse único fim.
Qualquer outro culto é privado, quer
se preste individual, quer coletivamente.
Culto de latria,
hiperdulia e dulia
15- O culto que a Deus se deve
chama-se culto de latria ou adoração: - é devido só a Deus e, portanto, à S. S.
Trindade, a Jesus Cristo, à S. S. Eucaristia e ao S. Coração de Jesus.
Não é proibido honrar-se e invocar
os Anjos e os Santos: - antes, devemos fazê-lo, porque é coisa útil e boa,
altamente recomenda pela Igreja.
Vai, porém, diferença entre o culto
devido a Deus e o que damos aos Santos e à S. S. Virgem.
O culto que a Maria Santíssima
tributamos é o de veneração especialíssima, porque é a mãe de Deus, e diz-se o
de hiperdulia.
O culto que aos Santos rendemos é o
de veneração ou dulia: veneramo-los, porque, havendo eles praticado, em vida,
as virtudes em grau heróico, se tornaram amigos de Deus e, como tais, poderosos
intercessores nossos junto d'Ele.
O culto prestado à Virgem e aos
Santos indiretamente redunda em ser prestado a Deus, que é glorificado em seus
Santos pelas virtudes que, em vida, exercitaram por graça divina e pelos
favores que Deus nos concede pela Intercessão dos mesmos.
Culto das imagens e relíquias
16. - Deus proibira, no Velho
Testamento, esculturas e imagens, porque os Hebreus, vivendo em meio a povos idólatras,
facilmente haveriam podido prestar-lhes as honras divinas.
Nós, pelo contrário, podemos honrar
as imagens de Jesus e dos Santos, porque o culto a elas prestado não é absoluto, isto é, não a elas dirigido
como objetos em si, mas relativo, -
dirigido ao que elas representam.
É também lícito o culto das
relíquias. Por esse nome entendem-se os corpos dos Santos e objetos a eles
pertencentes, ainda que distribuídos em fragmentos ou partículas.
Veneramos os corpos dos Santos,
porque foram membros vivos de Jesus Cristo e templos do Espírito Santo, e devem
ressurgir gloriosos na vida eterna.
Veneramos os objetos pertencentes
aos Santos, porque nos servem para lhes recordar as virtudes e lhes manter o afeto.
Pecados
por defeito
17. - Contra o primeiro mandamento, peca-se
por defeito ou por excesso.
Peca-se por defeito negando-se a
Deus totalmente ou em parte o culto que Lhe é devido ou prestando-Ih'O de modo
irreverente: - temos assim a impiedade, a irreligiosidade, a heresia, a
apostasia, dúvida voluntária e a ignorância culpável das verdades da fé.
Impiedade é recusar a Deus um culto
qualquer.
Irreligiosidade é a irreverência a
Deus e contra as coisas divinas.
São espécies de irreligiosidade:
a) a tentação de Deus, que ocorre
quando se quer tentar, ou pôr à prova o poder de Deus, exigindo a intervenção
divina sem necessidade.
Assim tenta a Deus quem, sem
necessidade alguma, se expõe a perigos espirituais ou materiais, esperando uma
intervenção divina;
b) o sacrilégio ou profanação da
pessoa, coisa ou lugar sagrados.
Pessoa sacra são as consagradas a
Deus no estado eclesiástico ou pelos votos religiosos.
Coisas sacras são, primeiro, os
sacramentos, depois - os vasos consagrados, as relíquias, etc.
Lugares sacros são a igreja, o cemitério,
etc.
c) A simonia ou compra e venda de
coisas espirituais (sacramentos, indulgências, etc.) ou conexas com as
espirituais (vasos sacros, relíquias, etc.).
Toma o nome de Simão Mago, que por
dinheiro queria de São Pedro o poder de dar o Espírito Santo (Atos, VIII).
Heresia é a negação pertinaz de uma
verdade de fé.
Apostasia, quando por um ato externo
se renega a fé professada antes.
Dúvida
voluntária, quando voluntariamente se duvida de uma verdade de fé, sem se fazer
coisa alguma para sair dessa dúvida.
Ignorância culpável das verdades da
fá, quando, sendo possível fazê-lo, alguém se descuida de se instruir na
religião.
Pecados
por excesso: - superstição e várias espécies
18. - Peca-se por excesso, quando se
presta a Deus um culto de modo inconveniente ou quando se presta a quem não é Deus
o culto de adoração, só a Deus devido: - temos assim a superstição.
Presta-se a Deus um culto de modo
inconveniente, se, por exemplo, honrarmos a Deus com o culto judaico hoje
abolido, se difundirmos relíquias falsas ou falsos milagres, etc.
Presta-se a quem não é Deus um culto
de adoração:
1.º- pela idolatria, ou culto dos
ídolos;
2.º- pelo recurso ao demônio e aos espíritos,
o que se obtinha antigamente por meio da magia e da adivinhação e hoje se faz
por meio do espiritismo.
O espiritismo é a arte de se comunicar com os espíritos e de, mediante
a intervenção destes, obter efeitos superiores às forças humanas. Os espíritos
que intervêm nesses atos não podem ser senão demônios: não poderiam ser os
anjos nem as almas dos defuntos, porque não lhes permite Deus a intervenção
para vir satisfazer aos caprichos humanos e porque as circunstâncias que
acompanham as sessões espiritistas estão muito longe de serem morais e sérias.
Por isso o Espiritismo é
absolutamente proibido pela Igreja.
Importa não confundir o espiritismo
com o magnetismo e o hipnotismo, que consistem em produzir num indivíduo o sono
artificial e fazer o indivíduo operar dependentemente da nossa vontade.
Isto, em muitos casos, é fenômeno
natural e pode ser permitido a pessoas peritas e de consciência, em havendo
razões graves e em se excluindo qualquer perigo para a alma e para o corpo. Não,
porém, o Espiritismo.
3. º- Pela vã observância, que
reside em atribuir-se a uma ação ou coisa uma eficácia ou virtude que não possui
e que depende de Deus unicamente: assim, atribuíra objetos ou a circunstâncias
particulares a preservação de males, a boa ou má fortuna.
Não é, porém, superstição trazer
consigo, ao corpo, medalhas, imagens ou coisas bentas, porque, nesse caso, o
efeito bom não é atribuído ao objeto material em si, mas à intercessão do santo
nele representado: - urge, todavia, que tal uso venha acompanhado de
sentimentos de piedade, mormente o da fuga do pecado e o da confiança em Deus.